As novas letras de metal na fachada não são a única mudança visível e integrada nas comemorações dos 30 anos do Museu Arpad Szenes – Vieira da Silva. Agora, há também uma porta que dá acesso direto ao Vieira Café, assinalando a reabertura da cafetaria.
Maria Andrade, mais conhecida por Milocas, é um talento reconhecido da cozinha de Cabo Verde em Lisboa, e, além de mostrar a sua arte no Centro Cultural de Cabo Verde, também a serve aqui.
Na pequena sala, de paredes forradas a azulejos da autoria de Manuel Cargaleiro que evocam o trabalho de Vieira da Silva, a meia dúzia de mesas e alguns dos lugares ao balcão vão sendo ocupados por quem conhece a mão de Milocas para a cozinha e também por novos clientes.
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Nesta cafetaria, toma-se um café, lancha-se uma fatia de bolo de banana ou de chocolate e almoça-se. A carta é feita de propostas fixas, como o aromático caril de gambas acompanhado com arroz branco e a cachupa. “Temos a do dia, que é caldosa, e a refogada, uma versão mais seca, confecionada no dia anterior, que leva rodelas de chouriço e ovo estrelado em cima”, explica Milocas. “A culinária portuguesa tem muito que ver com a nossa, de Cabo Verde, eu faço uma cozinha que todo o mundo gosta, adapto pequenas coisas como servir o picante à parte.”
Bife de atum de cebolada, servido com batata-doce e legumes, o cozido feito com carne salgada, “muito da cozinha cabo-verdiana”, ou o caldo de mancarra (amendoim) que Milocas confeciona com galinha, pasta de amendoim, quiabo, curgete e limão, original da culinária guineense, também vão rodando na ementa.
Sob consulta, também fazem jantares ou podem abrir ao almoço, à segunda-feira, para ocasiões especiais
Nas sobremesas, há várias sugestões, mas a mousse de camoca, confecionada com farinha de milho torrado, é de comer e chorar por mais. “Ando muito nas mesas, gosto de falar com os clientes, é importante saber se gostaram, o que acham bem ou mal”, diz Milocas.
Aliás, foi assim que lhe chegou o convite para vir tomar conta da cozinha do Vieira Café. Numa dessas incursões de Milocas pelas mesas, os responsáveis pelo museu (e seus clientes no Centro Cultural de Cabo Verde) fizeram-lhe a proposta. “Quando surge um convite destes, não se diz que não.”
Vieira Café > Museu Arpad Szenes – Vieira da Silva > Pç. das Amoreiras, 56, Lisboa > T. 91 382 3377 > ter-sáb 9h-18h, dom 10h-18h
Há muitos anos, num perfil publicado na VISÃO, o texto do então nosso jornalista Luís Miguel Viana começava com a seguinte frase: “Só tem menos três centímetros do que António Guterres”. Os Presidentes não se medem aos palmos e Luís Marques Mendes entrou forte, com um discurso bem estruturado e onde, acima de tudo, demonstra que sabe o que faz e para que serve um Presidente da República. Marques Mendes é o candidato A.E.E.: “Ambição. Estabilidade. Ética.” O primeiro slogan eleitoral, apresentado, em direto, na antena da SIC, no dia da despedida de 12 anos de comentário político, foi desenvolvido na apresentação da candidatura, em Fafe.
Não empolga? Não. Não entusiasma? Não. Não tem carisma? Não. Mas a serenidade, a humildade e a calma podem ser um trunfo em campanhas progressivamente vocais, polarizadas e destrambelhadas. Começa em baixo nas sondagens, mas nisso está bem acompanhado por Mário Soares. Só que Mendes não é Soares. Veremos como evolui.
O almirante
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Com precisão, sem o nomear, Marques Mendes começou por separar as águas relativamente ao putativo candidato Henrique Gouveia e Melo. Puxando pelos galões da sua vasta experiência política, numa vida pública vivida com “integridade e dedicação”, ele quase citava o título de um livro de Mário Soares – “Um Político Assume-se” – enquanto “outros escondem que fazem política”. Depois, explica que o cargo de PR é eminentemente político e que, portanto, tem vantagem em ser exercido por alguém com uma sólida experiência política. Remata, numa frase diretamente dirigida ao eventual adversário militar: “Não é tempo de experimentalismos ou de aventuras”. Acusando o toque, a plateia aplaude-o, neste ponto.
