Ao início da tarde, um porta-voz da Microsoft garantiu, através de uma publicação na rede social X, que “a causa subjacente” do problema “já foi resolvida”. O impacto que o apagão terá provocado nos serviços do Microsoft365 está ainda, contudo, a ser analisado.

Também George Kurtz, presidente da Crowdstrike, empresa americana de cibersegurança, já confirmou que “o problema foi identificado, isolado e está a ser resolvido”. O motivo para as falhas que várias empresas experienciaram esta manhã – incluindo companhias aéreas, financeiras e de media – terá sido uma uma atualização do código no antivírus Falcon da CrowdStrike, uma funcionalidade de cibersegurança da empresa.

Os efeitos do “apagão”

Na manhã desta sexta-feira, dia 19 de julho, uma falha global no sistema da Microsoft afetou várias empresas por todo o mundo, incluindo companhias aéreas, financeiras e de media. A empresa de comunicação SkyNews, por exemplo, revelou não conseguir transmitir programação ao vivo. O alerta foi dado pelo Downdetector, um site que monitoriza interrupções em aplicações como a Microsof, Google e outros serviços digitais.

O apagão afetou também os voos de várias companhias aéreas. Nos Estados Unidos e pela Europa vários voos foram suspensos ou sofreram atrasos

Em Portugal, segundo a SIC Notícias, o Hospital Amadora-Sintra ficou sem sistema e registou os pedidos de consulta, por exemplo, em papel.

Uma fonte oficial da ANA, empresa que gere os aeroportos nacionais, confirmou ao ECO e à Lusa que embora a falha não esteja a afetar “diretamente” o seu sistema informático são esperados constrangimentos, uma vez que algumas companhias aéreas e empresas de handling que operam em Portugal estão a registar problemas. Por exemplo, as companhias Ryanair e KLM estarão a realizar check-in manualmente.

Tambéma TAP já emitiu um comunicado através da rede social X – antigo Twitter – onde alerta os passageiros para “eventuais consequências desta situação no tráfego aéreo e aeroportos”.

Palavras-chave:

A conversa com João Cotrim de Figueiredo decorreu 12 horas antes de Ursula von der Leyen ser reeleita como presidente da Comissão Europeia, num dos átrios atarefados do novo Parlamento Europeu, em Estrasburgo, França. Depois de lançar dúvidas quanto ao apoio dos liberais à candidata, o eurodeputado português admitiu que o seu sentido de voto ficou apenas decidido apôs “uma conversa de três quartos de hora” com Von der Leyen. O vice-presidente do Renew (Renovar a Europa), agora a quinta maior bancada do hemiciclo, partilhou à VISÃO metas e sonhos para os próximos cincos.

A primeira sessão plenária do novo Parlamento Europeu arrancou com a eleição da presidente Roberta Metsola, com um resultado histórico [numa votação que contou com 699 eurodeputados, Metsola conseguiu 562 votos a favor (90,2% dos votos válidos], o que revela, pelo menos neste tema, que as forças políticas presentes no hemiciclo podem estar alinhadas. Perante o atual quadro parlamentar, com uma polarização crescente no hemiciclo, este foi um desfecho que o deixou surpreendido?

Não. É a prova de que na União Europeia (UE) pode haver consensos, como há sempre em democracia. Para mais, estamos a falar daquilo que foi a apreciação de uma mandato assumido em circunstâncias muito especiais e difíceis. Prova, de facto, que é possível criar consensos na UE. Mas nada mais do que isso, atenção… Não nos diz nada sobre o que serão os alinhamentos no futuro.

O primeiro “teste de fogo” da nova legislatura surgiu com a votação para a reeleição de Ursula von der Leyen como presidente da Comissão Europeia [Ursula von der Leyen, que precisava de 360 votos dos eurodeputados, foi reeleita com 401]. O que espera deste momento?

