1. Beber e desenhar (ou vice-versa)

Boa disposição e criatividade é o que se pede para este programa nesta sexta, 14, ao fim do dia, na Praça – aquele sítio com boa onda dentro do Hub Criativo do Beato, e que é bar, mercearia, garrafeira, padaria e charcutaria. Os organizadores chamam-lhe um Art Date e pode levar-se companhia ou não. E o que se pode esperar deste Art Date? Sessões rápidas de desenho ao som de música, captando alguém de forma criativa, duas bebidas (leia-se vinho) e um DJ set. O material de desenho necessário está incluído no valor do bilhete: €30/pessoa. As vagas são limitadas e é necessário fazer reserva. Praça > Tv. do Grilo, 1, Lisboa > 14 fev, sex 19h-21h > €30/pessoa > reservas aqui

2. Provar os noodles picantes do Ajitama

Foto: DR

Já se sabe que em matéria de ramen o restaurante lisboeta Ajitama é mestre. Para “aquecer” um jantar romântico, criaram uns noodles de massa fresca vermelha, preparados com especiarias picantes japonesas. São eles que dão cor (e sabor) ao ramen Red Tonkotsu, composto por um caldo picante de porco com 18h a 20h de confeção, ovo Ajitama, barriga de porco e cogumelos kikurage. As doses diárias são limitadas, mas em compensação, esta edição especial de ramen está disponível todos os dias, até 23 de fevereiro, no Ajitama do Saldanha e do Chiado. Nesta sexta, 14, oferecem um copo de Passion Fruit Sake Sangria para refrescar o palato. Av. Duque de Loulé, 36, Lisboa > T. 96 776 1997 > seg-dom, 12h-24h > R. do Alecrim, 47A, Lisboa > T. 96 526 8635 > seg-dom 12h30-24h > até 23 fev

3. Ver um espetáculo de arrebatar corações

Com estreia marcada para o Dia dos Namorados, o espetáculo Heartquake, no Espaço Laboratório, em Lisboa, combina circo contemporâneo, música, teatro, acrobacia e interação com o público. O protagonista é um “cupido cheio de personalidade”, anuncia a Companhia Laboratório, e o público pode escolher entre ver apenas o espetáculo (inclui uma bebida) ou ficar para um jantar especial. Na ementa, consta assim: mini bouquet de “rosas” de presunto (ou cenoura), massa folhada e redução de vinho do Porto; creme de mascarpone com beterraba e amendoim torrado, acompanhado de sopa de espargos; corações de raviolis de beterraba com rabanete, molho rosa e salada de rabanete e morango (opções de recheio: marisco, novilho ou legumes), e, para sobremesa, “Carta do Cupido” em massa folhada com geleia de morango, acompanhado de mousse de chocolate e pimenta. Tem ainda duas bebidas à escolha. Espaço Laboratório > Av. Infante Dom Henrique, 336A, Lisboa > T. 96 940 7793 > 14 fev-1 mar, sex-dom 21h30 > €25 (espetáculo), €90 (com jantar)

4. Pôr uma carta no Correio dos Namorados

Foto: José Frade/EGEAC

Santo António é santo casamenteiro e padroeiro dos namorados, e são muitos os rituais para lhe pedir ajuda para encontrar um par ou manter o amor desejado. Até dmingo, 16, o Largo de Santo António da Sé, em Lisboa, vai ter um marco de correio especial: o Correio dos Namorados. A iniciativa, do Museu de Lisboa, convida a escrever os seus desejos e pedidos a Santo António e a colocar a carta no marco junto à sua estátua. Neste domingo, 15, pelas 15h, no mesmo local, a Tuna Médica de Lisboa, constituída por alunos da Faculdade de Medicina de Lisboa e da Faculdade de Ciências Médicas, fazem uma Serenata aos Namorados. Lg. de Santo António da Sé, Lisboa > até 16 fev

5. Oferecer um Lenço dos Namorados

Foto: DR

Já houve um tempo em que as jovens apaixonadas bordavam lenços à mão para oferecer ao rapaz dos seus sonhos. Se ele aceitasse o namoro, usava-o ao pescoço, orgulhoso, sobre o fato de domingo – um verdadeiro símbolo de compromisso e devoção. Já não estamos no século XIX, mas tantas décadas depois, os Lenços dos Namorados continuam a contar histórias de amor, bordadas com carinho e tradição. E que bonitos são para oferecer. À venda nas lojas d’A Vida Portuguesa, em Lisboa (Chiado, Intendente e Mercado da Ribeira) e no Porto (Estação de São Bento)

6. Escapadinha com direito a spa

Os hotéis The Vintage e The Lumiares (Lisboa) e The Rebello (Porto) aproveitam o Dia dos Namorados para lançar novos programas para quem quer fazer uma escapadinha a dois. No hotel The Vintage, por exemplo, o pacote Honeymooners inclui: estadia de duas noites (com pequeno-almoço no quarto ou no Blue Bistrot) e uma sessão no spa (tratamento aos pés, hidratação corporal com chocolate e finalização com uma massagem de cabeça relaxante). Ao chegar, será recebido com um bouquet de flores preparado por um florista local, junto ao quarto. Falta apenas explicar que qualquer programa, nos três hotéis, está disponível o ano inteiro. The Vintage Hotel > R. Rodrigo da Fonseca, 2, Lisboa > T. 21 040 5400

