“Deixem-me ser sarcástico (…). Durante esta campanha vamos ouvir demasiadas coisas. Vamos ser sérios: a NATO não pode ser uma aliança militar ‘à la carte’, não pode ser uma aliança militar dependente de como o Presidente dos Estados Unidos está a cada dia. Sim, não, amanhã isto, depois aquilo”, respondeu Josep Borrell, em Bruxelas, após ser questionado sobre as declarações de Donald Trump durante o fim de semana.

À entrada para uma reunião de ministros com a pasta do desenvolvimento, o alto-representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiros insistiu no apelo à seriedade do antecessor do democrata Joe Biden em Washington.

“Vamos ser sérios. A NATO não pode ser uma aliança ‘à la carte’. Ou existe ou não existe. Não vou perder o meu tempo a comentar cada ideia tonta que surgir nesta campanha eleitoral nos Estados Unidos”.

O antigo Presidente dos Estados Unidos Donald Trump sugeriu deixar a Rússia atacar qualquer país que pertença à Aliança Atlântica e que tenha as contribuições para a organização político-militar ou o investimento em defesa abaixo do expectável.

O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, considerou que as declarações de Donald Trump são prejudiciais para os 31 países, incluindo Portugal, que compõem a organização.

AFE // SB

O alto-representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiros criticou hoje a postura dos Estados Unidos da América (EUA) de apelarem à contenção de Israel em Gaza, mas continuarem a fornecer armamento.

“Até o Presidente dos EUA disse ontem [domingo] que as operações [militares de Israel] já são desproporcionadas, excessivas, que o número de vítimas mortais é intolerável”, sustentou Josep Borrell, à entrada para uma reunião com os ministros da UE com a pasta do desenvolvimento, em Bruxelas.

O chefe da diplomacia europeia pediu a Washington “mais do que palavras”.

“A UE também acredita que o número de vítimas mortais é intolerável, há possibilidade de o fazer baixar? A UE não está a fornecer armas a Israel, outros estão”, acrescentou Josep Borrell.

Os governantes europeus reúnem-se hoje com o subsecretário-geral das Nações Unidas e responsável pela Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA) Philippe Lazzarini.

O responsável da principal agência das Nações Unidas para apoiar a população palestiniana vai fazer um ponto de situação sobre as contribuições para a organização e também o inquérito que está em curso para averiguar a alegada participação de elementos da organização nos atentados de 07 de outubro de 2023 em Israel.

A acusação foi feita por Telavive e levou vários países a suspenderem o apoio à agência.

Portugal e outros países optaram pelo reforço das contribuições, face à suspensão do financiamento de outros países, como o Reino Unido e a Alemanha.

AFE // SB

Já toda a gente (ou quase) percebeu que o atual formato de debates deixa muito a desejar em termos de esclarecimento sobre as propostas e prioridades dos vários partidos com assento parlamentar que vão disputar as eleições legislativas de 10 de março. Cerca de 15 minutos para cada interveniente (se o moderador não se lembrar de lhes roubar o palco) é manifestamente pouco  para aprofundar qualquer assunto e expor com um mínimo detalhe um programa de governo. A forma sobrepõe-se facilmente ao conteúdo; o estilo, a personalidade do político, a capacidade (ou falta dela) de ter uma réplica eficaz e no timing certo são os principais ingredientes desta arena política feita espetáculo televisivo, ou vice-versa. Dito isto, toda a gente (ou quase…) acaba a espreitar os debates, a debater os debates, a debater os comentadores que debatem os debates… Não deixa de ser curioso que alguns desses comentadores nos media dão mesmo um valor numérico à performance dos candidatos, como se estivéssemos perante um festival da canção ou um campeonato de patinagem artística – prática que levanta várias questões: avalia-se a eficácia a partir da estratégia pensada pelo candidato mesmo que a achemos péssima? Avalia-se a consistência das medidas apresentadas a partir da nossa própria mundividência e preferências? Avalia-se o “espetáculo” proporcionado, mesmo sabendo que uma competente apresentação de propostas governativas pode ser algo de particularmente entediante nas televisões em horário nobre?