O programa
Cooperação. O Presidente “é um construtor de pontes”. Deve cooperar com o Governo, o Parlamento a oposição. “Muito necessário” num País com um Parlamento fragmentado: “Não podemos estar sempre em eleições”. O Presidente deve ser firme, também, na defesa do Estado Social. E deve ser um referencial de ética na política. Marques Mendes recorda os tempos em que afastou alguns autarcas do PSD, por razões éticas. “Parece banal, mas nunca ninguém o tinha feito nem ninguém voltou a fazê-lo”. É mais uma pista para o que aí vem: deverá recordá-lo, na primeira oportunidade, ao adversário André Ventura. Homens ainda no ativo, como Isaltino Morais (apoiante declarado de Gouveia e Melo) e retirados, como Valentim Loureiro, lembram-se bem desse episódio… A estabilidade e o combate à degradação da democracia também dependem deste combate ético.
As causas
Marques Mendes lembra que o Presidente não governa, mas vai já avisando: enviará mensagens à Assembleia da República, em defesa de causas: o combate à pobreza. A criação de riqueza. Justiça e combate à corrupção (sugerindo reformas que limitem as manobras dilatórias na litigância e dispositvos, no Parlamento, que permitam afastar deputados comprovadamente indignos da função). Apoio à imigração controlada e à natalidade (associando, curiosamente, ambas). Combate à violência doméstica. Segurança (exigindo forças de segurança valorizadas).
No final, o candidato define a Europa como o nosso espaço vital: um Presidente europeísta. E alude ao papel como comandante supremo das Forças Armadas – evitando, aqui, qualquer referência, mesmo indireta, a Gouveia e Melo.
À entrada, abordado pelos repórteres, Marques Mendes avisara: “Dou aqui o pontapé de saída para o debate de ideias”. O discurso não defraudou esse compromisso.
PS – Citou Sá Carneiro e segue na peudada de Mário Soares, na entrega do cartão partidário e na promessa de que será “Presidente de todos os portugueses”. Apresentado pelo presidente socialista da Câmara de Fafe, que o apoiará, meteu um pé na porta do eleitorado do centro esquerda. Uma estratégia em atualização.
Em 2025, são estas as tendências fundamentais que irão moldar o futuro do comércio eletrónico. Já não é novidade que o comércio eletrónico se encontra numa fase de evolução sem precedentes, impulsionado por avanços tecnológicos e pela mudança de comportamento dos consumidores. Tenho acompanhado de perto esta evolução, observando como a transformação digital não só está a moldar a forma como os negócios operam, mas também a redefinir a experiência de compra do consumidor.
O impacto desta transformação vai muito além da conveniência de termos um produto a caminho de casa com dois simples toques no ecrã: está a criar oportunidades únicas para as marcas se destacarem e a desafiar empresas a adaptarem-se rapidamente para se manterem competitivas num mercado em constante mudança.
Vamos às tendências que se prevêem.
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A começar pela personalização potenciada por IA e machine learning. Através da Inteligência Artificial, as marcas conseguem antecipar as necessidades dos consumidores, oferecendo recomendações e experiências à medida, o que não só aumenta a satisfação do cliente, como também melhora significativamente as taxas de conversão. Outro destaque vai para a realidade aumentada (AR) e virtual (VR), que proporcionam experiências de compra interativas e envolventes. Estas tecnologias estão a aproximar as compras online da tangibilidade das presenciais, permitindo, por exemplo, experimentar roupas virtualmente ou ver como ficam os móveis lá em casa. A integração de AR e VR reforça a confiança dos consumidores nas compras, reduzindo as devoluções – um impacto positivo que se estende a praticamente todos os setores.
Não nos esqueçamos da ascensão do comércio social. Com as redes sociais a integrar funcionalidades de e-commerce, o consumo está cada vez mais interativo e imediato. Parcerias com influencers e eventos de compras em direto transformaram plataformas como Instagram e TikTok em verdadeiros centros comerciais digitais. Mas no reverso da medalha, estão os consumidores cada vez mais atentos ao impacto ambiental e ético das suas compras. Empresas que adotem práticas sustentáveis, como embalagens ecológicas e cadeias de fornecimento transparentes, serão naturalmente recompensadas com maior lealdade do cliente.
Para acompanhar e ser relevante neste novo paradigma veloz é preciso inovar. A digitalização não só permite uma gestão de inventário em tempo real, reduzindo desperdício e garantindo entregas mais rápidas, como através de ferramentas de IoT e Blockchain está também a transformar o negócio das entregas, trazendo maior eficiência e visibilidade de todo o percurso.