7. Lanchar à boleia de burros lanudos

Foto: Adriana Morais

Qualquer pretexto é um bom pretexto para visitar a Quinta do Pisão, em Cascais. São mais de 350 hectares, com vários caminhos para percorrer a pé ou de bicicleta, uma horta biológica, espaço expositivo e algumas estruturas da atividade agrícola que aqui se praticou para conhecer. É por lá que vivem também corços, cavalos do Sorraia, ovelhas da raça Campaniça e burros lanudos, de raça Asinina de Miranda. São estes últimos que servem de guia até ao local do lanche que a Quinta do Pisão organiza, neste sábado, 15, em vários horários. Na cesta, vão produtos da Quinta do Pisão e típicos da região, como queijo fresco, pães artesanais e compotas. Quinta do Pisão > Estr. da Serra, Alcabideche, Cascais > Informações T. 21 581 1750 > 15 fev, sáb 10h30, 11h, 14h, 14h30, 15h, 15h30 e 16h > €35/casal, inscrições para o endereço de email atividadesnatureza@cascaisambiente.pt

8. Imergir no “Universo Submerso”

O ambiente é escuro e propício ao romance – e o preço especial para o São Valentim quer convencer quem não estava a pensar ir ver os peixinhos do Oceanário de Lisboa. Quem comprar um bilhete até esta sexta, 14, recebe outro de oferta e pode visitar este enorme aquário até ao dia 28 deste mês. A campanha Dois por Um – apenas disponível na bilheteira online – é a desculpa perfeita para conhecer ainda a nova exposição imersiva Universo Submerso. O projeto resulta da colaboração entre a equipa do Oceanário de Lisboa e o estúdio internacional LesAteliers BK, especialista na combinação de arte e tecnologia e responsável, entre outros, pelo video mapping do Arco do Triunfo durante os Jogos Olímpicos de Paris 2024. Oceanário de Lisboa > Pq. Das Nações, Lisboa > bilheteira online aqui

9. Concertos a espalhar amor

A celebrar uma década, o festival Montepio às Vezes o Amor espalha-se por 15 cidades de todo o País para celebrar o Dia dos Namorados com concertos nesta sexta e sábado, dias 14 e 15. Do programa, destaque para as atuações de Santos & Pecadores (Coliseu do Porto, 14 fev, Sagres Campo Pequeno, 15 fev), Marisa Liz (Leiria, 14 fev, Lagoa, 15 e 16 fev), Jorge Palma (Lousã, 15 fev) ou, entre outros, Tiago Bettencourt (Ourém, 15 fev). Amarante, Aveiro, Barreiro, Lagoa, Lagoa (Açores), Leiria, Lisboa, Lousã, Ourém, Penafiel, Peso da Régua, Porto, Santarém, Torres Novas, Valongo e Vila do Conde > até 16 fev, sex-dom > €9 a €25

10. Visitar uma adega e provar vinhos

São duas as propostas da José Maria da Fonseca para comemorar a data. Na Casa-Museu José Maria da Fonseca, em Azeitão, sugere-se a visita ao jardim e a três antigas adegas: a da Mata, a dos Teares Novos (na qual estagia, entre outros, o Periquita) e a dos Teares Velhos (onde repousam os Moscatéis de Setúbal mais antigos). Após a visita, haverá um jantar no Wine Corner by José Maria da Fonseca: o menu (€60/pessoa) que se prolonga ao longo de todo o mês, inclui camarão flambeado, entrecôte com batatas fritas e a famosa Mosca na Mousse. Tudo acompanhado com vinhos da marca.

A Adega dos Potes, em Reguengos de Monsaraz. Foto: DR

Já no Alentejo, em Reguengos de Monsaraz, a Adega José de Sousa propõe a visita à Adega Moderna e à Adega dos Potes: dois estilos distintos desde a tecnologia de ponta ao método de fermentação ancestral. A prova de dois vinhos acompanhada de chocolate artesanal e a oferta de uma garrafa de vinho tinto, finalizam esta experiência. Casa-Museu José Maria da Fonseca > R. José Augusto Coelho, 12A, Azeitão, Setúbal > T. 21 219 8940 > 14-16 fev, 22-23 fev, 11h, 15h > Adega José de Sousa, R. Mourão, 1, Reguengos de Monsaraz > T. 91 826 9569 > 14-16 fev, 22-23 fev, 11h, 15h > €40 (visita adegas), €60 (jantar)

11. Ir ao cinema (e ganhar um bilhete à borla)

O Batalha Centro de Cinema exibe nesta sexta, 14, o filme Death Becomes Her (A Morte Fica-vos Tão Bem, de 1992), de Robert Zemeckis, numa sessão apresentada pela designer e feminista Clara Não e Dr. Love. O filme/comédia, que recebeu um Oscar de Melhores Efeitos Visuais, conta a rivalidade entre Helen (Goldie Hawn) e Madeline (Meryl Streep), duas mulheres ligadas por um homem (interpretado por Bruce Wills). Antes, será exibida a curta-metragem Me and Rubyfruit, de Sadie Benning, um vídeo-diário intimista que reflete sobre identidade, desejo e sexualidade sob o olhar de uma jovem queer. Nesta noite,, na compra de um bilhete (apenas na bilheteira física), será oferecido outro.  Pç. da Batalha, 47, Porto > T. 22 507 3308 > 14 fev, sex 21h15 > €5 