A aritmética é fácil de se fazer: são precisos 360 votos, há 401 eurodeputados dos grupos que apoiam claramente Ursula von der Leyen – o PPE [Partido Popular Europeu], os socialistas e os liberais –, sabemos que dentro desses grupos há alguns deputados rebeldes que, por motivos atendíveis de política interna ou discordância individual, não vão votar na candidata… Estamos, portanto, a falar de uma margem de 40. Se vai ser suficiente é incerto, mas também é de esperar que alguns membros dos grupos dos Verdes e até dos Reformistas e Conservadores Europeus (ECR) possam votar a favor da Von der Leyen. Não vou, no entanto, dizer que está garantido…

O próprio João Cotrim de Figueiredo chegou a verbalizar dúvidas quanto ao apoio a Ursula von der Leyen…

Eu questionei, sobretudo, a maneira como se estava a lidar com o Renew [Renovar a Europa, grupo dos liberais no Parlamento Europeu], que me pareceu pouco transparente e até muito pouco respeitosa. Tinha-se incumprido um conjunto de pré-acordos, que vinham ainda da última legislatura e, depois, também não se tinha mostrado suficiente vontade em salvaguardar os princípios que fizeram da UE um projeto político bem-sucedido. A saber:  defesa dos valores democráticos, quando havia contactos públicos e frequentes com o ECR; a defesa das liberdades individuais, quando há demasiada facilidade em admitir o controlo de discursos; e, também, falhas na defesa do comércio livre, quando há demasiada facilidade em decidir sobre tarifas a aplicar a determinadas importações. Não estou a ser fundamentalista, mas acho que o princípio europeu que nos deveria estar a inspirar está insuficientemente enraizado, e isso é mau.

O Renew passou de terceira para quinta força política no Parlamento Europeu. Esta terá também sido uma oportunidade para que os liberais fizessem uma “prova de vida”? Não foi uma forma de mostrar ao PPE que ainda têm peso e que esta bancada precisa de contar com os liberais no hemiciclo?

No que me diz respeito, não foi nada disso. Mas apenas uma dúvida fundamentada sobre se as outras forças consideram que a influência política que os liberais têm tido na construção de todo o projeto europeu – e que transcende a aritmética do hemiciclo – pode ser atirada borda fora… Merecíamos maior respeito e era preciso ter em consideração o que já tinha sido acordado. E, devo dizer, essa posição surtiu efeito, porque Ursula von der Leyen fez questão de falar comigo pessoalmente ontem [na quarta-feira, dia 17], para perceber exatamente a natureza das nossas queixas… Foi uma boa conversa, que era para ser protocolar, mas acabou por durar praticamente três quartos de hora. Uma conversa densa, em que não deixei nada por dizer e em que também ela [Von der Leyem] também não deixou nada por responder. Fiquei convencido que, a própria Ursula von der Leyen, acha útil ter no Parlamento Europeu forças que conheçam o papel da Comissão Europeia e da sua presidente e reconhece, naturalmente, que há valores europeus que merecem ser salvaguardados, e que isso também é do interesse da Comissão.

Fotos Marcos Borga/Arquivo

Referiu que, muito provavelmente, houve votos de parlamentares do ECR em Ursula von der Leyen. Se juntarmos a isso a votação expressiva de Roberta Metsola, significa que o Parlamento Europeu poderá estar a alargar o “cordão sanitário” que historicamente é aplicado às forças de extrema-direita?

Isto pode ser um caso pontual. Ursula Von der Leyen deixou bem claro que não vai haver acordos estruturais com outras forças partidárias que não sejam as do PPE, socialistas e Renew, portanto, a partir deste momento, do ponto de vista político e estratégico, essa questão está resolvida. O que, na minha cabeça, não está resolvido é o facto de a estratégia de “cordão sanitário” não ter, até ao momento, resolvido o problema do crescimento da extrema-direita no Parlamento Europeu. Não está a resultar. Acho que seria muito mais inteligente fazer aquilo que a Iniciativa Liberal tem feito em Portugal, que é não fugir aos temas que são caros à extrema-direita, falar deles de forma diferente, com confiança e com soluções diferentes, não simplistas, mostrando às pessoas que elas não estão esquecidas pelo sistema e que não têm, necessariamente, de se refugiar em forças populistas para se sentirem representadas nos parlamentos nacionais ou no PE. Essa estratégia, aplicada à escala europeia, parece-me mais interessante e pode produzir mais e melhores resultados do que o “cordão sanitário” que tem sido aplicado até este momento.

João Cotrim de Figueiredo chegou a ponderar uma candidatura à liderança da bancada dos liberais, depois recuou. Depois desse episódio, como é que tem sido recebido pelos seus colegas de bancada?

