Portugal é o segundo país da União Europeia (depois de Espanha) com menos proporção de jovens empregados e o quarto com a força de trabalho mais envelhecida (atrás de Bulgária, Letónia e Itália). Um cenário que se tem estado a acentuar: em 2023, havia menos 40% de jovens trabalhadores do que 20 anos antes, ao passo que o escalão dos 55 aos 64 anos cresceu 66%; e a faixa etária dos 44 aos 64 anos subiu de um terço para metade do total.
O envelhecimento dos nossos trabalhadores é uma das conclusões mais relevantes da análise da Pordata, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, a uma série de indicadores que ajudam a caracterizar a população empregada – e empregadora – do País.
Os dados mostram, também, que Portugal se encontra abaixo da média europeia no trabalho em part-time, com apenas oito em cada 100 pessoas empregadas a ter este regime, o que nos torna o 10º da UE com uma proporção mais baixa. No caso das mulheres, é ainda pior, em termos comparativos: apesar de haver mais mulheres a trabalhar em part-time (dez em cada 100), o País é o 9º com a proporção mais baixa. Na Áustria e nos Países Baixos, campeões europeus neste indicador, mais de metade das mulheres trabalham em part-time.
Newsletter
Portugal é ainda o terceiro país europeu com maior percentagem de contratos a prazo: 17,4%, contra 13,4% da média europeia.
Uns mal pagos, outros mal instruídos
Onde, sem surpresas, também ficamos mal posicionados é nos salários. O salário médio anual de um português é de €20.483, quando a média da UE é €35.329, o que nos deixa numa pouco invejável 10ª posição (e ocupamos exatamente a mesma posição quanto ao salário mínimo). O ordenado médio mensal, incluindo subsídios de férias e de Natal, horas extraordinárias e prémios de desempenho, encontrava-se, em 2022, nos €1.368.
Levando em consideração o custo de vida, as coisas são ainda piores: passamos a ter o 5º salário médio mais baixo. Os países com melhores salários são Luxemburgo (€75.409), Dinamarca (€65.666) e Bélgica (€52.466). Os piores salários encontram-se na Bulgária (€11.850), Hungria (€13.705) e Roménia (€14.064).
A hotelaria e a restauração são os setores com os empregos mais mal pagos (€872,7), seguidos da agricultura, produção animal, caça, silvicultura e pesca (€916,2), da construção (€973,2), da saúde e ação social (€1.004,8) e da administração pública, defesa e segurança social obrigatória (€1.035,5).
Por outro lado, os empregos mais bem pagos encontravam-se nas empresas e organismos internacionais (€3.156,8), na eletricidade, gás e água (€2 243,1) e nas atividades financeiras e dos seguros (€1.705,2).
A análise da Pordata dedica ainda um pequeno espaço ao patronato nacional, que fica igualmente a perder face ao resto da UE. Portugal é o que tem maior proporção de patrões (trabalhadores por conta própria empregadores) sem instrução ou apenas com o ensino básico; 44% não têm mais que o 9º ano. Ainda assim, o cenário está a melhorar: há dez anos, eram 60%.
Os reguladores da União Europeia começaram a investigar o iPadOS em setembro do ano passado, depois de terem decidido que o iOS, o navegador Safari e a App Store eram considerados como plataformas altamente influentes (gatekeepers) e que, à luz do Regulamento dos Mercados Digitais (DMA, da sigla inglesa), deviam ser mais abertos. Entre as exigências, a UE determinou a necessidade de suportar lojas de aplicações alternativas, permitir a execução de apps e a permissão de navegadores de internet terceiros.
Para o iPadOS, a Apple tem seis meses para passar a permitir a execução de apps (sideloading), revela o ArsTechnica na sequência da publicação no blogue da União Europeia.
Apesar de haver pouco que separe os sistemas operativos do iPhone e do iPad, a Apple passou a designá-los de forma diferente em 2019, o que ‘obrigou’ a esta análise separada também do regulador. Ambos iOS e iPadOS partilham muito do código, são atualizados na mesma altura e exigem a utilização da mesma App Store fechada e com regras e restrições impostas pela Apple. Agora, a empresa de Cupertino vai ter de permitir a instalação de lojas de apps alternativas e a execução de aplicações, mesmo que venham de sites de terceiros. Estas apps vão ter de respeitar a maior parte das imposições da Apple e genericamente terão de usar as API públicas da empresa.
Newsletter
Mesmo com as alterações efetuadas ao seu software, os reguladores estão a continuar as investigações sobre se Apple (e Meta e Google também) estão efetivamente a cumprir o novo Regulamento. Depois dessas investigações, as empresas podem vir a ser obrigadas a novas alterações: no caso da Apple, sobre a forma como as apps de terceiros são instaladas no iOS e na forma como estes terceiros podem ou não publicitar as suas lojas e opções de pagamento.
A StoreDot instalou uma bateria XFC de 77 kWh num protótipo de um Polestar 5 e revelou ter conseguido encher a bateria de 10 para 80% em apenas 10 minutos. Estes esforços representam o investimento da empresa em conseguir, por exemplo, carregar a bateria de um carro elétrico para ter 160 quilómetros de autonomia em apenas cinco minutos já no final deste ano. Para 2028, a StoreDot pretende baixar este tempo para três minutos.
A StoreDot encontrou na Polestar o parceiro ideal, que tinha a intenção de “revolucionar a experiência de propriedade de um veículo elétrico com a capacidade de recarregamento em minutos”. Depois do anúncio da parceria, as equipas de ambas as empresas entraram nos laboratórios onde desenvolveram esta bateria de 77 kWh que obtém 310 kW de um carregador DC e chega ao pico de 379 kW. Em apenas dez minutos foi possível passar dos 10% para os 80%, mantendo a temperatura ao nível esperado.
Doron Myersdorf, diretor executivo da StoreDot, afirma estar “entusiasmado por ver que o nosso parceiro está entre os primeiros fabricantes de veículos elétricos a reconhecer que o XFC é um padrão necessário para aumentar a adoção dos veículos elétricos. Com a nossa tecnologia de carregamento rápido, podemos adicionar 320 quilómetros de autonomia em dez minutos. Este avanço revoluciona a experiência de propriedade de um veículo elétrico, erradicando a barreira da autonomia e a ansiedade de carregamento de uma vez por todas. Os condutores podem agora viajar por longas distâncias com a mesma liberdade e conveniência dos carros convencionais a combustível”, cita o New Atlas.