12. Fazer um workshop de bolachas

Foto: DR

A chefe Joana Quinta, da Sweet Soul, em Leça da Palmeira, orienta um workshop de pastelaria a dois nesta sexta, 14, a partir das 18 horas. Durante uma hora e meia, os participantes aprendem a fazer bolachas recheadas (com quatro sabores à escolha), e a decorar o tiramisù de morango em copo. Além de levarem para casa a receita das bolachas, os participantes ainda levam dois tiramisù individuais. Quem queira completar a mesa do jantar, poderá adquirir o bolo Coração de Amêndoa, com creme de ovos, o Fondant Red Velvel, com cremoso de maracujá, ou as cookies Red Velvet. R. Direita, 75, Leça da Palmeira, Matosinhos > T. 914 787 600 > €25/pessoa, inscrição obrigatória geral@sweetsoul.pt

13. Jantar na Quinta da Aveleda

Foto: DR

O Salão do Roseiral na Quinta da Aveleda, em Penafiel, é o cenário para um jantar de São Valentim, nesta sexta, 14. O repasto inclui quatro vinhos de diferentes regiões, em quatro momentos: na entrada, o crostini de straciatella com presunto e uvas e a salada de abacate, manga e camarão acompanha com Aveleda Alvarinho; o arroz de tamboril é servido com Villa Alvor Domus (Algarve); a bochecha de porco com redução de vinho tinto serve-se com Vale D. Maria Vinhas do Sabor Tinto Reserva (Douro) e, na sobremesa, depois da gruta laminada, a mousse de chocolate com bolacha da adega velha finaliza  a refeição com a aguardente vínica Adega Velha Duplo Estágio, da Aveleda (Vinhos Verdes).  Quinta da Aveleda, R. Aveleda, 2, Penafiel > T. 255 718 200 > 14 fev, sex 19h > €56/pessoa > Reserva enoturismo@aveleda.pt

O Presidente da República vetou esta quarta-feira o novo mapa de freguesias aprovado pela generalidade dos partidos com assento parlamentar no passado dia 17 de janeiro. Marcelo Rebelo de Sousa decidiu, “por imperativo de consciência”, não promulgar o documento previa a desagregação e a reposição de 299 freguesias e a reavaliação do território de mais três autarquias, devolvendo-o ao Parlamento.

Por que razão o Presidente vetou a lei?

Ao justificar a sua decisão, numa carta enviada a José Pedro Aguiar-Branco, presidente do Parlamento, e disponível no site da Presidência, Marcelo Rebelo de Sousa refere “três dúvidas sobre o diploma”. A primeira, está relacionada com a “reversão – para alguns um grave retrocesso – num caminho de reordenamento e de racionalização do poder local, assim questionando a essência da reforma de 2013”, lê-se. O Presidente defende não ser “desejável” que haja “orientações flutuantes” a um caminho definido, mesmo que haja “reparos ou críticas pelo seu radicalismo, ou processo”.

Em seguida, o Presidente da República afirma que o processo legislativo na AR foi pouco “transparente” com a inclusão de freguesias na lista final até vésperas da votação final e considerou que o processo legislativo provocou uma “falta de compreensão” pelos “seus avanços e recuos, as suas contradições, as hesitações e sucessivas posições partidárias, a inclusão e a exclusão de freguesias, e, sobretudo, o respeito rigoroso dos requisitos técnico-legais a preencher, para ser possível a desagregação”.

Por fim, Marcelo Rebelo de Sousa apontou dúvidas sobre a “capacidade para aplicar as consequências do novo mapa já às eleições autárquicas de setembro ou outubro deste ano, daqui a pouco mais de seis meses” – apesar de ter promulgado a lei que permite aos deputados decidirem a desagregação de freguesias. O Presidente acredita que “a complexidade da instalação, e resolução dos problemas emergentes é variável de freguesias para freguesias desagregadas e pode ser mesmo, aqui e ali, muito complexo” para aplicar já às eleições de setembro ou outubro.

Marcelo refere ainda que o seu veto não é “por questionar a vontade das populações, a legitimidade parlamentar para reversões, a começar nos partidos antes adeptos do revertido, nem por ter matéria de facto disponível para contradizer a aplicação dos requisitos técnico-legais das desagregações” mas por duvidar da “capacidade para executar a nova lei, sem subsequentes questões de Direito – ou de facto – patrimoniais, financeiras, administrativas ou outras, resultantes do tempo disponível”.

O que acontece agora?

Ao ser vetado o decreto, o parlamento tem agora duas possibilidades: os deputados podem – dentro de 15 dias – confirmar o diploma sem alterações ou introduzir novas mudanças que terão de voltar a ser apresentadas e votadas em plenário. A lei volta depois a Belém para que o Presidente o promulgue no prazo de oito dias a contar da sua receção.

O prazo para ter um novo mapa autárquico em 2025 torna-se assim muito apertado, dado que a lei que a criação de novas freguesias tem que estar publicada até meados de março, para que possam existir novas autarquias a tempo das eleições. Não podem ser introduzidas alterações ao mapa do Poder Local seis meses antes das eleições autárquicas. 

Hugo Soares, líder parlamentar do PSD, diz que o veto do Presidente da República “tem peso” e pede tempo para o partido o avaliar antes de anunciar se pretende ou não confirmá-lo. “Nem o País está com uma urgência nesta decisão, nem isto é uma decisão que careça de uma urgência de pé para a mão, da manhã para a noite”, referiu Soares, à entrada para o plenário da Assembleia da República.