Muito bem. A candidatura à liderança do Renew resultava da decisão do ALDE [Partido da Aliança dos Liberais e Democratas pela Europa] ter um candidato próprio à presidência da bancada. O ALDE representa dois terços dos lugares da bancada do Renew [que conta ainda com o Partido Democrata Europeu  e o partido francês Renascimento de Emmanuel Macron], e não faria sentido que não tivesse um candidato próprio. Perante muitas hesitações, de quem poderia ter muito mais traquejo do que eu nestas matérias, achei que teria de ser feito um ponto político e acabei por dar a cara por esse projeto. Isso acabou por não ser formalizado, mas, imediatamente, no seguimento deste movimento, foi-me proposta a vice-presidência do Renew, com determinadas funções específicas de coordenação política, o que  fez com que tenha sido uma das poucas do Renew a interpelar diretamente Ursula von der Leen [no debate que antecedeu à eleição desta como presidente da Comissão Europeia]. 

Podemos considerar esta nomeação como um sinal do crescimento da IL na família dos liberais europeus?

Claramente. Vários colegas têm, aliás, manifestado grande agrado pela forma como queremos abanar um bocadinho as águas e renovar o Renew. Este também é um dos meus objetivos para os próximos cinco anos.

Em que comissões ficou integrado?

Para já, foi-me atribuída a Comissão da Indústria,  Pesquisa e Energia [ITRE], uma comissão importante, e serei ainda suplente na Comissão de Comércio Internacional [INTA]. São, portanto, duas comissões muito importantes para o crescimento económico, e essa é uma das nossas grandes prioridades.

Perguntava-lhe, exatamente, para terminar, quais as suas principais metas para o mandato 2024-2029?

Diria que tenho muita vontade de honrar o mandato que me foi conferido, defendendo três bandeiras essenciais: a do crescimento, da transparência e dos valores liberais. É algo que prometo defender até às últimas instâncias. Tenho, confesso, um sonho adicional: gostava de, ainda nesta legislatura, pudéssemos dar um primeiro passo para que fosse possível voltar a contar com o Reino Unido na UE. E, portanto, mesmo não fazendo parte da delegação que faz a ligação com o Reino Unido, trabalharei, em conjunto com esse grupo de trabalho, para tentar fazer com que isso aconteça.

Começar a cultivar a consciência ambiental para que dure toda a vida é um trabalho que tem de começar, naturalmente, desde cedo. Através desta atuação, junto dos mais novos, procuramos influenciar positivamente as suas escolhas, mas é importante que se dê conhecimento, fazendo uso de métodos e ferramentas que gerem mais interesse e participação ativa. Particularizo no respeito e no cuidar do Ambiente, nomeadamente através da reciclagem de Embalagens, que é a missão da Sociedade Ponto Verde.

É fundamental promover-se a literacia ambiental explicando o papel fundamental da reciclagem na construção de um futuro melhor e porque é importante adotar comportamentos sustentáveis, seja dentro e fora de casa.

A experiência diz-nos que aprender através de jogos e atividades lúdicas, como narrar histórias animadas de personagens que ensinam a reciclar embalagens, tornam o processo de educação ambiental mais envolvente e eficaz. São as iniciativas práticas e divertidas, e quando realizadas em grupo, que ajudam não só a adquirir como a consolidar a informação que está a ser transmitida.

Mas não só. Significa também que, para levar o tema da reciclagem de embalagens às crianças, é necessário estarmos presentes onde quer que estas estejam, ao longo de todo o ano.

O compromisso com a educação ambiental já faz parte dos currículos escolares e além das escolas, esta aprendizagem pode acontecer em tantos outros locais, como uma praia, um recinto desportivo ou festival de música.

Aproveitar as férias de verão, levando estes temas onde as crianças já estão, é uma estratégia que seguimos, agora com a Academia Ponto Verde, permitindo-nos dar continuidade ao trabalho que já é desenvolvido durante o ano letivo.

Para estimular as crianças a terem um papel ativo na reciclagem de embalagens, e tenham voz nestas matérias, é essencial que aprendam como e por que razão devem reciclar, mostrar que é um gesto muito simples e que naturalmente conseguem integrar nas suas rotinas diárias. Esta aprendizagem vai permitir que os mais novos levem os ensinamentos adquiridos para casa, para junto das suas famílias e amigos e, assim, se siga este contributo coletivo para o cumprimento das metas nacionais de reciclagem de embalagens, que são ambiciosas.