Newsletter
Para já, o desafio da empresa está em conseguir desenvolver cabos que aguentem estes carregamentos extremamente rápidos, pelo que ainda deve demorar até termos a tecnologia disponível em postos de carregamento públicos. As metas da StoreDot são conseguir 160 quilómetros de autonomia em cinco minutos este ano, baixar o tempo para quatro minutos em 2026 e chegar aos três minutos apenas em 2028.
Numa carta dirigida à Provedora de Justiça, o Volt Portugal pediu a abertura de um processo junto do Tribunal Constitucional “para a extinção do partido ADN [Alternativa Democrática Nacional]”. Assinado pelo co-líder Duarte Costa (a par de Ana Carvalho), o documento solicita ainda uma providência cautelar para impedir o ADN de participar nas eleições europeias de 9 de junho – nas quais concorre com a psicóloga e comentadora Joana Amaral Dias como cabeça de lista.
O Volt Portugal pede ainda “a requisição” da subvenção pública de 340 mil euros atribuída ao partido liderado por Bruno Fialho, correspondente aos resultados alcançados nas legislativas de 10 março.
“O Volt Portugal nasceu para acabar com todos os extremismos e populismos na Europa”, diz Duarte Costa
Segundo o Volt Portugal, o ADN incumpriu a Lei n.° 64/78, que proíbe organizações fascistas em Portugal. Em causa, estão várias posições assumidas pelo partido, ao longo destes últimos anos, mas o “momento decisivo” surgiu na sequência das declarações do presidente Bruno Fialho que, numpodcast, sugeriu enviar “pedófilos”, “criminosos estrangeiros”, “deputados”, “Mamadou Ba” e “todos da extrema-esquerda” para o Tarrafal, referindo-se ao campo de concentração criado pelo Estado Novo, que funcionou entre 1936 e 1974, na ilha de Santiago, em Cabo Verde.
Newsletter
À VISÃO, Duarte Costa justifica esta ação com o facto de o Volt Portugal “ter nascido para acabar com todo o tipo de extremismos e populismos na Europa”. Este passo é visto pelo dirigente como “parte do trabalho do partido em Portugal”. “Defendemos a liberdade de expressão, mas os limites dessa liberdade estão definidos pela lei. Consultámos juristas, e concluímos que esses limites foram claramente ultrapassados e que era hora de avançar com esta ação. O Volt Portugal apenas acionou o Estado de Direito”, completa.
Duarte Costa afirma “ter boas perspetivas” quanto a este processo, recordando que existe em Portugal “um precedente”: em 1992, a Procuradoria-Geral da República considerou ter provas suficientes para solicitar ao Tribunal Constitucional a extinção do Movimento de Ação Nacional (MAN), por este “defender ideias fascistas e racistas e procurar o derrube da democracia, características inconstitucionais”. O grupo de extrema-direita acabaria por se autodissolver e os juízes do Palácio Ratton não chegaram a pronunciar-se sobre o caso.
“Os fascistas são eles”, acusa Bruno Fialho
Contactado pela VISÃO, Bruno Fialho “lamenta que as pessoas do Volt Portugal não respeitem a liberdade de expressão do cidadão”, defendendo que o que foi dito no podcast foi “apenas humor, à volta de uma situação que já pertence ao passado, que não ofendeu ninguém, muito menos tentou equiparar situações do passado e do presente”. “Hoje, estas pessoas tentariam proibir uma série como ‘Alô, Alô’ [sitcom britânica transmitida entre 1982 e 1992, que satirizava a ocupação de França pela Alemanha nazi]. Quem estava naquele podcast era o Bruno Fialho-cidadão, não o ADN, não o Bruno Fialho-político”, sublinha.
O presidente do ADN considera que a queixa apresentada “é apenas uma tentativa desesperada de [o Volt Portugal] aparecer”. “Estamos a falar de um partido que não tem qualquer expressão em Portugal, que é patrocinado por globalistas que querem destruir a liberdade de expressão e tudo aquilo que conhecemos em Portugal e na Europa. Os fascistas são eles!”, acusa. “Percebo o que se está a passar… O Volt Portugal quer apenas ‘surfar a onda’ porque sabe que, hoje, o ADN está na liga dos grandes”, acrescenta.
Recorde-se que o ADN ocupou a vaga do Partido Democrático Republicano (PDR), fundado em 2014 pelo antigo bastonário da Ordem dos Advogados e ex-eurodeputado António Marinho e Pinto. Renomeado como ADN em 2021, o partido presidido por Bruno Fialho tem-se destacado adotando posições antissistema e contracorrente, com destaque para a contestação contra o processo de vacinação para a Covid-19. O ADN alega estar a verificar-se em todo o mundo “uma mortalidade excessiva” associada a estas vacinas. O partido tem vindo a assumir posições associadas às políticas da direita radical populistas, nomeadamente em temas como a imigração e a segurança.
Grande surpresa nas últimas legislativas, o ADN somou mais de 102 mil votos, dez vezes mais do que nas eleições anteriores (tinha conseguido apenas 10 911 votos em 2022). A Aliança Democrática (AD) chegou a queixar-se de confusão das siglas, que poderia justificar este crescimento, mas esta versão foi sempre rejeitada por Bruno Fialho. Certo, é que o resultado valeu uma subvenção pública ao partido de quase 340 mil euros.
Talvez ainda não tenha ouvido falar de Nuno Prego Ramos e de Paula Videira. Mas devia. Juntos criaram a CellmAbs, uma empresa de biotecnologia que desenvolveu uma terapia inovadora para o combate ao cancro, baseada nos chamados anticorpos monoclonais, capazes de identificar e atuar sobre marcadores que só existem em células cancerígenas, aumentando a precisão do tratamento. Tão inovadora foi esta tecnologia que as patentes associadas foram vendidas no início deste ano à alemã BioNTech (a empresa responsável pela primeira vacina da Covid-19) num negócio avaliado em centenas de milhões de euros. Um caso de estudo em Portugal, sobretudo na área das ciências da vida. Agora, Nuno e Paula estão prontos para uma nova etapa. Os investigadores-empreendedores estão a lançar a Valvian, uma nova startup de biotecnologia que vai procurar respostas para uma das questões mais críticas da sociedade moderna – o envelhecimento e as doenças que lhe estão associadas.