O Partido Socialista (PS) já anunciou que vai contrariar Marcelo e confirmar o decreto de separação de freguesias assim que for possível. A deputada socialista Mariana Gonçalves afirma que o partido entende que o processo legislativo foi “transparente”, feito “dentro do enquadramento legal” e do prazo de seis meses que a lei prevê para alterações, pelo que se deve “cumprir a vontade das populações”.

Decorria o longínquo ano de 2015 quando uma simples denúncia anónima, feita no portal da Procuradoria-Geral da República, serviu de tiro de partida para uma das maiores investigações sobre corrupção a envolver políticos em cargos públicos ‒ a Operação Tutti Frutti. A investigação arrastou-se devido à sua complexidade, com queixas de falta de meios pelo caminho, situação a que a então procuradora-geral da República, Lucília Gago, deu resposta com a criação, em 2023, de uma equipa a trabalhar no caso em exclusividade (cinco inspetores da Polícia Judiciária e cinco magistrados do Ministério Público).

Ao fim de dez anos, o MP formalizou a acusação: 60 arguidos (49 pessoas e 11 entidades), incluindo atuais e ex-deputados, presidentes de junta, vereadores e altos responsáveis do PSD e do PS, são acusados de um total de 463 crimes: corrupção ativa e passiva, prevaricação, abuso de poder, tráfico de influência, branqueamento de capitais, burla qualificada, falsificação de documentos e recebimento indevido de vantagem.

Na lista, não surgem os nomes mais sonantes, Fernando Medina e Duarte Cordeiro. O ex-presidente da Câmara de Lisboa e ex-ministro das Finanças chegou a ser constituído arguido, no ano passado, mas o MP, apesar de lhe apontar comportamentos “que se desviam e atropelam as normas que enquadram o exercício das funções públicas”, diz não ter ficado demonstrada “a prática de factos suscetíveis de integrar os crimes de corrupção ativa e passiva, inicialmente referenciados, nem do crime de prevaricação”.

O ex-ministro do Ambiente e da Ação Climática, durante anos uma das figuras mais poderosas do PS, dedicou umas linhas no Facebook ao facto de não ter sido acusado. “Ficou clarificado o que sempre disse. Não há nada que me surpreenda no que me diz respeito e só lamento o tempo que demoram estes processos a concluírem as suas investigações. Relembro que nunca fui sequer ouvido. Depois de anos a lidar com especulação e suspeita, fico finalmente livre.” As suspeitas contra a deputada social-democrata Margarida Saavedra foram também arquivadas.

Mas há pesos-pesados entre os acusados. Nomes que vão fazer mexer as Eleições Autárquicas, a decorrer em setembro ou outubro.

Há crimes e crimes

A lista do MP conta com três presidentes de juntas de freguesia de Lisboa do PSD – Luís Newton, Fernando Braamcamp e Vasco Morgado – e com as ex-presidentes de junta do PS Ana Sofia Figueiredo e Inês Drummond (que entretanto se tornou vereadora sem pelouro da Câmara de Lisboa, cargo a que renunciou ao ser conhecida a acusação). Luís Newton acumulava o cargo à frente da Junta da Estrela com o de deputado à Assembleia da República, mandato que decidiu suspender para não “atingir o Governo”. Outro deputado da Nação envolvido é Carlos Eduardo Reis, igualmente do PSD, que anunciou a suspensão, a contragosto, do mandato no fim deste mês (mas não a do cargo de vereador, que ocupa na Câmara de Barcelos). “Retiraram-me a confiança política ao dizer que não tenho condições para continuar a ser deputado do grupo parlamentar. Estão a entregar a escolha dos deputados ao Ministério Público, a trocar a presunção de inocência pela presunção de culpa. A minha opinião é que deveria continuar, mas até ao final deste mês suspenderei as minhas funções no grupo parlamentar”, disse.

Ângelo Pereira, vereador social-democrata na Câmara de Lisboa, com os pelouros da Higiene Urbana, Proteção Civil e Desporto, é outro acusado que decidiu suspender o mandato. A lista de figuras mais influentes fica completa com Rodrigo Gonçalves, membro do conselho nacional do partido e dirigente histórico do PSD de Lisboa, Rui Paulo Figueiredo, antigo assessor de José Sócrates, conhecido como “o espião do Governo” nas supostas escutas a Cavaco e José Guilherme Aguiar, vereador da Câmara de Gaia.

O envolvimento de altos quadros do PSD e do PS na Operação Tutti Frutti está a causar um notório desconforto nos dois partidos e a baralhar as contas para as autárquicas, sobretudo tendo em conta que alguns dos acusados têm tido responsabilidades na escolha dos candidatos. E já há demissões na máquina autárquica do PSD – Ricardo Almeida, coordenador autárquico da Distrital do Porto, acusado de um crime de abuso de poder, foi o primeiro dirigente de órgãos partidários a deixar-se cair na sequência da Operação Tutti Frutti.

O julgamento em tribunal vai longe, mas o político já começou. Várias figuras de proa do PSD apelam à demissão dos suspeitos de corrupção e manifestam-se contra a sua inclusão nas candidaturas às autárquicas. Um deles foi Hugo Soares, líder parlamentar e secretário-geral do PSD: “Nenhum presidente de junta acusado em crimes de relevância será candidato pelo PSD”, garantiu. Mas sublinhou que Ângelo Pereira, por exemplo, está “apenas” acusado de recebimento indevido de vantagem, o que não o deve impedir de se manter como presidente da comissão política distrital do PSD Lisboa e de estar envolvido na escolha de candidatos.