Olhemos para a última milha de entrega de uma encomenda: desde drones a veículos autónomos, o processo de entrega de encomendas está a tornar-se cada vez mais mecanizado, alinhando-se com a crescente procura por entregas no mesmo dia – ou até na mesma hora. Não é por acaso que, segundo o Fórum Económico Mundial, uma das profissões mais procuradas até 2030 será a de motoristas de entregas. Os consumidores estão cada vez mais exigentes, ansiosos e com menos paciência para esperar – um estudo indica que 38% dos compradores online abandonam o carrinho se a estimativa de entrega for superior a uma semana. Cabe-nos acompanhar este ritmo e responder às expectativas se quisermos permanecer relevantes. Por isso, considero que o maior desafio passa pela mudança de um pensamento estagnado e acabar com a resistência na digitalização dos processos.
Mais do que uma simples evolução tecnológica, esta mudança para um mundo extra digital representa uma oportunidade para criar valor de formas inovadoras, elevando a experiência do cliente e otimizando operações. O futuro do e-commerce que nasceu digital, será para sempre digital, e mais sustentável e conectado do que nunca. A transformação digital não é apenas uma tendência – é um caminho inevitável.
Hernâni Dias chegou ao Parlamento, para dar explicações sobre as duas imobiliárias que criou e que podem ser beneficiadas pela Lei dos Solos, com uma novidade sobre as dúvidas em torno de um alegado benefício de interesses. Aquele que foi o primeiro governante a demitir-se no Executivo de Luís Montenegro revelou aos deputados que “antes de constituir as empresas” falou com a Entidade da Transparência para perceber se podia fazê-lo. O agora ex-secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território garante que a resposta foi positiva “com duas condições”: não podia ter a maioria do capital social nem ser sócio-gerente, condições que cumpriu. “Estou aqui completamente tranquilo”, disse, sobre as polémicas que levaram à sua demissão.
Hernâni Dias ficou sozinho a defender-se, uma vez que o primeiro-ministro, Luís Montenegro, que até tinha prometido falar do caso antes da demissão, se resguardou num silêncio absoluto, enquanto o ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, afastou a ideia de que esta demissão pudesse abrir a porta a outras saídas do Governo, garantindo que se tratou de um caso “absolutamente isolado”. Esta não é, contudo, a única situação que tem feito soar alarmes sobre relações perigosas e conflitos de interesses nas escolhas que o Governo tem feito.
Contratações polémicas
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Um desses casos está diretamente ligado a Hernâni Dias e à polémica Lei dos Solos – que aligeira a possibilidade de transformar solos rústicos em urbanos, aumentando-lhes o valor – e tem que ver com a consultoria contratada pelo Ministério das Infraestruturas ao fiscalista Carlos Lobo, que acumula as funções de consultor nesta matéria com a de sócio de várias empresas imobiliárias. Lobo foi, segundo a informação que consta no Portal Base, contratado por 19 900 euros mais IVA, por um trabalho que durou dois meses e que, de acordo com uma resposta dada pelo ministério liderado por Miguel Pinto Luz ao Expresso, não produziu “resultados documentais ou relatórios finais específicos que possam ser disponibilizados”. Ao mesmo jornal, Carlos Lobo asseverou não vislumbrar qualquer conflito de interesses entre a sua atividade imobiliária e o trabalho de identificar e evitar possíveis inconstitucionalidades dando “orientações básicas sobre como se articulava a Lei de Bases do Solo com esta pretensão que o Governo queria de simplificação do processo de aprovação”.
Como foi Carlos Lobo escolhido para esta tarefa pela secretaria de Estado da Habitação? O facto de o jurista ser sócio de imobiliárias foi ou não tido em conta pelo Governo nessa contratação? O Ministério das Infraestruturas não respondeu à VISÃO.
Eminência parda? Ana Paula Martinscom o seu secretário de Estado, Eurico Castro Alves. Autor do plano de emergência de junho terá grande influência sobre a ministra
O silêncio do Governo foi quase total também em relação ao caso de Hernâni Dias. E acabou por ser o próprio, na audição parlamentar, a revelar não ter dado conhecimento da constituição destas duas empresas a ninguém no Executivo. “Não informei o primeiro-ministro nem o ministro da Coesão Territorial da criação destas empresas. Ninguém sabia o que estava a fazer”, disse perante os deputados, aos quais garantiu que, até ao momento, estas imobiliárias – que se destinariam à “reabilitação e à exploração da atividade turística de duas habitações” – não tiveram atividade. O governante não foi, porém, claro nas respostas sobre se deixou escrito no questionário que é feito a todos os governantes que era alvo de uma investigação da Procuradoria Europeia por atos praticados enquanto autarca de Bragança, alegando não ter ainda sido notificado das investigações noticiadas. Porque se demitiu, então? “Não estaria confortável comigo se estivesse a ser o elemento desestabilizador da ação do Governo e por isso apresentei a minha demissão”, disse.
