Visão
A utilização de bicicleta como meio de transporte tem vindo a crescer. E muitos destes novos ciclistas usam e-bikes, que podem custar milhares de euros. Dois fatores que fazem da segurança das bicicletas uma preocupação crescente. E se um bom sistema de retenção pode ajudar a evitar o roubo, os sistemas de geolocalização podem ajudar a recuperar a bicicleta quando cai em mãos alheias.
O módulo de GPS do Invoxia Bike Tracker é muito pequeno, o que facilita o processo de esconder este dispositivo. Aliás, apesar do nome, nada nos impede de usar este sistema para geolocalizar outros veículos ou mesmo animais. Por exemplo, é pequeno e leve o suficiente para ser fixado numa coleira de um pequeno cão ou gato. E até são fornecidas duas braçadeiras de borracha para facilitar a fixação. Mas este modelo em concreto foi otimizado para bicicletas e, por isso mesmo, é fornecido um refletor para o espigão do selim, com espaço no interior para albergar o dispositivo. A ideia é que os possíveis ‘amigos do alheio’ não notem que a bicicleta está equipada com um geolocalizador. Claro que nada impede que se esconda o dispositivo num outro sítio. Ainda sobre o refletor, a Invoxia poderia ter feito um melhor trabalho a disfarçar a real função deste acessório: seria melhor se emitisse luz porque é demasiado grande para um simples refletor.

GPS a sério
Este dispositivo é um verdadeiro sistema de geolocalização independente, capaz de obter a posição através de satélites GPS ou Wi-Fi (usado, sobretudo, em espaços interiores). Muito diferente de localizadores passivos, como o AirTag da Apple ou o SmarTag da Samsung, que precisam de smartphones nas proximidades para serem detetados.
O Bike GPS Tracker usa uma ligação de dados para transmitir a informação aos servidores da empresa, que, deste modo, fica acessível na app para smartphone. Naturalmente, a app mostra o posicionamento do identificador no mapa. Mas a ligação de dados não é feita através da habitual rede móvel (4G/5G), mas sim através de tecnologias de comunicação menos conhecidas, a LoRa e a SigFox, sistemas de comunicações criados para aplicações IoT, que se caracterizam por um consumo energético muito baixo. Uma das razões pela qual o Invoxia Bike Tracker pode funcionar durante algumas semanas sem ser recarregado – o que é feito por USB.
Em Portugal será mais usada a rede SigFox, que já tem uma cobertura de cerca de 70% do território nacional (mais de 90% da população, segundo a Sigfox Portugal). Não é uma cobertura tão vasta como as redes móveis, mas, até pelos testes que fizemos, parece-nos satisfatória. Nos primeiros três anos não há qualquer custo associado a esta comunicação, mas a partir do quarto ano será cobrado um valor de cerca de €25/ano.
Nos testes realizados, a geolocalização mostrou-se precisa. Além disso, o sistema de alertas funciona de forma eficiente, notificando o smartphone do utilizador caso a bicicleta seja movida ou saia da zona geográfica definida na app. Esta aplicação permite ver o histórico das localizações. Há duas opções para o tempo de atualização da posição: 5 a 8 minutos ou 10 a 14 minutos, o que afeta, naturalmente, a autonomia. A primeira opção permite uma autonomia de 5 dias a um mês e a segunda opção de 10 dias a sete semanas. Esta grande variação é consequência do sistema de poupança de energia, que só ativa a geolocalização quando é detetado movimento. Ou seja, se o localizador estiver parado, quase não há qualquer consumo energético.
O modo radar permite detetar o identificador quando estiver no raio de ação de Bluetooth, para uma localização mais precisa.
Veredicto
Se tem um iPhone ou um smartphone da Samsung e vive numa zona urbana, é provável que tenha uma experiência de localização semelhante com os bem mais económicos AirTag e SmarTag. Por outro lado, Invoxia Bike Tracker dá garantias de localização extra quando o localizador sai para zonas suburbanas. De outro modo, se é um ciclista que procura uma solução simples e eficaz para proteger a sua bicicleta contra roubos, o Invoxia Bike Tracker é uma boa opção. A facilidade com que pode ser aplicado a outros objetos, veículos e até animais é outra vantagem. Neste aspeto, experimentámos esconder este localizador no interior de um carro e, mesmo assim, a localização funcionou bem, o que demonstra uma boa capacidade de detetar o sinal de GPS.