Alexandra Leitão, líder parlamentar do PS e candidata à Câmara de Lisboa, também garantiu que não dará luz verde a que qualquer candidato acusado entre na sua lista, ainda que tenha desvalorizado a acusação à socialista Inês Drummond, por ser um crime de prevaricação e não de corrupção.

As autárquicas ainda estão a largos meses de distância. É muito tempo para as nuances fazerem o seu caminho.

Os tubarões

As mais importantes figuras acusadas na operação

Sérgio Azevedo
É quem está acusado de mais crimes – 51 –, incluindo corrupção ativa e passiva, prevaricação, branqueamento de capitais e tráfico de influência. O MP diz que o ex-deputado do PSD usou o seu poder na concelhia de Lisboa para indicar candidatos autárquicos do seu círculo. Uma vez eleitos os autarcas, Azevedo receberia contrapartidas dos contratos assinados pelas juntas de freguesia.

Luís Newton
Deputado do PSD e presidente da Junta de Freguesia da Estrela, Lisboa, desde 2013, é acusado de dez crimes (cinco de corrupção passiva e cinco de prevaricação) devido a alegados contratos que o terão beneficiado a si e a pessoas próximas.

Carlos Eduardo Reis
Igualmente deputado do PSD, além de vereador na Câmara de Barcelos, responde por 22 crimes, na qualidade de empresário que terá beneficiado de ajustes diretos abusivos.

Fernando Braamcamp
Ao presidente da Junta de Freguesia do Areeiro, em Lisboa, eleito pelo PSD, são apontados 39 crimes de corrupção passiva, quase todos relacionados com a contratação de serviços de várias empresas para a junta.

Vasco Morgado
Presidente da Junta de Freguesia de Santo António, também em Lisboa, são-lhe atribuídos 27 crimes, a maioria de corrupção passiva.

Em 2024, Gisela João percorreu muitos palcos a festejar os 50 anos do 25 de Abril com canções (a maioria de José Afonso): A Morte Saiu à Rua, Vejam Bem, Que Amor Não me Engana, mas também Acordai, de Fernando Lopes Graça, e Inquietação, de José Mário Branco. Em 2025, essas versões (tocadas e construídas com os músicos Carles Rodenas Martínez e Luís “Twins” Pereira) dão corpo ao quarto disco de estúdio da fadista nascida em Barcelos em 1983, Inquieta.

Acha que uma canção pode mudar as nossas vidas – para não dizer “o mundo”?

Acho, acho mesmo. Olhem para mim… Isso aconteceu comigo. Até diria mais “a poesia” do que simplesmente canções. Interessa-me sempre mais a história que estou a contar, as palavras, do que o modo muito perfeitinho de cantar. E acredito que o que estamos a dizer pode mudar vidas. A poesia mudou a minha vida.

Para chegar às canções que estão neste disco houve um trabalho de procura, motivado pelos 50 anos do 25 de Abril e o mote da liberdade, ou foi uma coisa mais afetiva e pessoal?

Este disco é um belo exemplo daquelas coisas que “têm de ser” e nem sabes bem porquê. As coisas que mais nos encantam na vida, o amor e a arte, serão sempre supermisteriosas. Este disco nasce sem ser esperado, planeado. Eu estava, aliás, a gravar outro, a que vou voltar em breve. Mas quando fiz os concertos das comemorações do 25 de Abril, percebi que não me sentia bem se aquelas canções ficassem só por ali. Pensei: “Preciso de gravar estas músicas!” Até podia ser só para mim, para ficar um registo.

E a escolha das canções?

Foi feita para os concertos. A Grândola e o Depois do Adeus teriam sempre de estar lá, fazem parte da História de Portugal, não só da música. Eu, depois da pandemia, achei mesmo que ia ser feliz a fazer outras coisas, que não fazia sentido continuar na música. E, de repente, percebi que com estas músicas estava, também, a cantar a minha liberdade. Na Balada do Outono [de José Afonso] há aquela parte: “… que eu não volto a cantar.” E isso falou muito comigo. Porque nos últimos anos essa era uma frase diária na minha vida. 

A maioria das canções no disco são do José Afonso…

O Zeca Afonso é o meu artista favorito, no meu País. Da forma completa como ele é: música, poemas… Era incrível. Faz parecerem simples coisas que são complexas. Em miúda ouvia muito Zeca Afonso. Quando pensei nestes concertos achei sempre que ia ter muito mais músicas do José Mário Branco e do Sérgio Godinho e, lá está, às vezes não interessa tanto o que achamos que queremos, precisamos mesmo é de outros caminhos, e é por aí que temos que ir.

Só uma canção do disco não tem a letra original, Que Força É Essa, do Sérgio Godinho, que cantou na versão recente da Capicua. As canções também são organismos vivos…

Ainda estava a preparar os concertos e um dia percebi que todas as canções à minha frente eram de homens. Isso deixou-me furiosa. Mesmo tendo noção de que os tempos eram outros. Lembrei-me de que nesse mesmo ano, no Dia da Mulher, a Capicua tinha lançado a sua versão do Que Força É Essa, o que me deixou muito feliz. E decidi cantá-la, com autorização da Capicua e do Sérgio, claro.

Das dez versões presentes no disco, só uma foi gravada ao vivo: Inquietação, de José Mário Branco

Estas canções salvaram-na desse afastamento que sentia em relação à música?