A tese de que não haveria conflito de interesses por as empresas de Hernâni Dias não terem ainda tido atividade é, porém, posta em causa por Margarida Mano, ex-deputada do PSD e presidente da Transparência Internacional Portugal, que, na reportagem da RTP que revelou a existência das duas imobiliárias, defendia que “há aqui questões éticas, ao nível dos conflitos de interesses”.
Na semana em que era noticiada a contratação de um advogado com interesses no imobiliário para dar aconselhamento na elaboração da Lei dos Solos, ficou também a saber-se que o Ministério do Trabalho e da Segurança Social foi buscar o economista Jorge Bravo para encabeçar um grupo de trabalho para estudar uma reforma das pensões, no qual também tem assento a antiga deputada da IL e trabalhadora no setor dos seguros Carla Castro.
Consultor contratado para aconselhamento do Governo,no âmbito da Lei dos Solos, Carlos Lobo é fiscalistae mantém também atividade na área imobiliária
Jorge Bravo foi considerado Personalidade do Ano em 2023 pela Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Patrimónios e tem sido muito vocal na defesa da ideia da insustentabilidade da Segurança Social e da importância da abertura a regimes privados. Em 2014, num relatório feito para o instituto de pensões do BBVA, defendia que “o alargamento da cobertura das pensões privadas deve ser acompanhado de uma retirada das pensões públicas”, justificando essa defesa com a ideia de que “a sustentabilidade dos regimes públicos contributivos abrirá progressivamente a margem para a generalização dos regimes privados”. Um ano mais tarde, anunciava no Jornal de Negócios que o sistema “já não tem salvação possível” e previa que o défice do regime previdencial iria duplicar em 2025 para 2,4 milhões de euros. Uma previsão que saiu furada: o saldo da Segurança Social registou em 2024 um excedente de 5 509,6 milhões de euros, acima dos 5 478,4 milhões de euros totalizados no ano anterior.
Apesar destes erros de previsão, Jorge Bravo foi contratado pelo Tribunal de Contas (através de um contrato de prestação de serviços de consultoria em ciências atuariais para 240 horas de formação, com o valor de 19,2 mil euros mais IVA) para ajudar a fazer uma auditoria ao sistema. Bravo contribuiu assim para um relatório – muito contestado por especialistas na área como Bagão Félix e Eugénio Rosa – que conclui que deviam juntar-se os saldos das pensões da Segurança Social aos da Caixa Geral de Aposentações, apesar de serem regimes diferentes, fazendo as contas positivas passarem para um défice de 15 milhões de euros.
A VISÃO tentou saber junto do ministério liderado por Maria do Rosário Palma Ramalho a que critérios obedeceram as escolhas de Jorge Bravo e Carla Castro para fazer parte do grupo de trabalho que vai estudar mudanças no sistema de pensões, mas não obteve resposta.
O “cardeal” e a “rede” na Saúde
Também sem resposta ficaram todas as perguntas feitas pela VISÃO ao Ministério da Saúde. Há meses que o ministério de Ana Paula Martins está debaixo de fogo por exonerações polémicas, nomeações contestadas e a ideia de uma proximidade grande com o núcleo do Porto da Ordem dos Médicos.
A primeira demissão que Ana Paula Martins provocou com estrondo foi a do diretor executivo do SNS, Fernando Araújo, que saiu logo em abril do ano passado, em rota de colisão com a ministra. Para o seu lugar foi António Gandra d’Almeida, que se viu forçado a demitir-se depois de a SIC noticiar que teria acumulado indevidamente, durante mais de dois anos, as funções de diretor do INEM do Norte com as de médico tarefeiro nas Urgências de Faro e Portimão. Uma conduta que lhe valeu a abertura de um processo pela Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS).
O senhor que se segue na Direção Executiva do SNS é Álvaro Almeida e, embora tenha um currículo longo na Saúde, a sua escolha não ficou isenta de críticas. É que Álvaro Almeida é mais conhecido do público em geral por ter sido deputado do PSD e candidato por aquele partido à Câmara Municipal do Porto. Mais do que isso: Álvaro Almeida é um nome que também parece vir da esfera de influência da secção regional do Norte da Ordem dos Médicos e de Eurico Castro Alves, aquele que, pouco depois de a ministra tomar posse, era descrito nos bastidores do PSD e do Governo como “o cardeal”, uma espécie de eminência parda com influência sobre Ana Paula Martins. “Faz parte de uma rede clientelar que este Governo instalou no SNS”, declarou a deputada do BE Isabel Pires em reação à nomeação do novo CEO do SNS.
