O Governo português e os chineses da CALB anunciaram formalmente, esta semana, a construção de uma megafábrica de baterias de lítio para a indústria automóvel. O projeto ficará situado em Sines, terá um investimento total de 2 mil milhões de euros e irá criar cerca de 1 800 postos de trabalho.
Segundo o ministro da Economia, Pedro Reis, a nova fábrica receberá apoios públicos de 350 milhões de euros, no âmbito do regime europeu de incentivos à reindustrialização e aceleração da inovação.
“Isto é um daqueles big bangs de investimento que acontecem de vez em quando e que, neste momento, é tremendamente importante para Portugal”, salientou o governante.
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Já para a empresa chinesa, a localização e as infraestruturas existentes em Sines foram um fator-chave para esta decisão. “Escolhemos Portugal para instalar esta megafábrica europeia devido às suas vantagens estratégicas, o forte potencial da economia e à mão de obra qualificada”, explicou Liu Jingyu, presidente da CALB.
Para a gestora, Sines “oferece uma logística excecional” devido ao seu porto de águas profundas, que pode ser operado 24 horas por dia, 7 dias por semana, ligado a uma boa rede ferroviária de carga.
“Estas são características ideais para a distribuição dos nossos produtos no mercado europeu. Além disso, a aposta portuguesa no apoio às energias verdes criam um ambiente perfeito para o sucesso da visão de longo prazo da CALB, pois o nosso objetivo é construir uma fábrica de última geração e com zero carbono de emissões”, salientou a presidente da CALB.
O processo segue agora todos os trâmites legais, nomeadamente a avaliação do AICEP, para verificar se é elegível para receber apoios públicos e deverá entrar em funcionamento em 2028.
“A contratualização tem que ocorrer em 2025, mas estes contratos levam algum tempo, porque temos de estudar, temos de discutir bem tudo o que é e o que não é elegível, as percentagens de apoio, as intensidades de apoio, e só aí conseguiremos ter uma proposta negocial acabada que passe a contratualização”, explicou a administradora da AICEP, Oliveira e Silva, que também esteve presente na cerimónia.
A polémica do lítio
Sendo o lítio a principal matéria-prima para fabricar estas baterias, o ministro adiantou que a empresa chinesa “tem certamente soluções que consideram a extração do lítio em Portugal e de outras fontes”. Mas fez questão de sublinhar que o modelo da CALB “é autónomo e sustentável”, seja qual for a fonte da matéria-prima.
Por outras palavras, o governante deixou em aberto a possibilidade da CALB ou um dos seus fornecedores poderem iniciar novas explorações deste metal no nosso país Afinal, trata-se de um investimento de grande dimensão que irá necessitar de enormes quantidades de lítio para abastecer a fábrica.
Segundo o relatório Informação e Estatísticas do Lítio, da US Geological Survey, Portugal tem atualmente a maior reserva da Europa deste metal e a oitava maior do mundo, com um total de 60 mil toneladas.
Existem oito zonas de prospeção de lítio, sendo que Montalegre e a serra de Arga são as regiões com maior potencial. O País tem recebido inúmeros pedidos para a prospeção deste metal, mas, como a extração é feita a céu aberto, tem existido uma forte contestação por parte das populações locais e de grupos ambientalistas.
No final do ano passado, a Galp decidiu travar o projeto de construção de uma refinaria de lítio em Setúbal. Denominado projeto Aurora, esta refinaria iria abastecer a indústria de baterias através do aproveitamento das reservas de lítio portuguesas. A decisão foi tomada após os problemas financeiros da NorthVolt que entrou em processo de falência.
Nos meses seguintes, a Galp tentou encontrar novos parceiros para o negócio, mas não “obteve sucesso”, segundo informou a empresa à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, em dezembro último. Este projeto era para estar pronto em 2026. O custo total estava estimado em 700 milhões de euros e contava com vários apoios da União Europeia, nomeadamente do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
Uma longa espera
O interesse pela montagem de uma fábrica de baterias para carros elétricos em Portugal já vem de longe, mas, até agora, nenhum dos projetos se tinha concretizado.
A 11 de fevereiro de 2011, chegou a ser lançada a primeira pedra para a construção de uma fábrica de baterias para a Nissan. Tratava-se de um investimento de 156 milhões de euros, em Cacia, Aveiro, que iria criar cerca de 200 postos de trabalho. Em dezembro do mesmo ano, o construtor japonês anunciou o cancelamento do investimento, alegando que, após análise detalhada do plano de negócios, “as quatro fábricas espalhadas por todo o mundo seriam suficientes para os objetivos” da empresa.
Embora não tenha sido admitido por nenhuma das partes, na altura, especulou-se que a decisão tinha sido uma reação à decisão do governo de Passos Coelho de desinvestir na promoção da mobilidade elétrica, um projeto do governo anterior. A Nissan era então liderada pelo português Carlos Tavares, que tinha apostado em Portugal para desenvolver o plano de expansão europeu dos carros elétricos.
Em 2020, a Volkswagen colocou Portugal entre as possibilidades para a instalação de uma das seis megafábricas de baterias que o grupo alemão pretendia ter na Europa. Portugal era um dos destinos privilegiados para a unidade fabril, num investimento total de 10 mil milhões de euros, que serviria para alimentar as linhas de produção de carros elétricos das fábricas espanholas de Martorell, Catalunha, e Pamplona, Navarra.
A decisão acabou por recair sobre Valência. As obras começaram em março de 2023.
A nova fábrica da CALB de baterias de lítio para a indústria automóvel deverá estar concluída em 2028 e irá criar 1 800 novos postos de trabalho
Também o grupo Stellantis, que controla 14 marcas de automóveis, como a Peugeot, Fiat, Citroën, Jeep e Opel, admitiu, em 2023, que Portugal chegou a estar na mira para a instalação de uma unidade de baterias, com uma capacidade de 50 GWh, num investimento total de 4,1 mil milhões de euros. O projeto acabou em Saragoça.
Entre avanços e recuos, Portugal teve de esperar catorze anos desde que foi lançada a primeira pedra para a construção de uma fábrica de baterias para veículos elétricos. Com este investimento da CALB, o cluster automóvel nacional, que representa quase 6% do PIB e cerca de 23% das exportações de bens transacionáveis, dá um passo largo para se renovar e acompanhar a grande revolução que este setor está a atravessar com a transição para a mobilidade elétrica.
