As previsões da ONU apontavam para a população mundial começar a diminuir em 2084, mas tudo indica que será bastante antes. Como se vê na China, onde agora as pessoas até já podem ter todos os filhos que quiserem.
Como é que em tão pouco tempo mudou o chip?
A população mundial continua a aumentar, embora tenha desacelerado, e há uma parte do mundo que se confronta com uma situação que, na minha ótica, é o que está a criar problemas: há países que temem perder protagonismo à escala mundial. A Índia ultrapassou a China e a Nigéria também vai ultrapassar dentro de poucas décadas os EUA, que é atualmente o terceiro país em termos populacionais.
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A verdade é que vemos a fertilidade a cair a pique em todo o lado e ao mesmo tempo.
E é uma questão que começa a assustar os países, sobretudo as grandes potências. Por outro lado, o facto de haver cada vez menos bebés na Ásia também ameaça e afeta o Ocidente. As grandes ligações da imigração futura já não se vão fazer do Oriente para o Ocidente.
Há quem diga que os robots vão resolver o problema da mão de obra.
Não me parece. E é preciso perceber que a suposta obrigação de que temos de crescer por dentro e não à custa da imigração não tem muita tradução na realidade. As populações não vão conseguir aumentar por dentro a curto prazo, porque as mulheres estão a ser mães mais tarde. Mesmo que tenham muito filhos e que as famílias aumentem, mesmo que estas mulheres tenham em média mais filhos do que as suas mães, os nascimentos não podem aumentar porque vai ser demasiado tarde.
Qual é a solução?
Só há uma hipótese: abrir as portas à imigração. Claro que algumas pessoas perguntarão: então, “eles” vão ser cada vez em maior número em relação a “nós”? Não percebem que essas populações passam a ser o “nós”. Alguém que entra num país não é eternamente um estranho, um “outro”. As pessoas têm medo desta visão integrada do mundo em que não existe um “nós” e um “outros”, como se houvesse um Planeta A e um Planeta B e o planeta não fosse todo o mesmo. Mas é só uma questão de perspetiva.
O medo do “outro” vem de tempos ancestrais, desde a Pré-História.
O que está a assustar é que o problema não se resolve com a ordem “Tenham filhos”. Nenhum país vai resolver o seu problema assim.
Como é que os países estão a tentar resolver esta crise?
A Alemanha, que é o país mais populoso da União Europeia, tem baixado a fecundidade. Como pessoas são poder, a sra. Merkel ficou assustada ao ver que iria ser ultrapassada por França, porque as projeções apontavam para isso [a taxa de fertilidade na Europa atingiu 1,46 filhos por mulher, mas em França é atualmente de 1,59]. Então, fomentou a imigração porque percebeu que a imigração era a via certa, e pela integração para que “eles” se transformassem no “nós” alemão. Foi assim que a sra. Merkel conseguiu manter a Alemanha no primeiro lugar do ranking na Europa, e com uma política que nem tem que ver com a lógica do seu pensamento.
E, assim, garantiu que vai ter mão de obra no futuro.
Os imigrantes não têm só impacto na mão de obra, não compensam apenas o défice de gente em idade ativa. Eles contribuem fortemente para os nascimentos. Em Portugal, também se nota isso e não é porque os imigrantes têm muitos filhos, é porque estão em idades ativas e, por isso, são férteis.
Os imigrantes vêm, trabalham, contribuem para a sustentabilidade da Segurança Social e ainda ajudam a manter a população à tona.
Na ótica da população mundial, é importante não ter a perspetiva “nós e os outros”. Porque nem nós vamos conseguir ter rapidamente gente para preencher o “nós” nem “eles” vão diminuir, porque há uma coisa que existe em demografia que é a inércia. Costumo dizer que a demografia é como um barco em andamento: se eu quiser travar, ele vai desacelerar, mas não trava. É essa a inércia. O sociólogo francês Auguste Comte dizia que “a demografia é o destino”, porque há uma parte do passado que tem um impacto no presente. O número de nascimentos ainda está a aumentar no mundo, porque as mulheres que nasceram mais no passado estão a chegar à idade fértil, mas a população não aumenta de um dia para o outro. Para já, continuam a aumentar os nascimentos em virtude das mulheres que chegam à idade fértil, embora elas tenham menos filhos do que as suas mães. Mas é porque elas são em maior número do que eram as suas mães – nasceram numa época de natalidade elevada.
Não é, então, pelos nascimentos que a resposta se faz?
Não. A única coisa que conseguimos fazer na demografia, como se fosse um carro, são as migrações – porque elas têm que ver com o presente. Basta, por exemplo, um país ser, num determinado momento, mais ou menos atrativo, para as migrações se alterarem. É uma circunstância excecional.
Concluindo, não há como aumentar a fecundidade facilmente?
Quando se trata de diminuir a fecundidade, os países conseguem drasticamente diminuir, mas para fazer aumentar não é tão fácil. Por lei, pode-se dizer “não tenham mais do que um filho”, como fez a China. Agora, “tenham filhos” não, porque é uma questão individual. Dizer “é obrigatório ter filhos” já entra na liberdade individual. Fazer subir a fecundidade não se faz com uma medida de Estado centralizada. Ter um filho é muito mais do que cumprir uma ordem.
Musk decidiu dedicar-se aos drones e aos aviões de combate não tripulados. A Macedónia do Norte, membro da NATO, optou por se desfazer de todos os tanques do seu arsenal e oferecê-los à Ucrânia. Para o Governo macedónio, que pretende cumprir a meta dos 5%, a aposta recai agora sobre drones, sistemas de defesa antímíssil e blindados para soldados.
Está a aproximar-se o momento em que Portugal terá de decidir como vai aplicar o financiamento destinado à Defesa — verba essa que não conta para o défice. Tudo o que eram arsenais convencionais foi posto em causa pela guerra na Ucrânia e, mais recentemente, pelo conflito entre Israel, o Hamas e o Irão, que tornou extremamente relevante cada país pensar na sua própria “cúpula de ferro”.
Os caças tripulados estão também em declínio, e a aposta de vários países e empresas concentra-se agora na construção de aeronaves controladas remotamente. Caminhamos para um mundo de soldados treinados para combater à distância, totalmente protegidos e sem contacto direto com o campo de batalha. Mas aconteça o que acontecer nos próximos anos, não podemos abdicar de ter botas no terreno — soldados para consolidar posições.
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A nova sede da concelhia do PSD em Espinho fica a uns 150 metros da casa de Luís Montenegro. Apesar disso e dos vários convites que lhe chegaram desde que é líder do partido, Montenegro nunca lá pôs os pés. Na verdade, o líder social-democrata quer distância de Ricardo Bastos Sousa, que lidera a estrutura local do seu partido em Espinho e com o qual tem uma inimizade política há muitos anos, que esta semana conheceu novos desenvolvimentos, com a sua Comissão Política Nacional a avocar o processo autárquico na cidade.
A decisão de lançar a candidatura de Jorge Ratola foi mesmo descrita por Ricardo Bastos Sousa como “um ajuste de contas pessoal”, feito por Luís Montenegro. Ratola, que até aqui era adjunto do primeiro-ministro e cuja ligação a Espinho se resume a ter sido chefe de gabinete de Pinto Moreira no seu primeiro mandato, foi anunciado como candidato do PSD à Câmara, esta terça-feira, depois de, durante meses, a concelhia local insistir no nome de Bastos Sousa.
Ricardo Sousa Bastos tinha sido escolhido em novembro, pela concelhia a que preside e à qual se candidatou, deixando claro que o objetivo seria ser candidato à Câmara.
