
Uma história infantil sobre a amizade de uma girafa, que andava sempre com a cabeça nas nuvens, e uma galinha do mato, com a cabeça cheia de frases feitas. Com humor, mestria e simplicidade, José Eduardo Agualusa e Henrique Cayatte contam-nos uma bela história de amizade e engenho.
Livro nomeado para o 1.º ciclo
Perguntar é importante
Desta vez, os vencedores da iniciativa Agora o Escritor És Tu!, que criaram histórias para continuar o livro Estranhões e Bizarrocos, trouxeram muitas questões para José Eduardo Agualusa
Quando José Eduardo Agualusa entrou no anfiteatro, onde decorreu o encontro com os alunos do 2.º ano, vindos das escolas que venceram o desafio da VISÃO Júnior Agora o Escritor És Tu!, foi recebido com muitas palmas, gritos e assobios. Até parecia que estávamos num concerto, a aplaudir um cantor pop. A sala estava tão cheia que havia pessoas sentadas no chão. Eram muitos os alunos vindos da Escola EB1/J1 de Moinhos (Arcozelo), do Colégio Bissaya Barreto (Coimbra), da Escola Básica Dr. Sanches de Brito (Mafra), e do Colégio Cesário Verde (Lisboa), que leram o livro Estranhões e Bizarrocos e inventaram a sua continuação.
José Eduardo Agualusa ficou espantado, e muito alegre: com as perguntas que estes candidatos a jornalistas tinham para ele. Como, por exemplo, a do João Diogo, 8 anos, aluno do Colégio Bissaya Barreto: «Em que é que se inspira para escrever?» «O principal é estar atento e saber escutar as pessoas, saber olhar para aquilo que está à nossa volta, e, muito importante, ter curiosidade», declarou José Eduardo. E, no fim da sessão, ele demonstrou que é um autor muito atento e muito inspirado: a partir de cinco objetos, retirados de um saco misterioso que foi aberto à frente de todos, inventou, com a ajuda entusiástica dos alunos presentes, uma história com. um peixe, uma boneca, uma borboleta, uma maçã e um livro dos Cinco.
A sua primeira profissão foi ser escritor?
Rui, 7 anos, Colégio Bissaya Barreto
Comecei por ser jornalista, que é o que vocês estão a ser hoje. Mas ser jornalista também me ajudou a ser escritor: para escrever alguns dos livros, eu também preciso de fazer perguntas às pessoas. São duas profissões parecidas: ambas lidam com a escrita, com essa arte de contar histórias e de as tornar atraentes para quem as lê.
Sempre quis ser escritor?
Diogo, 7 anos, Colégio Cesário Verde
Quando tinha a vossa idade, queria ser veterinário, trabalhar com bichos. Mas estudei agronomia e silvicultura. Os silvicultores trabalham com florestas, e, portanto, também lidam com animais, plantas. Ainda hoje, sei de cor os seus nomes científicos. Para que as pessoas de todo o mundo se entendam, quando falam de um animal, têm de usar o seu nome em latim. Uma coisa ótima de ser escritor é que podemos fazer o que queremos. Por exemplo, se me interessa escrever sobre bichos, vou informar-me mais sobre eles.
Como reagiu ao escrever o seu primeiro livro?
Ana Maria, 7 anos, Colégio Bissaya Barreto
Da mesma maneira que reajo hoje em dia. É como fazer um jogo, ou construir um puzzle a gente vai colocando as peças, e, de repente, descobre o desenho que está lá escondido. Acontece a mesma coisa com um livro. Quando descobrimos a história completa, é uma alegria.
Os estudos em agronomia e silvicultura também estão presentes na sua escrita?
Letícia, 8 anos, Escola Básica Dr. Sanches Brito
Sim. Se eu escrever sobre um bicho ou uma planta, já sei alguma coisa sobre o assunto porque o andei a estudar. Muitas vezes, acontece-me ter uma ideia para um livro infantil ao ver aqueles programas de televisão sobre histórias de animais. Foi o que aconteceu, por exemplo, com a história sobre os cavalos-marinhos que aparecem em Estranhões e Bizarrocos, sobre um pai que se tornou mãe.
Gosta mais de escrever para adultos ou para crianças?