Tal como realçou o ministro da Economia, durante a cerimónia de lançamento deste projeto: “Num momento em que o setor automóvel atravessa tantos desafios, são investimentos como este que agarram em Portugal essa cadeia de valor e dão ao setor inteiro competitividade, produtividade e tecnologia.”
A direção do BE passou as últimas semanas a fazer reuniões em concelhias, para dar explicações sobre os despedimentos de trabalhadoras do partido que tinham acabado de ser mães. Vários dirigentes andaram pelo País, em locais como Setúbal, Oeiras, Odivelas, Cascais, Torres Vedras ou Leiria, em encontros que serviram como sessões de esclarecimento. A decisão de falar sobre o tema “cara a cara” revela que a cúpula bloquista percebeu o potencial de estrago de uma polémica que punha em causa os pergaminhos feministas e de defesa dos direitos laborais do partido, mesmo que na direção do BE se garanta, agora, que o caso está sanado e que as justificações foram convincentes. A forma como o partido dispensou, entre 2022 e 2024, quatro mulheres acabou, porém, por levar a uma demissão na Comissão Política do partido de todos os elementos da oposição interna, a Moção E.
Elisa Antunes, Gabriela Mota Vieira, Pedro Soares e Ricardo Salabert saíram da Comissão Política alegando a “indisponibilidade para continuar a ser membros de um órgão esvaziado das suas competências”, depois de terem visto chumbada a proposta de constituição de uma “Comissão de Inquérito para avaliação e apuramento de responsabilidades coletivas e individuais no processo de despedimento de funcionários”.
Francisco Louçã e Pedro Soares O primeiro escreveu no Instagram que este foi o momento escolhido para a corrente de Pedro Soares, “que recusou a posição do Bloco a condenar a invasão da Ucrânia”, avançar para a criação de um novo partido. O segundo nega: “Isso não faz sentido nenhum”
Menos de duas semanas depois, era anunciada a desfiliação de mais de 70 militantes bloquistas em Portalegre, uma distrital até aí controlada por elementos afetos à Moção E. Na carta dirigida à direção, o líder da distrital Higino Maroto anunciava a demissão de toda a estrutura, apontando o dedo à “constante violação” da democracia interna e deixando críticas ao abandono a que o distrito tem sido votado, mas também ao despedimento de trabalhadores do partido, que aconteceu depois de o BE ter visto reduzida quase para metade a subvenção estatal por ter perdido votos nas legislativas. “É com grande mágoa que assumimos a decisão de nos demitirmos de um partido que foi em tempos a esperança e uma referência em termos de ética e de moral política e que os últimos casos vindos a público sobre despedimentos das e dos, suas e seus funcionárias/os nos veio acentuar mais a descrença no Bloco de Esquerda”, lia-se no texto.
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Interior abandonado?
À VISÃO, uma fonte de Portalegre conta que o processo de desvinculação de militantes foi acontecendo ao longo de vários meses, com cada vez mais aderentes bloquistas a deixarem de ter atividade partidária no distrito ou a comunicarem informalmente a intenção de se desligarem do partido. “Eram pessoas que ao longo dos meses foram entrando em contacto com dirigentes concelhios e distritais, dizendo que queriam entregar os cartões ou desistir”, esclarece a mesma fonte, explicando com o facto de esta lista já ter sido feita há algum tempo e com a idade avançada de alguns dos militantes que se desfiliaram e acrescentado o dado – apontado em comunicado da direção do BE – que entre os nomes que saíram se encontra alguém que, entretanto, morreu.
“É um subterfúgio para não aceitar a realidade”, comenta o agora ex-militante sobre os erros detetados pela direção na lista de desfiliações, notando que a última vez que um coordenador do BE esteve em Portalegre “foi a Catarina Martins e ainda havia geringonça”. Para quem está no Interior, este “abandono” é visto como uma consequência da quase impossibilidade de eleger aí um deputado, uma vez que o método eleitoral faz com que os dois lugares disponíveis fiquem quase sempre para PSD e PS. “Desde essa altura, só veio a Portalegre um membro do secretariado. Não há investimento nenhum porque não há hipóteses de eleger.” Quando o partido teve de fazer cortes internos, em Portalegre também deixou de haver o trabalhador a meio tempo que aí prestava serviço, e noutros pontos do País as concelhias deixaram de conseguir ter uma sede física.
“Uma ofensiva comunicacional”
Visto da sede nacional do BE, na Rua da Palma, em Lisboa, este anúncio de uma saída em bloco de mais de 70 militantes – sendo que apenas 14 deles efetivaram a sua desfiliação até ao momento – parece “uma ofensiva comunicacional contra o Bloco”, como assume a direção num comunicado da Comissão Política no qual não poupa críticas à Moção E, que acusa de orquestrar saídas de militantes, comunicando-as aos poucos para causar impacto. “Nas próximas semanas, vão multiplicar-se na imprensa anúncios semelhantes”, vaticina a cúpula bloquista, vincando que “nunca uma saída coletiva tinha recorrido à intoxicação política nem ao abuso do nome de aderentes, incluídos em listas de demissão contra a sua vontade”.
Além destas acusações feitas em comunicado à Moção E, vários destacados bloquistas, como Francisco Louçã, Catarina Martins ou José Manuel Pureza usaram as redes sociais para um ataque duro aos críticos internos, tentando colá-los a uma posição de defesa da Rússia na invasão da Ucrânia. “Pensei que, quando Trump e Putin dançam em cima da Ucrânia, a lição ficaria evidente. Ou ainda há quem ache que Putin se opõe a Trump? Pois foi o momento escolhido para a corrente de Pedro Soares, que recusou a posição do Bloco a condenar a invasão, avançar para a criação de um novo partido. O sectarismo nunca aprende nada”, escreveu Louçã no Instagram. “A corrente Convergência optou por não medir-se na Convenção e sair com estrondo. A sua posição de abandono da Ucrânia à Rússia nunca venceu no Bloco e ainda bem. Sair agora é mau, sair assim não faz jus à nossa história”, partilhou Catarina Martins na mesma rede social.
Na direção bloquista, acredita-se mesmo que pode estar em marcha a criação de um novo partido. Uma convicção que é fundada na forma como nos últimos dias tem circulado por WhatsApp um “Manifesto por um Portugal Livre, Justo e Solidário”, que faz “um veemente apelo à participação das portuguesas e dos portugueses na vida pública” e que assume a intenção de “intervir com uma nova resposta política” que sirva para defender “os valores de Abril”.