Castro Almeida O ministro da Coesão não terá sabido das empresas do seu secretário de Estado, Hernâni Dias (na foto em cima, ao lado do ministro da Agricultura, José Manuel dos Santos)
Álvaro Almeida foi o orientador de tese de Eurico Castro Alves, um ponto no currículo que partilha com Alberto Caldas Afonso, que foi nomeado pelo Governo em junho de 2024 para a comissão de avaliação do plano de emergência, feito por Castro Alves, e um mês mais tarde foi escolhido para liderar a Comissão Nacional da Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente, que tem o objetivo de reorganizar as urgências obstétricas. Caldas Afonso tem ainda em comum com Castro Alves o facto de terem estado juntos numa lista à secção regional do Norte da Ordem dos Médicos.
Foi precisamente depois de ser conhecida uma carta aberta com centenas de assinaturas, que denunciava o conflito de interesses entre ser presidente da Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos ao mesmo tempo que era coordenador do Plano de Emergência e Transformação na Saúde e fazia parte do grupo de trabalho que avalia esse plano, que Eurico Castro Alves se demitiu da comissão de avaliação do Plano para o SNS em dezembro de 2024. A demissão aconteceu apesar de o bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, afiançar que não havia “nada de ilegal no caso” e de Castro Alves ter garantido ao Público ter um parecer jurídico que sustenta que “não há qualquer conflito de interesses” na acumulação.
Álvaro Almeida, novo diretor executivo do SNS, será oriundo da área de influência da secção regional Norte da Ordem dos Médicos
Castro Alves desenhou o plano de emergência do Governo para a Saúde, que contempla um financiamento de 65 milhões de euros ao Hospital da Prelada, gerido pela Misericórdia do Porto, em cujos órgãos teve assento. E tem uma empresa na área da Saúde, a Wise Healthcare Solutions, para a qual Ana Paula Martins trabalhou como formadora quando era bastonária da Ordem dos Farmacêuticos, e na qual a atual secretária de Estado da Saúde, Ana Povo, exerceu funções como cirurgiã entre 2016 e outubro de 2020.
Estas ligações levaram Eurico Castro Alves a sentar-se na Comissão de Saúde, esta terça-feira, para dar explicações aos deputados. O médico considerou “extremamente injusto e até perverso” que o apontem como “ministro-sombra” da Saúde. Aos deputados, Castro Alves explicou que já não tem nenhuma ligação à Santa Casa da Misericórdia do Porto desde 2021 e garantiu que o pagamento feito à Prelada decorre de um acordo que já existe desde 1988.
A ideia de que os lugares de topo da Saúde estão a ser ocupados por pessoas ligadas ao PSD tem sido reforçada por uma sucessão de exonerações e nomeações nas ULS (Unidades Locais de Saúde). Desde que o Governo tomou posse, foram já dez os conselhos de administração de hospitais que sofreram mudanças.
Hospitais cheios de cartões laranja
Um dos casos que deram nas vistas foi o da nomeação de Luís Vales, antigo deputado do PSD, que foi nomeado gestor farmacêutico no Hospital de Guimarães, menos de um mês depois de ter passado de quinto para primeiro lugar num concurso público para uma bolsa de recrutamento de administradores hospitalares na Unidade Local de Saúde do Tâmega e Sousa (Hospital de Penafiel). Luís Vales, que era o quinto na avaliação curricular, subiu para o primeiro lugar após a entrevista. A sua irmã, que liderava a avaliação curricular, passou para o segundo lugar na classificação final após a entrevista.
Mas há muitos mais casos de administrações exoneradas para dar lugar a pessoas com ligação ao PSD. Foi o que aconteceu na ULS da Lezíria, para onde foi o antigo vereador social-democrata em Abrantes Pedro Marques, da ULS de Leiria, onde a administração passou a ter duas antigas autarcas do PSD, da ULS da Guarda, que agora é liderada por uma militante do PSD que foi chefe de recursos humanos nas autarquias da Guarda e de Figueira de Castelo Rodrigo, da ULS de Almada/Seixal, dirigida por um médico com cartão laranja, e da ULS do Algarve, para onde foi o líder da bancada do PSD na Assembleia Municipal de Faro.
A substituição tem sido tão rápida que, no final do ano passado, num espaço de 24 horas, foram exoneradas três equipas: a da ULS da Lezíria, a da ULS do Alto Alentejo e a da ULS de Leiria.
Resguardado Até ao debate parlamentar de ontem, quarta-feira, Luís Montenegro manteve-se em silêncio sobre o caso Hernâni Dias
O caso da ULS de Almada/Seixal chegou ao Parlamento, com Teresa Luciano a contar aos deputados, em outubro de 2024, que o então diretor executivo do SNS, Gandra D’Almeida, lhe tinha pedido para apresentar a demissão da administração num telefonema que terá durado menos de três minutos. “A quem serviu esta nossa possível demissão? É uma decisão tomada sem fundamentação, em praça pública, e sem salvaguarda do meu nome e da minha equipa”, disse na altura.