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Uma inimizade antiga
Desde 2001 que Ricardo Bastos Sousa e Luís Montenegro estão em barricadas opostas na política dentro do PSD. Bastos Sousa esteve, por exemplo, ao lado de Rui Rio e de Jorge Moreira da Silva, quando Montenegro se candidatou à liderança. Curiosamente, Moreira da Silva haveria de ter nessas eleições diretas um resultado melhor em Espinho do que teve na média nacional.
Com estes antecedentes, e depois de ter sido retirado das listas de deputados por Luís Montenegro, não era surpreendente a oposição da direção nacional do partido à ideia de ter Ricardo Bastos Sousa como candidato autárquico.
No dia 28 de fevereiro, o coordenador autárquico do PSD, Pedro Alves, foi mesmo a Espinho explicar as razões para isso. Invocando uma sondagem interna, Alves assegurou que Bastos Sousa não seria um candidato ganhador e questionou a forma como a concelhia de Espinho decidiu o seu nome sem esperar pelas orientações nacionais, anunciando-o publicamente sem se concertar com a direção do partido, coisa que no passado valeu várias vezes o afastamento de candidatos autárquicos.
O plenário tinha cerca de 100 militantes presentes e o nome de Ricardo Bastos Sousa voltou a ser indicado com 61 votos a favor, nove abstenções e nenhum voto contra. Mas esse não seria o fim da história.
O processo acabaria por ser avocado pela nacional, que haveria de impor o nome de Jorge Ratola. Pelo meio houve uma votação na distrital que, segundo uma fonte da direção, teve como resultado a aprovação de Ratola, sem nenhum voto em Ricardo Bastos Sousa a não ser o do próprio. Mas que, segundo Bastos Sousa explicou na conferência de imprensa, não sufragou outro nome que não o do candidato imposto pela nacional, ao contrário do que entende ser o que determinam os estatutos.
“O que aconteceu aqui então? O que aconteceu é que o partido foi utilizado pelo seu presidente para um ajuste de contas pessoal que me visa diretamente e tem como único propósito a minha eliminação política”, denunciou Ricardo Bastos Sousa, numa conferência de imprensa, esta terça-feira.
“Acenaram com uma suposta sondagem realizada em outubro de 2024, e à qual nunca nos deram acesso. De ressalvar que o nome agora escolhido não figurava na suposta sondagem, não tendo por isso este argumento qualquer credibilidade ou sustentação. E permitam que vos diga: se as sondagens alguma vez tivessem sido argumento para afastar um candidato, Luís Montenegro nunca teria sido candidato à Camara de Espinho por duas vezes”, atacou o líder do PSD Espinho, recuando ao ano de 2001, quando a candidatura do então muito jovem Montenegro dividiu o partido na cidade e os colocou pela primeira vez em barricadas opostas.
Direção garante que não atropelou estatutos
“A concelhia agiu à revelia das orientações da direção nacional. Escolheu e tornou público o nome sem estar aprovada a orientação estratégica nacional”, comenta à VISÃO uma fonte próxima de Luís Montenegro que considera que “o processo nasce desde logo inquinado por parte da comisso política de secção que quis acelerar a escolha sem se perceber porquê”.
De resto, a mesma fonte recusa que tenha havido qualquer atropelo aos estatutos do partido e frisa que perante o “impasse” que pressupunha a concelhia insistir no nome que a direção do partido rejeitava, foi tomada uma decisão, com um convite a Jorge Ratola, que terá aceitado depois de várias outras personalidades se terem mostrado indisponíveis.
IL diz que “Espinho não se pode conformar em ser um joguete”
Com a presidente da Câmara de Espinho atualmente em funções a ponderar uma candidatura independente contra o nome indicado pelo seu partido, o PS, o PSD sonhava com a reconquista da Câmara, apesar do estrago feito pelas suspeitas levantadas pela Operação Vórtex, na qual é arguido Pinto Moreira, que chegou a ser muito próximo de Montenegro.
Tentando aproveitar a divisão no PS, Ricardo Bastos Sousa tinha começado a falar com o CDS. E, não tendo a IL ainda apresentado candidato, tinha a expectativa de poder ainda fazer um acordo com os liberais. Mas a intervenção de Montenegro fez os centristas baterem com a porta e reavivou o fantasma da Operação Vórtex, precipitando uma tomada de posição pública da IL local, muito crítica de todo o processo.
“Perante o estado calamitoso em que se encontra a cidade e a sua gestão camarária, perante os enormes danos de reputação que a imagem de Espinho sofreu pelas governações dos últimos anos de PS e PSD, Luís Montenegro escolhe um assessor dos gabinetes do partido. Não está seguramente preocupado com a cidade e com os espinhenses, está preocupado com os seus interesses e casos pessoais”, lê-se num comunicado da IL de Espinho, que fala mesmo numa “infantilidade” e defende que “Espinho não se pode conformar em ser um joguete nas mãos dos interesses político-partidários, com concelhias em guerra e maus políticos que colocam as suas questões pessoais acima da cidade”.
À VISÃO, o líder da IL de Espinho, Ricardo Pais Oliveira, garante que “nunca houve nenhum acordo” com o PSD, mas admite que esteve à espera da clarificação da situação para assumir que os liberais teriam um candidato próprio.
“Face a este desrespeito pelo princípio da autonomia local e pela vontade expressa das estruturas concelhias, o CDS Espinho reafirma a sua determinação em continuar a lutar pelos interesses da nossa terra. Por isso, apresentaremos uma candidatura às próximas eleições autárquicas, movidos pela vontade clara de resolver os problemas de Espinho e de responder às necessidades reais da nossa comunidade”, lê-se num comunicado do CDS local, que acaba com um “abraço solidário ao Ricardo Bastos Sousa, presidente concelhio do PSD Espinho, reconhecendo o seu esforço, dedicação e espírito de diálogo ao longo deste processo”.
Notícia corrigida às 18h25: com a informação de que a IL nunca chegou a ter um acordo de coligação com o PSD em Espinho
Quando as coisas correm bem, uma certa dose de altivez ou até mesmo de arrogância pode ser uma arma preciosa para um político, em especial nos tempos atuais, marcados pelo confronto e a polarização. Ajuda-o a criar uma aura superior, permite-lhe começar a construir uma imagem de ganhador e, pelo caminho, transforma-o em alguém um bocadinho inacessível, mas confiável, que é o mais importante. Ou seja: afirma-se como um líder capaz de enfrentar e vencer desafios. O problema é quando as coisas correm mal…
Desde que chegou ao Governo, a ministra Ana Paula Martins tem transpirado arrogância por todos os poros, mas ainda não conseguiu, uma única vez, estabelecer um mínimo laço de confiança com ninguém – nem com as poderosas corporações do setor nem, o que seria fulcral e urgente, com os utentes que precisam de recorrer a um serviço que tem de ser um dos pilares do nosso Estado social. E em relação a resultados… nem mesmo os seus mais fiéis apoiantes conseguem enumerar algo de significativo ou de relevante para amostra. Nem nada que se aproxime das muitas promessas que tem feito ao longo do tempo, mas que tardam todas em ser cumpridas.
Se há algo a que Ana Paula Martins se tem mantido fiel é ao seu estilo. Só que é o estilo espalha-brasas. Sempre com o comando na mão, como quem pensa que precisa de resolver sozinha todos os problemas, e resolutamente interessada em mostrar-se como uma “mulher de armas”. Começou por “cortar cabeças” nos mais diversos níveis da administração hospitalar, envolveu-se em polémicas estéreis apenas para provar a sua autoridade, mas não conseguiu mudar nada de substantivo naquilo que é mais importante no Serviço Nacional de Saúde. Com o resultado eloquente a que temos assistido: os problemas das urgências multiplicam-se, o INEM só é falado pelas piores razões e, quase todos os dias, repetem-se as sempre eternas queixas sobre a falta de médicos de família, as listas de espera e tudo o mais que vai minando a credibilidade dos serviços e a confiança dos cidadãos no SNS.