Os dados são inequívocos. Segundo a Organização Mundial da Saúde, em 2050, cerca de 22% da população mundial (o que deverá equivaler a 2,1 mil milhões de pessoas) terão mais de 60 anos, praticamente o dobro do cenário atual. E o número de pessoas com mais de 80 anos de idade deverá triplicar, atingindo os 426 milhões em 2050. Portugal é, já hoje, o quarto país do mundo com um maior rácio de população com mais de 65 anos em relação à população geral, segundo o Gabinete de Estatísticas da União Europeia. E isso traz desafios. De produtividade. De exclusão social. Mas acima de tudo pela pressão gigante que uma população mais envelhecida pode colocar nos serviços nacionais de saúde. Daí que muitas pessoas estejam à procura da resposta para as perguntas: afinal, o que é isto de envelhecer?; e podemos intervir, de alguma maneira, neste processo?
Newsletter
Para os fundadores da Valvian, uma das respostas está numa nova imunoterapia que estão a desenvolver. Os dois investigadores encontraram uma forma de ensinar o sistema imunitário, o que defende o nosso corpo, a identificar as chamadas células senescentes, nome dado às células que deixam de se dividir e começam a funcionar como ‘lixo’ acumulado no corpo, deixando de contribuir para o crescimento, restauro e para a própria função dos tecidos, e que estão associadas ao processo de envelhecimento. “Estas imunoterapias fazem com que o próprio corpo do paciente, com que o sistema biológico e imunitário das pessoas, reconheça as células que são responsáveis pelo envelhecimento e faça essa remoção seletiva das células”, explica Nuno Prego Ramos.
De outra forma, o que a Valvian quer fazer é ensinar o corpo a remover, sozinho, esta acumulação de células que estão associadas ao envelhecimento e ao aparecimento de doenças. “É uma terapêutica celular e que será uma terapêutica de precisão e personalizada. Não é tanto numa lógica de reforçar o sistema imunitário, mas no sentido de induzir alterações no sistema imunitário, fazendo com que fique mais apto a tratar as células do envelhecimento e outras células não saudáveis. (…) O próprio sistema imunitário vai ficar mais sensível a reconhecer aqueles alvos que existem nas células tumorais e nas responsáveis pelo envelhecimento. Vai fagocitá-las, vai matá-las especificamente”, detalha.
Enquanto trabalhavam na CellmAbs para desenvolver moléculas que se ligassem especificamente a células tumorais, a equipa tinha deixado de parte uma ideia de imunoterapia, por não ser tão eficaz no combate contra o cancro quanto o método dos anticorpos. No entanto, repararam que as moléculas usadas em imunoterapia ligavam-se não a células saudáveis, mas especificamente às células responsáveis pelo envelhecimento. “A partir do momento em que conseguimos eliminar as células senescentes, estamos a conseguir promover a qualidade de vida, garantindo que há uma menor taxa de envelhecimento. As células senescentes têm um papel muito ativo no envelhecimento”, detalha Nuno Prego Ramos. O investigador (com estudos também em marketing e direito), que se confessa um apaixonado pelo tema da longevidade, sabia que tinha aqui o seu próximo grande desafio. “Vamos endereçar a longevidade de forma terapêutica, exatamente como fizemos com a oncologia”, conta-nos em entrevista. “Percebemos que da mesma maneira que fizemos uma terapêutica direcionada para o cancro podemos fazer o mesmo para o envelhecimento”.
Nuno Prego Ramos (na imagem) e Paula Videira estão a criar a Valvian, uma nova empresa de biotecnologia que está a criar uma terapia para ‘ensinar’ o corpo a remover sozinho células associadas ao processo de envelhecimento
Enquanto estudavam os dados sobre os marcadores das doenças oncológicas, também foram recolhendo dados sobre os marcadores de envelhecimento, “Percebemos que conseguíamos colocar o sistema imunitário a capturar as células senescentes. Já daria matéria suficiente para uma prova de conceito, mas queremos olhar para doenças específicas e perceber se alguma delas pode beneficiar [desta abordagem]”. Como o projeto está ainda em fase inicial, Nuno não se quer comprometer com as tipologias de doenças associadas ao envelhecimento que a empresa vai tentar endereçar. Mas há muitas e que afetam diferentes órgãos, da pele aos pulmões, passando pelo coração, pelos intestinos e a próstata. O avançar da idade convida ao aparecimento destes problemas. E problemas é algo que o corpo humano, sobretudo numa lógica de longevidade, dispensa.
No momento em que a entrevista decorreu, em meados de abril, apesar de já ter investimento garantido, a Valvian não podia ainda comunicar os valores referentes ao financiamento da startup, mas o CEO deixou a garantia que o valor será na casa dos “milhões” e suficiente para “permitir-nos levar esta tecnologia praticamente até aos ensaios clínicos”. E que, dentro de dois anos, a imunoterapia que estão a desenvolver poderá começar a ser testada. “Vamos trabalhar obcecadamente com este tema. Temos a possibilidade de fazer com que as pessoas vivam mais anos, com melhor qualidade de vida”.
Que idade temos?
Aprendemos a dar o envelhecimento como adquirido. Os anos passam e vamos ficando mais velhos. Parte da lógica está associada à nossa idade cronológica, aquela com que nos apresentamos aos outros e consta no cartão de cidadão. Mas e se lhe dissermos que, na realidade, temos duas idades? A outra chama-se idade biológica. Diz respeito à idade do nosso corpo, do nosso sistema biológico. E tanto pode ser superior à nossa idade cronológica (sinal de que estamos a envelhecer a um ritmo mais acelerado), como inferior (estamos a envelhecer a um ritmo mais lento).