Em quase todos os casos de exoneração (na Saúde e não só), o Governo tem optado por afastar os dirigentes antes que estes cumpram um ano em funções, evitando assim o pagamento de indemnizações. No entanto, nem todos os administradores afastados estão disponíveis para aceitar este argumento. O JN avançou esta semana que o administrador da ULS do Algarve, João Ferreira, pretende ir para tribunal reclamar 12 vencimentos-base, alegando que foi exonerado por email na véspera de completar um ano de serviço, algo que no seu entender põe em causa a boa-fé da exoneração.
A ideia de que todas as lideranças na Saúde estão a prazo está a fazer com que alguns profissionais se mobilizem para, antecipadamente, se oporem a qualquer mexida. É o caso das ULS de Gaia/Espinho e de Barcelos/Esposende, onde diretores de serviço e vários médicos assinaram cartas em que se manifestam contra a possível substituição dos seus conselhos de administração.
Três temas sensíveis
O SNS, a construção e as pensões. Aonde quer o Governo chegar?
Razia na Saúde Dez administrações mudadas em menos de oito meses de Governo, dança de cadeiras na Direção Executiva da Saúde e nomeações de militantes do PSD põem Ana Paula Martins debaixo do foco.
Solos movediços A criação de duas empresas imobiliárias quando estava a mexer em legislação que torna mais fácil transformar terrenos rústicos em urbanos fez a primeira baixa no Governo. Hernâni Dias demitiu-se, mas está ainda por explicar a contratação de uma consultoria, no âmbito desta legislação, a um advogado que é sócio de várias imobiliárias.
Pensões entregues a privados? A reforma da Segurança Social é um tema eleitoralmente muito sensível. A ministra Maria do Rosário Palma Ramalho anunciou a criação de um grupo de trabalho para estudar medidas, mas o economista que vai liderá-lo é conhecido por defender a abertura aos privados e a junção dos saldos da Segurança Social e da Caixa Geral de Aposentações, ideias muito polémicas.
Jobs for the boys?
Um tema que ferve entre PSD e PS
Quando muda o Governo, há uma roda de cadeiras: em 2016, o PSD acusava o PS, num debate com António Costa, de ter feito 154 nomeações em 41 dias, sem as publicar na internet. “É como falar de corda em casa de enforcado”, reagia nesse debate o comunista António Filipe, apontando o dedo à “contratação milionária” de Sérgio Monteiro para vender o Novo Banco, à nomeação do chefe de gabinete do ex-ministro da Segurança Social, Pedro Mota Soares, para o Instituto de Gestão Financeira três dias antes das eleições ou às 100 nomeações feitas pelo PSD no dia em que Costa foi chamado a formar governo. Luís Montenegro fez grande parte da sua campanha para primeiro-ministro combatendo a “ocupação do aparelho do Estado” que acusava o PS de fazer e prometendo não cair no mesmo erro se fosse eleito. Logo nos primeiros três meses de Governo, Montenegro fez, contudo, três exonerações: afastou Ana Jorge da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, mudou a direção nacional da PSP e exonerou a administração da AICEP.
“Sou um homem que toca guitarra… Que tem isso?”, costumava interrogar-se Carlos Paredes quando confrontado com os elogios de quem admirava a sua arte. É caso para dizer que a imensa modéstia apenas é comparável ao seu inigualável talento e ao perfeccionismo obsessivo que o tornaram no maior génio de sempre da guitarra portuguesa. Filho de Artur Paredes, neto de Gonçalo Paredes e sobrinho-neto de Manuel Rodrigues Paredes, Carlos Paredes foi o herdeiro de uma vasta tradição familiar ligada à guitarra portuguesa, mas foi nas suas mãos que esse instrumento chegou onde nunca antes havia chegado.