Há muito tempo que nas alas descontentes do BE se fala na possibilidade de um novo partido de esquerda, mas a VISÃO não conseguiu confirmar qualquer movimentação nesse sentido, para lá deste manifesto que circula sem assinaturas.
Acusações de “ostracismo”
“Isso não tem sentido nenhum”, reage Pedro Soares à VISÃO sobre um alegado plano para formar um partido, assegurando que as saídas de Portalegre não foram orquestradas pela Moção E, repudiando como “uma falsidade” a ideia de que o grupo de que faz parte alguma vez tenha hesitado em condenar a invasão da Ucrânia. “O que sempre dissemos foi ‘Putin fora da Ucrânia, NATO fora da Europa’”, afirma Soares, que explica que a sua corrente defendeu sempre que “o foco não devia ser o armamentismo, mas um processo de paz”.
Um comunicado da Comissão Política denuncia a orquestração de saídas de militantes “comunicando-as aos poucos, para causar impacto”
O mal-estar com aquilo a que Pedro Soares chama a “maioria monolítica no secretariado” (um órgão operacional que a Moção E acusa de, ilegitimamente, se sobrepor à Comissão Política) leva estes críticos internos a, desta vez, não irem a votos com uma moção à Convenção do Bloco, marcada para 31 de maio e 1 de junho. A opção de não concorrer aos órgãos não significa, contudo, que estejam de saída. “Vamos continuar a intervir a partir da base, a procurar influenciar a que haja uma mudança de rumo”, garante Pedro Soares, que acusa a direção de “ostracizar” as tendências que são estatutariamente permitidas no BE. “Nenhum de nós participa em listas para nada. Nem legislativas, nem autárquicas, nem grupos de trabalho, nem somos convidados para falar em comícios, nem debates, nem sessões. Nada, mas rigorosamente nada”, critica.
De resto, a Moção E condena a forma como a direção encabeçada por Mariana Mortágua vai levar à Convenção uma moção sem qualquer autocrítica. “Não tem um pingo de reconhecimento de erros, não tira lições dos insucessos eleitorais nem da aproximação ao centro, da incapacidade para polarizar à esquerda, da perda de militância e da deterioração da democracia interna. Demonstra querer que tudo fique na mesma”, escrevem os críticos no texto em que justificam a decisão de não ir a votos e no qual criticam a forma como a direção tem recusado a atualização dos cadernos eleitorais do partido e rejeitado propostas de alteração aos estatutos, o que, segundo a Moção E, “esvazia os órgãos intermédios e nacionais” e garante “lugares ad aeternum”.
No Bloco, as várias moções têm a possibilidade de eleger elementos para os órgãos do partido, de acordo com a sua representatividade, mas a Moção E entende que já não faz sentido ter assento em órgãos liderados por uma maioria com a qual as pontes se têm quebrado. “Para haver uma mudança tem de ser por ação da base. A partir dos órgãos é impossível”, conclui Pedro Soares.
“É importante que o povo ucraniano saiba que não está sozinho, que os seus interesses estão representados em todos os países, em todos os cantos do mundo”, escreveu Volodymyr Zelensky numa publicação na sua conta oficial de Telegram este sábado. “Obrigado pelo vosso apoio durante este momento difícil, por todos os vossos esforços pela Ucrânia e pelos ucranianos, e pela vossa ajuda, não apenas diplomática e financeira, mas também política, e pelas vossas orações”, lê-se.
O líder da Ucrânia esteve reunido esta sexta-feira com o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o seu ‘vice’, JD Vance, na Sala Oval da Casa Branca, em Washington, para assinar um acordo sobre minerais. Mas o encontro, com transmissão em direto nas televisões, acabou por terminar mais cedo, após o Presidente norte-americano e o seu ‘vice’ acusarem Zelensky de ser “desrespeitoso”. “Você está a apostar com a Terceira Guerra Mundial e o que você está a fazer é muito desrespeitoso com o país, este país que o apoiou muito mais do que muitas pessoas dizem que deveria ter sido feito”, disse o chefe de Estado norte-americano.
O Presidente da Ucrânia vai encontrar-se este sábado com Keir Starmer, primeiro-ministro britânico, em Londres, no Reino Unido, segundo o porta-voz do líder britânico. Zelensky já está em Inglaterra.
Está ainda marcada uma reunião para este domingo com os líderes europeus com o objetivo de avaliar um acordo de paz na Ucrânia.
Emmanuel Macron foi recebido esta sexta-feira na Câmara do Porto, no último de dois dias de visita de Estado a Portugal. O líder francês foi acompanhado por Luís Montenegro, primeiro-ministro português, e Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, que lhe entregou as Chaves da Cidade. “A França sempre foi e é um defensor incansável do projeto europeu”, defendeu antes da cerimónia.
Macron e Montenegro assinaram uma série de acordos bilaterais, incluindo um acordo de amizade e um acordo de cooperação franco-portuguesa e uma carta de intenções no domínio do armamento. O presidente francês, através de uma conferência de imprensa, agradeceu a hospitalidade da cidade do Porto e salientou a importância dos acordos assinados durante a tarde. “Todos os assuntos que hoje abordámos estão no centro da nossa relação bilateral, mas são também para tornar a Europa mais forte”, referiu, sublinhando que o reforço da ligação entre Portugal e França deverá refletir-se no resto do continente europeu.
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O frente a frente no n.º 1300 da Pennsylvania Avenue, em Washington, não foi um grande espetáculo. No primeiro dia de fevereiro, um grupo de homens ao serviço de Elon Musk dirigiu-se à Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), a poucos quarteirões da Casa Branca, exigindo acesso total à sua sede. Os funcionários da agência recusaram. Ninguém sacou de armas. Ninguém andou à pancada. Ninguém chamou a polícia. Mas, nestes primeiros dias da Administração Trump, talvez nenhuma outra cena tenha revelado tão claramente as forças que estão a remodelar o governo norte-americano.
De um lado, uma instituição com 64 anos de história, um orçamento de 35 mil milhões de dólares [33,5 mil milhões de euros] e uma missão consagrada na lei federal. Do outro, os membros da equipa de destruição política de Musk. Estes identificaram-se como membros do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), um conjunto de funcionários temporários, sem estatuto, sem site na internet e sem autoridade legal clara, cujo poder emana da pessoa mais rica do planeta [com uma fortuna avaliada em 314 mil milhões de dólares – mais 54 mil milhões desde que Trump chegou ao poder, graças à valorização em bolsa das empresas Tesla e SpaceX, segundo a revista Forbes.]. Elon Musk foi nomeado pelo Presidente para desmantelar vários setores do aparelho burocrático federal – reduzindo orçamentos, esvaziando a função pública e retirando às agências independentes a capacidade de impedir a concretização dos objetivos de Trump.
