“Não é de falta de água que nos podemos queixar. Talvez da sua irregularidade, das cheias catastróficas que ocorrem frequentemente um pouco por toda a parte e das secas severas que condicionam as atividades económicas, sobretudo nas regiões do Sul do País, do desfasamento espacial e temporal entre a oferta e a procura, comuns a outras regiões da bacia do Mediterrâneo.” Foi assim que o meu professor de Gestão de Recursos Hídricos começou a sua primeira aula e é assim que devemos começar qualquer conversa, sem assombros, sobre este assunto.
Em termos médios anuais, existe em Portugal uma disponibilidade média de cerca de 60 mil hm3, face a um consumo de 6 mil hm3 (o equivalente a “dois Alquevas”), excluindo os usos ambientais e não consumptivos (como a hidroeletricidade).
Num elevator pitch descreveríamos assim a situação: os recursos hídricos são relativamente abundantes e o nosso país beneficia ainda de receber caudais provenientes de Espanha. Mas esses recursos estão irregularmente distribuídos no território, com o Tejo a marcar essa charneira: a norte, um País com um cariz atlântico, e, a sul, um território de características mediterrânicas.
Diríamos ainda que a precipitação é muito sazonal e sofre de uma distribuição interanual irregular, com secas e cheias frequentes. E remataríamos lembrando que estamos na bacia do Mediterrâneo, uma região fortemente condicionada pelo efeito das alterações climáticas.
Dito isto, perspetiva-se uma realidade nos próximos tempos: a água não vai faltar, mas vai ter uma outra distribuição sazonal e interanual e vai passar a ser mais escassa em grande parte do território.
A seca de 2022 veio demonstrar-nos essa realidade. O ano hidrológico (que se inicia a 1 de outubro) de 2021/22 foi excecionalmente seco na Europa, com grande impacto na Península Ibérica. Em Portugal, registou-se uma das situações de seca hidrológica mais graves deste século, com elevadas temperaturas e fraca precipitação.
Este período teve as suas idiossincrasias: resultou de um acumular de 5 anos de precipitação abaixo da média e abrangeu regiões do País, como o Norte, que costumam estar fora dos holofotes nestas situações.
É no inverno que se preparam as secas, que se fazem sentir sobretudo no verão, e o Grupo Águas de Portugal preparou-se para esta situação. Como durante a pandemia, os serviços essenciais de abastecimento de água foram assegurados, sem uma única falha. Esse foi o trabalho invisível, articulado, minucioso e transversal da equipa dos quase 4 mil colaboradores do Grupo, de norte a sul do País. A fazer aquilo que sabemos fazer melhor: assegurar que a água não falta nas torneiras; e que a tratamos, depois de usada, em condições para que possa ser reutilizada ou devolvida ao ambiente.
Os elementos da Task Force da Seca, criada em 2022 com a participação de todas as nossas empresas de abastecimento de água, fortaleceram o trabalho das nossas equipas espalhadas no território, garantindo a monitorização estreita da informação sobre as disponibilidades nas origens dos sistemas geridos pelo Grupo e a identificação das situações críticas e das medidas de contingência e mitigação, sobretudo as que implicavam a articulação com outras entidades.
E para melhorar e continuar a assegurar o serviço de excelência que prestamos, deu-se início a uma nova fase, com o robustecimento e articulação das medidas de contingência e estruturais para aumento de resiliência dos sistemas no contexto da seca e escassez de água, cenários cada vez mais exigentes em termos de qualidade, quantidade e segurança.
O esforço concertado, integrado e inovador dos vários atores do setor da água afigura-se essencial para que o País se prepare para os cenários de curto, médio e longo prazo. Nós continuaremos a desempenhar o nosso papel na gestão integrada e sustentável dos recursos hídricos e a “fazer a diferença na vida das pessoas”.
Com os ingredientes certos ‒ antecipação, comunicação, planeamento, entreajuda, compromisso e partilha de conhecimento ‒, a receita é simples: basta juntar água.
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