Tome Nota
Invoxia Bike GPS Tracker – Desde €149,99
Autonomia Muito bom
Localização Muito bom
Construção Bom
Aplicação Muito bom
Desempenho: 4,5
Características: 4,5
Qualidade/preço: 3
Global: 4
Palavras-chave:
Estamos no alpendre de uma das villas privadas do L’And Vineyards, em Montemor-o-Novo, um enoturismo exclusivo que pertence à prestigiada associação Relais & Châteaux, e a mesa já está posta. Na cozinha, virada para a área exterior da casa, David Jesus vai afinando os últimos detalhes, enquanto estamos entretidos com os aperitivos. Tudo o que o chefe servirá neste almoço será abençoado pela Ethic Ocean – sabemos, desde logo, que nenhuma espécie de peixe ou marisco pousada no prato está ameaçada. O Mediterrâneo tem de ficar de fora do menu, já que 90% do peixe que lá habita está sobre-explorado, isto é, a morrer.
Ao nosso lado, senta-se Elisabeth Vallet, diretora desta organização não governamental francesa dedicada à preservação dos recursos piscatórios e ecossistemas marinhos, e dá nota 20 às escolhas do cozinheiro que se mudou recentemente para esta herdade alentejana, para assumir os comandos do restaurante Mapa. A campanha SOS pela Biodiversidade propõe-se remover todas as espécies presentes em listas vermelhas dos menus dos restaurantes membros da associação.
A Relais & Châteaux e a Ethic Ocean são parceiras desde 2009, para que a preocupação dos seus membros (580 hotéis e restaurantes excecionais em todo o mundo) com o esgotamento insustentável de stocks possa ter aplicação prática. Rui Silva, diretor em Portugal e Espanha, defende que se deve aproveitar a força enorme da organização para algo positivo (tem a maior concentração de Estrelas Michelin do mundo, em que se incluem 13 restaurantes nacionais). “Todos juntos, conseguiremos influenciar os outros chefes nesta mudança”, acredita.

Esta parceria permite que, em caso de dúvida, e durante o processo de criação de uma ementa, “qualquer um dos chefes que pertencem à associação possa submeter os produtos do mar com que trabalha nos seus restaurantes para saber em que estado de preservação se encontram”. Portugal, garante-nos a bióloga, é um exemplo de boas práticas. Porém, qualquer pessoa pode consultar o Guide des Espèces, em francês, no site da Ethic Ocean. Registe-se que a sardinha, em tempo dela, pode ser comida, mas com moderação.
“Não queremos apontar dedos, nem estabelecer proibições, mas sim fazer pedagogia junto de todos os envolvidos na cadeia alimentar, desde pescadores a pessoas que fazem aquacultura, assim como cozinheiros”, afirma Elisabeth Vallet, uma especialista nesta matéria vai para 13 anos.
Voltando ao Alentejo e à mesa que nos espera, David Jesus assegura que tudo o que vai cozinhar é português e mostra, com algum orgulho, os exemplares que conseguiu arranjar para este almoço, sempre em contacto direto com os pescadores.
Socorrendo-se agora deles, há de proporcionar-nos um desfile de pratos deliciosos e originais, com base em lula dos Açores, sardinhas, chicharro (Portugal é o único local em que é sustentável), lagostim do rio, tamboril, camarinha (minicamarõezinhos que não crescem mais), carapaus, corvina e gamba da costa (com ceviche de tremoço, só para aguçar o apetite). Ou seja, consegue continuar a deixar os clientes de boca aberta, não se afastando da linha de proteção dos mares e dos rios. “É mais difícil contarmos com os produtos do rio, mas esta premissa de recorrer apenas à pesca sustentável até estimula a criatividade”, nota o chefe, enquanto dá o último retoque no empratamento da tortilha de camarinhas com creme de alho e kimchi.
