Imagina só: acordar de manhã, abrir a janela do hotel e respirar o ar fresco de uma pequena vila portuguesa. Ao teu redor, não há multidões de turistas, mas sim sorrisos genuínos dos habitantes locais que te cumprimentam como se fosses um velho amigo. O que te rodeia não são apenas paisagens bonitas, mas uma comunidade vibrante que vive em harmonia com a natureza, pronta para te mostrar a verdadeira essência daquele lugar. Isto é a ambição do turismo regenerativo, uma nova forma de viajar que promete transformar não só as tuas férias, mas também o mundo ao teu redor.
Porque precisamos de uma nova forma de viajar?
O mundo está em transformação acelerada, e todos nós sentimos isso. Enfrentamos um turbilhão de desafios civilizacionais: – economias sobre-endividadas ainda a recuperar da pandemia; o racismo sistémico e as desigualdades estruturais; a crescente divisão social; um contexto geopolítico mundial dividido e ameaçador; e, em cima de tudo isto, crises climáticas e ecológicas. De facto, se formos honestos, precisamos que todos os setores façam as transformações necessárias perguntando com sinceridade: “Estas são as nossas competências e recursos; como é que podemos ajudar?” Neste contexto, há uma consciência crescente de que, apesar de todo o bem que faz, o modelo subjacente ao turismo está a precisar de transformação.
Até há pouco tempo, o turismo era visto como uma máquina de fazer dinheiro, onde o sucesso era medido em números: mais visitantes, mais lucros, mais, mais, mais. Mas esse modelo começou a mostrar as suas falhas. O turismo desenfreado pode desgastar as comunidades, prejudicar o meio ambiente e transformar lugares autênticos em meros cenários para fotos, iguais a tantos outros pelo mundo fora. Por isso, está na hora de mudar o jogo. As pessoas querem mais do que apenas tirar umas férias; elas querem fazer parte de algo maior, algo que faça a diferença. E é aí que entra o turismo regenerativo.
O que é ser Regenerativo?
Ser regenerativo significa olhar para o mundo com outros olhos (ver quadro que ilustra mudanças de pensar e ver o mundo). É perceber que tudo está interligado, que somos parte de um ecossistema vivo e pulsante. Não se trata apenas de preservar, mas de revitalizar, de dar nova vida aos lugares e às pessoas. Imagina um agricultor que, em vez de apenas cultivar a terra, cuida do solo para que ele fique mais fértil, mais rico, mais vibrante. No turismo, o conceito é o mesmo: cuidar dos lugares, das pessoas e das culturas locais para que floresçam.
Como pode o Turismo Regenerar?
O turismo regenerativo é como um abraço caloroso entre o viajante e o local que visita, incluindo os seus habitantes humanos e outros seres vivos. É criar conexões profundas, significativas e respeitosas. Ao invés de apenas consumir experiências, os viajantes tornam-se parte delas, colaborando com a comunidade e ajudando a fortalecer as suas raízes culturais e ecológicas.
Por exemplo, em vez de simplesmente visitar um museu, podes participar de uma oficina de artesanato local, aprender sobre a história da região diretamente com os habitantes e, ao mesmo tempo, contribuir para a economia local. Cada refeição que fazes, cada trilho que percorres, pode ser uma oportunidade para fortalecer o lugar que estás a visitar.
A regeneração dos lugares no contexto do turismo envolve uma constante revitalização das comunidades locais, empresas, e ecossistemas que as sustentam. Este processo busca promover o florescimento das vidas humanas e não humanas, cuidando coletivamente dos “solos” destas comunidades para que novos níveis de saúde e possibilidades emerjam. A regeneração é uma prática comunitária que vai além das ações individuais ou empresariais, integrando todos os atores locais para criar relações mais profundas e cuidar do ecossistema. Isso resulta em comunidades mais coesas e resilientes, onde novos projetos florescem e o turismo gera benefícios líquidos, sustentando tanto os residentes quanto os visitantes.
O Futuro do Turismo
Agora, pensa comigo: quem mais, senão o setor da hospitalidade, está em melhor posição para liderar esta mudança? Quem mais pode criar experiências que realmente importam, que conectam as pessoas e que regeneram comunidades inteiras?
Esta nova abordagem não é apenas para visionários ou especialistas em sustentabilidade. Todos podemos fazer a nossa parte. Quer sejas um empresário turístico, um viajante curioso ou alguém que simplesmente ama diversos lugares, há sempre algo que podes fazer para apoiar esta transformação. E a melhor parte? Todos saem a ganhar.
No final, o turismo regenerativo é um convite para uma aventura diferente. Uma aventura onde a diversão encontra o propósito, onde as férias não são apenas uma pausa, mas uma oportunidade de fazer parte de algo maior. Onde cada lugar, incluindo onde resides, tem algo único para contribuir e partilhar com o mundo.
Então, na próxima vez que pensares em viajar ou quando cruzares com viajantes no teu lugar, pergunta-te: “Como posso fazer a diferença neste lugar? Como posso apoiar o seu desenvolvimento a partir do que faz deste lugar único e significativo para a sua região? Como posso visitar ou ser visitado de uma forma recíproca?”.
A resposta pode ser o início de uma nova forma de ver o mundo – e de te ver a ti mesmo.
Queres saber mais?
O Canadá publicou recentemente um documento orientador para uma abordagem regenerativa ao setor do Turismo, desenvolvido em parceria com o colega Bill Reed, fundador do Regenesis Group, parceiro da LÚCIDA, entidade que criei com parceiros para apoiar comunidades, entidades e empresas no desenvolvimento de abordagens regenerativas em Portugal. Também organizo formações em parceria com o Instituto Regenesis e estão abertas inscrições para uma pós-graduação com a Faculdade de Ciências de Lisboa sobre Desenvolvimento Regenerativo ministrada em parceria com o colega Gil Penha-Lopes.
Termino com as palavras do poeta António Machado:
“Caminhante, são teus passos
o caminho e nada mais;
Caminhante, não há caminho,
faz-se caminho ao andar.”