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Ao comando Na Sala Oval, até Donald Trump já tevede dividir o protagonismo com Elon Musk… e o seu filho Foto: Aaron Schwartz/ Pool/ LUSA
A direção da USAID permitiu que a equipa de Musk, um grupo de seguidores, jovens e ambiciosos, passasse vários dias na sede da agência, no final de janeiro. “Os putos do DOGE”, como alguns funcionários a eles se referiram em privado, percorreram os corredores com pranchetas na mão, examinando secretárias e questionando chefias, segundo testemunhas ouvidas pela Time.
No entanto, chegado o fim de semana, as suas exigências – incluindo o acesso a instalações sensíveis que guardam informação confidencial – foram longe de mais para os chefes de segurança da agência. A equipa do DOGE ameaçou chamar os U.S. Marshals para que evacuassem o edifício. Também informaram Musk sobre o problema. Pouco depois, dirigindo-se aos seus 215 milhões de seguidores na rede social X (antigo Twitter), Musk escreveu: “A USAID é uma organização criminosa. Chegou a hora de morrer.”
Ainda se desconhecem as razões da cruzada de Musk. Mas, sejam quais forem, a realidade é que, no dia seguinte, uma agência que todos os anos desembolsava dezenas de milhares de milhões de dólares em todo o mundo, combatendo casos de fome e doença, levando água potável a milhões de pessoas, ficou praticamente paralisada. Em apenas uma semana, foram dispensados quase todos os seus 10 mil funcionários e encerradas as suas bases espalhadas por mais de 100 países.
Todos os outros departamentos governamentais receberam esta mensagem em alto e bom som. Nunca nenhum cidadão comum, e muito menos um cuja riqueza e rede de negócios estão diretamente sujeitas à supervisão das autoridades federais, exerceu um tal poder sobre a máquina do governo dos Estados Unidos da América. Até agora, Musk só parece responder perante Trump, que entregou a este benfeitor da sua campanha eleitoral [de quem recebeu mais de 250 milhões de dólares] um mandato abrangente para alinhar a governação com a sua agenda. O DOGE encaminhou todas as perguntas da Time para a Casa Branca, que se recusou a comentar.
“Deixá-los traumatizados”
[A equipa do DOGE já procedeu a despedimentos em 15 agências federais, segundo o diário The Washington Post e a agência Associated Press. Os cortes abrangeram, nomeadamente, o Departamento de Energia ‒ onde 350 funcionários responsáveis pelos programas de armas nucleares foram obrigados a rescindir os seus contratos, para serem readmitidos horas depois, só 50 terão aceitado regressar ‒; o Departamento de Assuntos dos Veteranos e o Departamento de Educação; o Departamento de Saúde e o Departamento de Segurança Interna; o Departamento de Justiça e o Departamento de Estado. Musk está também a tentar aceder aos dados financeiros e fiscais de milhões de contribuintes guardados, sob sigilo, nos sistemas de informação do Internal Revenue Service (IRS), a autoridade tributária dos EUA.
No dia 20 de fevereiro, o jornal The New York Times revelou que Trump e Musk têm planos para “eliminar, quase na totalidade, o Office of Community Planning and Development, que pertence ao Departamento de Habitação, responsável pela recuperação do território depois de catástrofes, suscitando dúvidas sobre como será a reconstrução depois de furacões, incêndios florestais e outras calamidades agravadas pela alterações climáticas”.]
Elon Musk tem demonstrado que não tolera qualquer oposição, por mais justificada que seja. Dias antes do drama na USAID, um funcionário do Departamento do Tesouro recusou dar ao DOGE acesso ao sistema federal de pagamentos dos EUA. O funcionário foi obrigado a reformar-se e o recém-nomeado secretário do Tesouro, Scott Bessent, deu ao DOGE o acesso que este exigia. No dia 5 de fevereiro, a Administração Trump aceitou restringir o acesso, pelo menos temporariamente, depois de um grupo de antigos e atuais funcionários ter instaurado um processo judicial.
Estas são apenas as primeiras ondas de uma enorme vaga antigovernamental. Orçamentos serão pirateados. Programas valiosos serão eliminados. Funcionários com carreira na função pública serão saneados e substituídos por outros nomeados politicamente, cuja principal qualificação é a aparente fidelidade ao Presidente. Este é o caminho que o eleitorado norte-americano escolheu. E, para muitos, a ideia de um dos empresários mais bem-sucedidos do mundo poder atacar uma burocracia federal esclerosada e em expansão à mesma velocidade e com a mesma determinação que aplicou às suas empresas de automóveis e foguetões é motivo de celebração – não de alarme.
Por todo o mundo, milhões de pessoas que dependem dos EUA para obter alimentos, medicamentos e abrigo ficaram subitamente entregues a si mesmas
“O Governo federal é tão grande que haverá certamente oportunidades significativas para poupança e eficiência”, acredita Robert Doar, presidente do American Enterprise Institute, um think tank conservador de centro-direita. “O facto de o Presidente e a sua equipa estarem a dar muita atenção a este problema é algo bom.” Mas parece que cresce a oposição pública à missão de Musk, e está em jogo muito mais do que o tamanho do orçamento federal, a contagem de funcionários em agências na cúpula do governo, ou os perigos de um homem não eleito deter um poder ilimitado.
Em breve, os norte-americanos vão ficar a saber que quando interagiam com o governo federal havia coisas que desconheciam ou consideravam garantidas. Por exemplo, empresas que exportam produtos tecnológicos para a China poderão deixar de ter funcionários do Departamento de Estado ou do Departamento do Comércio disponíveis para lhes explicar – gratuitamente – como evitar violar o direito penal. Agricultores do Midwest talvez venham a descobrir que compradores antes financiados pela USAID vão deixar de pagar os sacos de farinha que enviavam para campos de refugiados.