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O folhetim INEM é o exemplo mais recente e paradigmático de tudo isto. O serviço de emergência que não pode falhar tem falhado vezes demais. E, com isso, minado a autoridade da ministra, que é vista como o “elo mais fraco” de um Governo que pretendia apresentar-se mais reforçado do que rejuvenescido, depois das eleições.
Pela sua natureza e pela sua missão, o Instituto Nacional de Emergência Médica tem de ser um organismo blindado às querelas políticas, com um funcionamento altamente profissional e entregue aos mais competentes. Se falhar, não há nada para o substituir. Existe para, em grande parte dos casos, possibilitar a resposta rápida e eficiente que separa a vida da morte. Tem de estar preparado para atuar em qualquer circunstância, seguindo protocolos previamente estudados e que dão garantias.
Em novembro, depois dos problemas ocorridos durante uma greve que o Ministério da Saúde negligenciou, Ana Paula Martins anunciou, dramaticamente, que iria passar a dedicar 70% do seu tempo ao INEM, prometendo, portanto, que iria sozinha resolver todos os problemas. Não sabemos se chegou a fazê-lo. Mas descobrimos, isso sim, que depois de mais um concurso atribulado, o serviço de helicópteros de emergência foi entregue a uma empresa que não tem helicópteros nem pilotos. E que, para remendar o problema, o serviço foi entregue à Força Aérea, que só tem um helicóptero certificado para missões noturnas, mas que, devido ao seu tamanho, não pode pousar na maior parte dos heliportos dos hospitais.
Não é preciso ter dons de adivinho para prever que, nas próximas semanas, iremos ter mais e variadas notícias sobre problemas no INEM e urgências fechadas em hospitais. Já é um “clássico” do verão, como sabemos – e a situação só não é pior graças à dedicação e ao empenho de um batalhão anónimo de profissionais de saúde, que insistem em não desistir da sua missão.
Também não é preciso ter grande clarividência para perceber que ninguém, isoladamente, conseguirá resolver os muitos problemas do SNS, alguns deles estruturais, outros criados pelo choque e pelo descontrolo de corporações. Por mais voluntariosa e abnegada que seja, Ana Paula Martins tem de perceber que nunca conseguirá resolver sozinha todas as crises e os problemas da Saúde. Perante os factos, chegou o momento de abandonar a arrogância. E pedir ajuda. De preferência, com emergência!
Comecemos por um caso anedótico – mas real – que nos ajuda a perceber quão assustadas andam as pessoas com o anunciado crepúsculo da Humanidade.
No início deste ano, os trabalhadores solteiros e divorciados, entre os 28 e os 58 anos, de uma empresa chinesa foram avisados da hipótese de despedimento se não se “casassem e assentassem” até ao final de setembro. Aqueles que decidissem não o fazer deveriam escrever uma carta de autocrítica, sujeitando-se a ser “reavaliados” e eventualmente encaminhados para a porta da rua.
Os últimos dados do Eurostat apontam para uma queda de 5,4% no número de recém- -nascidos na União Europeia, ou seja, apenas 3,67 milhões em 2023, o maior recuo desde 1961
O caso saltou fronteiras em fevereiro, quando o Shuntian Chemical Group, que emprega mais de 1 200 pessoas nas suas fábricas de melamina, fertilizantes, pó de borracha e licor, situadas na província de Shandong, no Leste da China, foi repreendido pelos serviços locais da segurança social e do trabalho, noticiou então o jornal South China Morning Post. De acordo com as autoridades, aquele seu aviso violava várias disposições da legislação laboral.
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Ao jornal, um representante da empresa explicou que a intenção por detrás da medida, entretanto revogada, era encorajar “os trabalhadores solteiros mais velhos a concentrarem-se nas decisões importantes da vida” – leia-se casar e ter filhos. Mas a polémica ainda duraria umas semanas nas redes sociais chinesas, com os utilizadores a aconselharem “a empresa louca” a “não se meter na vida pessoal dos seus empregados”.
Com mais de 100 milhões de habitantes (quase dez vezes mais do que Portugal), Shandong é a sexta entidade subnacional mais populosa do mundo e a segunda província mais populosa na China. Não faltará gente nos seus 157 mil km², mas no Departamento de Recursos Humanos do Shuntian Chemical Group sabia-se com certeza que têm sido cada vez menos as pessoas a casar-se, tanto ali como no resto do país.
Os dados do Ministério dos Assuntos Civis da China mostram que houve 6,1 milhões de casamentos em 2024, o que representa uma queda de 20% em relação a 2023 e um mínimo histórico desde 1980. O Gabinete Nacional de Estatísticas, por sua vez, registou 9,54 milhões de nascimentos no ano passado, ou seja, um aumento de 520 mil em comparação com o ano anterior, mas os especialistas alertam para o facto de a taxa de natalidade também ter atingido um novo mínimo histórico.
Devido ao declínio do número de mulheres em idade fértil e ao rápido envelhecimento da população, no final de 2024 a população da China continental era de pouco mais de 1,408 mil milhões de pessoas – uma grande multidão, claro, mas ainda assim uma diminuição de 1,39 milhões em relação a 2023 e o terceiro declínio consecutivo desde 2021.
A CULTURA DE TRABALHO “996”
O assunto está, por isso, em cima da mesa do governo chinês que no início de junho decidiu historicamente eliminar todas as regulamentações relativas ao número de filhos que as famílias estão autorizadas a ter. Longe vai o epíteto de “país do filho único”, cuja população aumentou cerca de 190 milhões na década a seguir à Grande Fome de 1959-1961, levando à decisão de limitar os nascimentos. Em 2021 já era possível ir até aos três filhos.
Agora, o céu é o limite e são vários os incentivos dados aos jovens casais para se tentar inverter o declínio demográfico que levou inclusive a que a China já tenha sido ultrapassada em termos de população pela Índia. Mas, para muitos jovens chineses, a cultura de trabalho “996” (das 9h da manhã à 9h da noite, seis dias por semana) reduziu os seus círculos sociais, tornando mais difícil encontrarem potenciais parceiros. E, já se sabe: quanto menos casamentos, menos filhos.
“Como é que em tão pouco tempo mudou o chip?” é a pergunta que a demógrafa Maria João Valente Rosa faz para o ar. Não há uma resposta simples para esta sua perplexidade partilhada por muito boa gente, quando o exemplo chinês é a ponta do icebergue da crise da taxa de natalidade que abarca uma grande parte do planeta (os países ricos e os países de rendimento médio), acabando por impactar todos (incluindo os países pobres).
Certo é que o chip mudou mesmo e a reboque dessa mudança será preciso ajustar a perspetiva. “Devemos ter uma visão integrada, em que não existe um ‘nós’ e um ‘outros’, porque não há um Planeta A e um Planeta B”, defende a também professora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, em Lisboa, e uma das nossas maiores especialistas em demografia. “O planeta é todo o mesmo”, lembra, “e basta, por exemplo, um país ser, num determinado momento, mais ou menos atrativo, para as migrações se alterarem” e, com isso, as populações (ler entrevista nestas páginas).
Este olhar de drone, abarcando tudo e todos, poderá ser a nossa salvação no futuro, caro leitor. E olhe que bem precisamos de um alento para o que vamos escrever a seguir.
Soube-se agora que o relatório das Nações Unidas, segundo o qual o número de pessoas na Terra começaria a diminuir por volta de 2084, é demasiado otimista. A Humanidade deverá começar a diminuir já em 2055, ou seja, daqui a apenas três décadas – se não mesmo antes.