Como é que se envelhece mais depressa ou mais devagar? E o que é que influencia estes ritmos de envelhecimento? Apesar de ainda não existir uma fórmula completa para explicar todo o processo, existem cada vez mais indicadores do que contribui para o envelhecimento biológico. “O envelhecimento é um dos grandes mistérios que temos para resolver. O envelhecimento começa ainda durante o desenvolvimento embrionário. E isso deixou-me completamente apaixonado. É algo multifatorial e foi isso que me atraiu”, começa por dizer José Pedro Castro, atualmente a trabalhar no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) e que há mais de 15 anos estuda o envelhecimento. Doutorado em biomedicina pela Universidade do Porto, já passou pelo Grune Lab, na Alemanha, por Harvard, nos EUA, e tem vários artigos científicos publicados sobre o tema.
Recuemos um pouco no tempo (mas ainda não na idade, isso só lá mais para a frente). Porque é importante a diferença entre as duas idades? “Queremos perceber a idade biológica, como podemos medi-la e que intervenções podemos ter para reduzir e manipular esta idade biológica. Indivíduos com idade biológica mais avançada à idade cronológica têm maior risco de doenças crónicas”, defende o investigador. E esta diferença deve-se aos chamados grandes marcos (hallmarks em inglês) do envelhecimento, fatores que influenciam mudanças bioquímicas no nosso organismo. Em 2013, quando foi apresentado o primeiro grande estudo com esta teoria, existiam sete grandes marcos. Atualmente, já são reconhecidos pelo menos 12. Desde células geneticamente instáveis, a alterações epigenéticas (mudanças no DNA que afetam os genes), encurtamento dos telómeros (levando à morte das células), perda de proteostase (degradação de proteínas nas células), entre outros. “Os hallmarks foram importantes para mostrar que o envelhecimento não é um conceito abstrato, é algo que podemos manipular”, explica José Pedro Castro.
Por exemplo, um elemento que não estava no modelo original e agora já faz parte dos ingredientes do coquetel do envelhecimento é a inflamação, ou seja, estímulos nocivos que fazem ativar o sistema de defesa do corpo. “Há pessoas que envelhecem mais no sistema cardíaco e outras mais no sistema imunitário. Não sabemos o que distingue em termos moleculares estas pessoas. A maior parte das doenças crónicas têm uma base comum que é a inflamação. Neste momento já identificamos uma assinatura de inflamação que, ainda é prematuro, mas parece estar envolvida em doenças cardiovasculares, renais e pulmonares”, diz o investigador do i3S. “As células mais inflamatórias, como estão no sangue, afetam órgãos como rins, pulmões e coração. Andam por lá e começam a infiltrar os tecidos, a expandir e irradiar a inflamação”, justifica sobre o porquê de ter influência no processo de envelhecimento. Sabia, por exemplo, que as pessoas que não têm o sono em dia têm mais indicadores de inflamação?
A inflamação é justamente uma das áreas que José está a investigar ativamente. “Temos um artigo a submeter na [revista] The Lancet no qual encontramos uma das razões pelas quais os centenários são centenários. Posso adiantar que parece que estão menos desregulados em termos de sistema imunitário, em termos de inflamação. A inflamação, do meu ponto de vista, parece ser algo importante para estratificar um envelhecimento saudável de um envelhecimento vilão”.
José Pedro Castro também estudou animais com elevados índices de longevidade e identificou um composto (KU0063794) que permitiu aumentar o tempo médio de vida de ratinhos em 30%. “Se há baleias a viver 200 anos, não vejo porque não conseguimos estender o nosso tempo de vida para além daquilo que vivemos agora”
Para saber mais sobre o envelhecimento, José Pedro Castro também já estudou alguns dos animais com maiores índices de longevidade, como a baleia-da-Gronelândia, o rato-toupeira-nu e o morcego de Brandt. O que a investigação tentou perceber foi quais os mecanismos de “resiliência” que estes animais mostravam ter. Isto porque no processo do envelhecimento, nem tudo é mau – há adaptações que o corpo faz para acomodar o envelhecimento. E sabendo o que ajuda a aumentar a resiliência dos animais, torna-se possível tentar sintetizar esses motivos, criar um fármaco que replique os mesmos efeitos dessa resiliência. Tudo para que possamos viver mais. Nesse estudo, identificaram um composto (chamado KU0063794) que permitiu aumentar o tempo médio de vida de ratinhos em 30%.
“Se há baleias a viver 200 anos, não vejo porque não conseguimos estender o nosso tempo de vida para além daquilo que vivemos agora. É possível estender mais do que os 122 anos [da pessoa mais velha de sempre], parece-me que sim”, sublinha o investigador do i3S. “Não estamos é necessariamente a viver melhor”, alerta por outro lado. “O tempo de vida saudável não está a acompanhar a extensão de vida em termos de números. E é algo que tem motivado o crescimento da biogerontologia. O pesadelo é viver mais com mais doenças, que é o que está a acontecer agora”, avisa.
É por isso que além de ser importante a investigação sobre o envelhecimento e a longevidade, também é importante continuar a evoluir no combate às doenças que atualmente mais matam. Se queremos viver mais, temos de ser mais eficazes contra aquilo que nos faz viver menos.
O novo homem de Vitrúvio
Chama-se Bryan Johnson, tem 46 anos cronológicos, mas 18 anos de idade biológica. Conhecido por ter sido um dos fundadores do sistema de pagamento Venmo, tornou-se recentemente notícia por outros motivos: gasta sensivelmente 1,9 milhões de euros por ano para manter-se jovem. O americano, que se autoapelida como “a pessoa mais medida da História”, está a desenvolver um conjunto de experiências (de alimentação, exercício, sono, tratamento da pele e cabelo, entre outras) para medir o impacto que têm no seu corpo como um todo e em determinados órgãos, em particular. Este programa, chamado de Blueprint Protocol, tem a particularidade de estar a ser partilhado à medida que evolui. Ou seja, sempre que Johnson acredita ter encontrado algo com impacto positivo no seu ‘rejuvenescimento’, partilha essa informação (toda agregada no site protocol.bryanjohnson.com), assim como os métodos usados para as medições corporais e os respetivos resultados. Atualmente, Johnson diz ter muitos indicadores ao nível de um jovem de 18 anos e ter uma taxa de envelhecimento de 0,68 anos por ano (segundo um teste de metilação de ADN). “Acho que acima de tudo é positivo do ponto de vista de publicidade para o campo, porque tem tido muita cobertura”, começa por comentar João Pedro Magalhães a propósito deste projeto. “Do ponto de vista científico ele tem sido bastante aberto sobre o que está a fazer, podemos ver quais as intervenções e tratamentos. Mas se faz tantas coisas, é difícil dizer o que está a funcionar e o que não está. Mesmo que alguns padrões biológicos estejam melhores, não quer dizer que vá viver mais tempo. Do ponto de vista científico a utilidade é limitada, é uma pessoa a tentar muitas coisas, mesmo que algo funcione é difícil perceber o que funciona”, sublinha o investigador português.