Por todo o mundo, milhões de pessoas que dependem dos Estados Unidos da América para obter alimentos, medicamentos e abrigo ficaram subitamente entregues a si mesmos. [Na Etiópia, um parceiro estratégico no volátil Corno de África, o impacto está a ser devastador, destaca o jornal britânico The Guardian. Em 2024, cerca de 16 milhões de etíopes, metade dos quais crianças subnutridas, recebiam cereais comprados a agricultores norte-americanos e fornecidos pela USAID através das Nações Unidas e da ONG Catholic Relief Services. A agência dissolvida por Musk também investia milhões de dólares em hospitais e cuidados de saúde (os casos de malária cresceram, em cinco anos, de 900 mil para 2,4 milhões), na criação de empregos, na promoção da educação e na assistência humanitária a um milhão de refugiados vindos do Sudão e do Sudão do Sul, da Eritreia e da Somália.]
Milhões de funcionários públicos nos EUA estão agora à mercê de Donald Trump. Uma funcionária explicou que a sua equipa no Departamento de Segurança Interna adotou uma “posição defensiva”, enquanto aguardava a visita do DOGE. Para terem uma ideia do seu destino, revelou ela, os colegas recorreram ao livro Character Limit: How Elon Musk Destroyed Twitter, que narra a forma como, em 2022, o multimilionário nascido na África do Sul assumiu o controlo do Twitter e despediu 80% do pessoal, muitas vezes com resultados caóticos e permanentes.
As semelhanças com o ataque de Musk à burocracia federal são estranhas. Em 28 de janeiro, milhões de funcionários públicos de todo o governo receberam um email a oferecer-lhes oito meses de salário em troca da sua demissão. Dois anos antes, Musk propusera o mesmo aos que trabalhavam para o Twitter. Até usou a mesma linha de assunto: “Bifurcação na estrada.”
Nada disto aconteceu sem aviso prévio. Entre os amigos de Musk em Silicon Valley, muitos entenderam a sua compra do Twitter como a preparação para uma causa maior. “O clima é de esperança de que Musk possa fazer a mesma coisa com o governo dos EUA”, confessou um deles à Time, em novembro. Veteranos da primeira Administração Trump também expuseram os seus planos muito antes das eleições, ao publicarem um relatório de 900 páginas designado Project 2025 [“Projeto 2025”]. Um dos seus principais autores, Russell Vought, admitiu, num discurso proferido há dois anos, que desejava ver os funcionários públicos “afetados traumaticamente” pela purga que ele imaginava. “Queremos cortar-lhes o rendimento”, ameaçou. “Queremos deixá-los traumatizados.”
Durante a campanha eleitoral, Trump jurou que não tinha nada que ver com o Projecto 2025. “Não foi correto eles apresentarem um documento destes”, comentou ele, numa entrevista à Time em novembro. “Discordo veementemente de algumas coisas.” Contudo, uma vez na presidência, Trump fez de Vought o responsável pelo Gabinete de Gestão e Orçamento da Casa Branca, agora a trabalhar em estreita colaboração com Musk para aprovar partes cruciais do Projeto 2025. Dois terços das recomendações deste projeto já foram adotadas por Trump assim que regressou ao poder, segundo uma análise da Time.
Aceder a dados cruciais
Elon Musk nunca escondeu as suas intenções. Duas semanas após as eleições de novembro, publicou um artigo no diário The Wall Street Journal [coassinado pelo empresário e político Vivek Ramaswamy, que ele rapidamente afastou da liderança do DOGE], prometendo ajudar Trump a “contratar uma equipa de cruzados a favor de um governo pequeno”, com o propósito de “reduzir em massa o número de funcionários de toda a burocracia federal”.
A ação de recrutamento começou logo após as eleições, recorrendo a acólitos de Musk em Silicon Valley, alguns deles recém-saídos da faculdade, e preparando-os para atuarem em Washington. O homem que Musk encarregou da contratação do pessoal para o DOGE é o engenheiro aeroespacial Steve Davis, que anteriormente conduziu a operação de redução de custos no Twitter.
No final de dezembro, enquanto se organizava a transição presidencial na Casa Branca, Davis participou numa série de reuniões com a Administração Biden. Os funcionários democratas notaram a fixação de Davis num ramo obscuro da Casa Branca chamado U.S. Digital Service [USDS, Serviço Digital dos Estados Unidos]. Ele queria saber como funcionava, a quem reportava e a que é que podia aceder.
Criado em 2014, o USDS trabalhava com as agências federais para melhorar os sistemas informáticos e as bases de dados do país. Possuía um mapa das infraestruturas tecnológicas do governo e tinha pontos de contacto com quem é responsável pela tecnologia em quase todas as agências federais. Seria, pois, o local ideal para acolher o DOGE. Se Musk quisesse amputar as pernas do governo federal, o USDS facultaria as veias que deixariam fluir o veneno.
O empoderamento do USDS começou no dia da tomada de posse de Trump, que, numa das suas primeiras ordens executivas, lhe deu o nome de “United States DOGE Service”, preservando assim o acrónimo do gabinete. A referida ordem também assegura que a nova entidade, entretanto instalada nos departamentos de Estado e do Tesouro, responderá diretamente ao chefe de gabinete da Casa Branca, tendo começado a aceder aos sistemas informáticos do pessoal, a despedir contratados e a bloquear pagamentos de contratos firmados.
Protestos “Não temos um quarto ramo de governo chamado Elon Musk”, dizem muitos manifestantes
Musk também enviou o DOGE para o Office of Personnel Management (OPM), o departamento de recursos humanos que detém os registos de 2,1 milhões de trabalhadores e os endereços de correio eletrónico de quase todos os funcionários federais, que rastreia, por anos, seguros de saúde no valor de 59 mil milhões de dólares e pensões de reformados federais num total de 788 mil milhões de dólares. A primeira proposta para demissões em massa dos funcionários públicos foi feita pela equipa de Musk precisamente no OPM, revelou uma fonte bem informada. (Tanto o DOGE como a Casa Branca recusaram-se a comentar.) A seguir, o DOGE começou a matar à fome o próprio OPE. Brian Bjelde, até recentemente vice-presidente de recursos humanos da empresa aeroespacial de Musk, informou supervisores de carreiras no OPM que o “objetivo” é reduzir 70% do pessoal, uma medida que irá prejudicar quem trata dos benefícios de saúde e do planeamento das reformas, explicou um funcionário atual.
Alguns responsáveis no OPM deixaram de ter acesso a bases de dados importantes, referiu o mesmo funcionário, mas os nomeados políticos têm acesso aos sistemas, incluindo ao Enterprise Human Resources Integration, sem os procedimentos de salvaguarda concebidos para manter privadas estas informações. O sistema inclui informações como escalões salariais, tempo de serviço, números da Segurança Social, datas de nascimento e endereços residenciais.