Durante a década de 60 foi o protagonista de um verdadeiro movimento de renovação e reinvenção da sonoridade da guitarra portuguesa em particular e da música portuguesa num sentido mais amplo, revitalizada por novos conceitos socioculturais e que incluía também vozes como as de José Afonso e Adriano Correia de Oliveira, a poesia de Manuel Alegre e as guitarras e violas de tantos outros artistas desta geração coimbrã. Para sempre ficaram os temas que compôs para o cinema, mais em concreto para os filmes Os Verdes Anos (1962), Mudar de Vida (1966) de Paulo Rocha, e Fado Corrido (1964) de Jorge Brum do Canto. É unanimemente considerado um dos mais completos compositores e instrumentistas que a guitarra (e a música) portuguesa conheceu e é este legado, ainda hoje tão vivo e presente, que o ciclo Há Fado no Cais do CCB pretende celebrar, com um espetáculo de música e dança concebido e encenado pelo cineasta Diogo Varela Silva, com direção musical de João Paulo Soares e coreografias a cargo de Guilherme Leal. Em palco estarão alguns dos mais brilhantes tocadores de guitarra portuguesa da atualidade, como Bernardo Couto, Gaspar Varela, Luís Guerreiro e Ricardo Parreira, acompanhados por um naipe de músicos de eleição, composto por Maria Sá Silva (harpa), Máximo Francisco (piano), Ricardo Toscano (saxofone), Nelson Aleixo (viola de fado), Francisco Gaspar (viola baixo), Lúcio Studer (violeta), Denys Stetsenko e Raquel Cravinho (violino) e ainda Ana Raquel Pinheiro (violoncelo).
Centro Cultural Belém , Lisboa > 6 fev, qui 20h > €10 a €25
A operação Tutti Frutti tem estilhaços que se estendem por vários pontos do País. Um deles apanha o ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, que é líder da distrital do PSD no Porto, onde tem como coordenador autárquico um dos 60 acusados no processo que abrange vários sociais-democratas e socialistas, acusados de pertencerem a uma teia de promiscuidade em Lisboa.
Manuel Ricardo Dias dos Santos Fonseca de Almeida é um nome que dirá pouco à maioria dos portugueses, mesmo àquele que prestam mais atenção à política. Mas é um dos que consta da lista de acusados pelo Ministério Público na operação Tutti Frutti e é também um dos homens fortes da distrital do PSD Porto, liderada por Pedro Duarte, que é o mais provável candidato social-democrata à autarquia portuense.
Ricardo Almeida é consultor de empresas na área da gestão, ambiente, comunicação e investimentos e aparece como acusado de um crime de abuso de poder, por causa dos acordos que estabeleceu com Carlos Eduardo Reis, o deputado do PSD e vereador em Barcelos que, juntamente com o ex-deputado laranja Sérgio Azevedo, é descrito pelo Ministério Público como um dos pivôs de um esquema que terá lesado o Estado em mais de 500 mil euros.
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O “amigo” de Carlos Eduardo Reis
Na acusação a que a VISÃO teve acesso, Ricardo Almeida é descrito como “amigo de Carlos Eduardo Reis” e recorda-se a sua passagem pela administração da empresa municipal de Gaia Gaianima que lhe valeu uma condenação a três anos e meio de cadeia com pena suspensa num caso que levou até ao Tribunal da Relação, onde viu a pena confirmada.
Na operação Tutti Frutti, Ricardo Almeida intervém num processo de “colocação de relvado sintético, sistema de iluminação, sistema de rega e vedações na Freguesia de Oliveira do Douro”, como administrador da Gaianima, para, segundo a acusação, beneficiar a empresa de Carlos Eduardo Reis.
“Foi Ricardo Almeida quem decidiu, em concertação de esforços e mediante plano delineado conjuntamente com Carlos Eduardo Reis, que seria a sociedade comercial da qual este era sócio-gerente, a AMBIGOLD, que iria ser futuramente contratada pelos clubes, a fim de realizar os trabalhos”, escrevem os procuradores.
O Ministério Público acredita que “Ricardo Almeida conferiu a Carlos Eduardo Reis o poder de definir os concretos valores dos apoios financeiros que viriam a constar dos contratos a ser celebrados entre a GAIANIMA e cada um dos três clubes”.
A condenação
Em 2018, Ricardo Almeida já tinha sido condenado por factos relacionados com contratos de empreitada, a contratação de empresas de comunicação, de um cartaz publicitário e de uma empresa de consultadoria aquando da dissolução da Gaianima e de uma parceria com um ginásio para a exploração das piscinas municipais, sem que tenham sido cumpridas as obrigações legais da contratação pública, num ajuste direto sem consulta ao mercado.
A Gaianima, que geria eventos ligados à animação e equipamentos desportivos para o município de Vila Nova de Gaia, foi extinta em 2015, depois de uma auditoria externa ter revelado um passivo de 14 milhões de euros e casos de violação da lei dos compromissos e de desrespeito pelas regras de contratação pública.
Ao mesmo tempo que atualizou os princípios de aplicação da Inteligência Artificial, a Google viu o diretor executivo da DeepMind Demis Hassabis a publicar no blogue uma explicação detalhada sobre o novo foco destes. Na revisão, a Google retirou os textos nos quais se comprometia a não permitir o uso da tecnologia para causar o mal e onde se comprometia a não usar IA para vigilância, armas ou tecnologia para ferir pessoas.