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“O filme é como uma montanha-russa. Deixem-se levar”, avisou Leonor Teles na antestreia da sua primeira longa-metragem. Só faltou pedir que colocássemos os capacetes. Baan, efetivamente, tem esse lado vertiginoso e ganha muito em ser visto no cinema. Há uma ideia constante de movimento e de devir da cidade, que a jovem realizadora foi, em parte, buscar a Wong Kar-Wai. Este é um filme em movimento. Ela própria explica: “Há um lado do filme que é muito maturado e construído, mas há outro muito intuitivo, ao sabor do vento. A personagem está sempre em movimento, para fugir das suas emoções, e eu tentei que a própria estrutura e a montagem fluíssem nesse sentido.”

O movimento do filme transmite o estado de espírito de uma personagem desencontrada consigo própria e com o mundo, sem casa física nem emocional, que se vê forçada a andar constantemente em loop. El, interpretada pela estreante Carolina Miragaia, que também compõe parte da banda sonora do filme, é uma jovem arquiteta, que vive numa casa partilhada em Lisboa, sem se conseguir fixar física e emocionalmente. Vive uma história de amor com alguma intensidade, mas que parece ser deglutida no devir da própria cidade.

É o retrato de uma geração sem abrigo, em que todas as condicionantes externas atrasam a resolução de sentimentos básicos. O filme tem todo esse lado político. Leonor Teles contextualiza: “Estamos a viver tempos muito estranhos. A minha geração vive situações que os meus pais não vivenciaram, a instabilidade tornou-se a norma e a precariedade está na ordem do dia; temos um trabalho, mas não sabemos se vai durar; as pessoas progridem na carreira, mas continuam a ter de partilhar casa… O sufoco vem da instabilidade, da falta de propósito, de andarmos aqui perdidos sem saber para onde nos virarmos.”

Cinema de intervenção

Esteticamente, o ponto de partida de Baan foi o universo urbano asiático, que a deixou fascinada depois de uma viagem a Macau. A ideia era mesmo filmar naquele território chinês, só que as restrições provocadas pela pandemia forçaram-na a uma mudança de planos. E o filme acaba por se filmar entre Lisboa e Banguecoque, sendo que as duas cidades se sobrepõem, numa identidade urbana comum e transversal.

Essa ideia sufocante e global de cidade é, aqui, ancorada também na coprotagonista, Kay, representada pela canadiana de origem tailandesa Meghna Lall. Ela simboliza o mundo e toda a sua crise identitária e moral, a distorção afetiva. Kay é igualmente pretexto para Leonor Teles, bem ao seu estilo, denunciar o racismo asiático: “Já que a coprotagonista é asiática, achei importante chamar a atenção sobre esse tipo de racismo que está um pouco escondido. Há uma espécie de nuvem, porque, se calhar, os asiáticos não são aqueles que mais sofrem com o racismo, mas não deixam de ser vítimas. E em Portugal não têm uma voz.”

O cinema pode ser qualquer coisa. Agora, no meu cinema, por enquanto, sinto que é importante falar e refletir sobre estes assuntos. Se não o fizer, as coisas têm tendência a piorar

Leonor teles

Leonor Teles nasceu em Vila Franca de Xira, em 1992. Assumiu desde sempre a sua ascendência cigana, e os primeiros filmes abordavam essa comunidade. Em Balada de um Batráquio, autêntico filme-punk, vemo-la entrar em estabelecimentos comerciais para partir os sapos de louças exibidos nas montras, símbolos explícitos de racismo para com os ciganos. Valeu-lhe um Urso de Ouro em Berlim, prémio raro do cinema português. Depois, realizou Terra Franca, um documentário em Vila Franca de Xira, e a curta ficcional Cães Que Ladram aos Pássaros, sobre a gentrificação no Porto. Pelo caminho, trabalhou como diretora de fotografia em filmes de outros, tendo sido muito elogiado o seu recente trabalho em Viver Mal/Mal Viver, díptico de João Canijo.