Dias após a investidura de Trump, a Casa Branca ordenou o congelamento das despesas federais – de ajuda externa a programas de saúde pública, e tudo o que está no meio. O congelamento só seria cancelado, segundo a Administração, à medida que as agências fossem cumprindo a agenda do Presidente: reprimir a imigração; acabar com os programas de diversidade, equidade e inclusão (DEI); suspender investimentos que reduzem o impacto dos combustíveis fósseis no ambiente. Perante a intervenção de um tribunal, a Casa Branca revogou a ordem.
“Ouvimos histórias bizarras”
Continuou, porém, o plano de Musk de redução de efetivos, com a bênção de Trump. “Elon não pode fazer – e não fará – nada sem a nossa aprovação”, garantiu o Presidente, num encontro com jornalistas na Sala Oval, em 4 de fevereiro. “Terá a nossa aprovação se for apropriado; se não for, não o faremos.” Muitos interpretaram isto como um sinal de que Trump poderá tentar controlar o seu cão de fila. Mas os funcionários públicos não estão à espera que isso aconteça.
Na Virgínia do Norte, onde vivem dezenas de milhares de trabalhadores ao serviço do governo federal e militares, uma reunião municipal na cidade de Leesburg atrai habitualmente algumas dezenas de pessoas. Mas foram centenas as que se reuniram na noite em que Musk encerrou a USAID. [Segundo a agência AP, “só cerca de 20% dos 2,4 milhões de funcionários públicos federais civis estão em Washington: mais de 80% da força ativa vive fora da capital”.]
“Ouvimos histórias bizarras”, disse um dos oradores, Suhas Subramanyam, congressista democrata na Câmara de Representantes do estado. Numerosos funcionários acorrem ao seu gabinete a relatar a entrada em funções do DOGE e Subramanyam instruiu o seu pessoal a gravar estes testemunhos e a ajudar os denunciantes. Muito do que eles observaram “é simplesmente ilegal”, insistiu o congressista, em declarações à Time. “Estamos quase a ser postos à prova e desafiados a processar ou a investigar.”
Algumas ações judiciais resultaram. A Casa Branca cumpriu ordens de tribunais que bloquearam a sua tentativa de congelar biliões de dólares em despesas federais. A decisão de um juiz, a 6 de fevereiro, atrasou o prazo para os funcionários públicos responderem às propostas de rescisões. Sindicatos interpuseram outras ações judiciais relacionadas com o DOGE, em nome de trabalhadores federais. Até admiradores habituais de Musk avisaram-no de que está a exagerar. “Já estão a correr processos judiciais”, advertiu um editorial do Wall Street Journal, em 4 de fevereiro. “Se ele não tiver cuidado, os tribunais vão fazer descarrilar o projeto do Sr. Musk antes mesmo de arrancar.”
Até admiradores habituais de Musk o avisaram de que está a exagerar. “Já estão a correr processos judiciais”, advertiu um editorial do Wall Street Journal
No Capitólio, em Washington, sede do Congresso dos EUA, o ataque de Musk à burocracia federal desencadeou uma batalha com os democratas que poderá determinar o futuro do governo e, aqui, o equilíbrio de poderes. “Não temos um quarto ramo de governo chamado Elon Musk”, realçou Jamie Raskin, democrata de Maryland, perante uma multidão à porta da sede da USAID na tarde de 3 de fevereiro, quando os homens do DOGE tentavam impor as suas exigências no interior do edifício.
Jamie Raskin tem razão, mas os funcionários da USAID que o ouviam na Pennsylvania Avenue, sem saber se ainda tinham emprego, desconhecem quanto poder Elon Musk adquiriu e se irá tentar submeter à sua vontade outros ramos do governo.
Uma funcionária parecia bastante cética. Sim, disse ela à Time, a Constituição dos Estados Unidos da América concede ao Congresso a exclusiva competência de controlar as despesas do governo, mas Musk já demonstrou que tem poder para a retirar. “Os democratas não podem fazer muito”, lamenta ela, que não quis identificar-se para não atrair mais atenção do DOGE. A sua conta de email foi encerrada e já não pode voltar ao seu posto de trabalho na agência. Tal como milhares de colegas seus e milhões de outros norte-americanos, ela assiste às jogadas de Musk, perguntando-se até onde irá ele, e quem ou o quê o poderá, ou não, impedir.
– Com Eric Cortellessa, Philip Elliott, Nik Popli e Tessa Berenson Rogers, em Washington
O grande demolidor
Milhares de funcionários públicos foram despedidos ou demitidos no primeiro mês da Administração Trump, a maioria por ordem do novo Departamento de Eficiência Governamental, liderado por Elon Musk. Não há ainda números oficiais sobre o total de demissões ou dispensas. Mas conhecem-se os organismos mais atingidos pelo congelamento de biliões de dólares de subsídios federais
Foto: Dreamstime
— Programade demissão voluntária Cerca de 75 000 funcionários federais aceitaram a oferta da Casa Branca de se demitirem a troco de uma indemnização equivalente a oito meses de salário. O programa, entretanto suspenso por um juiz, visava reduzir a força de trabalho em 5% a 10% – essa meta, segundo temem os sindicatos, pode ser alcançada através de despedimentos. A Administração Trump também deu ordens para que os vários departamentos e agências afastassem todos os trabalhadores que ainda não completaram um ano de serviço e que estão, por isso, num período de estágio, à experiência. A medida pode afetar 220 mil funcionários.
— Defesa A nova liderança do Pentágono prevê reduzir a força de trabalho civil, avaliada em mais de 700 mil funcionários, em 5% a 8%, mas os militares não serão abrangidos. A 13 de fevereiro, o Departamento dos Assuntos de Veteranos anunciou a demissão de mais de mil funcionários.
— Energia Centenas de funcionários federais pertencentes aos programas de armas nucleares foram demitidos a 13 de fevereiro, mas depois muitos tiveram de ser reintegrados por questões de segurança.
— Ajuda externa e desenvolvimento Logo na primeira semana no cargo, Trump emitiu uma ordem executiva determinando a suspensão, durante três meses, da maior parte da assistência financeira no estrangeiro, decretando, na prática, o fim imediato de milhares de programas humanitários, de desenvolvimento e de segurança financiados pelos EUA em todo o mundo. Sem dinheiro para pagar ordenados, organizações como a Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional começaram a demitir centenas de funcionários.
