No novo Museu do Dinheiro, podes tocar numa barra de ouro verdadeira com 12,6 quilos de peso, imprimir a tua cara numa nota ou numa moeda e falar para uma câmara de vídeo sobre o que é o dinheiro. Ao mesmo tempo, podes ver e ler tudo sobre as moedas mais antigas da história da humanidade, que remontam ao longíquo século VII a.c.
O local escolhido para este novo Museu não podia ser mais original: a antiga Igreja de São Julião, na Baixa de Lisboa. É aí que o Banco de Portugal expõe a partir de hoje a sua valiosa coleção de moedas, notas e outros objetos que, ao longo de 9 núcleos, espalhados por igual número de salas, contam-nos como tem sido a relação dos homens com o dinheiro ao longo dos tempos.
Entre uma sala e outra, poderás admirar a mais antiga moeda metálica encontrada no século VII a.c., em território da atual Turquia, a bonita moeda de ouro usada no Japão, o português manuelino que servia de moeda de troca na Índia dos Descobrimentos ou a primeira nota emitida em Portugal no século XIX. Se gostas de viajar, tens também à tua espera notas de banco de diversos países do mundo, muitas delas autênticos objetos artísticos.
Na era dos pagamentos eletrónicos, em que os cartões do multibanco e os telemóveis com aplicações nos permitem pagar as nossas compras sem tirar as moedas e as notas da carteira, podes ainda aprender neste Museu a importância do dinheiro para os nossos antepassados, o modo como tem sido fabricado ao longo dos tempos e a segurança que o rodeia para evitar roubos e falsificações. Mesmo com esses cuidados todos, ainda há muita contrafação de notas e moedas que praticamente não se distinguem do dinheiro verdadeiro, tal a perfeição com que são feitas.
Visitar o Museu do Dinheiro tem tanto de contemplativo como de interativo, para mais tarde recordar. A “viagem” começa no bilhete, que além de servir de passaporte de entrada, permite também “guardar” as experiências interativas para mais tarde consultar na Internet ou partilhar nas redes sociais.
Este acervo de notas e moedas começou a ser constituído em 1975, a partir de aquisições em leilões e junto de colecionadores particulares que cederam ao Banco de Portugal muitas das valiosas 50 mil peças do espólio numismático, notafílico e artístico agora aberto ao público, numa área expositiva de 2 mil m2. Parte considerável do acervo de moedas foi disponibilizado pela Casa da Moeda.
O conjunto de dispositivos multimédia, concebido pelo atelier de design de Francisco Providência, é o que distingue este Museu do Dinheiro, projetado pelos arquitetos Gonçalo Byrne e Falcão de Campos, de outros existentes na Europa.
Imaginas-te a tocar em 400 mil euros?
Apesar de estar protegida por uma robusta porta de sete toneladas de aço, logo à entrada podes tocar na peça mais valiosa da exposição: uma barra de ouro refinado, quase puro, originário de África do Sul que pesa 12,6 quilos e vale cerca de 400 mil euros no mercado. Ali mesmo, ao alcance da mão.
A mais antiga moeda metálica do mundo é dada a conhecer por um filme tridimensional que não precisa de óculos: o Terço de Estáter, oriundo da Lídia, parte ocidental do que é hoje a Turquia. Na sala seguinte, um painel interativo permite viajar numa linha do tempo e observar as moedas nas diferentes épocas históricas. Mais à frente, na sala que expõe as moedas nacionais (ou usadas em território nacional por gregos, romanos, visigodos, fenícios, etc.), está exposto um dos quatro exemplares do Real de D. Beatriz, a primeira moeda ilustrada com o busto de uma rainha. A escolha recaiu em Beatriz de Castela, com pretensões ao trono português. Sabes porquê?
A história do dinheiro continua a ser contada nos núcleos seguintes, onde pode ser vista a primeira nota emitida pelo Banco de Lisboa (antecessor do Banco de Portugal), desenhada em 1846 pelo pintor Domingos Sequeira, com o valor facial de dez mil réis (equivalentes a 5 cêntimos de euro).
Depois, chega-se à moeda dos dias de hoje, o euro. É outro momento que permite interagir com a exposição: o visitante é convidado a imprimir virtualmente uma moeda e uma nota com uma imagem do seu rosto. Este “dinheiro” pode ser “guardado” e revisitado no site de Internet do Museu do Dinheiro.
No final da exposição, é a vez do público contar a história. Este último momento de interatividade permite explicar em 30 segundos o papel que o dinheiro assume no nosso dia-a-dia. E refletir sobre a pergunta feita no início da visita, a partir de um texto do escritor inglês Charles Dickens: afinal, o que é o dinheiro?
com Manuel Cavazza