A indústria de higiene e cosmética tem problemas de sustentabilidade difíceis de contornar, desde a utilização de algumas substâncias tóxicas nos seus produtos – que acabam no mar – ao plástico das embalagens – que também acaba no mar. Mas a preocupação com o ambiente, seja por razões de consciência social, seja por posicionamento de mercado, está a convencer muitas empresas a optarem por produtos menos nocivos para o planeta.
Foi essa a opção da empresa de cuidados pessoais HAAN, fundada em 2018, em Barcelona, por dois jovens, Eric Armengou e Hugo Rovira: criar uma marca que tivesse o menor impacto possível. “Queríamos fazer as coisas de maneira diferente, e isso passava por não fazer produtos de um só uso. Tem de ser possível utilizar mais que uma vez”, diz Eric à VISÃO, na Conversa Verde. Partindo dessa ideia, a aposta só podia ser uma: a recarga, para reduzir o plástico usado nos produtos. “O ‘refill’ faz reduzir o consumo de plástico em 89%”, justifica.
Convencer as pessoas a mudar hábitos, a regressar à loja para voltarem a encher a embalagem, está a ser mais fácil do que os criadores da empresa julgavam no início. “Estamos muito contentes com a adesão dos consumidores. O ‘refill’ já representa 20% do total das vendas. E daqui só vai subir. É reconfortante saber que as pessoas realmente compram uma, duas, três vezes, e agradecem que haja este tipo de produtos.”
Parte do segredo está no design. “Muitos compram porque é ‘cool’. Já desenhámos as embalagens para serem bonitas. Assim o consumidor não se quer desfazer da embalagem quando o produto acaba. Graças ao design, convencemos as pessoas a fazer mais ‘refill’. E é mais barato: compram-se três produtos pelo preço de dois.”
Outra preocupação de Eric e Hugo passava por encontrar fórmulas químicas o menos nocivas possível para o meio ambiente. “Todos os produtos tóxicos acabam no mar. Tentamos evitar isso, com fórmulas biodegradáveis.”
‘As marcas podem mudar o mundo’
O mercado dos produtos mais sustentáveis tem crescido, muito impulsionado pelos jovens, garante Eric Armengou. “Cada vez mais o consumidor é mais conhecedor do que o planeta está a sofrer. Os jovens são mais sensíveis a estas causas, crescem com isso e já não concebem que haja marcas que não pensam no ambiente.”
As empresas vão atrás. “Até as marcas grandes estão, a pouco e pouco, a tornar-se mais conscientes e a fazer as coisas melhor.” Nem sempre é, no entanto, distinguir uma verdadeira consciência ambiental de simples marketing. Mas há forma de separar as águas. “Uma empresa mesmo comprometida não pode ter só uma linha de produtos eco e depois muitas outras que não o são. Isso é greenwashing. O consumidor não é tonto. Consegue ver se a marca é coerente ou se está a fazer alguma coisa porque agora é ‘trendy’.”
Eric diz que vê cada vez mais empresas comprometidas, não só com o lado ambiental como também com o social (a HAAN, por exemplo, doa 20% dos lucros a projetos que levam água potável a aldeias remotas em África). Mas lamenta que, em muitos casos, é tudo uma questão comercial. “Há cada vez mais empresas comprometidas [com o ambiente], mas não sei como será se o ambiente deixar de estar na moda, quando deixar de atrair consumidores.” E é importante que sigam o caminho certo, continua, pelo papel que desempenham na sociedade. “As marcas têm poder. Podem mudar o mundo.”
Para ouvir em Podcast