— Serviço de Parques Nacionais Segundo a Associated Press, a Administração Trump demitiu cerca de mil funcionários recém-contratados, responsáveis pela manutenção e pela limpeza dos parques naturais, além de outros serviços educativos. Para aumentar a confusão, o serviço de parques anunciou que iria contratar cinco mil trabalhadores a termo certo, para os meses de verão, quando 428 parques, locais históricos e outras atrações do país recebem mais de 325 milhões de visitantes.
— Saúde A 14 de fevereiro, autoridades do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças foram informadas de que iriam perder cerca de um décimo dos seus empregados. A razia entre os funcionários com menos de um ano de serviço atingiu também diversas agências de saúde pública, incluindo os Institutos Nacionais de Saúde, a FDA e os Centros de Serviços Medicare e Medicaid.
— Segurança interna Departamento de Segurança Interna Cerca de 400 pessoas foram dispensadas, em especial naAgência Federal de Gestão de Emergências, na Agência de Segurança Cibernética e de Infraestrutura (que supervisiona a infraestrutura crítica do país, incluindo os processos eleitorais) e no Serviço de Cidadania e Imigração.
— Agricultura A responsável da pasta, Brooke Rollins, disse a 14 de fevereiro que a sua agência convidou a equipa DOGE de Elon Musk de “braços abertos” e que as demissões “serão iminentes”, prevendo-se que atinjam cerca de dois mil funcionários. A 19 de fevereiro, o departamento procurou recontratar vários trabalhadores que estavam envolvidos na resposta do governo ao surto de gripe aviária, e que se encontravam entre os milhares de funcionários federais eliminados por recomendações de Musk.
A reorganização das urgências pediátricas arranca este sábado, com um novo modelo que tem em conta que o número de doentes pouco urgentes e não urgentes oscila entre 40% e os 50% dos atendidos nas urgências, mas também que o atual número de especialistas é insuficiente para manter abertas todas as urgências de pediatria das Unidades Locais de Saúde (ULS).
“Claramente que é um novo paradigma. É um projeto-piloto que vamos avaliar em três meses, mas já numa área muito grande e esse é o caminho. Não tenho dúvidas nenhumas sobre isso”, disse à agência Lusa o coordenador da Comissão Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente.
Segundo Caldas Afonso, os Centros de Atendimento Clínico Pediátrico (CAC-P) destinam-se a doentes com triagem “verde” (pouco urgente) e “azul” (não urgente), com o do Porto a entrar em funcionamento no sábado no Hospital da Prelada, enquanto em Lisboa ainda decorre o concurso para a sua abertura.
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O CAC-P do Porto vai abranger os utentes das ULS de São João, Santo António, de Matosinhos e Gaia-Espinho, enquanto o de Lisboa será direcionado para os utentes das ULS de Santa Maria, São José e de Lisboa Ocidental.
Estes novos centros pediátricos terão equipas dedicadas de médicos, enfermeiros e auxiliares, com a presença mínima obrigatória de um pediatra, responsável pela coordenação, funcionando entre as 08:00 e as 23:00 todos os dias da semana e com a disponibilização de exames complementares de diagnóstico.
“Vai haver uma oferta até às 23:00 de altíssima qualidade em que as pessoas têm uma resposta de proximidade nas áreas metropolitanas para as situações mais básicas e mais simples e que não têm de ir a uma urgência hospitalar”, salientou Caldas Afonso.
O projeto-piloto de reorganização envolve os serviços de urgência pediátrica da região de Lisboa e Vale do Tejo, de Leiria e da Área Metropolitana do Porto, assim como várias outras ULS que decidiram aderir à iniciativa, num total de cerca de 20 hospitais do país.
Na prática, o acesso à urgência referenciada passa a ser possível através de uma pré-triagem telefónica da linha SNS Criança e Adolescentes (uma derivação do SNS24), assim como para casos encaminhados pelo INEM, pelos centros de saúde ou por outra instituição de saúde, pública, privada ou social com informação assinada por médico.
Para quem aceder à urgência sem ter uma referenciação prévia, os hospitais devem assegurar um meio de contacto com a linha SNS 24, através do serviço administrativo ou de um telefone instalado no local.
Se o utente recusar ou, se por outra razão, não for possível encaminhamento através do SNS, deve ser assegurada a sua inscrição no serviço de urgência e posterior triagem, de acordo com o definido nesta reorganização, que prevê várias situações em que é obrigatória uma avaliação do doente em serviço de urgência de pediatria.
Todas as crianças com menos de seis meses serão obrigatoriamente avaliadas no serviço de urgência, assim como utentes acamados ou em cadeira de rodas, sem possibilidade de mobilização por meios próprios, vítimas de trauma, situações cardiovasculares agudas, casos de agressão e de quedas, com traumatismo crânio-encefálico e convulsões, entre muitas outras.
Esta reorganização prevê também a disponibilização de consultas aberta nos cuidados de saúde primários para doentes triados como pouco urgentes (verdes) e uma observação diferida mediante agendamento de consulta para os casos não urgentes (azuis).
O novo modelo de funcionamento “é do interesse dos doentes e é do interesse dos profissionais” de saúde, salientou Caldas Afonso, adiantando que se trata de uma solução para responder, com qualidade e previsibilidade, à falta de especialistas no Serviço Nacional de Saúde, que levam cerca de 15 anos a formar.
“As pessoas já estão a perceber que é melhor para elas, porque não vão estar a perder tempo a ir para um sítio com horas de espera e vão ter uma resposta de acordo com a sua situação clínica num ambiente seguro e com qualidade de instalações e de atendimento”, considerou o especialista.
Luís Montenegro disse no Parlamento, durante o debate da moção de censura, que a consultoria em proteção de dados prestada pela Spinumviva era feita com recurso a colaboradores externos. Foi preciso o Expresso revelar que uma das avenças da sua empresa familiar era com o grupo Solverde, no valor de 4500 euros, para serem revelados os nomes desses especialistas.
Em comunicado, emitido poucas horas depois de Luís Montenegro voltar a dizer aos jornalistas que entendia que deviam ser os clientes a revelar a ligação à consultora ou dar autorização para isso, a Spinumviva não só deu uma lista de empresas com as quais mantém avenças, como revelou os nomes dos dois colaboradores externos que prestam o serviço de consultadoria.