Simão, 7 anos, EB1/JI de Moinhos
Gosto tanto de escrever para adultos quanto para crianças. São públicos muito diferentes, portanto a maneira de escrever também é diferente. Mas escrever para crianças ajuda-me a lembrar a minha própria infância. E é também uma forma de conversar com os meus filhos.
Como é que tem tantas ideias para escrever histórias?
Ana Rita, 7 anos, Colégio Cesário Verde
Eu roubo as ideias aos meus filhos, por exemplo [risos]. Na verdade, as ideias e as histórias estão em toda a parte. Nós só temos que estar atentos e as ideias vêm ter connosco. O principal é estar atento e saber escutar as pessoas, saber olhar para aquilo que está à nossa volta, e, muito importante, ter curiosidade. Por exemplo, perguntarmo-nos de onde vem uma certa palavra ou como é que um animal apareceu… Na vida, fazer perguntas é importante.
No ano em que se comemora os 800 anos da língua portuguesa, o que sente por ser um autor lusófono?
Rodrigo, 7 anos, Escola Básica Dr. Sanches Brito
Lusófono é uma palavra difícil, não é? Mas significa o conjunto das pessoas que falam a língua portuguesa. O português é falado em vários países: em oito países em África, na América Latina, no Brasil, em Timor, em Portugal… Os escritores trabalham com a língua. E a língua portuguesa é muito interessante, assim como a história das palavras. Quando vocês falam, não se dão conta, mas cada palavra tem uma história atrás dela. E, como escritor, também me interessa o facto de ter uma língua tão antiga, que atravessou tantos países e regiões. Então, estou muito feliz por escrever em português.
O que sentiu quando ganhou o Prémio Gulbenkian de Literatura Infantil por Estranhões e Bizarrocos? E de onde veio a ideia para estes contos?
Catarina, 8 anos, EB1/JI de Moinhos, Arcozelo, e Maria Carolina, 7 anos, Colégio Cesário Verde
O livro é tanto meu como do Henrique Cayatte, que fez as ilustrações. Comecei a escrever as histórias de Estranhões e Bizarrocos para uma revista, chamada Pais & Filhos, porque tinha um filho pequeno e começara a ler e a escrever para ele. Hoje, tenho dois filhos, um menino com 16 anos e uma menina com nove, e eles gostam das minhas histórias.
Que outro livro aconselha?
Francisco Silva, 7 anos, Escola Básica Dr. Sanches Brito
É sempre difícil responder a essa pergunta. Mas o último livro que escrevi para crianças chama-se A Rainha dos Estapafúrdios: é sobre um perdigoto, uma perdiz pequenina que tem problemas por se achar pequena. Mas, ao entrar num arco-íris, ganha cores muito bonitas, e transforma-se na rainha da floresta. É o livro preferido da minha filha. De todas as vezes que o lê, ela ri-se, e eu fico feliz que os leitores se divirtam a ler-me. Ler, além de nos ensinar, também tem que ser um divertimento.
Onde costuma escrever, e a que horas?
Soraia, 7 anos, EB1/JI de Moinhos
Nós não escolhemos o lugar onde se escreve, os lugares é que nos escolhem. Onde eu tiver uma ideia é onde escrevo.
Porque gostei de ler Estranhões e Bizarrocos
Pedimos a dois alunos que nos visitaram que contassem aos nossos leitores o que mais apreciaram no livro de José Eduardo Agualusa
«Gostei das invenções impossíveis do Jácome, como os pássaros a vapor. Depois de ler o livro, também inventei uma palavra: barbaróide ( animal com cara de peixe). O livro ensina que devemos aproximar-nos de pessoas diferentes de nós. Afinal, todos somos um bocadinho estranhos.»
Margarida Ferreira, 7 anos Colégio Bissaya Barreto, Coimbra
«O título deste livro é muito estranho, eu não conhecia as palavras «estranhões» e «bizarrocos», mas isso ainda me deu mais vontade de ler as histórias! Fiquei muito curioso por descobrir o que eram. Gostei muito de ler sobre coisas que não existem na vida real, como a menina que se transforma em peluche. O livro tem muita imaginação e faz-nos viajar!»
Tiago Silva, 7 anos EB1/JI de Moinhos, Arcozelo, Vila Nova de Gaia
Texto: Sílvia Souto Cunha
In VISÃO Júnior, domingo 1 de Jun de 2014