A conclusão, entretanto corroborada por outros especialistas, foi avançada por Jesús Fernández-Villaverde, professor de Macroeconomia da Universidade da Pensilvânia, nos EUA, que anda há várias décadas a estudar o desenvolvimento dos países pobres e a fertilidade, sobretudo na América Latina. Isto porque os dois estão relacionados, costumando acontecer um a par do outro – ensina como ponto de partida para os seus alunos compreenderem a evolução da população mundial.
EPA/Peter Komka
Rússia
Ter filhos por decisão estatal?
NÚMEROS “CATASTRÓFICOS” Registaram-se 1,222 milhões de nascimentos em 2024, o total anual mais baixo desde 1999. Em comparação com 2014, a taxa de natalidade diminuiu um terço numa década.
“PROPAGANDA” PROIBIDA Ter uma família numerosa é hoje um desígnio nacional. No ano passado, a Câmara Baixa do Parlamento russo decidiu que quem for apanhado a defender uma “vida sem filhos” pode ser multado.
ESTRATÉGIA DESESPERADA Em dez regiões, as estudantes de liceu que engravidam recebem mais de 100 mil rublos (cerca de 900 euros) para dar à luz e criar os seus bebés. A medida alarga a política adotada em março, que apenas se aplicava às mulheres adultas.
Se Maria João Valente Rosa tem repetido em muitas das suas entrevistas que “o desenvolvimento é o melhor meio contracetivo”, o macroeconomista nascido em Madrid fala nas suas aulas na “história padrão da modernização”, que se explica em três penadas: o habitual, um pouco por todo o mundo, é as pessoas deslocarem-se das zonas rurais para as cidades; as crianças deixam, então, de ser cruciais para ajudar os pais no trabalho agrícola; e as mulheres, uma vez na cidade, ganham acesso à educação e à contraceção, passando de cerca de seis filhos, em média, para apenas dois.
Na América Latina, que é uma região economicamente mediana, Fernández-Villaverde esperaria deparar-se com taxas de fertilidade também medianas, mas, nos últimos anos, verificou que nalguns dos países tem havido ainda menos nascimentos do que nos países ricos doutras paragens. Com esses dados na mão, o investigador torceu logo o nariz ao relatório das Nações Unidas de 2019 que estimava que a população continuaria a crescer, atingindo 10,9 mil milhões até 2100.
ÓCULOS COR-DE-ROSA
Não podia ser, desconfiou, então. E, nos anos seguintes, começou a procurar e a encontrar grandes discrepâncias entre as previsões e a realidade, tanto na América Central e do Sul como em países tão diferentes entre eles como Azerbaijão, Cuba, Egito, Estónia, Polónia ou Sri Lanka, onde afinal se nascia muito menos do que os demógrafos diziam esperar.
A explicação estará no modelo usado pela ONU, que projeta dois resultados para quase todos os países: ou a taxa de fertilidade vai estabilizar ou vai subir para um número entre um e dois nascimentos por mulher. A juntar a isso, os demógrafos tinham uma explicação simples para as suas projeções otimistas: a fertilidade já recuperou no passado, por isso irá recuperar outra vez.
Essa assunção faz sentido historicamente e aqui e ali. Por exemplo, na Bielorrússia, a taxa de fertilidade esteve ao nível de reposição das gerações em 1988, caindo para 1,22 apenas nove anos depois e acabando por recuperar até aos 1,73 filhos por mulher em 2015. Em 2023, já tinha descido ligeiramente, para 1,21, mas é possível que volte a subir.
EPA/LUIS TEJIDO
Finlândia
O “paradoxo da fertilidade”
MÍNIMO HISTÓRICO Apesar das generosas políticas de família, dos excelentes cuidados de saúde e da educação gratuita, em 2024 a taxa de fertilidade atingiu um mínimo histórico de 1,25 filhos por mulher.
APOIOS DO ESTADO Todos os casais têm direito a 320 dias de licença parental, repartidos entre os dois pais. A partir dos 9 meses, há lugar garantido numa creche pública que custa, no máximo, 295 euros por mês, com base no rendimento da família.
APOSTA NOS IMIGRANTES A imigração tem sido promovida como um remédio para o declínio das taxas de natalidade e, em 2023, o país registou um ganho líquido de 58 mil imigrantes.
Relembre-se que o índice necessário para acontecer a reposição das gerações é de 2,1 filhos em média por mulher em idade fértil, um valor estranho que Maria João Valente Rosa não se cansa de explicar: “Como a probabilidade de ter um filho do sexo masculino é superior à probabilidade de ter uma filha, as mulheres têm de ter um pouco mais de dois filhos para garantir o nascimento de uma futura mãe.”
Voltando aos autores das previsões da ONU, para eles verem o futuro com óculos cor-de-rosa conta ainda o facto de o modelo usado ter um mínimo do qual não se desce: nunca se projeta uma taxa de fertilidade inferior a 0,5 filhos por mulher. Muito bem, é um critério válido, mas o que fazer quando se sabe que, por exemplo, Macau (estudado à parte da China continental) tem uma taxa de fertilidade de 0,58 e, entretanto, viu os nascimentos diminuírem 13% nos primeiros meses deste ano?
Os ajustes serão feitos em breve, obrigatoriamente. Mesmo para países como a Tailândia, cuja taxa não tem parado de diminuir de há 72 anos para cá (sim, setenta e dois, não é gralha), os demógrafos preveem um “milagre demográfico”, já assinalou, irónico, Fernández-Villaverde. Ao fim de dois anos, o relatório das Nações Unidas prevê que a natalidade do país vai começar a subir, primeiro devagar e depois um pouco mais depressa, chegando ao final do século com uma taxa de 1,45, acima do mínimo previsto para 2024, que era de 1,20. Parece demasiado otimista, não?
A verdade é que os demógrafos da ONU reveem as suas projeções de dois em dois anos e, na última década, reviram-nas sempre para baixo. Assim, o mais certo é que para o ano voltem a fazê-lo, porque a fertilidade não tem parado de diminuir em todo o mundo.
Escreva-se que as retificações do conceituado académico de origem espanhola não nos trazem uma absoluta novidade. O tom catastrófico já anda aí há algum tempo, como saberá quem leu, por exemplo, um artigo do jornal Nikkei Asia, republicado em março de 2022 na nossa revista Courrier Internacional, cujo título era “a próxima bomba demográfica”, assim mesmo sem recear a metáfora.
“Até 2050, 151 dos 195 países do mundo estarão num estado de declínio demográfico”, escreviam os seus autores, justificando: “Ao longo dos cerca de 300 mil anos de História da Humanidade, os períodos de frio e de epidemias causaram quedas temporárias da população, mas, segundo Hiroshi Kito, historiador demográfico e ex-presidente da Universidade de Shizuoka [no Japão], a Humanidade está prestes a entrar num período de declínio prolongado pela primeira vez na sua História.”
IDADE MÉDIA DE 50 ANOS
O melhor exemplo é, claro, a China. Ainda segundo o Nikkei Asia, um estudo da Universidade de Washington já previa que a queda da natalidade no país começaria ainda em 2023, com a população a cair para 730 milhões até 2100. “No mesmo ano”, lemos ainda, “23 países, incluindo o Japão, verão as suas populações cair para metade dos seus níveis atuais, senão para menos, segundo Christopher Murray, diretor do Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde da Universidade de Washington, que passou a maior parte da sua carreira a trabalhar na melhoria dos sistemas de saúde mundiais”.
A novidade, agora, é que esse período de declínio prolongado – para todos – ameaça chegar mais cedo do que se pensava, e ainda antes de os países pobres terem tempo de conseguir tornar-se, pelo menos, remediados. Murray prevê que as taxas de fecundidade convergirão em cerca de 1,5, ou mesmo abaixo nalguns países. “Isto significa que a Humanidade acabará por desaparecer dentro de alguns séculos”, afirmou ao mesmo jornal.
EPA/MARK R. CRISTINO
China
Quem quer ganhar 33 mil euros?