Sem dúvida. Sinto que estas canções fizeram parte da libertação do meu povo, da nossa História, mas não me falam só da liberdade política em tempos de ditadura, falam-me da minha própria liberdade, diária. Andei muitos anos a correr e precisava de parar um bocado. Este disco empodera-me muito.

Acha que há fado neste Inquieta?

Não acho, tenho a certeza. Para mim, o fado é muito mais do que a forma, do que as regras das estrofes e das músicas. O fado é uma forma de vida, de sentir a vida. Que passa muito por empatia, pelo sentir do outro, pelo sentido de comunidade. Em qualquer coisa que eu faça, o fado estará lá.

Palavras-chave:

As funcionalidades e melhorias trazidas por soluções como a Inteligência Artificial (IA) do Copilot e o ChatGPT estão cada vez mais a entrar na rotina dos utilizadores, que confiam nos assistentes para executar as tarefas mais repetitivas e mundanas, libertando tempo para as que exijam maior destreza mental. Agora, um estudo liderado por investigadores da Microsoft e feito em parceria com a Universidade de Carnegie Mellon revela que uma dependência e confiança excessiva nestes modelos podem impactar negativamente a capacidade de pensamento crítico e levar à deterioração de capacidades cognitivas.

O Windows Central cita um parágrafo do trabalho, no qual se lê que “uma grande ironia da automação é que ao mecanizar tarefas rotineiras e deixar as exceções para o utilizador humano, estamos a privar o utilizador das oportunidades rotineiras de praticar o seu julgamento e fortalecer a sua musculatura cognitiva, deixando-o atrofiado e mal preparado quando as exceções surgirem”.

O estudo teve em conta cenários de utilização de IA no ambiente de trabalho e revela que os trabalhadores que usavam estas ferramentas no quotidiano mostravam mais dificuldades em lidar com cenários onde tivessem de usar o pensamento crítico.

Alguns utilizadores nas redes sociais, nomeadamente no Reddit, têm levantado preocupações semelhantes, havendo relatos como “perdi algumas células cerebrais” ou “posso ver que o ChatGPT vai tornar-nos mais burros à medida que usamos IA sem pensar e sem usar o cérebro”. Outra consequência negativa que tem vindo a ser discutida é a perda de criatividade e de pensamento crítico, com os utilizadores a virarem-se, por exemplo, para o ChatGPT para obter satisfação e respostas imediatas.

De acordo com uma notícia avançada pelo Jornal de Notícias, João Rogério Silva, conselheiro nacional do Chega e principal rosto partido em Oliveira do Hospital, está acusado de montar uma emboscada após uma eleição para a liderança da Concelhia.

O conselheiro nacional do Chega foi acusado pelo Ministério Público (MP) de crimes de dano e ameaça agravada, em março de 2023, contra um militante que também se candidatou à liderança da Concelhia de Oliveira do Hospital, António José Cardoso. De acordo com a acusação, Cardoso encontrava-se a conduzir o carro da empresa em que trabalhava, entre Oliveira do Hospital e Mangualde, quando foi abalroado por outro veículo, onde seguia o principal rosto do partido na região. O agressor terá depois saído do carro e desferido “várias pancadas com força” no automóvel, com o militante ainda lá dentro. Silva estaria armado com um pedaço de mangueira e uma faca, que utilizou para ameaçar Cardoso, prometendo matá-lo. “Enquanto João Silva se encontrava com a faca na mão proferiu a seguinte expressão, em tom sério e ameaçador dirigida a António Cardoso ‘vou-te matar’, tendo de imediato passado com a faca junto ao seu pescoço, simulando o gesto do crime”, pode ler-se na sentença citada pelo JN. António Cardoso apresentou queixa na GNR de Oliveira do Hospital.

O MP abriu uma acusação formal contra o conselheiro nacional do Chega, tendo como base testemunhos da vítima, fotografias do automóvel danificado e algumas mensagens trocadas entre os dois envolvidos. João Silva deverá mesmo ser julgado pelo crime, dado que o prazo de 20 dias para início da fase de instrução já expirou.

De acordo com uma publicação interna no portal do Chega, também citada pelo JN, João Silva terá admitido que cometeu “um tresloucado ato”, incentivado por Paulo Seco, presidente da Distrital de Coimbra. “Foi ele que me impulsionou, encorajou e incentivou a cometer o ato”, lê-se.

Em resposta ao JN, Seco refere que só teve conhecimento do caso “por intermédio de grupos da internet” e que nunca afastou Silva da Concelhia por esse motivo. No entanto, o presidente da Distrital de Coimbra, admitiu ao jornal português que chegou a fazer uma participação ao Conselho de Jurisdição do Chega contra António Cardoso, por este o ter acusado de ser o impulsionador do crime, o que significa que o partido, com conhecimento do caso – manteve Silva no cargo que ocupava.

Em maio de 2019, Iya Patarkatsishvili, filha de um bilionário georgiano, e o seu marido, Yevhen Hunyak, compraram uma mansão em Londres por mais de 32 milhões de libras – cerca de 38 milhões de euros. Situada numa das ruas mais tranquilas de Notting Hill, a propriedade, de nome Horbury Villa, parecia ser perfeita para o casal, possuindo diversas comodidades, como uma piscina, spa, ginásio, cinema e adega de vinhos.

