Há um ano, no Paquistão, um homem aproximou-se de uma camioneta com tejadilho de lona que transportava alunas para casa e perguntou: “Quem é a Malala?” Quando as miúdas olharam para ela, identificando-a sem querer, o homem disparou na sua direção. Atingiu-a na cabeça e feriu ligeiramente duas amigas. Agora, um ano depois, Malala escreveu um livro, com a ajuda de uma jornalista inglesa, e escolheu para título a resposta que gostaria de ter dado nesse dia: Eu sou Malala.
Nessa terça-feira, 9 de outubro de 2012, Malala Yousafzai quase morreu. Tinha 15 anos, andava no 9.º ano no liceu para raparigas de Khushal, em Mingora, no Vale do Swat. A região é conhecida como “a Suíça do Paquistão”. Era procurada por turistas porque tem grandes montanhas verdes e neve no inverno. Mas entre 2007 e 2009, os talibans lançaram o terror na região. Os talibans são uns homens que usam os livros religiosos islâmicos (o Corão e a Suna) para dizer o que é proibido e permitido. Mataram muita gente e chicotearam mulheres que não cumpriram a sua lei. Fecharam escolas para raparigas e, nalguns casos, destruíram-nas à bomba.
O pai de Malala, Ziauddin Yousafzai, era dono de uma escola para raparigas. No início de 2009, quando um jornalista da BBC lhe perguntou se conhecia um miúdo que pudesse contar como era a vida com os talibans por perto, ele sugeriu a filha. Malala tinha 12 anos, gostava de ir à escola e não queria “ficar sentada entre quatro paredes, a cozinhar e a ter filhos” quando fosse crescida. No blogue da BBC, usava um nome inventado, mas, pouco depois, apareceu num documentário a defender que as raparigas tinham direito a estudar e tornou-se conhecida. Tornou-se, assim, um alvo a abater pelos talibans, que continuavam a organizar ataques isolados na região.
No último ano, Malala foi operada várias vezes no Paquistão e em Inglaterra, para onde se mudou com os pais e os dois irmãos, mais novos. Entretanto, saiu do hospital e frequenta um liceu, em Birmingham (a segunda maior cidade inglesa). Apesar de ainda só ter 16 anos, leva muito a sério o seu papel de ativista pela educação. Quando for grande, quer regressar ao seu país e entrar para a política. Na porta da sala onde estudava, em Mingora, há uns tempos alguém pendurou uma notícia emoldurada sobre ela. Lá dentro, a sua melhor amiga escreveu “Malala” numa cadeira da primeira fila.
Uma rapariga como as outras
Em algumas coisas, Malala é igual a qualquer miúda de 16 anos. Quando morava no Paquistão, divertia-se a ver a série Betty Feia. “Queria sair do mundo do terrorismo e aquilo era como um sonho”, diz. “As personagens só estavam preocupadas com os sapatos ou o bâton que iam usar…” O seu livro preferido é O Alquimista, do escritor brasileiro Paulo Coelho. Gosta muito do cantor Justin Bieber, mas agora que está em Inglaterra já confessou que tem saudades de ouvir música Pachto, típica da região do Vale do Swat. Também confessou que, quando era mais nova, chegou a rezar para crescer uns centímetros rapidamente.
O lenço cor-de-rosa
Malala usa sempre uma túnica comprida, calças largas e lenço na cabeça. Quando discursou na enorme sala das Nações Unidas, a 12 de julho, dia em que fez 16 anos, estava com um lenço cor-de-rosa que pertenceu a Benazir Bhutto, primeira-ministra paquistanesa assassinada em 2007.
Grande entre os grandes
A Obama, o Presidente dos Estados Unidos, que a recebeu na Casa Branca, em Washington, Malala sugeriu que enviasse livros e canetas e professores para o Afeganistão, em vez de armas e tanques e soldados. “A melhor maneira de combater o terrorismo”, defendeu, “é através da educação.” E à Rainha de Inglaterra, com quem tomou chá no Palácio de Buckingham, em Londres, disse esperar que as duas possam um dia trabalhar juntas para garantir que todas as crianças vão à escola, tanto no Paquistão como no Reino Unido.
O seu lema
“Um livro, uma caneta, uma criança e um professor podem mudar o mundo”