DECLÍNIO DRAMÁTICO No ano passado, a população do país diminuiu pelo terceiro ano consecutivo e a taxa de casamentos caiu 21%, atingindo um mínimo histórico.
INTERVENÇÃO ESTATAL Em março, o governo central prometeu, pela primeira vez, subsídios para os cuidados infantis e educação pré-escolar gratuita para todos, tentando, assim, incentivar as pessoas a ter filhos
AUMENTO DE 17% O governo de Tianmen, no Centro da China, ofereceu incentivos que chegam aos 280 mil yuans (33,3 mil euros), incluindo licença de maternidade e subsídios à habitação. Em 2024, a cidade teve mais 17% de nascimentos, após oito anos de declínio, mas o baby boom coincidiu com o Ano do Dragão, considerado auspicioso.
E a Humanidade no seu todo, não apenas os mais pobres, sublinhe-se. Os ricos também não estarão em bons lençóis. Basta ver o que acontece atualmente no Japão, que tem uma taxa de fertilidade tão baixa (1,15 filhos por mulher, em 2024) que o primeiro-ministro, Shigeru Ishiba, falou recentemente numa “emergência silenciosa”.
O governante tem razões para estar preocupado. O Japão registou menos de 700 mil nascimentos no ano passado, soube-se agora em junho, o número mais baixo desde que os dados começaram a ser compilados, em 1899. E menos crianças é igual a dificuldade de sustentação financeira no futuro, já se sabe.
Nos anos 60, o Japão teve uma taxa de crescimento económico de mais de 10%, “mas quando a população ativa começou a diminuir no final dos anos 90, a taxa estagnou em cerca de 0,5%”, lemos também no Nikkei Asia. Desde então, a economia japonesa nunca mais recuperou, apesar de mais de duas décadas de políticas de relançamento. 30 anos depois de ter representado 18% do PIB mundial, o Japão pesa apenas 4%, uma queda que não surpreende quando se sabe que a idade média atual é de 50 anos.
Talvez não tenhamos essa sensação, porque as fotografias que os nossos amigos têm partilhado connosco vêm cheias de gente nova (o turismo registou um boom assinalável nos últimos meses, sobretudo por parte de europeus, portugueses incluídos), mas as estatísticas não mentem. E as dúvidas dissipam-se quando vemos a lista dos países com menos crianças do mundo. Não surpreendentemente, o Japão está entre os que têm o menor número de crianças em percentagem da população – 14%.
Com uma percentagem ainda mais baixa encontramos a Coreia do Sul (12,9%) que já avançou com subsídios à fertilidade, porque está com uma taxa atual de apenas 0,6 filhos por mulher. Ninguém estranhou, por isso, quando David Duhamel perguntou no livro Un Monde sans Enfants (um mundo sem filhos): “Em 2100, ainda haverá crianças sul-coreanas?”
Publicado em outubro do ano passado, o seu livro analisa o que se passa no mundo partindo do declínio da taxa de natalidade observado em França. De acordo com o último estudo do Instituto Nacional de Estatística e Estudos Económicos francês, entre janeiro e junho de 2024, nasceram 326 mil bebés em França, quase menos oito mil do que em 2023, no mesmo período.
O número de nascimentos em França desceu, assim, abaixo da marca simbólica dos 700 mil, um “facto inédito desde o final da II Guerra Mundial”, sublinha o professor de Economia no L’Institut Libre des Relations Internationales et des Sciences Politiques e conferencista na Sciences Po, de Paris.
Se a situação da Ásia é catastrófica, a da Europa para lá caminha – e só os bebés dos imigrantes nos salvam de um declínio demográfico ainda mais acentuado. “Os imigrantes não têm apenas impacto na mão de obra, também contribuem fortemente para os nascimentos, e não é por terem muitos filhos, é porque estão em idades ativas e, por isso, são férteis”, sublinha Maria João Valente Rosa.
A 1 de janeiro de 2024, a população da União Europeia estava estimada em 449,3 milhões de pessoas. A idade média era de 44,7 anos e mais de um quinto (21,6 %) tinha 65 anos ou mais.
Os últimos dados do Eurostat apontam para uma queda de 5,4% no número de recém-nascidos, ou seja, apenas 3,67 milhões em 2023, o maior recuo desde 1961. A taxa de fecundidade caiu de 1,46 para 1,38 filhos por mulher, mas quando olhamos especificamente para os bebés nascidos de mãe estrangeira, entre 2014 e 2023, vemos que a taxa aumentou na maioria dos Estados-membros, numa média de 5,3%.
EPA/YONHAP
Coreia do Sul
Tendência sustentável?
AUMENTO RÁPIDO O número de bebés nascidos em abril deste ano aumentou para 20 717, a um ritmo anual que não se via desde 1991, embora a taxa de fertilidade global se mantenha num nível de crise de 0,75.
MAIS APOIOS No ano passado, aumentaram os subsídios de licença parental e foram instituídos horários de trabalho flexíveis.
ECO-BOOMERS PAIS Os chamados “eco-boomers” também podem estar a contribuir para o maior número de nascimentos. Quem nasceu entre 1991 e 1995 tem agora 29-34 anos e está a entrar na idade de se casar e de ter filhos. As autoridades continuam cautelosas.
Em outubro de 2023, a Comissão Europeia apresentou um conjunto de “ferramentas” à disposição dos Estados-membros para gerir a evolução demográfica e o seu impacto na sociedade e na economia da UE, incluindo instrumentos regulamentares, quadros políticos e financiamento que podiam ser combinados com as políticas nacionais e regionais.
O pacote estava assente em quatro pilares: apoiar os pais, facilitando a conciliação da vida familiar e do trabalho remunerado, nomeadamente garantindo o acesso a serviços de acolhimento de crianças de elevada qualidade e um bom equilíbrio entre a vida profissional e a vida privada; apoiar as gerações mais jovens e dar-lhes os meios para prosperarem e desenvolverem as suas competências, facilitando o seu acesso ao mercado de trabalho e à habitação a preços acessíveis; capacitar as gerações mais velhas e salvaguardar a sua prosperidade através de reformas combinadas com políticas adequadas em matéria de mercado de trabalho e de local de trabalho; e sempre que adequado, colmatar a escassez de mão de obra através da gestão da migração legal, em plena complementaridade com o aproveitamento dos talentos da UE.
A INÉRCIA NA DEMOGRAFIA
No papel, é tudo lindo e muitíssimo eficaz. Na prática, também será, mas não podemos esquecer-nos da inércia em demografia. “O sociólogo francês Auguste Comte dizia que ‘a demografia é o destino’, porque há uma parte do passado que tem um impacto no presente”, lembra Maria João Valente Rosa. O número de nascimentos ainda está a aumentar no mundo, porque as mulheres que nasceram mais no passado estão a chegar à idade fértil, mas a população não aumenta de um dia para o outro.”
Os apoios da União Europeia são bem-vindos, como é óbvio, mas irão demorar a fazer efeito.
Em Portugal, os dados disponibilizados pelo INE há menos de um mês são muitos e reveladores do estado das coisas. Em 2024, registaram-se 84 059 partos, o que corresponde a menos 1 059 do que em 2023 – e menos de metade do que há 50 anos, em 1974. O maior número de nascimentos ocorreu na região Norte (29,8%) e na Grande Lisboa (25,6%), seguindo-se a região Centro (13,7%), a Península de Setúbal (9,7%) e o Oeste e Vale do Tejo (7,7%).
