No mundo a pegada ecológica global excede atualmente a capacidade de regeneração do planeta em cerca de 30%. Se a procura sobre os recursos naturais do Planeta continuar a crescer, o planeta vai entrar em incumprimento ecológico. Em Portugal entrámos em incumprimento financeiro depois de três décadas a gastar mais do que produzimos. A divida da República chegou aos 100% do PIB, e esgotámos a capacidade de recorrer ao crédito.
E o paralelismo termina aqui. É que em caso de incumprimento ecológico, não existe fundo de resgate que nos valha. Se os ecossistemas falham, deixando de nos providenciar água potável, alimentos, saúde pública ou ar respirável, não temos alternativa. Não existe plano B.
No entanto existem alternativas antes de alcançarmos este estado de coisas. Em Portugal poderíamos ter implementado uma parte significativa das reformas necessárias antes da divida se tornar incomportável. Na economia global devemos antecipar este mesmo erro. Evitar que a pegada ecológica global excede a capacidade de regeneração do planeta para níveis incomportáveis.
Conforme nós vamos vivenciar em Portugal, este tipo de reformas resultam em alterações na forma como nos organizamos enquanto sociedade e economia. Falamos de mudanças ao nível dos padrões de consumo e na forma como se distribui a riqueza e os recursos. Mudar para um sistema onde se remunera a eficiência e a equidade em detrimento do desperdício e do supérfluo.
Num mundo de 9 biliões de habitantes, onde o PIB mundial quase triplicará, a competição pelos recursos vai aumentar decorrente da necessidade de abastecer a população mundial com alimentos, matérias-primas e energia. Estas mudanças na forma como sociedade e economia se reorganizarão durante as próximas décadas, estão a criar novas oportunidades de negócio nas mais diversas áreas de atividade, desde a energia, passando pelos setores de capital natural, agricultura, floresta e pesca, até à área financeira, com a emergência de novas commodities e mercados associados.
Por cá, a necessidade do País se reorganizar é em si mesmo uma oportunidade. Isto porque, vai obrigar a um olhar criterioso sobre os recursos endógenos do país, e sobre a capacidade interna de gerar riqueza de uma forma mais eficiente que anteriormente. Se na área da energia Portugal já tem um caminho percorrido, com uma elevada percentagem da energia que consumimos produzida internamente a partir de fontes renováveis, muito há a fazer nos setores de capital natural. E o facto de Portugal ter a 10ª maior plataforma marítima do mundo, tem definitivamente que passar a ter um papel relevante no nosso futuro.
Temos que olhar esta crise como uma oportunidade, para reverter o ciclo adverso que se vem instalando na economia nacional, mas também como oportunidade de participar na reorganização da economia global. É necessário que todos os agentes compreendam os novos contextos em que operam, para assegurar que fazemos parte da nova ordem económica mundial, de igual para igual.