No último dia de setembro, o Grupo Zurich (uma das maiores seguradoras do mundo) anunciou o seu plano de descarbonização. O principal objetivo é reduzir as emissões de gases com efeito de estufa em 70 mil toneladas por ano – o equivalente ao dióxido de carbono que dois milhões de árvores conseguem absorver. Para atingir esta meta, a empresa conta com mudanças profundas na forma de trabalhar, como cortar em 70% as viagens de avião dos colaboradores (aproveitando as lições da pandemia, que provou que é possível fazer reuniões à distância), digitalizar a documentação que partilha com os clientes e adquirir apenas veículos elétricos ou híbridos, acabando com a frota automóvel com motores exlusivamente de combustão até 2025. O grupo vai ainda implementar um programa de construção e renovação sustentável em mais de 50 escritórios (incluindo o edifício sede em Lisboa) e adotar refeições saudáveis e programas de combate ao desperdício alimentar até ao final do próximo ano.
A VISÃO falou com o CEO do Grupo Zurich Portugal, António Bico, sobre as mudanças implementadas a nível global e nacional, e o papel das empresas na descarbonização da economia.
O Grupo Zurich anunciou há pouco tempo uma série de medidas de combate às alterações climáticas. Quais é que destaca?
Recentemente o Grupo Zurich decidiu implementar mais um conjunto de medidas transversais a várias dimensões da empresa – operações, investimentos e oferta de produtos e serviços – que têm como propósito reforçar o nosso compromisso no combate às alterações climáticas. Com estas medidas, é nossa ambição tornarmo-nos uma empresa neutra nas emissões de carbono até 2050, e assim contribuirmos para o cumprimento da meta traçada no Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1.5°C. Destaco as cinco principais: a nível global, pretendemos reduzir em 70% as emissões associadas a viagens aéreas a partir do próximo ano, comparativamente com os níveis registados no período pré-pandemia; queremos tornar a documentação que partilhamos com os clientes totalmente digital até 2025, mantendo a possibilidade de estes optarem por documentação em papel; ao nível da frota automóvel, decidimos passar a adquirir apenas veículos elétricos ou híbridos e, em paralelo, queremos eliminar da nossa frota as viaturas com utilização exclusiva de motor de combustão interna até 2025; estamos a implementar um programa de construção e renovação sustentável em mais de 50 escritórios de todo o mundo – incluindo o edifício sede em Lisboa – até ao final de 2022. Também até ao final do próximo ano, as instalações do Grupo Zurich que têm cantinas e restaurantes passarão a servir refeições saudáveis, com alimentos de origem sazonal e regional, e a adotar programas de gestão de resíduos que combatam o desperdício alimentar.
A par destas medidas, estamos também a apostar na transformação da nossa oferta de produtos e serviços, como forma de apoiar os nossos clientes a, também eles, contribuírem para o combate às alterações climáticas. Um dos exemplos é o lançamento do Zurich Carbon Neutral World Equity Fund, um novo fundo de investimento neutro em carbono, inserido na vertente de soluções de seguro Vida unit-linked, que combina a poupança com a proteção garantida por uma apólice de seguro Vida. O fundo visa a realização de investimentos em empresas com baixas emissões de carbono.
É possível conciliar o crescimento económico com um corte profundo de emissões? Implica um grande esforço financeiro?
Apostar na implementação de medidas que promovam a redução da emissão de gases poluentes implicará um investimento significativo para qualquer empresa, nomeadamente ao nível da utilização de fontes de energia renovável – como a solar e eólica –, bem como na transformação das operações e numa maior aposta na inovação e desenvolvimento de novos produtos e serviços. Contudo, na Zurich olhamos para esta jornada como um investimento de futuro para o desenvolvimento sustentável da sociedade, do planeta e do nosso negócio.