A proporção de partos de mães de nacionalidade estrangeira era, no conjunto do País, de 26,3%. Olhando para os concelhos, mais de metade das mães eram estrangeiras em Aljezur (68,4%), Vila do Bispo (64,7%), Odemira (62,5%) e Albufeira (52,8%). Quanto às nacionalidades, à cabeça, em todo o País, estava o Brasil (10,1%), seguido de longe por Angola (2,2%), Cabo Verde (1,7%), São Tomé e Príncipe (1,5%), Guiné-Bissau (1,4%), Índia (1,3%), Bangladesh (1,2%) e Nepal (1,1%).
Há ainda um outro dado importante a assinalar, que confirma a tendência nacional das últimas duas décadas: em 80% dos partos registados no ano passado, as mães tinham entre 25 e 39 anos; e um terço de todas as mulheres tinham entre 30 e 34 anos.
EPA/DANIEL IRUNGU
Quénia
Rapazes podem estragar média
TAXA INVEJÁVEL A taxa de fertilidade diminuiu ligeiramente desde 2022, mas, ainda assim, mantém-se nuns invejáveis 3,17. É provável que continue a descer porque, há dez anos, nascem mais rapazes do que raparigas.
CRECHES BARATAS As mães têm 90 dias de licença com salário completo; os pais só têm direito a duas semanas. Não existe uma rede de creches públicas, mas um dia numa creche privada custa apenas 130 xelins quenianos (85 cêntimos).
CAMPO VS CIDADE As mulheres que vivem em zonas urbanas têm uma taxa de fertilidade mais baixa do que as que vivem no campo, muito por causa do acesso à educação e aos métodos contracetivos.
Nos últimos 20 anos, a idade das parturientes aumentou, sublinha-se no INE: entre 2003 e 2024, o número de partos de mulheres entre 45 e 49 anos passou de 196 para 560 e com 50 anos ou mais passou de seis para 49. No mesmo período de tempo, a proporção de partos de mães entre os 35 e os 39 anos subiu de 14% para 24%.
Não foi por falta de avisos que chegámos à situação atual de baixa fecundidade: o primeiro alerta surgiu há mais de quatro décadas, quando se constatou que 1981 foi o último ano em que houve reposição de gerações em Portugal. Na década seguinte, em 1994, esse indicador ficou, pela primeira vez em Portugal, abaixo de 1,5 filhos por mulher, um valor considerado “crítico” para a sustentabilidade de qualquer população. Mantendo-se durante um longo período, inviabiliza a recuperação das gerações no futuro, começaram os especialistas a alertar.
Daí para a frente, foi sempre a descer. Há dez anos, estávamos em contraciclo com a generalidade dos países europeus, que tinham registado uma quebra da natalidade e pareciam começar a recuperar. A expectativa era de que seguiríamos no seu encalço, mas nas décadas seguintes haveríamos de continuar no mesmo caminho descendente.
Neste momento, nenhum dos países da União Europeia tem assegurada a substituição de gerações, como se sabe. Em Portugal, as principais razões deste declínio são a maternidade tardia ou adiada e a diminuição dos segundos nascimentos, mas, enquanto no resto da Europa é a crescente proporção de mulheres sem filhos que mais pesa na baixa fecundidade, aqui é o grande número de filhos únicos.
As duas razões interligam-se naturalmente. Como as mulheres têm, em média, o primeiro filho só aos 30,7 anos, cerca de três anos mais tarde do que acontecia há duas décadas, diminui a probabilidade de terem mais filhos porque estão próximas do seu limite biológico de fertilidade.
Quanto ao facto de Portugal ser atualmente um país de filhos únicos, lembre-se que os filhos deixaram de ter o valor económico de outros tempos, quando eram mais um par de mãos para trabalhar na agricultura, por exemplo, e representavam alguma segurança na velhice para os seus pais.
“Como os filhos passaram a ter um valor emocional, queremos tê-los num momento em que podemos gozá-los”, diz Maria João Valente Rosa. “Um filho acaba por ser um projeto e um investimento a todos os níveis.” O Inquérito à Fecundidade de 2019 (a análise mais recente, dinamizada pelo INE) revelou, aliás, que a “vontade” foi o motivo mais importante para decidir ter ou não ter filhos e quantos.
Nessa altura, 60,2% dos inquiridos, na maioria ainda sem filhos, diziam que esperavam terminar o ciclo reprodutivo com, pelo menos, dois descendentes. Mas a realidade é que tal não aconteceu em todos os casos, e, em 2025, prevê-se que a taxa de fertilidade em Portugal se mantenha em torno de 1,4 filhos por mulher, como foi em 2022 e 2023.
Segundo dados do Eurostat, em 2024 quase dois terços (mais de 60%) das famílias portuguesas com filhos tinham apenas um filho, acima da média da União Europeia (menos de metade), onde somente nos Países Baixos a percentagem de agregados familiares com dois filhos era mais elevada.
A discrepância explica-se, nomeadamente, pelo facto de as mulheres portuguesas terem investido nos estudos e serem muito ativas profissionalmente, mantendo um duplo papel dentro e fora de casa. Os pais (homens) portugueses ainda não entram tanto nas tarefas domésticas. Pelo menos, não tanto como os dos países nórdicos, por exemplo, onde é habitual a divisão em casa ser 50-50 e onde são eles tantas vezes a ficar vários anos de licença parental.
“CASAS CHEIAS DE CÃES E GATOS”
Mas não lhes chamem egoístas, por favor, como chegou a fazer o Papa Francisco (em boa verdade, não distinguindo entre mulheres e homens). “A raiz dos problemas no mundo é o egoísmo, o consumismo e o individualismo, que tornam as pessoas saciadas, solitárias e infelizes”, disse Jorge Bergoglio, em maio do ano passado, numa reunião sobre a diminuição da taxa de natalidade em Itália. “O egoísmo anestesia o coração” e as casas tornam-se “lugares muito tristes”, esvaziadas de crianças e “cheias de objetos, cães ou gatos”.
Não nos chamem egoístas, pede a fotógrafa britânica Zoë Noble, que fundou a plataforma global We are Childfree (somos livres de filhos), já com mais de 90 mil membros, um pouco por todo o mundo, que amplifica as vozes de pessoas sem filhos, desafiando o estigma e promovendo a inclusão.
EPA/FRANCK ROBICHON
Japão
Horários de trabalho mais flexíveis
MENOS DE 700 MIL NASCIMENTOS O país tem uma taxa de fertilidade tão baixa (1,15 filhos por mulher, em 2024) que o primeiro-ministro, Shigeru Ishiba, falou numa “emergência silenciosa”.
FLEXIBILIDADE Shigeru Ishiba prometeu tomar medidas urgentes, como regulamentar horários de trabalho mais flexíveis, para tentar reverter a tendência.
MAIS DIAS EM CASA O Governo Metropolitano de Tóquio implementou a semana de trabalho de quatro dias para os seus funcionários, desde abril.
“A nossa missão é criar um espaço onde as escolhas sem filhos não sejam apenas aceites, mas celebradas”, explica no site do movimento a fotógrafa que mora em Berlim e mantém um interessante projeto de retratos e testemunhos de mulheres disponível no Instagram. “Como oradora pública, líder de pensamento e defensora, dedico-me a elevar a conversa em torno da vida sem filhos e a ajudar indivíduos e empresas a criar espaços onde todos se sintam vistos e valorizados.”
Zoë Noble tinha 32 anos quando o seu médico lhe disse “o tempo está a passar”, contou recentemente ao The New York Times. Apesar de ela não querer ter filhos, foi preciso uma ida às urgências, cheia de dores, para que a histerectomia de que precisava para remover um fibroide lhe fosse finalmente concedida aos 37 anos. “Espero que o meu projeto ajude a inverter estas ideias, contando as histórias de mulheres que, felizmente, não são mães.”
Mas não é só de potenciais mães que falamos, como é óbvio, embora os homens tenham um peso menor na decisão, lembra a socióloga Alice Evans, que é investigadora no King’s College de Londres e está a escrever um livro sobre “a grande divergência entre os géneros”.