Enguias: estado de desgraça
Embora tenha havido algum progresso nos últimos anos, o setor da aquacultura, responsável por 50% dos frutos do mar que se consomem no mundo, enfrenta também obstáculos ambientais e sociais. Damos um exemplo: a produção de camarão em áreas tropicais é responsável por desequilíbrios ecológicos profundos, como a destruição massiva de mangues, a criação de “zonas mortas”, poluição e desperdício de água doce.
A Relais & Châteaux já se havia juntado à campanha #eelnothankyou, desenvolvida pela Ethic Ocean desde o final de 2023, mobilizando os chefes em todo o mundo para salvar as enguias, espécie em avançado estado de extinção.
Os cientistas do Conselho Internacional para o Estudo do Mar referem que o declínio na população de enguia compromete, a longo prazo, o futuro das espécies. Atualmente, não existem adultos suficientes em idade reprodutiva para garantir a renovação geracional.
“O stock da enguia-europeia foi vítima de uma combinação de fatores, incluindo a pesca (legal e ilegal), a destruição dos habitats de zonas húmidas e o bloqueio dos principais canais de migração, como resultado de obras de engenharia em cursos de rios e barragens. As alterações climáticas – associadas ao aumento da temperatura da água e à disrupção das principais correntes oceânicas, tais como a corrente do Golfo, que transporta os leptocéfalos (forma larvar da enguia) para a Europa – são também um possível fator para a sua escassez”, resume Elisabeth Vallet, visivelmente preocupada com a falta de atenção que este problema suscita nos pescadores, nos decisores políticos e ainda nos consumidores, muito mais alerta para evitarem o consumo de baleias.
A todos estes fatores ainda se soma a poluição da água que debilita as defesas imunitárias da espécie e tem impacto nas capacidades reprodutivas de enguias adultas, desorientando os animais durante as migrações.
David Jesus, que sabe da triste história de elas quererem ir dos rios para os mares para desovar e não conseguirem, já não as usa há mais de dois anos na sua atividade profissional.
Elisabeth vai mais longe nas medidas que aplica na sua vida e gostaria que todos a seguissem pelo mesmo caminho: “Devemos diminuir a proteína animal, pela nossa saúde e pela saúde do planeta. Deixar de comer carne e continuar a ingerir peixe não faz sentido. Até porque os animais marinhos trazem consigo outros problemas, como os microplásticos ou os metais pesados.” Era importante passar a encarar os produtos do mar e do rio como algo luxuoso, que não podemos desperdiçar.
Os mais ameaçados
Os números da FAO, a organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, nunca mentem: 35,4% dos recursos marinhos são sobre-explorados, a pesca ilegal representa 20% da captura global e 35% dela é rejeitada e libertada, resultando, muitas vezes, na morte do animal. Três exemplos preocupantes:
– Perdeu-se entre 90% e 99% da população de enguia, nos últimos 40 anos. Várias espécies colapsaram, devido a diversos problemas, sobretudo ambientais, pondo este animal na lista vermelha, o que quer dizer que devem ficar fora da rotina alimentar.
– Diferentes espécies de salmão selvagem tornaram-se raras, devido à pesca intensiva, a mudanças do habitat e a alterações climáticas, por isso não se aconselha o seu consumo. A alternativa de aquacultura é quase sempre muito industrial e utiliza dois a quatro quilos de outros peixes para produzir um quilo de salmão.
– A população de bacalhau na Terra Nova, ao largo da costa do Canadá, nunca recuperou, 30 anos após o seu colapso, apesar da cessação da pesca desde então. Hoje só se deve comer o que vem da Noruega ou das Ilhas Faroé.
No Conselho de Ministros do Ambiente, que decorreu no Luxemburgo a 17 de junho, tive o privilégio, em nome do Governo português, de votar a favor da Lei de Restauro da Natureza. Foi um momento carregado de significado, mais uma ocasião em que a União Europeia mostrou o caminho ao resto do mundo. Com esta lei damos início a um novo ciclo em que, além de protegermos a nossa Natureza e a nossa biodiversidade, assumimos o compromisso de recuperar aquilo que se foi perdendo e degradando.
É uma lei que parte de dois pressupostos fundamentais: necessidade e legitimidade.