No entanto, tudo mudou quando foi descoberta uma enorme infestação de traças no isolamento da casa. De acordo com o casal, a praga de insetos era tão grande que era recorrente avistar traças em objetos como escovas de dentes, toalhas e copos, bem como encontrar frequentemente peças de vestuário danificadas. Hunyak refere que chegava a matar entre 10 e 35 traças por dia. O casal acabou por contratar uma empresa de controlo de pragas que descobriu a origem do problema no isolamento do teto. Os trabalhos de substituição do mesmo custaram cerca de 270 mil libras – mais de 320 mil euros.

O caso levou o casal a processar o antigo proprietário e agente imobiliário William Woodward-Fisher. Ao decidir a favor de Patarkatsishvili e o marido, na passada segunda-feira, o juiz, Justice Fancourt, considerou que o antigo dono da Horbury Villa fez “declarações fraudulentas” e “ocultou uma grave infestação de traça da roupa no isolamento da casa” antes da venda. No entanto, o juiz acredita não ter existido, por parte de Woodward-Fisher, a intenção consciente de “tentar enganar os eequerentes. Ele simplesmente queria vender a casa e seguir em frente”, lê-se no acórdão. Agora, para além de a propriedade voltar a ser responsabilidade do antigo dono, o casal vai também recuperar a maior parte dos custos com as obras e receber “indemnizações substanciais”.

De acordo com o acórdão, a praga de traças terá sido inicialmente identificada em 2018 pela mulher de Woodward-Fisher, na sequência de grandes obras de construção na propriedade. Na altura, terá sido solicitada a ajuda de especialistas na eliminação da praga, que não foi bem sucedida. 

O Concorde já tinha quebrado a barreira do som e conseguia voar a velocidades Mach 2, ou seja, a 2180 km/h. No entanto, para conseguir este feito, o avião emitia um ruído explosivo que podia quebrar janelas, assustar animais de estimação e gado, e levar a vários tipos de destruição de propriedade no solo, pelo que as tentativas de aviação comercial a estas velocidades foram proibidas pelos reguladores. Agora, a Boom Supersonic revela ter conseguido um voo a quebrar a barreira do som e com a vantagem de não ter produzido o chamado ‘sonic boom’ (choque sónico ou estrondo sónico, em tradução livre) percetível a partir do solo.

Em março de 2024, o XB-1 cruzou os céus pela primeira vez. Depois, em outubro, surgiu a promessa de se atingirem velocidades supersónicas. Agora, há duas semanas, a empresa fez um voo a velocidades de 1,22 Mach, ou seja, quase 1500 km/h. Durante este voo, foram colocados microfones no solo para detetar o ruído e confirmou-se que o ‘estoiro’ característico não foi ouvido. O XB-1 conseguiu quebrar a barreira do som três vezes neste trajeto, com o diretor executivo Blake Scholl a congratular-se: “Isto confirma as nossas crenças: viagens supersónicas podem ser baratas, sustentáveis e confortáveis para quem está a bordo e para quem está no solo”, cita o New Atlas.

A Boom Supersonic quer desenvolver um novo avião para fins comerciais, o Overture, com base nestes conhecimentos e vai usar um sistema de propulsão proprietário, o Symphony, para atingir estas velocidades silenciosamente.

A escolha do design e do hardware permite que o XB-1 consiga quebrar a barreira do som quando está acima dos 30 mil pés (9144 metros) de altitude. É nesta altitude que ocorre um fenómeno, graças às mudanças na densidade do ar e temperatura, conhecido por Mach cutoff, ou seja, no qual a onda de choque produzida pelo voo ‘ressalta’ e dissipa-se na atmosfera.

A tecnologia atual, nomeadamente os controlos de voo automatizados, a modelação atmosférica e os motores mais eficientes, permite que empresas como a NASA, a Lockheed e a Boom façam um uso prático e desenvolvam aviões mais silenciosos, mais rápidos e mais sustentáveis.

A Boom Supersonic já tem 130 unidades do Overture encomendadas pela Japan Airlines, pela United Airlines e pela American Airlines. A empresa espera produzir 66 aviões anualmente a partir da Overture Superfactory, nos EUA.

Começou, em 2000, como uma iniciativa para celebrar o centenário da morte de Eça de Queirós, uma das muitas figuras literárias da (ou que passaram pela) Póvoa de Varzim. Mais ao correr dos anos, o Correntes D’Escritas afirmou-se como o mais importante festival literário do País, com fortes ecos no universo ibero-americano. E se hoje começa a ter rivais à altura, com o surgimento de outros encontros de escritores em outras localidades, mantém o prestígio e a centralidade no ano editorial. E, sobretudo, a capacidade de apresentar um programa cultural que se multiplica em busca de novos públicos.

Em 2025, na sua 26.ª edição, o Correntes D’Escritas, promovido e organizado pela Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, chega aos 25 anos de promoção do livro e da leitura com muitos motivos de interesse. São 100 convidados europeus, africanos e sul-americanos que partilham as línguas portuguesa e espanhola (e, este ano, também a galega), com 30 estreantes.

Além dos destaques referidos abaixo, as propostas passam pela artes plásticas, com exposições de Alfredo Cunha, Daniel Mordzinski e Olga Santos, e outras dedicadas a Camilo Castelo Branco (nos 200 anos do seu nascimento) e Luísa Dacosta. E pelo folclore, com o projeto ReViraVerso, que procura interpretar velhos temas com novas palavras roubadas à poesia contemporânea.