Portugal tem de conseguir recolher até 65% de todas as embalagens que são colocadas no mercado nacional, já em 2025, percentagem que aumenta para os 70% cinco anos depois.

Estamos convictos que este é o caminho, trabalhar coletivamente e desde cedo, para que cada um adote os melhores hábitos e práticas ambientais, ajudando a ultrapassar os desafios que o país tem pela frente.

Está nas nossas mãos assegurar que as futuras gerações não só herdam um Planeta mais “verde”, mas que também elas possam ajudar a construí-lo, desde já.

Uma falha global no sistema da Microsoft está a afetar várias empresas por todo o mundo. O alerta foi dado pelo Downdetector, um site que monitoriza interrupções em aplicações como a Microsof, Google e outros serviços digitais. Desde a noite passada que tem aumentado o número de incidentes em vários serviços associados à Microsoft.

Várias empresas estão a ser afetadas pela falha global, que inclui companhias aéreas, financeiras e de media.  A empresa de comunicação SkyNews, por exemplo, já revelou não conseguir transmitir programação ao vivo.

Nos Estados Unidos, todos os voos de várias companhias aéreas foram suspensos, e o mesmo está agora a começar a acontecer pela Europa.

Por cá, adianta a SIC Notícias, o Hospital Amadora-Sintra está sem sistema e está a registar os pedidos de consulta, por exemplo, em papel.

Uma fonte oficial da ANA, empresa que gere os aeroportos nacionais, confirmou ao ECO e à Lusa que embora a falha não esteja a afetar “diretamente” o seu sistema informático são esperados constrangimentos, uma vez que algumas companhias aéreas e empresas de handling que operam em Portugal estão a registar problemas. Por exemplo, as companhias Ryanair e KLM estarão a realizar check-in manualmente.

Tambéma TAP já emitiu um comunicado através da rede social X – antigo Twitter – onde alerta os passageiros para “eventuais consequências desta situação no tráfego aéreo e aeroportos”.

Uma bola de ténis voa sobre a rede, num vaivém. Atravessa-a, uma e outra vez, até se deter. Um erro do jogador fá-la descer demasiado. Toca na rede. Por segundos, parece rodopiar sobre a tira branca, indecisa sobre o lado para o qual cairá. É como se sustivesse a respiração. Fica no ar enquanto uma voz fala sobre o poder do acaso e a forma como preferimos ignorá-lo. “O homem que disse que preferia ter sorte a ser bom tinha uma visão profunda da vida. As pessoas têm medo de enfrentar a que ponto uma grande parte das suas vidas está dependente da sorte”.

A cena é do filme Match Point, de Woody Allen, e tive de ir revê-la depois de um amigo me dizer que se tinha lembrado dela a propósito da bala que só tocou a orelha de Donald Trump de raspão. “Destinos ditados por milímetros”, dizia-me ele, que também se lembrou de Pascal, o filósofo que disse um dia que “se o nariz de Cleópatra tivesse sido mais curto, toda a face da Terra teria mudado”.

Gostamos de histórias. É através delas que conseguimos ordenar o mundo. E não há histórias sem heróis. “Era uma vez”, dizemos nós. E logo a seguir vem um rei, um pirata ou uma princesa, porque o fio da história precisa de seres excecionais para nos prender. Aquilo que muitas vezes perdemos de vista é que os heróis são símbolos. E os símbolos só são poderosos porque carregam ideias.

Quando Trump, ensanguentado, se levanta do chão e ergue o punho reforça-se como símbolo, torna-se numa estampa de t-shirt, numa capa de revista, numa escultura. Mas se a bala lhe tivesse acertado, o mito teria outras formas de se perpetuar. Nunca a morte venceu um mito. Pelo contrário, a morte cristaliza os mitos, cobre-os com uma capa de eternidade que impede que estalem. E é por isso que ainda falamos do nariz de Cleópatra que nunca vimos.

As ideias são as placas tectónicas que fazem mover o mundo. Trump é já mais uma ideia do que um homem. Ou talvez seja o produto dessa ideia, a encarnação de uma força que se está a instalar no mundo, através da desregulação, de um libertarismo individualista e selvagem, oculto sob a promessa de ordem de um conservadorismo agressivo, que servirá para dar rédea solta a um punhado de poderosos e manter todos os outros sob o jugo da servidão. A morte não o travará.