Hassabis explica que os princípios incluem inovação, colaboração e desenvolvimento “responsável” da Inteligência Artificial, sem que assuma qualquer compromisso claro: “Há uma competição global pela liderança na IA dentro de um panorama geopolítico cada vez mais complexo. Acreditamos que as democracias devam liderar o desenvolvimento, guiadas por valores como liberdade, igualdade e respeito pelos direitos humanos. Também acreditamos que empresas, governos e organizações que partilham estes valores devem trabalhar para criar IA que protejam as pessoas, promovam crescimento global e suportem a segurança nacional”.
O The Verge lembra que Hassabis entrou na Google em 2014 quando esta adquiriu a DeepMind e, na altura, evitou que a tecnologia da startup pudesse ser usada por militares em operações de vigilância. Ouro ponto importante é que quando assumiu o compromisso de não desenvolver armas com IA, a Google já estava a colaborar com o Pentágono desde 2018 no Projeto Maven (uso de IA para analisar filmagens de drones) e com o governo israelita no Projeto Nimbus.
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A atualização dos termos da IA agora coloca a Google em linha com o que fazem os principais rivais que permitem o uso de IA em algumas instâncias militares.
O futuro como no filme Relatório Minoritário pode estar mais próximo do que julgamos. A Samsung registou uma patente na World Intellectual Property Organization na qual descreve um periférico sem fios e que permite transferir dados e informações entre diferentes ecrãs. Apesar de o texto estar em coreano, o Gizmodo recorreu a tradutores online e ao diagrama publicado para explicar que o aparelho deve servir para ligar um portátil e um tablet a aparelhos externos.
A empresa pode estar a preparar-se para incluir esta tipologia de tecnologia num anel, como o Galaxy Ring, e o utilizador ficaria com o poder de controlar janelas ou passar conteúdos literalmente nos seus dedos.
Além do anel, a solução pode ainda ser usada por um estilete como a S-Pen e realizar ações semelhantes. A descrição textual da Samsung não é muito esclarecedora, mas mostra claramente que há ideia para desenvolver um sistema que permita alternar entre janelas ou mover cursores através de gestos.
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A primeira geração do anel já permite interação com gestos, ainda que de forma limitada: é possível desligar um alarme ou disparar a câmara fotográfica do telefone, por exemplo.
Ainda não há qualquer perspetiva de quando e como é que a Samsung vai estar pronta para lançar um periférico deste tipo, nem a patente foi confirmada oficialmente pela empresa sul-coreana.
A plataforma chinesa de comércio eletrónico tem três semanas para provar à Comissão Europeia que está a adotar medidas para atenuar riscos relacionados com a proteção dos consumidores e a saúde pública, incluindo a remoção de produtos ilegais.
No documento enviado esta quinta-feira, o executivo comunitário pede “que a Shein forneça documentos internos e informações mais pormenorizadas sobre os riscos associados à presença de conteúdos e produtos ilegais no seu mercado, sobre a transparência dos seus sistemas de recomendação e sobre o acesso aos dados por parte de investigadores qualificados”.
Ao mesmo tempo, a comissão pede à Shein “que forneça informações pormenorizadas sobre as medidas adotadas para atenuar os riscos relacionados com a proteção dos consumidores, a saúde pública e o bem-estar dos utilizadores”, assim como sobre a proteção dos dados pessoais dos utilizadores.
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A Shein deve fornecer as informações necessárias até 27 de fevereiro e, com base na avaliação das respostas, a Comissão Europeia determinará as próximas etapas.
Após uma ação semelhante iniciada em novembro passado contra outra plataforma chinesa de comércio eletrónico, a Temu, e no dia em que avançou com uma comunicação sobre comércio eletrónico na UE, a instituição garantiu apertadas monitorizações europeias com as autoridades nacionais, como fiscalizações surpresa, testes e outros controlos para detetar e recolher produtos perigosos do mercado.
Na comunicação sobre comércio eletrónico na UE, o executivo comunitário garantiu estar “a tomar medidas para fazer face aos riscos decorrentes das importações de baixo valor vendidas através de retalhistas ‘online’ de países terceiros e de mercados que acolhem comerciantes de países terceiros”, como da China.
Dados de Bruxelas agora divulgados indicam que, no ano passado, cerca de 4,6 mil milhões de encomendas de baixo valor, ou seja, mercadorias com um valor não superior a 150 euros, entraram no mercado da UE, o que equivale a 12 milhões de encomendas por dia.