1. Hélder Macedo e Onésimo

O escritor Hélder Macedo. Foto: Lucília Monteiro

São duas homenagens, cada uma à sua maneira, a figuras com forte ligação ao Correntes D’Escritas. Depois de várias participações, Hélder Macedo regressa à Póvoa de Varzim para a Conferência de Abertura (dia 19, às 15h, no Cine-Teatro Garrett). O catedrático emérito do King’s College de Londres evocará o autor de Os Lusíadas nos 500 anos do seu nascimento, numa intervenção intitulada Luís de Camões: conhecer não ter conhecimento. Já Onésimo Teotónio Almeida, único totalista das 26 edições, é homenageado na revista deste encontro de escritores, também chamada Correntes D’Escritas, com textos de amigos, estudiosos e leitores.

2. ‘Ut pictura poesis’

A Coluna Partida, de Frida Kahlo

Diziam os romanos que a poesia era como a pintura, valorizando a capacidade dos poetas de criar imagens e inaugurando uma tradição de descrição de obras de arte nos poemas. Surpreendendo todos os convidados, as mesas de escritores do Correntes deste ano não terão os seus motes em frases ou versos, mas em pinturas bem conhecidas dos últimos séculos. Claro que cada autor poderá, como sempre acontece, seguir o seu caminho, mais próximo ou distante do tema proposto. Mas o ponto de partida será sempre visual, na companhia de Frida Kahlo, Gustave Courbet, Edvard Munch, Hieronymus Bosch, Júlio Pomar ou Paula Rego.

3. Da língua espanhola

Ariana Harwicz. Foto: DR

Dar a conhecer a riqueza das literaturas que se escrevem em espanhol (e, dentro de Espanha, também em galego, catalão ou basco) tem sido uma das grandes mais-valias do Correntes, com centenas de autores já convidados. Este ano, da América do Sul vêm representantes das novas gerações: a argentina Ariana Harwicz e o venezuelano Rodrigo Blanco Calderón, ambos com livros acabados de editar em Portugal. Do país vizinho, há uma embaixada maior: o ensaísta Antonio Monegal, a romancista Marta Perez-Carbonell, também com novos títulos entre nós, e as poetas Amalia Bautista e Yolanda Castaño.

4. Tradução e educação

Foto: DR

O Correntes tem vindo a alargar o seu programa cultural, com propostas para públicos muitos diversos. Uma das novidades do ano passado, reforçada este ano, é o encontro de tradutores, coordenado pelo alemão Michael Kegler, que convidou, entre outros, Harrie Lemmens, Guilherme Pires, Alda Rodrigues, Margarida Vale de Gato, Odile Kennel, Gisela Casimiro, Inês Pedrosa e Nuno Quintas. Com curadoria de Raquel Patriarca, também volta a realizar-se a formação creditada para professores, este ano com a sugestiva designação: O Encontro como Ponto de Partida, Talvez de Chegada em Escala de Pausa Curta. Há, ainda, oficinas de Amélia Muge, Ricardo Fonseca Mota e Sandra Barão Nobre.

5. Patrícia Melo e outros lusófonos

A escritora brasileira Patrícia Melo é um dos autores de língua portuguesa que se destacam no programa. Foto: DR

Foi convidada na edição de 2021, que se realizou exclusivamente online por causa da pandemia, mas só este ano está, pela primeira vez, na Póvoa de Varzim. A escritora brasileira Patrícia Melo, autora de uma celebrada obra, com muitos matadores, tiros e crimes, mas também retratos citadinos e femininos, é um dos autores de língua portuguesa que se destacam no programa, nomeadamente dos que representam toda a lusofonia. Do Brasil, regressa ainda Ignácio de Loyola Brandão, a que se juntam Alexandre Vidal Porto ou Rafael Gallo. Da África de expressão portuguesa, destaquem-se as presenças dos moçambicanos Bento Baloi e Mélio Tinga, os angolanos Ana Paula Tavares e Ondjaki e o cabo-verdiano Germano Almeida.

6. Novos livros

O Correntes é um festival de muitos escritores e livros, com 30 lançamentos previstos no programa. É o verdadeiro arranque editorial do ano, com uma enorme oferta de novos romances, ensaios e poemas. Uma das surpresas é a estreia literária da cantautora Luísa Sobral (na foto). Depois de um livro infantil, sai o seu primeiro romance, Nem Todas as Árvores Morrem de Pé, passado na Alemanha dividida do pós-guerra. Contos Suicidas, de Fernando Pinto do Amaral; Escrevo por Vingança à Morte, de Cláudia Lucas Chéu; Ódio, de José Manuel Fajardo; Três Mulheres na Cidade, de Lara Moreno, e Cartografia, de Minês Castanheira e Raquel Patriarca, são alguns dos outros lançamentos.

7. E o vencedor é…

Em anos ímpares, o Prémio Literário Casino da Póvoa, o maior galardão associado ao Correntes D’Escritas, é dedicado à poesia. A decisão caberá, este ano, ao júri constituído por Ana Paula Tavares, João Gobern, Margarida Ferra, Maria de Lurdes Sampaio e Ricardo Marques, que selecionaram 11 livros finalistas, assinados por Adília Lopes, Andreia C. Faria, Bernardo Pinto de Almeida, Eucanaã Ferraz, João Luís Barreto Guimarães, João Melo, Jorge Gomes Miranda, Luísa Freire, Nuno Júdice, Paulo Tavares e Ricardo Gil Soeiro.

Correntes D’Escritas > Vários locais da Póvoa de Varzim > 15-22 fev > programa completo aqui