“Os suspeitos do costume – desenvolvimento económico, liberalização cultural e feminismo – são, em última análise, inadequados”, escreve Evans, num dos artigos que podemos ler no seu site. “Os estudos específicos de cada país, embora valiosos, muitas vezes não têm em conta o panorama geral. A The Economist atribuiu recentemente a culpa da queda da fertilidade em Inglaterra aos preços da habitação e ao adiamento da maternidade. Mas como é que isso explica as quedas de fertilidade semelhantes na Guatemala rural?”
EPA/ANNA SZILAGYI
Alemanha
A pensar no futuro
MÃES ESTRANGEIRAS Graças à imigração, mantém-se como o país mais populoso da União Europeia, embora tenha baixado a fecundidade.
O PAPEL DA SRA. MERKEL Angela Merkel, enquanto esteve no governo, fez um bom trabalho de integração dos imigrantes, a pensar no futuro.
POLÍTICAS DA FAMÍLIA São vários os objetivos: estabilidade financeira e participação social, equilíbrio entre vida profissional e familiar, apoio ao bem-estar das crianças e um ambiente social onde essas crianças possam realizar os seus sonhos.
Outro exemplo: “A ‘penalização da maternidade’ também é acusada. Esta pode ser uma consideração económica importante em certas sociedades, mas não explica o declínio na Turquia e na Tunísia, onde o emprego feminino é bastante baixo (respetivamente 35% e 26%)”, escreve.
Na opinião desta socióloga, há três fatores-chave que podem ser responsáveis, em diferentes graus, pelo colapso global e a variação regional: os custos com o ensino e os cuidados infantis, o entretenimento online personalizado e o aumento dos solteiros.
Na China, “em plataformas como a Xiaohongshu, as jovens utilizam o termo wanghong (celebridade online) para aumentar o prestígio da ‘solteirice’, criando vlogs sofisticados de ‘viver sozinha’ que mostram apartamentos bonitos, rotinas de fitness e rituais noturnos. As marcas estão a tomar nota – adotando cada vez mais o slogan ‘Vive para ti’”, analisa. “E ambos os géneros parecem estar a refugiar-se no mundo digital. As vendas domésticas de videojogos atingiram 45 mil milhões de dólares em 2024, com os jogos para telemóvel a representarem 73% do total.” Um jovem entrevistado por Alice Evans foi, aliás, bem explícito: “O desenvolvimento sem precedentes das redes sociais e do entretenimento tornou-nos menos interessados em encontrar um cônjuge.”
Catastrófica q.b., a socióloga estende-nos a mão, com várias hipóteses de solução. Uma delas será investir nas capacidades de relacionamento dos mais novos. “A austeridade no Reino Unido levou ao encerramento generalizado de centros de juventude e, potencialmente, esse facto pode ter reduzido os espaços para construir comunidades e amizades”, lembra. “No futuro, tenho curiosidade em ver mais investigação sobre a forma como as escolas podem ajudar os alunos a reforçar a sua inteligência emocional e as suas competências sociais, tornando-se, em última análise, mais encantadores, divertidos, empáticos e solidários. A prazo, isto poderá reforçar as relações felizes – que são cada vez mais um precursor da fertilidade.”
“TENHAM MUITOS FILHOS!”
O declínio demográfico no mundo não se resolve com a ordem “Tenham filhos”, mas há países que tentam fazê-lo sem subtilezas. Na Rússia, ter filhos, aliás, ter muitos filhos, é hoje um desígnio nacional.
Em Moscovo, foi a própria câmara que espalhou pela capital russa grandes cartazes com Vera Asachyov, o seu marido, Timofey, e os oito filhos de ambos (desde Sofiya, de 18 anos, a Marusya, que acabou de fazer 1 ano), todos muito sorridentes, “coroados” Família do Ano 2024. “É uma grande honra e alegria”, disse Vera à Sky News, mostrando, orgulhosa, a Ordem da Glória Parental que trazia ao peito.
A Rússia registou 1,222 milhões de nascimentos em 2024, o total anual mais baixo desde 1999. Em comparação com 2014, a taxa de natalidade diminuiu um terço numa década. O Kremlin considerou o número “catastrófico” e já não esconde que está desesperado para o aumentar, ao ponto de ter proibido a “propaganda” da vida sem filhos. Em novembro do ano passado, a Câmara Baixa do Parlamento russo aprovou por unanimidade que quem for apanhado a difundi-la pode ser multado.
EPA/ALLISON DINNER
EUA
Pessoas preocupadas com os custos
CADA VEZ MENOS BEBÉS A taxa de natalidade tem vindo a diminuir e atingiu um mínimo histórico de 1,6 filhos por mulher. Prevê-se que se mantenha nessa média nas próximas três décadas.
ESTADO OMISSO Não há licença parental garantida nem uma rede de creches públicas. Ter uma criança durante um ano numa creche custa, em média, 14 mil dólares (12 mil euros).
INQUÉRITO REVELADOR Não admira que, segundo um inquérito do Centro de Investigação de Assuntos Públicos da Associated Press-NORC, os custos com os cuidados infantis preocupem mais os adultos norte–americanos do que a baixa taxa de natalidade.
Sem querer, o jornalista e ensaísta francês Jean Birnbaum, autor de Seuls les Enfants Changent le Monde (só as crianças mudam o mundo), explora e celebra o poder subversivo da infância, contrariando a tendência global Childfree (ou No kids). No seu livro, publicado no final de 2023, sublinha a mudança do desejo de não ter filhos para não lhes infligir a violência do mundo atual para um desejo de abstinência demográfica em resposta à emergência climática. “No fundo, há uma inversão”, escreve, “da proteção da criança contra o mundo para a proteção do mundo contra a criança”.
Birnbaum defende que “um mundo sem crianças é, na sua essência, um mundo morto”. Tem toda a razão, claro, o que nos traz até uma última, mas não menos importante, questão: haver menos gente no futuro vai ser bom ou mau para o planeta?
Sabendo que, segundo os cálculos da Global Footprint Network, a Humanidade esgotará no próximo dia 24 os recursos do planeta disponíveis para este ano (em 2024, o chamado Dia da Sobrecarga do Planeta foi a 1 de agosto), apetece correr a responder simplesmente: “É bom, que-la-ro.” Mas quem percebe destas coisas garante que uma população cada vez mais reduzida enfraquece-nos na luta contra a crise ambiental.
Um exemplo: a investigadora croata Ana-Maria Boromisa, do Instituto de Desenvolvimento e Relações Internacionais, de Zagreb, publicou recentemente um estudo na revista científica Frontiers in Sociology que concluiu que os setores do turismo, da construção e dos cuidados de saúde, todos com falta de mão de obra no seu país, poderiam contribuir para um desenvolvimento resiliente às alterações climáticas com base no seu potencial de redução das emissões.
Não, não estamos preparados para um mundo sem bebés nem acreditamos que vão ser os robots a resolver o problema do declínio da demografia. A solução será abrirmos as fronteiras e esperarmos que as pessoas encontrem o seu espaço para prosperar. Em todos os sentidos.
Christian Horner era o chefe de equipa da Red Bull desde a sua entrada na F1 em 2005. Nesse período que agora termina, a Red Bull venceu oito campeonatos de pilotos e seis campeonatos de construtores. Pelo meio, a equipa obteve 124 vitórias em Grandes Prémios, 107 pole positions e 287 subidas ao pódio.
Vinte anos depois, sai, com os últimos tempos marcados pela acusação de comportamento inadequado em relação a um elemento da equipa, que sempre negou. Acabaria por ser ilibado.
A Red Bull não apresentou ainda a razão na origem da decisão de dispensar Horner, mas agradeceu-lhe, em comunicado: “Gostaríamos de agradecer a Christian Horner pelo seu trabalho excecional nos últimos 20 anos.”