O derradeiro esforço para as organizações estará nas consequências socioeconómicas a longo prazo que a inércia face às alterações climáticas pode implicar. É por isso fundamental que as empresas, juntamente com os governos e sociedade civil, definam um caminho concertado que deve ser percorrido, e mais do que isso, que definam e adotem medidas concretas para promover a transição energética. É preciso criarmos uma mentalidade sustentável e, na Zurich, estamos a inspirar os nossos colaboradores, parceiros de negócio e clientes a adotarem esta mentalidade.
Em Portugal, que medidas têm sido implementadas? O teletrabalho faz parte deste pacote?
Temos vindo a implementar medidas em consonância com a estratégia global do Grupo Zurich. Além das novas medidas já mencionadas, existem outras mudanças e inovações que temos vindo a adotar. Em Portugal, 98% da energia que consumimos provém de fontes renováveis. Ao nível da desmaterialização, temos vindo a apostar no desenvolvimento de soluções tecnológicas que nos permitem tornar o contacto com clientes e parceiros de negócio mais digital, rápido e simplificado, tendo esta jornada começado com o lançamento do MyZurich, uma plataforma digital que permite aos nossos parceiros uma melhor gestão da sua carteira de clientes, ao mesmo tempo que possibilita um suporte mais eficiente da Zurich para com estes parceiros; e, mais recentemente, com o lançamento da app Zurich4You, que permite aos nossos clientes um contacto mais ágil com a Zurich e com os nossos parceiros, bem como um acesso mais imediato e conveniente à informação das suas apólices e demais interações que tenham feito ou pretendam fazer com a Zurich. Ao nível interno, eliminámos o plástico de uso único, como as garrafas de água de plástico e os copos para água e café dos nossos escritórios. Esta mudança permitiu reduzir o consumo de mais de 1.100 quilos de plástico por ano.
A par destas medidas, os mais recentes contributos da Zurich em Portugal para a sustentabilidade é a reabilitação do nosso edifício sede – que denominamos projeto LiZboa -, que irá conciliar as melhores práticas de sustentabilidade e tecnologia com a preocupação em melhorar a experiência e bem-estar dos colaboradores. Do projeto LiZboa faz parte também a adoção, em 2022, de um modelo de trabalho híbrido. Este novo modelo irá, certamente, impactar de forma positiva a nossa pegada carbónica, nomeadamente ao nível da redução das deslocações casa-trabalho e trabalho-casa dos nossos colaboradores.
Os consumidores já recompensam as empresas que têm atitudes sustentáveis sérias?
Os consumidores estão cada vez mais despertos para a sustentabilidade e para o impacto que a inércia face às alterações climáticas pode trazer ao seu dia a dia e ao futuro das próximas gerações. Este fenómeno tem-se vindo a refletir na exigência que os consumidores demonstram ter na hora de escolher um produto ou serviço, passando estes a privilegiar as empresas que assumem um compromisso claro na promoção do desenvolvimento sustentável.
As empresas têm a responsabilidade de incentivar a sociedade para a mudança necessária, de forma a cumprirmos os nossos compromissos ambientais?
Sem dúvida. As empresas são importantes agentes da mudança, na medida em que as suas ações podem, invariavelmente, impactar a forma como consumimos, como vivemos ou como olhamos para o mundo. Nesse sentido, as organizações têm o dever de utilizar o seu posicionamento no mercado para o bem-comum, aproveitando o seu “palco” como ferramenta para a promoção de uma maior literacia para a sustentabilidade junto dos seus públicos-alvo.
No Grupo Zurich, uma das nossas prioridades nesta matéria é justamente inspirar os nossos colaboradores, parceiros e clientes na transição para uma economia neutra em carbono, quer através de ações internas, da nossa oferta de produtos e serviços, quer através dos canais de comunicação que temos à nossa disposição e que podemos (e queremos) utilizar para inspirar para a importância do desenvolvimento sustentável junto de clientes, parceiros, colaboradores e restante sociedade.