Tal como as crianças que ouvem começam por aprender a língua que se fala no seu país antes de aprenderem qualquer outra, um menino surdo deve começar por aprender Língua Gestual. Bruna Rodrigues e Sandra Loureiro são professoras na Escola Básica de Santiago Maior, em Beja. Sandra é surda desde nascença. Fomos entrevistá-las, para percebermos o que fazem
O que é a Língua Gestual Portuguesa?
Sandra: É a língua através da qual os surdos comunicam em Portugal. Tem palavras, letras, uma gramática, e usa também a expressão facial e o movimento do corpo. Toda a informação é recebida através da visão. Aprender esta língua é muito importante para uma criança surda criar a sua identidade.
O que faz uma professora de Língua Gestual Portuguesa?
Bruna: Ensina a Língua Gestual aos alunos surdos, tal como os professores ensinam Português aos que ouvem. A Língua Gestual é a primeira língua que os surdos aprendem.
Como se ensina?
Bruna: Por exemplo, mostramos um lápis e ensinamos como se diz a palavra em Língua Gestual, através de gestos. Além disso, nesta escola ensinamos a Língua Gestual aos alunos ouvintes que querem aprender.
Sandra: Tudo o que se diz em Português, a falar, é possível dizer em Língua Gestual. Todas as palavras têm um gesto próprio. Quando não há, soletramos com o alfabeto próprio da Língua Gestual (chamado datilologia). Quando surge uma palavra nova, cria-se um gesto para aquela palavra.
Porque decidiram ser professoras de Língua Gestual?
Bruna: Antes de começar a estudar, não conhecia nenhum surdo, lembro-me de que, quando era pequenina, ficava fascinada ao ver um surdo na rua a falar com alguém.
Tive imensa sorte, porque, até eu entrar para a faculdade, a licenciatura em Língua Gestual Portuguesa era apenas aberta a surdos.
Sandra: O meu caso é diferente, porque eu nasci surda. E quis ser professora para ser um exemplo para todas as crianças surdas.
O que tem de se estudar?
Sandra: É preciso fazer a licenciatura. Também implica um estudo contínuo, porque estão sempre a aparecer palavras novas. Estamos sempre a aprender e a criar gestos novos. Além disso, é preciso gostar muito daquilo que se faz!
Como é o vosso dia a dia?
Bruna: Igual ao de qualquer professor.
Temos de ensinar o que está no programa curricular, tal como acontece com outra disciplina qualquer. A única diferença é que os testes dos alunos surdos são filmados.
Este artigo foi originalmente publicado na VISÃO Júnior n.º142