Necessidade decorrente do facto de mais de 80% dos ecossistemas da União Europeia se encontrarem degradados, com perdas significativas ao nível da biodiversidade, que tenderiam a agravar-se de forma irreversível se nada fosse feito, bem como do desperdício do potencial destes territórios para a captura de carbono, um aspeto muito importante dos nossos esforços para combater as alterações climáticas.

Legitimidade que emana da vontade expressa dos europeus, como demonstram as conclusões da Conferência sobre o Futuro da Europa, uma ampla reflexão da sociedade civil dos 27 Estados-membros que decorreu entre 2021 e 2022, com mais de 700 mil participantes. “Proteger e restaurar a biodiversidade, a paisagem e os oceanos e eliminar a poluição” foi uma das primeiras recomendações aprovadas.
Com esta lei, correspondemos a essa expectativa, ao assumirmos, pela primeira vez, metas juridicamente vinculativas para proteger e recuperar ecossistemas degradados. Metas que implicam, até 2030, o restauro de 20% das áreas terrestres, marinhas, costeiras e de água doce. Até 2050, o compromisso alarga-se a todos os ecossistemas que necessitem de intervenção, incluindo ecossistemas agrícolas, florestais e urbanos.
Em causa estão desafios tão distintos como garantir a conetividade natural de rios e as funções das planícies aluviais conexas; a recuperação de solos; a reflorestação, estando prevista a plantação de cinco mil milhões de árvores em toda a União Europeia; o combate ao declínio das populações de polinizadores como abelhas, besouros e borboletas; e a valorização e a proteção dos ecossistemas marinhos.
Trata-se de uma lei exigente, mas ponderada, bem fundamentada. Uma lei que, em relação à primeira proposta apresentada pela Comissão Europeia, foi significativamente melhorada no sentido de traçar objetivos realistas e progressivos, sem deixar ninguém para trás, nomeadamente as comunidades e os setores económicos mais diretamente influenciados pelas mudanças a promover.
Progressividade e diálogo
Durante as discussões no Parlamento Europeu, nas quais participei enquanto eurodeputada do PSD, foi possível introduzir nesta lei diversas salvaguardas, que vão ao encontro dos receios que foram sendo expressos, nomeadamente pelos agricultores. E esse espírito prevaleceu no texto final aprovado pelo Conselho.
Designadamente, no caso dos terrenos agrícolas, existirá um travão de emergência acionado sempre que esteja em causa a segurança alimentar ou a produção agrícola.
Além disso, foi introduzida uma cláusula de revisão desta lei, pela Comissão Europeia, em 2033. E foram acauteladas as particularidades dos Estados-membros, conferindo-lhes alguma flexibilidade na elaboração dos seus Planos Nacionais de Restauro. Esta é uma questão importante para o nosso país que, sendo de média dimensão à escala europeia, tem uma grande diversidade, além da situação específica das regiões ultraperiféricas: os arquipélagos da Madeira e dos Açores.
No diploma aprovado ficou estipulado que, até 2030, será dada prioridade aos sítios integrados na Rede Natura 2000. Mas também aos ecossistemas urbanos, os quais terão de ser reforçados até a um nível adequado sempre que tal se justifique, assegurando-se ainda que as cidades não terão perda de espaços verdes urbanos e de outras zonas verdes.
Para concretizarem estes objetivos, os Estados-membros terão de trabalhar com as suas comunidades e com os diferentes agentes económicos, academia, autoridades locais e outras partes interessadas. O diálogo permanente será essencial. E será esta a abordagem do Governo português.
A realidade portuguesa
O nosso país parte para este processo com algum avanço face a outros Estados-membros. Temos uma enorme riqueza natural e, felizmente, de uma forma geral, sabemos valorizá-la. Por exemplo, contamos com 21,8% da área total terrestre abrangida pela Rede Natura 2000, sendo que as áreas marinhas protegidas chegam aos 10,9%. Valor em que já se inclui o Parque Natural Marinho do Recife do Algarve – Pedra do Valado, estabelecido este ano.