Se não soubermos perceber os mecanismos que fazem de Trump um símbolo, não conseguiremos nunca combatê-lo. Os homens providenciais não existem. São só uma forma de entendermos o mundo. Quando a morte os leva, o que lhes deu poder encontrará outras formas de persistir, se a semente das suas ideias conseguir encontrar um solo fértil onde crescer.

Então e a sorte? O que vale a sorte? Vale muito. Vale quase tudo para os que não têm poder. O segundo em que abrimos os olhos pela primeira vez é parecido com o momento em que a bola hesita sobre a rede. Cair de um ou de outro lado de uma fronteira, numa ou noutra classe, numa ou noutra família. Esses são os milímetros que mudam tudo. O nariz da Cleópatra é outra conversa.

Ainda se lembra da última vez que precisou de consultar uma enciclopédia para esclarecer uma dúvida? À medida que a Internet foi ganhando cada vez mais peso nas nossas vidas, passámos a ter a informação na ponta dos dedos e a produção de conhecimento avançou para o mundo digital para poder tirar partido dos canais de distribuição online.  

Mas quantas vezes já não deu por si a navegar em busca de informação importante e, ao clicar num link que deseja consultar, é subitamente levado para uma página que já não existe? Este fenómeno, chamado link rot (ou deterioração das ligações, numa tradução livre para português), demonstra o quão ‘frágil’ a Internet pode ser e novos dados levantam mais preocupações.  

Deterioração digital 

25% das páginas web criadas entre 2013 e 2023 já não estão acessíveis, porque uma página individual foi apagada ou removida de um website outrora funcional. Esta é uma das principais conclusões de um dos mais recentes estudos publicados pelo norte-americano Pew Research Center.  

A tendência é ainda mais flagrante quando se olha para conteúdo online mais antigo. Os dados indicam que perto de 38% das páginas que existiam em 2013 já não estão disponíveis hoje. Por contraste, apenas 8% das páginas que existiam em 2023 já não estão disponíveis.  

A equipa de investigadores que realizou este estudo explica que a deterioração digital ocorre em múltiplos espaços online: de ligações em websites governamentais e de notícias às secções de referências em páginas da Wikipédia.  

De acordo com a análise, 23% das páginas noticiosas e 21% das páginas de websites governamentais continham, pelo menos, um link ‘quebrado’ (isto é, não funcional). Já 54% das páginas da Wikipédia continham pelo menos um link na sua secção de referências que levava os utilizadores para uma página que já não existe.  

Mas não é tudo: ao analisarem um extenso conjunto de publicações na rede social X (antigo Twitter), seguindo-os ao longo de três meses, os investigadores verificaram que quase um em cada cinco tweets já não estava publicamente disponível. Em 60% dos casos, as contas que fizeram as publicações tornaram-se privadas, foram suspensas ou eliminadas. Nos restantes 40%, as publicações foram eliminadas por quem as fez, embora as contas se mantivessem ativas.  

Quem está a salvo?  

Qualquer página está suscetível a este tipo de deterioração. Como explica Daniel Gomes, Gestor do Arquivo.pt, em entrevista à Exame Informática, “à medida que os websites vão sendo atualizados, há páginas que desaparecem”, sendo este “um fenómeno bastante comum”. Por outro lado, existem também websites inteiros que acabam por ter o mesmo destino porque pertenciam a projetos que terminaram, a empresas que já não estão ativas ou a organizações que mudaram de atividades.  

“Quando foi criada, a Web não tinha esta ideia de prevalência de informação. Era algo mais imaginado como um telefone, para enviar uma mensagem de um lado para o outro, e não tanto como um livro, em que a informação deve ser preservada”, afirma o responsável, que é investigador na área de sistemas de informação baseados na Web desde 2001.  

Olhando para a Web portuguesa, e relembrando um estudo que realizou durante o doutoramento, Daniel Gomes indica que “cerca de 80% das páginas desaparecem ou mudam o seu conteúdo na base de um ano” após a sua publicação.  

“No entanto, hoje, a Internet já não é o que era nos anos 90 ou no início dos anos 2000”. A efemeridade da informação vai depender do tipo de plataforma onde está alojada. Por exemplo, a efemeridade dos websites das instituições de Ensino Superior difere daquela que encontramos nas redes sociais. “Uma faculdade guarda a informação durante muito mais tempo no seu website do que uma rede social”, exemplifica.  