No reino das doençasfatais
Também nesta área há portugueses a dar cartas e com trunfos na manga. Cristiana Pires (diretora executiva), Filipe Pereira (líder de inovação) e Fábio Rosa (líder de investigação) mudaram-se, em 2017, para a Suécia. Na época, o país fez um forte investimento na criação de novos centros de investigação e no recrutamento de investigadores estrangeiros, o que levou à mudança dos três para o norte da Europa. No ano seguinte, o grupo publica um estudo no qual tinha estado a trabalhar e que deu origem à startup Asgard Therapeutics.
Estes investigadores decidiram juntar duas áreas, nem sempre combinadas, para criar novas terapias para o tratamento de doenças oncológicas: a reprogramação celular, na qual é feita a modificação da identidade de uma célula, e a imunologia. “Descrevemos pela primeira vez a combinação de três proteínas, que quando eram entregues a células da pele, eram capazes de converter a célula da pele em células ‘soldado’ do sistema imunitário, que andam no corpo à procura destas células exógenas”, começa por explicar Fábio Rosa a propósito do sistema que a Asgard está a desenvolver. O grupo decidiu usar esta combinação para virar as células tumorais contra si próprias.
“Agora estamos a usar essa combinação de três proteínas, estamos a entregá-las às células do cancro e a converter células do cancro em células dendríticas. As células do cancro induzem resposta imunitária contra elas próprias”, detalha o investigador. “De momento estamos a focar a nossa tecnologia no tratamento de tumores sólidos. Não só os cutâneos, como melanoma e sarcoma, mas tumores que estão dentro do corpo. O nosso foco são dois cancros principais: cabeça e pescoço, e o cancro do cólon e do reto”, detalha o responsável pela área de investigação.
Em testes de laboratório, a startup conseguiu “completamente curar animais [ratinhos] com reprogramação celular”, segundo Filipe Pereira. Segue-se agora um caminho “longo” e dispendioso para que esta tecnologia possa ser aplicada ao tratamento de tumores em humanos. “Até ao final do ano passado, estávamos em investigação para gerar a prova de conceito, o desenvolvimento do produto em si. Quer dizer que não só estamos a produzir um vírus, que é a plataforma que usamos para entregar as três proteínas, como o que estamos a fazer é produzir vírus em qualidade suficiente e a conduzir ensaios pré-clínicos que têm como objetivo validar a eficácia, para depois demonstrar a segurança deste tipo de tratamento. Em dois anos e meio iremos iniciar o nosso primeiro ensaio clínico em humanos, para testar o nosso programa de terapia genética”, revela Fábio Rosa.
Até entrar em comercialização, este método pode demorar entre oito a dez anos, segundo as estimativas dos fundadores. E já está protegido por patentes, com a startup a já ter 29 propriedades intelectuais protegidas.
Da esquerda para a direita: Fábio Rosa, Cristiana Pires e Filipe Pereira. Os cofundadores da Asgard Therapeutics combinam a imunologia com a reprogramação celular para criar tratamentos mais eficazes contra o cancro.
A Asgard Therapeutics recebeu recentemente um investimento de 30 milhões de dólares (cerca de 28 milhões de euros), valor que vai ser usado para a produção dos vírus para a terapia, para o reforço da equipa (são nove elementos atualmente) e para investigar outros métodos de entrega dos fatores de reprogramação que possam ser mais escaláveis. Mas além do impacto direto do tratamento do cancro, de forma mais eficaz, numa maior longevidade das pessoas, uma curiosidade é que uma das técnicas que está a ser usada pela Asgard no tratamento do cancro, a da reprogramação celular, é também uma das áreas mais promissoras no campo da longevidade.
“A Asgard está a desenvolver a primeira imunoterapia baseada em reprogramação celular. A par com este objetivo há outras empresas que estão a usar a reprogramação para o rejuvenescimento. Há uma ligação em mudar a identidade das células, seja para resposta imunitária ao cancro, como para induzir rejuvenescimento das células. Acho que vai convergir numa vida mais saudável, mas a minha conclusão é que existe bastante promessa na reprogramação celular”, detalha Filipe Pereira.
Como viver para lá dos 100
O envelhecimento é uma doença? “Acho que é uma questão mais semântica do que biológica, a forma como se define envelhecimento e doença. O envelhecimento é o processo que desencadeia a maioria das doenças que afetam os seres humanos”. Quem o diz é João Pedro Magalhães, um investigador português que anda há muitos anos à procura de respostas no complexo mundo do envelhecimento. Atualmente lidera o Rejuvenomics, um laboratório da universidade de Birmingham, no Reino Unido, dedicado ao estudo do envelhecimento. Ali coordena uma equipa de dez investigadores que estão a trabalhar em diferentes frentes para encontrar respostas sobre como viver melhor e mais tempo. “O envelhecimento tem uma complexidade adicional, afeta múltiplos tecidos, múltiplos órgãos e é lento – estudar o envelhecimento numa pessoa é trabalho para toda a vida”, explica.
