Mariana, filha única, tem dez anos quando Rosa nasce.
Agora vai partilhar tudo com a irmã: o quarto, o tempo dos pais, o afecto da família – incluindo a Avó Elisa que desconfia do progresso, e a Tia Magda, que tem um dente de ouro, uma fala que mete medo e só gosta de estrelícias e antúrios. Mas pelo menos a recordação da Avó Lídia e a amizade de Rita ela não quer dividir com mais ninguém.
Será que Rosa vai continuar a ser «uma intrusa»?
Livro nomeado para o 2.º ciclo
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Entrevista com Alice Vieira
As turmas vencedoras da iniciativa ‘Agora o Escritor És Tu!’, promovida pela VISÃO Júnior em 2015, entrevistarm Alice Vieira. Eis a entrevista
Porque é que as filhas do Rei Leandro têm nomes de flores?
António Pelouro, 12 anos, Esc. Secundária Alves Redol, Vila Franca de Xira
Eu queria fazer as três filhas diferentes: duas eram más, a outra filha era boazinha. Lembrei-me de ir consultar um livro sobre a linguagem das flores, porque dizem que cada flor tem as suas características.
A Violeta foi escolhida para a boazinha.
A Hortênsia e a Amarílis, que são espécies complicadas, deram o nome às irmãs mazonas. Os nomes são importantes nos meus livros. Em Leandro, todos os nomes têm a ver com as características da personagem.
Identifica-se com alguma personagem sua?
Carolina Barroso, 11 anos, Esc. Secundária Alves Redol, Vila Franca de Xira
Sou mais espectadora. Os únicos livros autobiográficos que escrevi são Rosa, Minha Irmã Rosa, Chocolate à Chuva, e Lote 12, 2.º Frente. Aqueles personagens eram os meus filhos, os amigos, as professoras. Mas em A Flor de Mel, a infância da criança da história foi parecida com a minha.
Escrever traz-lhe que tipo de memórias?
Sílvia Albergaria, 13 anos, Escolas Soares Basto, Oliveira de Azeméis
Todos os tipos. Quando começo a escrever, nunca sei o que vou fazer.
Mas as memórias da minha infância vêm-me à cabeça. Às vezes, digo: «Ah, lembro-me tão bem disto.» Por exemplo, o meu filho, quando era pequeno, dizia-me: «Nos teus livros há tias a mais.» É porque eu fui sempre criada com muitas tias. Esforço-me para não escrever sobre elas, mas, daí a pouco, já há tias por todo o lado.
Há dois anos, num romance, pus lá uma mãe extraordinária. Pois matei-a logo a meio do romance [risos].
Tem dois filhos. Gosta deles como «a comida quer ao sal»?
Sílvia Sousa, 12 anos, Agrupamento de Escolas Soares Basto, Oliveira de Azeméis
Gosto dos meus filhos como se quer a uma coisa extraordinária. Antigamente, o salário era pago em sal, e a comida não se estragava porque era conservada em sal, pois ainda não havia frigoríficos. Essa minha história já ia adiantada quando, de repente, pensei: «Mas toda a gente diz que o sal faz mal. Então e agora?» Lembrei-me de inventar o bobo, que avisava que o sal faz mal.
Que livro gostou mais de escrever?
Beatriz Pereira, 12 anos, Colégio Miramar, Ericeira
Não tenho nenhum livro de que goste mais. Esforço-me sempre para que cada obra esteja um bocadinho melhor do que a anterior -porque, se é para fazer igual ou pior, não vale a pena. Às vezes, estou a escrever e aquilo não está a sair bem. Pois eu rasgo e começo outra vez. Por exemplo, o livro Viagem à roda do meu nome é uma terceira versão que está publicada. Quando eu telefono aos meus editores, eles perguntam-me logo: «Não me digas que deitaste mais um livro fora?»
Porque escolheu ser escritora?
Marcelo Martins, 12 anos, Colégio Miramar, Ericeira
A única profissão que escolhi foi a de ser jornalista, aos 18 anos.
A escrita de livros aconteceu mais tarde, já eu tinha filhos crescidos.
Mas eles queixavam-se de que eu não escrevia nada para eles. Então, nas férias, eu disse: «Vamos escrever uma história a três.» Sentámo-nos, eles trouxeram os cadernos, contaram-me o que se passava na escola, e, no fim do dia, íamos emendando e escrevendo mais um bocadinho.
Vinte dias depois, a história estava pronta. O meu marido lembrou-se de a enviar para um prémio de literatura, e eu venci. Acabei por ficar com as duas profissões. Mas um escritor que é também jornalista é diferente: aprende a desconfiar das palavras, por exemplo dos adjetivos. Porque uma frase sem adjetivos é mais forte do que outra carregada com eles.
A seguir ao 25 de Abril, fui júri num concurso de textos infantis sobre o que tinha representado aquela data.
E lembro-me de um miúdo que escreveu apenas uma frase, sem adjetivos: «O 25 de Abril foi o dia em que o meu pai deixou de bater na minha mãe.» Um professor contou-me também esta outra história: um cego na Ponte de Brooklyn, em Nova Iorque, tinha um cartaz a dizer que era pobrezinho. Mas as pessoas não lhe davam esmola. Até que, um dia, um escritor escreveu outra frase no cartaz. Passados uns tempos, o cego perguntou-lhe o que é que dizia ali, porque toda a gente ali parava. Era assim: «A primavera vai chegar e eu não a vejo.» Portanto, usem os substantivos todos, mas tenham cuidado com os adjetivos.
Porque é que os jovens leem tão pouco hoje em dia?
Tânia, 12 anos, Esc. Secundária Joaquim de Araújo, Penafiel
Quem é que diz isso? Quem não lê nada são os adultos. Os jovens leem muito. Para já, lêem na escola. Se os jovens não lessem, vocês não estavam aqui. Mas, hoje , há muitas maneiras de ler: jornais, e-books. Claro que eu gostava mais que vocês só lessem livrinhos em papel.
Aqui há dias, a minha neta ia com uma maquineta dessas. E eu disse-lhe: «Ó Adriana, porque é que não levas livros?» Ela disse-me: «Porque aqui eu guardo 500 livros.» Ora, eu não podia levar 500 livros ao colo [risos].
Se pudesse ser uma personagem de Leandro, qual seria?
Joana, 12 anos, Esc. Secundária Alves Redol, Vila Franca de Xira
A mulher do pastor. Ela está em casa, é óptima cozinheira [risos]. Não, escolhia o bobo: acho-o engraçado.
O sentido de humor é a coisa mais importante que uma pessoa nunca deve perder.
Quando tinha a nossa idade, já gostava de escrever textos? Diogo, 12 anos, Colégio Miramar, Ericeira
Até quando era mais pequena do que vocês. Sempre gostei muito de ler e de escrever. Em todas as casas por onde andei, havia sempre muitos livros e eu podia mexer neles todos.
E aprendi a ler sozinha. E escrevia imensas histórias, com muitos erros [risos]. Quando mudava de casa, não me importava nada de deixar os brinquedos para trás, mas precisava sempre de levar cadernos.
Participou na obra De que é que são feitos os sonhos. E de que é que são feitos os sonhos?
Ana, 12 anos, Agrupamento de Escolas Soares Basto, Oliveira de Azeméis
Esse livro é uma antologia de textos de 18 escritores, organizada pela Luísa Ducla Soares. Para mim, os sonhos são ter o pé no chão, olhar para a frente, estar com amigos, conversar na rua. Cada dia tem de ser sempre uma coisa boa.
Texto: Sílvia Souto Cunha
In VISÃO Júnior, terça 1 de Abr de 2014