Baan chega agora às salas, e Leonor Teles ainda não sabe qual será o projeto seguinte. Mas dá-nos a garantia de que continuará a fazer cinema de intervenção: “O cinema pode ser qualquer coisa. E ainda bem que vivemos num país que nos dá essa possibilidade. Agora, no meu cinema, por enquanto, sinto que é importante falar e refletir sobre estes assuntos. Se não o fizer, as coisas têm tendência a piorar.”

Ver para crer. Nunca a máxima de São Tomé foi tão posta em causa. Com o surgimento da Inteligência Artificial (IA) generativa, que permite a criação realística – rápida, fácil, eficaz e barata – de imagens, vídeos, áudios e textos falsos, é cada vez mais difícil acreditar naquilo que os nossos sentidos constatam. Os chamados deepfakes vieram para baralhar crenças e instalar a desconfiança.

Em 2024, será batido o recorde do número de países que irão a eleições: 76, segundo o The World Ahead, publicação da revista The Economist, que analisa as principais tendências do futuro próximo. Além de Portugal, as urnas serão abertas em nações com um impacto mundial significativo, como o Reino Unido, os Estados Unidos da América ou a Índia. Coletivamente, falamos de cerca de quatro mil milhões de pessoas, mais de metade da população mundial – aliás, vão a votos oito dos dez países mais populosos do planeta (além dos dois últimos referidos, Bangladesh, Brasil, Indonésia, México, Paquistão e Rússia). Num contexto de desinformação produzida pela IA, receios de ameaças à integridade das eleições parecem justificados.

A tecnologia ganhou terreno a uma velocidade estonteante. Principalmente após o lançamento viral de chatbots como o ChatGPT, pela empresa OpenAI – dois meses depois, já tinha mais de 100 milhões de utilizadores –, ou do DALL-E2 (que permite a criação de imagens a partir de descrições textuais), em 2022, ambos com uma versão de acesso livre e gratuito.

1 Até ser apresentada a verdadeira foto da detenção de Donald Trump, surgiram outras versões
2 As deepfakes têm sido usadas para denegrir a ativista ambiental Greta Thunberg
3 O Papa Francisco já se manifestou contra as deepfakes, de que também foi vítima, aparecendo com um casaco estilo rapper
4 Um artista digital criou a imagem  do beijo entre Elon Musk e um robot humanoide
5 Fotos falsas do abraço emocionado do príncipe de Gales e do duque de Sussex, na coroação do pai
6 Durante as greves em França, uma imagem falsa de Emmanuel Macron numa rua em chamas tornou-se viral

Outras ferramentas poderosas e cada vez mais aperfeiçoadas surgiram no mercado, produzidas pela Meta, pelo Google, pela Microsoft e por novas empresas, tornando-se cada vez mais difícil detetar a comunicação manipulada. Os perigos da democratização da IA generativa estão à espreita. Com a qualidade destes conteúdos a aumentar, conseguirá o cidadão comum identificar com segurança o que é falso e o que é verdadeiro?

No Reino Unido, o GCHQ (serviço de inteligência encarregado da segurança e da espionagem e contraespionagem nas comunicações) alertou para o risco de campanhas avançadas de deepfake durante as eleições. Nos Estados Unidos, um grupo de senadores apresentou uma proposta de legislação para proibir a utilização de Inteligência Artificial na criação de conteúdos enganosos durante as campanhas políticas.

Apesar de ainda não ser muito comum o uso de deepfakes, já há casos preocupantes na política internacional recente. Em setembro de 2023, dois dias antes das votações para as legislativas na Eslováquia – durante o período de reflexão –, um registo áudio incendiou as redes sociais. A voz de Michal Šimečka, líder do partido liberal Eslováquia Progressista (pró-NATO), surgia numa conversa com um jornalista a discutir formas de manipular as eleições. Logo os fact checkers levantaram suspeitas quanto à autenticidade da gravação, que continha algumas imperfeições (tanto pela cadência das frases como pela estranha escolha de palavras). Em pouco tempo, o áudio foi partilhado por milhares de pessoas, sem que as plataformas o identificassem como falso.