Estamos já a dar passos concretos em diversas áreas previstas pela Lei de Restauro da Natureza, tais como a recuperação das populações de polinizadores ou a proteção e a preservação dos nossos rios. Recentemente, aprovámos intervenções ou requalificações no rio Antuã e esteiro de Salreu, rio Arunca e ribeira de Carnide, rio Cértima (concelhos de Mealhada e Anadia), rio Lena, ribeira da Fervença, rio Zela e afluentes, margens do rio Homem, rio Este, ribeira da Espiçandeira, rio Leça, rio Fresno, ribeira de Freixiel, rios Vizela, Bugio e Ferro e (renaturalização) rio Pelhe. No seu conjunto, estas obras abrangem uma extensão de 292,40 quilómetros e um investimento de cerca de nove milhões de euros.
Temos muitos outros desafios pela frente. Precisamos, sem esperar por 2030, de começar a recuperar florestas e terrenos agrícolas abandonados, que acumulam biomassa que contribui para os incêndios florestais. De reforçar os apoios a formas de agricultura sustentáveis, que contribuam para a saúde dos ecossistemas agroflorestais. De aumentar a mancha verde das nossas cidades. E de definir planos de ordenamento, nomeadamente para a nossa orla costeira, que enfrenta ameaças específicas relacionadas com os efeitos das alterações climáticas.
Acredito que este processo será positivo, não apenas na perspetiva da conservação e do restauro da Natureza, mas também em termos de desenvolvimento económico e social. O Ministério do Ambiente e Energia, e o Governo no seu conjunto, cá estarão para garantir que tudo será feito em harmonia e nunca à revelia das populações e dos diferentes setores de atividade.
Palavras-chave:
Drones que inspecionam subestações elétricas ou que detetam pontos de perda de calor de edifícios. Inteligência Artificial que identifica falhas de segurança dos trabalhadores. Hidrogénio em pó. Robôs reparadores de pás de aerogeradores. Equipamento que captura dióxido de carbono. Película protetora de postes elétricos, contra frio, calor e fogo. Umas ideias parecem ficção científica. Outras são estranhas e complexas. Outras ainda soam extraordinariamente simples, pelo menos à superfície. Todas têm uma coisa comum: propõem soluções para problemas na área da energia, que de alguma forma ajudem a impulsionar a eletrificação e a transição energética para fontes renováveis.
É aqui, no Palácio da Imprensa, no centro de Madrid, onde decorre a oitava edição do Free Electrons, que 29 startups vão tentar convencer sete utilities a investir nas suas propostas. Entre elas, encontra-se a EDP, que este ano é a anfitriã do evento. “No ano passado, o mundo investiu €1,8 biliões neste processo, mas ainda temos de investir 4 ou 5 biliões para conseguirmos chegar à neutralidade carbónica”, diz António Coutinho, CEO da EDP Inovação, a quem coube abrir o Free Electrons. “É um desafio demasiado grande para qualquer empresa. Temos de utilizar a inteligência, a criatividade para resolvermos este problema, que é de todos. É por isso que procuramos pelo mundo as melhores soluções que podem ajudar neste desafio.”
Cada uma destas 29 empresas, as vencedoras de um longo processo de seleção que começou com mais de mil startups, tem rigorosamente cinco minutos para apresentar e “vender” o seu produto ou serviço (o chamado pitch), à frente de uma plateia onde se encontram os representantes das utilities. Seguem-se rondas de reuniões, para uma troca de ideias mais demorada e respostas a dúvidas. No final, são escolhidas 15 startups para o Master Module, com as quais as utilities avançam com parcerias e projetos-piloto (o que não invalida que haja colaborações com as outras 14).
Combustíveis fósseis não entram
“Pode dizer-se que, hoje, esta já é uma forma tradicional de fazer sourcing, de procurar soluções tecnológicas inovadoras que sejam passíveis de ser integradas nas várias unidades de negócio da EDP, em várias geografias, de forma a reduzir despesa e a gerar valor para a empresa”, explica Tomás Moreno, diretor do Ecossistema de Inovação da EDP.
Selecionados os parceiros, seguem-se os projetos-piloto, que em média levam quatro a seis meses a ser implementados. Correndo bem esse teste, a solução em causa é adotada, um processo mais longo, que pode demorar até dois anos. Cerca de 40% dos projetos não passam do piloto.