Mas seja dentro ou fora da esfera nacional, “são vários estudos que têm sido feitos que corroboram que a informação é extremamente efémera”.  

Informação efémera 

As investigações que têm vindo a ser feitas nesta área ajudam não só a compreender a dimensão do problema, mas também as diferenças que existem entre diversos tipos de conteúdo online.  

Por exemplo, um estudo publicado em 2021 por uma equipa de investigadores da Harvard Law School, que analisou cerca de dois milhões de links externos em artigos no website do The New York Times desde a sua criação em 1996, revelou que 25% das ligações para conteúdo específico não estavam disponíveis.  

A probabilidade de um link não funcionar aumenta com a ‘idade’ dos artigos. Segundo os dados, 72% das ligações que datavam de 1998 não estavam funcionais. Além disso, 53% de todos os artigos analisados com links para conteúdo específico tinham pelo menos um cujo acesso não era possível.  

Alguns investigadores que participaram neste estudo já tinham demonstrado em 2014 que metade das ligações encontradas em opiniões judiciais do Supremo Tribunal dos Estados Unidos desde 1996 já não funcionavam. Este estudo, que analisou também o estado dos links usados em artigos académicos publicados na Harvard Law Review, verificou que 75% destas ligações estavam deterioradas.  

Já nas redes sociais, um artigo publicado em 2012, a propósito da segunda conferência internacional sobre teorias e práticas em bibliotecas digitais, dava conta que, nas plataformas mais populares, 11% das publicações eram perdidas e 20% arquivadas no prazo de um ano. Em média, 27% eram perdidas e 41% arquivadas após dois anos e meio.  

‘Guardiões’ da web 

Tentar mitigar um problema com esta dimensão não é uma tarefa fácil. No entanto, existem projetos que querem fazer a diferença, como as iniciativas de preservação digital. Uma das mais conhecidas é a do Internet Archive com o seu WayBack Machine, que, até à data, tem um extenso arquivo com 835 mil milhões de páginas web.  

O International Internet Preservation Consortium (IIPC) agrega entidades de todo o mundo que colaboram para preservar os conteúdos online. Estes projetos desempenham um papel fulcral para assegurar que o conhecimento, sobretudo aquele que existe apenas em formato digital, se mantém vivo.  

“Se considerarmos que quase toda a informação que produzimos e consumimos é digital e é disseminada por canais online: se não a guardarmos, estamos basicamente a ficar com sociedades amnésicas. É a primeira vez que acontece na História desde que foi inventada a escrita. É uma coisa, de certa maneira, assustadora”. 

Daniel Gomes, Gestor do Arquivo.pt

Do seu lado, o Arquivo.pt, um projeto que arrancou oficialmente em 2008, mas cuja ideia remonta a 2001, tem vindo a preservar milhões de ficheiros recolhidos da web desde 1996, além de contar com um catálogo de 13 serviços disponíveis. Até ao final de junho, o número total de ficheiros rondava os 20 mil milhões: “o que corresponde sensivelmente a 1.3 petabytes de informação”, conta-nos Daniel Gomes.  

A sustentabilidade a longo prazo afirma-se como um dos grandes desafios da iniciativa. “Conseguir ter recursos que acompanhem o volume de informação que nós preservamos é um desafio tecnológico e económico”, afirma o responsável.  

A colaboração é outra das áreas essenciais para enfrentar os desafios da preservação de conteúdo. No entanto, “preservar a informação online é um esforço tão difícil que mesmo todos juntos somos muito poucos”, afirma o responsável.  

“Tal como foram criados arquivos e bibliotecas para preservar a informação em formato impresso, agora que estamos a usar uma tecnologia diferente da imprensa é preciso criar instituições, organizações e serviços que preservem a informação que é publicada online”, realça Daniel Gomes.   

“Acima de tudo é preciso compreender que a informação publicada online é património das próprias organizações” e, nesse sentido, o gestor do Arquivo.pt defende que entidades como órgãos de comunicação social, Governos e as instituições de Ensino Superior têm de preservar a sua informação online. “Se não, estão a perder o seu património e isso é economicamente e socialmente insustentável”.