É impossível medir o exato impacto deste deepfake, mas certo é que o partido populista Direção – Social-Democracia (Smer – SSD), do antigo primeiro-ministro Robert Fico – que, durante a campanha, tinha prometido parar o envio de armas para a Ucrânia e impedir as ambições de adesão de Kiev à NATO –, acabou por vencer a disputa política.

Lançar a dúvida

Outra escandalosa gravação áudio também provocou danos nas eleições presidenciais argentinas de 2023, antes da primeira volta. Neste caso, conhecido como o Melcogate, o protagonista foi Carlos Melconian, escolhido para ministro da Economia pela candidata Patricia Bullrich, que falava abertamente da oferta de lugares no governo em troca de favores sexuais. Bullrich contestou a autenticidade do registo e atacou o jornalista responsável pela divulgação, mas nunca foi devidamente esclarecido se se tratava realmente de um conteúdo fabricado por IA.

Permaneceu a perniciosa dúvida e, muitas vezes, basta deixar essa semente para prejudicar seriamente um candidato. Recorde-se o caso da interferência do governo de Vladimir Putin nas presidenciais de 2016 nos Estados Unidos, com trolls russos a espalhar notícias falsas sobre a candidata democrata Hillary Clinton, que viria a perder contra Donald Trump. “Os russos, quando entraram em jogo, só vieram subir um patamar e num meio que não estava ocupado ainda pela campanha norte-americana, que foi dizer coisas absurdas sobre os candidatos – por um lado, para reforçar os ódios e, por outro lado, para criar a dúvida sistemática nos apoiantes”, aponta o sociólogo Gustavo Cardoso, diretor do OberCom – Observatório da Comunicação.

Estas estratégias contribuem para uma “maior polarização. Os centros esvaziam-se, os extremos são populados e o desgaste é do próprio sistema democrático”, defende o coordenador para Portugal do Iberifier, projeto que visa combater a desinformação.

Há outro efeito secundário maléfico, que é o de os políticos aproveitarem estes desenvolvimentos tecnológicos para, perante conteúdos válidos, os descartarem como fake news – aquilo que é conhecido como “o dividendo do mentiroso”. Algo que já está a acontecer com gravações antigas, autênticas, de Donald Trump, classificadas pelos seus apoiantes como geradas por IA. Um estudo recente, aliás, revelou que classificar escândalos verdadeiros como “desinformação” aumenta a probabilidade de os eleitores apoiarem o político implicado, a suposta “vítima”.

As capas de revistas internacionais como a Der Spiegel ou a FT Weekend revelam um tema cada vez mais presente – estratégias que esvaziam os centros e aumentam a polarização

“O impacto da desinformação, seja por deepfake ou não, precisa de ser mais estudado. É um perigo, efetivamente, mas não será tão generalizado que leve todos a pensar da mesma maneira”, considera Vítor Tomé, investigador e especialista em literacia mediática. “Muitas vezes, a deepfake vai apenas ao encontro e reforça as crenças que as pessoas já tinham. Mas o triunfo maior da desinformação é quando consegue que passem a duvidar de tudo.” Desenvolver a literacia mediática, nomeadamente ensinar a detetar e a colocar de lado a desinformação algorítmica, é o objetivo do Algowatch, o projeto europeu em que Vítor Tomé está envolvido.

Segundo Gustavo Cardoso, “as deepfakes, para ficarem perfeitas, requerem conhecimento e investimento… Vão ficar mais acessíveis, mas não será em 2024”. Neste momento, “há coisas mais fáceis e baratas de usar, como as shallowfakes [descontextualizam o conteúdo original e não requerem o uso de IA] que, enquanto não desaparecem do espaço virtual, causam alguns danos”.  

Redes sociais de guarda

Um relatório feito pela startup americana Home Security Heroes estima a existência de 95 820 vídeos deepfake online – cerca de 98% são pornografia deepfake e 99% atacam mulheres –, um aumento de 550% em relação a 2019.