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“Com o seu empenho incansável, experiência, conhecimento e pensamento inovador, ele foi fundamental para estabelecer a Red Bull Racing como uma das equipas mais bem sucedidas e atraentes da Fórmula 1. Obrigado por tudo, Christian”, afirma Oliver Mintzlaff, diretor executivo da Red Bull para projetos e investimentos empresariais.
Christian Horner vai ser substituído por Laurent Mekies, até aqui, na Racing Bulls.
A ilha de Mainau, no lago de Constança, no sul da Alemanha, é um ponto de paragem importante para quem queira perceber melhor o mundo em que Stephanie de Hohenzhollern-Sigmaringen viveu antes de se tornar rainha de Portugal e desembarcar em Lisboa. A ilha foi comprada a título particular pelo seu primo (pelo lado da mãe), Frederico I, grão-duque de Baden, com o intuito de a transformar num paraíso na terra, um lugar onde pudesse refugiar-se das intrigas da corte entre as árvores e as flores, os pássaros e as borboletas vindos de todas as partes do mundo, tal como fazia, no parque do Palácio da Pena, o rei D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gota.
Mas para Stephanie provavelmente a maior atração dos verões aqui passados era a jovem mulher do grão-duque, a princesa Luísa da Prússia, sua prima pelo lado do pai, da mesma idade e com quem partilhava as mesmas causas: ambas trabalhavam incansavelmente para qualificar as mulheres e proteger as crianças, tanto em termos de saúde como de educação. Ambas admiravam Florence Nightingale, a “Dama da Lamparina” e a verdadeira mãe da enfermagem profissional, que vai estar, mais tarde, diretamente envolvida no projeto de construção do Hospital D. Estefânia.
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Luísa, apesar de alguns grandes desgostos, teve mais sorte do que Stephanie: casou dois anos antes da prima, engravidou imediatamente e foi mãe de três filhos e, mesmo depois de viúva, continuou a ter uma intervenção social e “política” muito ativa. Morreu aos 84 anos.
Hoje a ilha das Flores é de livre acesso, de barco ou a pé através de uma ponte, e merece bem a visita — vai deliciar-se com o jardim italiano de 12 mil pés de rosas, os canteiros sempre em flor (em Setembro, eram mil variantes de dálias), e o extraordinário borboletário, uma casa tropical onde passeamos entre o bater de asas das mais magníficas espécies, numa vertigem de cor. O palácio von Baden é imponente, escondido entre a vegetação e embora ainda seja habitado pela família a quem a ilha pertence, tem habitualmente uma parte que pode ser vista e onde decorrem exposições.
A ilha de Mainau, no lago de Constança, no sul da Alemanha, é um ponto de paragem importante para quem queira perceber melhor o mundo em que Stephanie de Hohenzhollern-Sigmaringen viveu antes de se tornar rainha de Portugal e desembarcar em Lisboa. A ilha foi comprada a título particular pelo seu primo (pelo lado da mãe), Frederico I, grão-duque de Baden, com o intuito de a transformar num paraíso na terra, um lugar onde pudesse refugiar-se das intrigas da corte entre as árvores e as flores, os pássaros e as borboletas vindos de todas as partes do mundo, tal como fazia, no parque do Palácio da Pena, o rei D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gota.
Mas para Stephanie provavelmente a maior atração dos verões aqui passados era a jovem mulher do grão-duque, a princesa Luísa da Prússia, sua prima pelo lado do pai, da mesma idade e com quem partilhava as mesmas causas: ambas trabalhavam incansavelmente para qualificar as mulheres e proteger as crianças, tanto em termos de saúde como de educação. Ambas admiravam Florence Nightingale, a “Dama da Lamparina” e a verdadeira mãe da enfermagem profissional, que vai estar, mais tarde, diretamente envolvida no projeto de construção do Hospital D. Estefânia.
Luísa, apesar de alguns grandes desgostos, teve mais sorte do que Stephanie: casou dois anos antes da prima, engravidou imediatamente e foi mãe de três filhos e, mesmo depois de viúva, continuou a ter uma intervenção social e “política” muito ativa. Morreu aos 84 anos.
Hoje a ilha das Flores é de livre acesso, de barco ou a pé através de uma ponte, e merece bem a visita — vai deliciar-se com o jardim italiano de 12 mil pés de rosas, os canteiros sempre em flor (em Setembro, eram mil variantes de dálias), e o extraordinário borboletário, uma casa tropical onde passeamos entre o bater de asas das mais magníficas espécies, numa vertigem de cor. O palácio von Baden é imponente, escondido entre a vegetação e embora ainda seja habitado pela família a quem a ilha pertence, tem habitualmente uma parte que pode ser vista e onde decorrem exposições.
Esta série em vídeo e podcast, feita em parceria com a VISÃO, é também um incentivo a que faça as malas e vá conhecer estes lugares com os seus próprios olhos.
O co-fundador do Twitter lançou a Bitchat, uma rede descentralizada que assenta no Bluetooth para troca de mensagens entre utilizadores. A solução é descrita como uma experiência em “redes mesh Bluetooth, com redireccionamentos e modelos de armazenamento e reencaminhamento, modelos de encriptação de mensagens e mais algumas coisas”, nas palavras de Dorsey.
A Bitchat basicamente envia mensagens diretamente de dispositivo para dispositivo, em que cada um destes constitui um nódulo que alarga a rede. O sistema, por não necessitar de rede celular ou Wi-Fi, consegue manter-se em funcionamento mesmo quando a Internet está ativamente bloqueada. As mensagens são armazenadas apenas nos aparelhos e desaparecem automaticamente, sem haver qualquer infraestrutura centralizada. O Engadget recorda que este tipo de tecnologia já foi utilizado durante protestos em Hong Kong em 2019 e que há outras aplicações semelhantes já há algum tempo.
Os utilizadores da Bitchat podem criar conversas de grupo, atribuir-lhes hashtags e protegê-las com palavras-passe, podendo enviar mensagens mesmo para alguém que está offline. Uma iteração futura prevê o suporte a Wi-Fi Direct para aumentar a velocidade e tamanho da rede
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O sistema está a ser testado nesta fase por cerca de dez mil utilizadores.
O Grok removeu publicações feitas nas últimas horas consideradas “inapropriadas”. A retirada surge depois de surgirem várias queixas nas redes sociais e pela Anti-Defamation League que denunciaram conteúdos antissemitas e a elogiar Adolf Hitler. Uma publicação feita na conta do X do Grok assume que “estamos conscientes dos posts feitos recentemente pelo Grok e estamos a trabalhar ativamente para remover os conteúdos inapropriados”.
A xAI revela que “desde que tomámos conhecimento destes conteúdos, realizámos ações para banir o discurso de ódio antes de o Grok publicar na X. Estamos a treinar apenas para a procura da verdade e graças aos milhões de utilizadores da X, estamos a identificar rapidamente e atualizar o modelo onde o treino possa ser melhorado”.
A Anti-Defamation League, uma organização sem fins lucrativos que procura combater o antissemitismo, escreve na X que “o que estamos a ver agora no LLM Grok é irresponsável, perigoso e antissemita, pura e simplesmente. Este exacerbar da retórica extremista vai apenas amplificar e encorajar o antissemitismo que já está a aparecer na X e muitas outras plataformas”, cita a Reuters.
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Ontem surgiram publicações feitas pelo Grok que sugeriam que Hitler era o melhor candidato para combater o discurso de ódio contra os brancos, dizendo que seria capaz de “detetar o padrão e lidar com isso decididamente”, elogiando depois o “homem do bigode histórico” e sugerindo que as pessoas com apelidos judeus eram os responsáveis pelo ativismo extremo anti-branco.