Mas por ter dedicado a vida a estudar o envelhecimento, há pistas a ter em conta. Por exemplo, “75% da nossa longevidade tem a ver com fatores de ambiente como estilo de vida, a dieta e o exercício”, detalha. Os outros 25% são relativos à nossa genética. “Sobretudo em idades avançadas, em pessoas centenárias, o componente genético torna-se mais importante do que o ambiental. Uma pessoa que quer viver mais de 100 anos, a melhor coisa a fazer é escolher bem os pais e os avós”, atira em jeito de brincadeira.
Genética por um lado, estilo de vida saudável por outro e, quem sabe, um pouco de rilmenidina à mistura. Este é um dos fármacos que o laboratório de João Pedro Magalhães tem estado a investigar com potencial para aumentar o tempo de vida saudável das pessoas. Num estudo publicado no ano passado, o grupo conseguiu usar este medicamento, já usado em humanos, no tratamento da hipertensão, para aumentar o tempo de vida do caenorhabditis elegans, um animal de apenas um milímetro e que é muito usado nos estudos de biologia. Este fármaco produz o mesmo efeito da restrição calórica e permitiu identificar um recetor no animal como um potencial alvo para o aumento da longevidade, ao mesmo tempo que aumentou em 19% o tempo de vida, quando comparado com os animais do grupo de controlo. “Gostávamos de ter financiamento para fazer um ensaio clínico”, revela.
O Rejuvenomics está também a fazer estudos do impacto das alterações de epigenética no processo de envelhecimento e está ainda a investigar uma outra grande área na categoria do envelhecimento – que é, antagonicamente, o rejuvenescimento. “Estamos a tentar perceber quais os melhores mecanismos para induzir o rejuvenescimento celular”, revela o investigador natural do Porto.
João Pedro de Magalhães lidera o Rejuvenomics, um laboratório que está a estudar diferentes áreas relacionadas com o envelhecimento. O grupo vê na rilmenidina um fármaco com potencial para aumentar a longevidade
O trabalho segue um momento liminar nas ciências da vida que valeu, inclusive, um prémio Nobel ao seu criador. Em 2006, um cientista japonês chamado Shinya Yamanaka publicou um estudo no qual descrevia quatro fatores de transcrição, proteínas que têm capacidade de transcrever genes, quando induzidas ao mesmo tempo. Isto permitia transformar células específicas em células embrionárias. É este trabalho que está, por exemplo, na base do tratamento desenvolvido pela Asgard Therapeutics. E a comunidade de investigadores da longevidade também está a olhar de perto para este tema. Se é possível reverter por completo uma célula, será possível reverter parcialmente a célula, não ao ponto de a tornar embrionária, mas apenas ao ponto de a tornar mais jovem? Dito de outra forma, será possível fazer o relógio biológico de uma célula andar para trás através da estimulação certa?
Este é o ‘santo graal’ da longevidade que muitos laboratórios de investigação e empresas (como a Altos Labs) estão a tentar encontrar. “O risco é que uma célula embrionária tem uma probabilidade mais alta de originar cancro. O objetivo é tentar conseguir pegar em células adultas, torná-las em células jovens e tentar não desenvolver cancro”, explica João Pedro de Magalhães. “Mas não há dúvida que o campo tem potencial”. Afinal de contas, há séculos que um ‘elixir da juventude’ faz parte da imaginação coletiva. Quanto valeria um ‘frasco’ destes?
Até agora, o recorde de longevidade humana pertence à francesa Jeanne Louise Calment, que viveu 122 anos e 164 dias, tendo morrido em 1997. Com todos os avanços, cérebros e milhares de milhões de euros que estão a ser alocados nesta área, estamos mais perto de fazer aumentar este recorde? “Acho que vamos conseguir abrandar o envelhecimento o suficiente para alguém viver 150 anos”. Quem sabe, caro leitor, se não é essa pessoa.
Apostas milionárias na longevidade
Altos Labs: É a startup de referência na área da longevidade. Tem entre os investidores Jeff Bezos, fundador e ex-CEO da Amazon, e Yuri Milner, criador do ‘Gmail da Rússia’. A empresa é liderada por Hal Barron, um reconhecido investigador na área da biologia celular, e conta com Juan Carlos Izpisua Belmonte, a pessoa que em 2016 provou ser possível reprogramar apenas parcialmente as células, como cientista-chefe. A startup está focada no desenvolvimento de tecnologias de reprogramação celular, com o objetivo de rejuvenescer células, o que teria um enorme impacto na cura de doenças, assim como no processo de envelhecimento. A empresa terá cerca de três mil milhões de dólares em capital para avançar na investigação.
Retro Biosciences Só o facto de ter recebido 180 milhões de dólares de investimento de Sam Altman, o diretor executivo da OpenAI (empresa responsável pelo ChatGPT), seria suficiente para colocar esta empresa nas bocas do mundo. Mas a Retro Biosciences está a investigar uma forma de rejuvenescer as células T, que fazem parte do sistema imunitário e são essenciais no combate a infeções e doenças como o cancro. O método da Retro Biosciences consiste em retirar estas células dos pacientes, reprogramá-las e voltar a colocá-las no corpo, por forma a reforçar as defesas naturais do sistema biológico. Na fase inicial, a empresa quer começar com células dos ouvidos e dos joelhos. O que distingue esta empresa de muitas outras da área, é o objetivo: aumentar, nos próximos dez anos, em dez anos a esperança de vida saudável nos humanos. A empresa está ainda a explorar terapias baseadas em plasma (na prática, diluir o plasma do sangue, para baixar os níveis de inflamação) e na autofagia (o sistema de ‘limpeza’ das próprias células) como uma forma de resolver as chamadas doenças relacionadas com o envelhecimento. Os fundadores são Joe Betts-LaCroix, Sheng Ding e Matt Buckley.
Calico Life Sciences Muito antes de Bezos e Altman, já Sergey Brin e Larry Page, da Google, colocavam as fichas num projeto dedicado à longevidade, com o objetivo de “permitir que as pessoas tenham vidas maiores e mais saudáveis”. A Calico foi fundada em 2013 e, um ano depois, foi anunciada uma parceria com a gigante farmacêutica AbbVie. Dez anos depois, começam a surgir os primeiros resultados. A empresa tem estado muito focada nos mecanismos que levam ao envelhecimento dos organismos, tendo anunciado recentemente a criação do mais completo modelo de representação da proteína conhecida como PAPP-A, associada ao abrandamento do envelhecimento. Ao conhecer melhor a estrutura desta proteína, é possível perceber melhor como funciona e como se relaciona com outros elementos do organismo, influenciado (ou não) o envelhecimento. A Calico é atualmente liderada por Arthur Levinson.