Em relação às eleições norte-americanas, a startup realizou um inquérito sobre o impacto dos vídeos deepfake a uma amostra de 1 474 cidadãos (51,4% democratas, 20,6% republicanos e 28% independentes), e 81,5% afirmaram ter-se sentido influenciados por esses conteúdos enganosos, tendo 36% mudado totalmente o seu voto. O acesso foi fácil, com cerca de 77% a depararem-se com materiais falsos relacionados com os candidatos políticos e 74,7% a manifestarem a sua preocupação pelo impacto que possam provocar nas próximas eleições.

Chatbot nazi

Sem travões em questões sensíveis

Deverá estar prestes o lançamento do primeiro chatbot negacionista, que fala do Holocausto como sendo uma mentira perpetrada pelos seus inimigos. O projeto cabe à Gab, rede social de extrema-direita e de reputação antissemita, segundo a Rolling Stone. É apresentado como uma alternativa aos chatbots direcionados para o grande público, que espelham uma visão do mundo “liberal/globalista/talmúdica/satânica”, nas palavras de Andrew Torba, o CEO da Gab, que prometeu construir um sistema que defenda a “verdade histórica e bíblica”. “Se o inimigo vai usar esta tecnologia para o mal, não deveríamos estar no terreno construindo uma para o bem?”, acrescentou. Veiculará crenças da supremacia branca, extremismo antissemita e teorias da conspiração sobre as vacinas. O plano é alcançar a dominação ariana mundial. “Gab está a tornar-se uma empresa de Inteligência Artificial com liberdade de expressão”, afirmou Torba à Rolling Stone. “Permitimos que as pessoas utilizem IA que reflita as suas preferências, não as preferências das grandes corporações e grupos de pressão política.” Sem travões, portanto, ao contrário da propaganda nazi.

As empresas tecnológicas não estão indiferentes a estes novos perigos e introduziram regras para os conter. Plataformas como a Meta (detentora do Facebook, do Instagram e do Threads) e o Google exigem que as campanhas políticas divulguem se os seus anúncios foram alterados digitalmente. O TikTok força os conteúdos sintéticos ou manipulados, que mostrem cenas realistas, a serem devidamente etiquetados ou legendados, assim como proíbe estes materiais fraudulentos, caso prejudiquem a imagem das pessoas em causa, sejam figuras públicas ou não.

Tanto o TikTok como a Meta fizeram investimentos avultados em recursos de deteção de alta qualidade. Mas continua a ser difícil conter a publicação e a partilha destes conteúdos maliciosos, sobretudo nas redes mais despreocupadas. Veja-se o que aconteceu com o deepfake pornográfico de Taylor Swift (ver caixa), partilhado 47 milhões de vezes, em 17 horas, antes de ser removido do X. Quando Elon Musk adquiriu o outrora Twitter, despediu grande parte da equipa responsável por conter a desinformação, em outubro de 2022, e o desinvestimento na moderação tornou mais fácil espalhar rumores. Agora, o X comprometeu-se a rotular ou a remover comunicações manipuladas enganosas, caso provoquem danos, nomeadamente na estabilidade política.

Durante este ano eleitoral, saber se as plataformas irão conseguir reagir em tempo útil, com a mesma rapidez das narrativas virais, é outra história.

O poder das leis

Recentemente, pela publicação de desinformação relacionada com a guerra na Faixa de Gaza, a Comissão Europeia (CE), ao abrigo da Lei dos Serviços Digitais, abriu um processo inédito contra o X. Esta legislação europeia, em vigor desde agosto de 2023, obriga as plataformas a atuarem perante este tipo de conteúdos ilegais, através da moderação de conteúdos e do combate à manipulação. Caso se comprovem as falhas da rede social, será aplicada uma multa de até 6% do seu volume de negócios global – em 2022, ascendeu a cerca de 264 milhões de dólares (242 milhões de euros). “O tempo em que as grandes plataformas online se comportavam como se fossem ‘grandes demais para se importar’ chegou ao fim”, disse o comissário europeu Thierry Breton.