Todas as propostas têm de apontar à descarbonização e à transição energética, seja através de soluções para a distribuição, armazenamento e flexibilidade de energia, redes energéticas, fontes renováveis e hidrogénio verde. Por outras palavras, não há lugar para combustíveis fósseis, nem mesmo gás natural, considerado uma fonte energética de transição, com emissões menores do que o carvão e que ainda produz parte considerável da eletricidade em Portugal.

“Para a sociedade, os combustíveis fósseis ainda são presente e futuro, porque não vamos deixar de os utilizar nos próximos tempos, mas para nós são coisa do passado”, diz Tomás Moreno. “Estamos a descomissionar os nossos ativos de energias fósseis, e a tendência é apostar cada vez mais nas energias verdes: hídrica, eólica e solar. Mesmo o gás é uma carta fora do baralho.”
O processo de análise e seleção das finalistas do Free Electrons inicia-se vários meses antes do evento em si. As equipas de inovação das utilities começam por identificar as necessidades para os próximos dois ou três anos e identificam tendências de tecnologia com maior impacto potencial, tanto a um nível de soluções incrementais como disruptivas. É então feito uma espécie de “wishlist” e são lançadas as candidaturas, já com as temáticas escolhidas.
A primeira filtragem é realizada em conjunto por equipas das sete utilities envolvidas, que avaliam as mais de mil candidaturas recebidas. Esse número é então reduzido para 60, que passam por um online pitch, onde as startups respondem a uma bateria de perguntas. Metade fica por aqui, a outra metade passa à final ‒ que é sempre presencial, fora o período da Covid.
Tomás Moreno garante que, por mais que a tecnologia facilite os primeiros contactos, nada se compara a um evento físico. “A diferença de resultados do presencial para o remoto é muito evidente. É impressionante o importante que é pôr pessoas na mesma sala, ter o contacto humano, estarmos todos a ver uma palestra e a ouvir a mesma informação, a fazer perguntas, a participar nos jantares informais, em que juntam os grupos todos… Isto não é replicável numa reunião online. Gera confiança e maior vontade de fazer negócio.”
Vender o peixe
O processo de pitch das startups não é, na sua forma, muito diferente do que acontece no Lago dos Tubarões – o objetivo é explicar o que têm para oferecer e convencer os investidores de que forma o produto lhes pode ser útil. O conteúdo é que pode ser bem mais denso, sobretudo para quem não domina a área ou não tem um doutoramento em engenharia, apesar do esforço dos proponentes em tentar simplificar os projetos ao máximo. Finda a fase do pitch, as equipas especializadas das utilities reúnem-se com as startups, em open space, onde tiram todas as dúvidas que ainda eventualmente tenham.
Alguns dos projetos mais úteis e com maior potencial são invisíveis para o consumidor, nomeadamente as que potenciam as smart grids (redes elétricas “inteligentes”, que, entre outras funcionalidades, permitem uma maior flexibilização entre produção e consumo).
Outras propostas chamam a atenção do público sem grande esforço, quando incluem robôs, drones com câmaras termográficas instaladas e Inteligência Artificial que consegue reconhecer quem está ou não a cumprir as regras de segurança, numa obra.
Entre tanta inovação, há também quem se destaque pela (aparente) simplicidade. Numa das reuniões pós-pitch, uma equipa da EDP sentou-se com os dois representantes da GridWrap, uma startup americana que propõe “embrulhar” postes elétricos com uma película especial, para lhe aumentar a resistência, prevenir a corrosão e protegê-los de animais (como pica-paus), acontecimentos meteorológicos extremos e incêndios. Nos EUA, diz Davoud Zamani, CEO e cofundador da empresa, substituir um poste custa, em média, 15 mil dólares, quase dez vezes mais do que aplicar a película especial. Além disso, um poste em mau estado pode ser a origem de um desastre dispendioso. “Recentemente, um grande incêndio no Texas provocado pela queda de um poste em mau estado provocou prejuízos de 250 milhões de dólares”, conta Zamani.
As utilities parecem ter ficado convencidas: perdida no meio de propostas futuristas e de engenharia de ponta, a Gridwrap, com a sua relativamente simples película protetora de postes, acabaria por ser uma das 15 vencedoras do Free Electrons.