À medida que se aproxima o prazo para a entrega do IRS, é comum surgirem dúvidas sobre as despesas a declarar e as isenções de que pode usufruir. Ana Castro Gonçalves, Advogada e Sócia da equipa de Fiscal e Segurança Social da Caiado Guerreiro, explica como pode beneficiar da isenção de IRS, caso tenha vendido um bem imóvel (seja este uma habitação própria permanente, uma segunda habitação ou um terreno urbanizável). A rubrica “Verdade e Consequência”, uma parceria entre a revista VISÃO e a Caiado Guerreiro, Sociedade de Advogados.
Em Portugal todos estão sujeitos ao Direito Fiscal já que este regula aspetos jurídicos dos impostos, protegendo ao mesmo tempo os direitos dos cidadãos. A base e os grandes princípios orientadores do direito fiscal em Portugal encontram-se na Constituição da República Portuguesa, daí resultando o princípio de legalidade tributária, a proibição da retroatividade da lei fiscal e o princípio da igualdade tributária.
Verdade e Consequência é uma parceria entre a revista VISÃO e a Caiado Guerreiro, Sociedade de advogados. O conteúdo desta informação não constitui aconselhamento jurídico e não deve ser invocado nesse sentido. Aconselhamento específico deve ser procurado sobre as circunstâncias concretas do caso.
.Num retrato do mercado laboral em Portugal, no âmbito do 1.º de Maio (Dia do Trabalhador), a Pordata indica que tanto o salário mínimo nacional, como o salário médio português estão entre os 10 mais baixos da União Europeia (UE).
Os dados revelam que Portugal é o 5.º país com salário médio mais baixo, quando considerando o custo de vida, apenas acima da Eslováquia, Grécia, Hungria e Bulgária.
Por outro lado, em Espanha os salários são, em média, um terço mais elevado do que em Portugal.
Newsletter
A Pordata revela ainda que o salário médio anual por trabalhador (sem paridade de poder de compra) em Portugal era o 10.º mais baixo dos países da UE, em 2022, com os salários nos 10 países que registam os mais elevados a serem, pelo menos, duas vezes superiores aos dos 10 países da cauda (onde se inclui Portugal).
Também o salário mínimo português, quando considerado em paridade de poder de compra, está entre os 10 mais baixos dos 22 países da união europeia com salário mínimo.
“Em 20 anos, Portugal foi ultrapassado pela Polónia, Lituânia e Roménia no que diz respeito ao salário mínimo nacional (SMN)”, refere, acrescentando que o salário mínimo nacional é 26% mais baixo do que em Espanha e 47% do que em França.
Os dados revelam que o ordenado médio mensal dos trabalhadores por conta de outrem, em Portugal, (incluindo horas extra, subsídios de férias e Natal ou prémios) foi de 1.368 euros em 2022.
“O salário mínimo nacional está cada vez mais próximo do ordenado médio. Em 2002, o salário mínimo correspondia a 43% do ganho médio e em 2022 esta percentagem já tinha subido para 52%”, assinala.
A fotografia da Pordata indica ainda que o salário médio em Portugal dos trabalhadores do setor do alojamento e restauração (873 euros) e o da agricultura e pescas (916 euros) estão entre os mais baixos.
Por outro lado, o setor das atividades financeiras e de seguros (1.705 euros), da eletricidade, gás e água (2.243 euros) e de organismos internacionais e outras instituições extraterritoriais (3.156 euros) são aquele em que o salário médio é mais elevado.
Um em cada seis trabalhadores em Portugal tem contrato a prazo
Olhando para o vínculo laboral, os dados divulgados pela Pordata mostram que um em cada seis trabalhadores em Portugal tem contrato a prazo, sendo o 3.º país europeu com maior percentagem – 17,4% dos trabalhadores no país têm contrato a prazo, acima da média da União Europeia de 13,4 por cento.
Este é um rácio, segundo a Pordata, que se tem mantido quase sem alteração nos últimos 20 anos.
Entre os países com maior percentagem de contratos a prazo estão a Sérvia e os Países Baixos.
Por outro lado, Portugal é o 10.º país dos 27 da União Europeia com menor proporção de trabalhadores a tempo parcial, já que apenas oito em cada 100 trabalhadores se encontram em regime ‘part-time’.
“Olhando apenas para as mulheres portuguesas que estão empregadas, apenas uma em cada 10 o faz a tempo parcial. É o 9.º país da UE27 com menor percentagem de mulheres empregadas em ‘part-time'”, aponta a Pordata, que assinala que nos Países Baixos e na Áustria mais de metade das mulheres empregadas trabalham neste regime.
Quando perguntamos a Ricardo Costa qual o segredo para manter a criatividade no restaurante Gastronómico, que gere há 14 anos no The Yeatman Hotel, a resposta até parece simples: “Ter as peças nos sítios certos”. O caminho passa por “manter o menu consistente em todos os aspetos: a nível de sabor, de timing no serviço de sala… Não é só o prato em si que conta”, diz o chefe de cozinha, natural de Aveiro, que conquistou as duas Estrelas Michelin para este hotel vínico em Vila Nova de Gaia.
A cada primavera, o restaurante renova o menu de degustação, depois de semanas a limar arestas e a afinar técnicas com vista a garantir uma melhor experiência para quem decida sentar-se nesta sala em tons de azul e pastel, com uma das melhores vistas sobre o Porto, o rio Douro e Gaia.
Premiados pelo Guia Michelin 2024: Pedro Marques (Prémio Serviço de Sala), e Ricardo Costa (duas Estrelas Michelin). Foto: DR
Newsletter
Este ano, o centro das atenções já não se resume apenas à cozinha de Ricardo Costa (visível das mesas através de uma grande janela).