Dificilmente os legisladores conseguirão acompanhar a velocidade das transformações tecnológicas. A União Europeia (UE) tem tomado a dianteira na regulamentação, e ainda deverá ratificar, em abril, a Lei da Inteligência Artificial, que pretende banir alguns usos desta tecnologia. “É um diploma criticado porque tem a aspiração de regular aquilo que alguns dizem que é irregulável”, aponta Graça Canto Moniz, jurista, professora universitária e CEO da FUTURA, empresa de consultadoria especializada no espaço cibernético. “Tem aspetos positivos, como o facto de assentar numa lógica de risco, com vários níveis, definindo um elenco de utilizações da IA proibidas, nomeadamente pelos políticos”, acrescenta. No entanto, só deverá entrar em vigor cerca de um ano e meio após a sua ratificação. “Até lá, estamos parcialmente desprotegidos das deepfakes.”

Democratização A acessibilidade das ferramentas de Inteligência Artificial generativa levou ao aumento exponencial de conteúdos falsos

Quem vive em democracias maduras estará mais protegido. “Estamos num sistema em que os partidos se vigiam uns aos outros, há uma pressão sobre as plataformas e, portanto, as fake news desaparecem rapidamente”, tranquiliza Gustavo Cardoso. “É mais complicado quando versam não sobre candidatos, mas sobre temáticas – aí as narrativas vivem mais tempo, por exemplo, quando tratam dos temas de eleição escolhidos pela extrema-direita, como a imigração ou os direitos das mulheres e das pessoas LGBT”, adianta. “Onde prolifera a maioria das coisas é naquela zona cinzenta, entre a liberdade de expressão e aquilo que se pode considerar desinformação, e pode ser criminalizado.”

O maior risco de um uso abusivo da Inteligência Artificial generativa, contudo, está em regimes mitigados de democracia. Recorde-se a denúncia de Frances Haugen, ex-funcionária da Meta, que revelou documentos internos da empresa à comunicação social, onde se mostrava que, em países não falantes de inglês, havia menos moderação nas redes sociais. A capacidade (e a vontade) desses Estados de forçarem a regulação das plataformas também será distinta.

“Se formos a países como a Índia e o Paquistão, não há a mesma preocupação com a desinformação”, sublinha Vítor Tomé, “e a literacia mediática é completamente diferente”. A esperança é de que venha a funcionar o denominado “efeito de Bruxelas”, e que a UE consiga exportar o seu modelo legal para outras geografias. “Tem sido bem-sucedida em algumas áreas, como, por exemplo, na proteção de dados, mas em relação à IA tenho algum ceticismo”, indica Graça Canto Moniz.

Certos passos já foram dados. Segundo a Reuters, a Índia, a Indonésia e o Paquistão aprovaram recentemente legislação para vigilância dos conteúdos online e penalização das redes sociais quando permitam a propagação de desinformação. Mas teme-se que, nestes países, onde também irão decorrer eleições este ano, as plataformas não estejam a ser devidamente diligentes.

Na Indonésia, um vídeo ressuscitou o ditador Suharto (falecido em 2008), para manifestar o seu apoio aos candidatos do Golkar, o seu anterior partido. Publicado pelo secretário-geral e visionado 4,5 milhões de vezes nas redes sociais, incendiou o debate sobre o uso de deepfakes em campanhas eleitorais. 

Joe Biden
Uma gravação áudio do Presidente dos EUA, gerada por Inteligência Artificial, divulgada em meados de janeiro, dissuadia os democratas registados de votar nas eleições primárias de New Hampshire

Carlos Melconian
Escolhido como ministro da Economia por Patricia Bullrich, candidata às presidenciais argentinas, foi divulgada em outubro uma gravação de voz em que falava da oferta de lugares no governo em troca de favores sexuais

Michal Šimečka
O candidato liberal nas eleições legislativas eslovacas foi vítima de um áudio falso, em que falava de formas de manipular as votações, tornado viral dois dias antes da abertura das urnas, no final de setembro

Um reel do Instagram, com o primeiro-ministro indiano Narendra Modi a cantar em idiomas regionais, viralizou recentemente, sem que tenha sido identificada a sua criação por IA. A mistura entre política e entretenimento, neste caso, tem conquistado a atenção dos eleitores. “Acabamos por desvalorizar o peso político daquilo que está a fazer-nos rir. Somos desarmados através do riso e desistimos do combate político. Mas há um preço a pagar pela normalização do disparate”, considera Gustavo Cardoso. E nem sempre a sátira e a paródia política assumem contornos tão benevolentes.