André Costa e Inês Patrícia são apresentados com uma breve nota curricular para cada um deles, nas quais ficam claras as competências específicas que lhes permitem prestar o serviço de consultadoria na área da proteção de dados, competências que nem a mulher de Luís Montenegro nem os seus dois filhos – os sócios da empresa – ostentam no seu currículo.
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Mas quem são, afinal, estes colaboradores que, segundo os dados financeiros da Spinumviva a que a VISÃO teve acesso ganharam pouco mais de 66 mil euros em 2023, ano em que a empresa faturou 235 216,00 euros, e cerca de 68 mil euros em 2022, quando a empresa faturou 415 100 euros?
Inês Patrícia é, afinal, Inês Patrícia Varajão Borges, casada com João Rodrigues, o candidato do PSD à Câmara de Braga, que foi sócio fundador do escritório de advocacia de Hugo Soares, líder parlamentar do PSD e secretário-geral do partido.
A informação é confirmada à VISÃO pelo próprio Hugo Soares, que diz não ter ideia de que André Costa alguma vez tenha trabalhado para o seu escritório.
A VISÃO contactou o gabinete do primeiro-ministro para perceber se havia algum comentário a fazer sobre estes colaboradores, mas não obteve qualquer resposta.
Dona do Correio da Manhã não consta da lista de clientes
Na lista de empresas que são clientes da Spinumviva, revelada pela própria empresa, estão a Lopes Barata, Consultoria e Gestão, Lda, o CLIP – Colégio Luso Internacional do Porto, a SA; FERPINTA, SA, o grupo Solverde, SA e a Radio Popular, SA.
Não consta dessa lista a Cofina, apesar de o próprio primeiro-ministro ter dito ao Correio da Manhã, que essa empresa tinha sido sua cliente, numa altura em que detinha o diário.
Não foi dada qualquer justificação para essa omissão ou dito se há outras omissões.
A CNN adiantou, entretanto, que entre as várias empresas que constam na lista fornecida pela Spinumviva, há um elo em comum: a família Violas, uma das mais ricas do País.
O bullying brutal de Trump e Vance a Zelensky, em direto, na Sala Oval, foi uma vergonha. Para os EUA. Para a democracia. Para a dignidade de um país que já viu melhores dias.
Zelensky meteu-se na boca do lobo. Literalmente. Foi ao covil de Trump. E aconteceu o que se previa. Uma cena degradante. Um chefe de Estado tratado como lixo.
Isto não se faz. Ponto. Se não gostam, não convidam. Mas Trump quis o espetáculo. O show para Putin. E Vance foi o cão de fila. Atiçou. Espumou. Tentou achincalhar Zelensky. Em direto. Para o mundo inteiro.
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Vergonha. Indecência. Um momento baixo da política americana. Intimidar um presidente em guerra? Deplorável. Mas Zelensky não se vergou. Encarou Trump. Não se intimidou com o seu estilo grosseiro. Nem com a farsa montada para agradar a Moscovo.
Trump está fora de si. Incoerente. Delirante. Um disco de mentiras. E arranjou um vice pior do que ele. Vance foi o boneco. Um fantoche a debitar parvoíces. Um espetáculo deprimente.
Nunca se viu nada assim. Nunca. Muito menos na maior democracia do mundo. E logo na Sala Oval.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.
A Microsoft anunciou que vai encerrar o Skype no dia 5 de maio de 2025, substituindo-o pela versão gratuita do Microsoft Teams para consumidores. A empresa garante que os utilizadores atuais poderão migrar automaticamente as mensagens, grupos e contactos, durante um período de 60 dias, para o Teams sem necessidade de criar uma nova conta. Alternativamente, podem optar por exportar os dados antes da data limite.
“Os utilizadores do Skype terão controlo sobre o que querem fazer”, afirmou Jeff Teper, presidente de aplicações colaborativas do Microsoft 365, podemos ler no The Verge. “Podem migrar o histórico de conversas e os contactos para o Teams, ou podem simplesmente exportar os dados e seguir outro caminho”.
A transição será gradual e, até ao encerramento do Skype, a Microsoft garantirá interoperabilidade entre as duas plataformas, permitindo que mensagens enviadas de um serviço para o outro continuem a ser entregues. Quem optar pelo Teams encontrará os contactos e histórico de mensagens, tal como tinha no Skype.
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14 anos depois… o fim
Com esta mudança, a Microsoft encerra um capítulo que começou em 2011, há quase 14 anos, quando adquiriu o Skype por 8,5 mil milhões de dólares. Apesar de ter sido uma referência em chamadas e videochamadas durante anos, o Skype foi perdendo relevância para alternativas como o FaceTime, Messenger, WhatsApp e, mais recentemente, o Zoom. De lembrar que durante a pandemia da Covid-19, o Zoom foi utilizado por milhões de utilizadores, o que também contribui para a estagnação de crescimento do Skype.
A Microsoft já tinha dado sinais da intenção de reformular a estratégia nesta área, lançando a versão pessoal do Teams em 2020 e descontinuando créditos e números do Skype em dezembro de 2024. “O objetivo inicial era ter uma experiência unificada entre trabalho e vida pessoal, mas naquela altura o Teams ainda era muito recente”, explicou Jeff Teper. “Por isso, continuámos a investir no Skype. No entanto, nos últimos anos começámos a reforçar a experiência gratuita do Teams, e esperámos pelo momento certo para esta transição”.
Apesar do fim do Skype, a Microsoft garante que não haverá despedimentos. “Temos uma única equipa que trabalha tanto no Teams como no Skype”, afirmou o presidente das aplicações colaborativas do Microsoft 365. “Estas pessoas vão continuar a melhorar o Teams, seja com novas funcionalidades para os utilizadores ou com inovações em inteligência artificial”.
Com esta decisão, a Microsoft reforça a aposta no Teams como a plataforma central para comunicação digital, deixando para trás o Skype, que tinha sido adquirido em 2011.
“Tivemos uma reunião muito significativa na Casa Branca hoje. […] É incrível o que sai através da emoção, e eu determinei que o Presidente Zelensky não está pronto para a paz se a América estiver envolvida, porque ele sente que o nosso envolvimento lhe dá uma grande vantagem nas negociações”, escreveu Trump na rede social Truth Social.
“Eu não quero vantagem, eu quero paz. Ele desrespeitou os Estados Unidos da América no seu querido Salão Oval. Ele pode voltar quando estiver pronto para a paz”, concluiu.