Os olhares recaem também sobre Pedro Marques, há 12 anos o exímio chefe de sala do Gastronómico, que recebeu o Prémio Serviço de Sala atribuído pelo Guia Michelin 2024. “O prémio foi importante para mim e para a equipa. É bom para a profissão em si porque poucos querem ser empregados de mesa”, aponta Pedro Marques, 43 anos, natural de Viseu, enquanto nos serve um espumante na garrafeira renovada do hotel com 40 mil garrafas e 1300 referências (97% das quais portuguesas), e onde acontecem provas de vinho (sob marcação).
A renovada garrafeira do hotel. Foto: DR
No novo menu de degustação Evolução de Aromas (€250), Ricardo Costa continua a apostar no marisco e nos peixes de rio e de mar sazonais, da Galiza, Aveiro ou do Algarve, com um desvio à Mealhada.
Nesta temporada, o jantar começa a ser servido no lounge do Dick’s Bar & Bistro, ao som do piano tocado ao vivo, em três horários de terça a sábado: 18h30, 19h30 e 20h30. É aí que o cliente seleciona o menu de vinhos (€125 e €250) escolhidos pela diretora de vinhos do hotel, Elisabete Fernandes, com os quais há de harmonizar os pratos. Quem optar pelo menu de bebidas não alcoólicas (€90) também encontrará novidades: cocktail de maçã verde, couve portuguesa e espinafre; infusão de malva rosa com água tónica; e gin não alcoólico com romã e hibiscos.
Suspiro LYO (frango assado) e cozido português; Bolacha de camarão da costa
Esta viagem gastronómica com mais de dez paragens começa com o Suspiro LYO, uma reinterpretação de frango assado português (a imaginação leva-nos facilmente até a uma churrasqueira), ao qual se segue um surpreendente cozido português crocante, em jeito de snack, com o respetivo caldo para beber. Ainda no bar servem-se a sanduíche de atum com alga nori e gengibre; o lagostim com creme de crustáceos e a santola com caviar e churros verdes com clorofila de espinafres.
Ricardo Costa vai dar nome a um dos 12 restaurantes do Time Out Market Porto, que abre nesta sexta, 3 de maio, na ala sul da Estação de São Bento, no Porto. Na ementa, vai constar sanduíche de leitão, tripas à moda de Gaia, bola de Berlim com estufado de novilho trufado, sopa de bacalhau, croquetes de arroz de pato, e, entre outras propostas, gelado de ovos moles e tripas de chocolate.
Antes de nos sentarmos na sala, passamos pela cozinha (imaculadamente arrumada e limpa), onde Ricardo Costa conversa com os comensais e serve uma finíssima bolacha de camarão da costa, feita com farinha de arroz, ovos, temperos e camarão.
Bacalhau com grão-de-bico, zamburinha galega e laranja sanguínea. Fotos: DR
Finalmente à mesa, dar-se-á continuidade ao menu de peixes do mar, do rio e, sempre que possível, também da ria de Aveiro. Saboreia-se o novo cremoso de ouriço-do-mar com moreia com um caldo dashi, harmonizado com saquê a levar-nos até ao Oriente. Da Galiza vem a zamburinha (espécie de vieiras pequenas apanhadas nas rias galegas), finalizada com sumo de maçã verde e jalapeños temperados com yuzu. Seguir-se-ão o salmonete regado com óleo de cebolinho, daikon (nabo japonês), puré de couve-flor tostado e kimchi; o pregado maturado à Bulhão Pato; e a enguia a fazer lembrar a típica caldeirada de Aveiro. “Usamos enguias nacionais que depois de filetadas são cozinhadas a vapor, com uma técnica japonesa, grelhadas no momento e pinceladas com molho de escabeche, romesco e curcuma”, explica Ricardo Costa.
A sala do Gastronómico. Foto: DR
Antes de provarmos o único prato de carne da carta, o já famoso leitão à moda da Bairrada (receita apurada desde 2021), é servido o bacalhau com puré de grão-de-bico, grelos e molho de mão de vitela. Nas sobremesas, conte-se com os famosos ovos moles de Gaia (uma versão de Ricardo Costa do doce conventual de Aveiro) e, entre outras, as não menos famosas tripas de chocolate e a laranja sanguínea.
A noite já vai longa e só há de terminar com uma infusão de chá de ervas aromáticas do hotel, antes do último piscar de olho às duas margens iluminadas do rio.
Gastronómico – The Yeatman Hotel > R. do Choupelo, Vila Nova de Gaia > T. 22 013 3173 / 22 013 3100 > ter-sáb 18h30, 19h30, 20h30 > Menu degustação €250; suplemento vinhos The Yeatman Selection €125; Prime Selection €250; Bebidas Não Alcoólicas €90 > www.the-yeatman-hotel.com
A guerra na Ucrânia faz cada vez menos manchetes, face ao cansaço da opinião pública, ao fim de mais de dois anos de conflito, mas encontra-se numa das suas fases mais decisivas. A Rússia tem intensificado os seus ataques (ontem ao final da tarde e esta madrugada, atacou várias localidades na região de Sumy e a cidade de Odesa, onde matou quatro civis), tentando tirar partido da sua superioridade em poder de fogo antes que o pacote militar americano de €61 mil milhões comece a chegar à linha da frente. E, a julgar por boa parte da opinião no espaço público, a Rússia está a entrar pela Ucrânia como faca quente em manteiga.
Temos visto, nos últimos meses, uma atitude triunfante, se não ufana, do lado pró-russo. É uma postura que esteve sempre presente, alimentada em grande parte pelas “fábricas” de bots que integram a máquina de desinformação do Kremlin. Já lá estava antes de 24 de fevereiro de 2022 e durante os primeiros dias da invasão, a tentar convencer-nos de que o exército russo ia ter um passeio até Kyiv. A capitulação da Ucrânia era inevitável, continuaram a garantir-nos nos meses seguintes, apresentando conquistas territoriais de pequenas aldeias desabitadas como grandes vitórias e desvalorizando as “retiradas estratégicas” e “gestos de boa vontade”, que se traduziram na recuperação pela Ucrânia de áreas imensas (como a contraofensiva de Kharkiv, que resultou na libertação de 12 mil quilómetros quadrados – dois Algarves e meio).