Algumas tecnológicas, como a Meta e o Google, têm recorrido ao uso de marcas de água invisíveis que permitem identificar quando determinada imagem é criada com as suas ferramentas de IA generativa. “São soluções interessantes, que mostram que a tecnologia também tem sido parte da equação no que diz respeito à regulação”, entende Graça Canto Moniz. Outras, como o X, não têm sido tão proativas – as “notas da comunidade”, que aparecem em mensagens potencialmente enganosas para fornecer informações adicionais ou pontos de vista contrastantes, não estão a ser implementadas com rapidez suficiente. No contexto de eleições, isso tem sido preocupante.

“Estamos numa época perigosa, mas não é por causa das deepfakes, é porque temos evoluído para um discurso político polarizador e que nos conduz para a morte das democracias”, defende Gustavo Cardoso. A tecnologia, afinal, “é um mero instrumento daquilo que tem sido a evolução do medo e da desconfiança em relação à política”. Resta saber se conseguiremos quebrar este ciclo e restabelecer a confiança.

Em defesa das vítimas de deepfakes pornográficos

Imagens sexualmente explícitas de Taylor Swift apareceram em várias plataformas e tornaram-se virais, provocando a indignação dos fãs, do público em geral e até da Casa Branca. O caso poderá ajudar a promover legislação

Foto: Buda Mendes/TAS23/Getty Images

O efeito foi explosivo. Imagens pornográficas de Taylor Swift, produzidas com recurso à Inteligência Artificial (IA) generativa, correram as redes sociais a uma velocidade impressionante, no final de janeiro. Um só tweet do X (outrora, Twitter), teve 47 milhões de visualizações, em 17 horas, antes de ser removido, mais uma prova das debilidades de moderação da rede social de Elon Musk, que supostamente proíbe a nudez não consentida.

As swifties, a possante e dedicadíssima comunidade de fãs da cantora norte-americana, reagiram em força, inundando as redes sociais com frases de apoio e conteúdos inócuos que esconderam as deepfakes dos motores de busca. O escândalo chegou inclusive à Casa Branca, com Karine Jean-Pierre, a porta-voz, a manifestar a sua inquietude numa conferência de imprensa: “Isto é muito alarmante. Vamos fazer o que pudermos para lidar com esta questão.”

Afinal, as deepfakes poderão ter uma motivação política. O namorado de Taylor Swift, Travis Kelce, jogador-estrela dos Kansas City Chiefs, prepara-se para enfrentar os San Francisco 49ers na Super Bowl, o maior acontecimento desportivo dos Estados Unidos, marcado para o próximo dia 11. Começou então a correr mais uma teoria da conspiração mirabolante, de que a artista iria dar um espetáculo no intervalo do jogo e aproveitar a ocasião para expressar o endosso do seu voto a Joe Biden.

Entre os apoiantes mais fervorosos de Donald Trump, os ataques a Taylor Swift, conhecida pelos seus valores mais próximos dos democratas – nomeadamente a defesa dos direitos LGBTI, já eram constantes, tanto nas redes sociais como em estações de televisão pró-republicanas. Um apresentador da Fox News tinha inclusive acusado o governo dos Estados Unidos de a envolver numa operação secreta do Pentágono que visava reeleger Joe Biden.

Uma poderosa força eleitoral

Se há figura pública capaz de influenciar os resultados eleitorais é, sem dúvida, Taylor Swift. “É das poucas cartadas que podem mudar o curso eleitoral, se conseguir mobilizar os mais jovens a votarem, porque nestas faixas etárias o voto é mais democrata”, entende Gustavo Cardoso, diretor do OberCom – Observatório da Comunicação.