Pix Force
Inspeção automática de segurança
Uma das startups que mais chamou a atenção (e que acabaria por estar entre as 15 vencedoras) foi a brasileira Pix Force, com a sua tecnologia de Visão Computacional e Inteligência Artificial (IA), capaz de, entre outras valências, identificar falhas de segurança – por exemplo, consegue reconhecer quem está e não está a usar capacete, numa obra. O sistema automatiza inspeções e utiliza algoritmos visuais de IA para monitorizar linhas de transmissão e centrais fotovoltaicas, recorrendo a drones com câmaras e sensores termográficos.

NeoCarbon
Capturar o dióxido de carbono
Enquanto a maioria das soluções apresentadas no Free Electrons ajuda a evitar emissões de dióxido de carbono, a alemã NeoCarbon propõe capturar o principal gás com efeito de estufa da atmosfera. A empresa procura investidores que ajudem a tornar o processo mais barato – já conseguiu reduzir o valor de mil para 500 euros por tonelada de CO2, mas a tecnologia só se tornará competitiva se o valor atingir os 126 euros por tonelada. Talvez essa seja uma das razões pelas quais a NeoCarbon não foi uma das 15 eleitas.

Kestrix
Mapear as perdas de calor
A startup britânica Kestrix chegou a Madrid com uma proposta que parece ter saído de um filme passado no futuro: combinar drones equipados com câmaras termográficas e tecnologia de machine learning para detetar e mapear pontos de perda de calor em edifícios, identificando assim os locais onde é necessário intervir, nomeadamente melhorando o isolamento. A solução só compensa, no entanto, se usada em massa (por exemplo, em bairros inteiros), o que, dependendo do país, pode levantar questões legais relacionadas com a privacidade. Foi uma das 15 escolhidas.

Electriq
Hidrogénio… em pó
O hidrogénio é uma das fontes de energia de que mais vamos precisar, no futuro, sobretudo para fins em que a eletricidade não dá todas as respostas. Mas as formas convencionais de transporte e armazenamento deste gás – comprimido ou liquefeito – são caras, exigem infraestruturas de grande complexidade e podem levantar questões de segurança. A empresa israelita Electriq propõe fornecer energia de hidrogénio em pó, tal como se fosse café moído (a comparação usada pela startup, no seu pitch). A tecnologia precisa agora de investidores para escalar, de forma a reduzir o seu preço. Não foi uma das empresas vencedoras do Free Electrons 2024.

GridWrap
Embrulhar postes de eletricidade
A empresa californiana propõe proteger postes de eletricidade, sejam de madeira ou de betão, com uma película especial que ajuda a prevenir a corrosão, a aumentar a resiliência e a proteger dos elementos (incluindo o fogo). O fundador da startup garantiu que, nos Estados Unidos, o processo é quase dez vezes mais barato do que substituir um poste. Apesar de ter dado como exemplo a proteção contra as temperaturas demasiado baixas, em Portugal pode revelar-se mais útil para tornar os postes mais resistentes aos incêndios e à corrosão causada pelo ar marinho. A GridWrap foi uma das 15 escolhidas, no Free Electrons.

Allye
A Netflix das baterias
A startup britânica Allye oferece soluções de armazenamento de eletricidade baseadas em sistemas de baterias inteligentes, prometendo reduções dos custos de energia de até 50 por cento. Tem ainda a vantagem de reaproveitar baterias usadas de veículos elétricos, tornando um passivo num ativo ambiental. O core business da empresa é o armazenamento partilhado de energia – um condomínio pode alugar uma destas baterias, pagando uma subscrição mensal à startup. A Allye, aliás, apresentou-se em Madrid como “a Netflix das baterias”. Foi uma das 15 escolhidas, no final.

Over Easy Solar
Painés solares para terraços
Esta startup norueguesa pretende simplificar (ou seja, reduzir o tempo e o custo) a instalação de painéis fotovoltaicos em telhados planos. Montar estas unidades pré-fabricadas, com vários pequenos painéis cada uma, é dez vezes mais rápido, além de maximizar a produção de energia nos terraços, que têm a desvantagem de não serem inclinados, e é de fácil manutenção, promete a empresa. O sistema é particularmente indicado para “terraços verdes” (mais comuns na Escandinávia…), ao permitir o fornecimento de luz e água às plantas. A Over Easy Solar foi uma das vencedoras.