A equipa de campanha de Joe Biden tem sido prudente nos comentários, mas não se importaria, certamente, de receber tal apoio. Contudo, a artista não se tem manifestado publicamente sobre a sua preferência nestas eleições. No passado, quando a inquiriam sobre a escolha de um candidato, respondia: “Tenho o direito de votar, mas não de dizer a outras pessoas o que fazer.” E tem sido comedida nos seus endossos.

Não imaginaria, contudo, que este caso sórdido poderia promover uma reforma legislativa. Um grupo bipartidário de senadores dos Estados Unidos aproveitou a ocasião para apresentar, a 30 de janeiro, um projeto de lei a criminalizar a disseminação de imagens sexuais não consensuais geradas por IA. O DEFIANCE Act permitirá às vítimas de deepfakes sexualmente explícitos exigir a responsabilidade de quem produziu as imagens ou vídeos falsos, mas também de quem distribuiu ou recebeu esse conteúdo, sabendo ou ignorando a falta de consentimento.

Este é um problema cada vez mais premente. De acordo com o DeepTrace Labs, serviço de identificação de conteúdos falsos, 96% de todos os deepfakes online são vídeos fraudulentos e não consensuais de mulheres, sobretudo de artistas famosas. Usam o seu rosto e colam-no no corpo de protagonistas de materiais pornográficos.

Legalmente, as vítimas pouco poderiam fazer para reagir. “Embora as imagens possam ser falsas, o dano causado às vítimas pela distribuição de deepfakes sexualmente explícitos é muito real”, disse Dick Durbin, um dos senadores, num comunicado de imprensa. “Ninguém – nem celebridades, nem americanos comuns – deveria ser apresentado em pornografia de IA. Pessoas inocentes têm o direito de defender a sua reputação e responsabilizar os perpetradores em tribunal. Este projeto tornará isso realidade”, acrescentou Josh Hawley, outro dos legisladores.

Decisiva O poder de Taylor Swift é temido entre os republicanos. Se a artista der o seu apoio público a Joe Biden, pode influenciar muitos jovens eleitores. Há quem situe nesta guerra política o vídeo deepfake da cantora em situações pornográficas – uma espécie de revenge porn para a desmoralizar

Até porque os danos são brutais. Começando nas escolas, onde este tipo de manipulação de imagens está a ser largamente usado como uma forma de bullying, e continuando no local de trabalho – uma vítima de um porno deepfake terá sempre de o referir numa entrevista de emprego, por exemplo, não vá aparecer numa pesquisa do Google.

“Temos de ultrapassar a ideia de que, pelo facto de estar online e classificado como fake, não é prejudicial”, comentou a escritora Laura Bates, autora do livro Men Who Hate Women, ao jornal The Guardian. “As pessoas pensam que não é violência. E não há nenhuma responsabilização para as empresas tecnológicas que permitem que estas coisas se espalhem, nada lhes acontece”, sublinha. Talvez seja altura de isso mudar.

Palavras-chave:

A Galp obteve resultados líquidos de mil milhões de euros em 2023, mais 13,7% que no ano anterior, impulsionada por um “sólido desempenho” em todas as unidades de negócio, anunciou hoje a empresa.

A Galp referiu que o EBITDA (resultado antes de impostos) foi de 3,56 mil milhões de euros, menos 7,6% do que em 2022, de acordo com um comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

Por categoria, o EBITDA do ‘Upstream’ (exploração e produção de petróleo e gás natural) foi de 2,26 mil milhões de euros no ano passado, uma descida de 26,6%.

A empresa justificou a queda com a redução do preço do petróleo no mercado mundial, sublinhou que a produção aumentou 6% em 2023.

Na categoria ‘Industrial and Midstream’ (transporte, armazenagem e marketing de crude e gás natural), o EBITDA atingiu 929 milhões de euros no ano passado, mais do dobro do registado em 2022.

No entanto, a Galp admitiu esperar uma redução de 13% no EBITDA este ano.

A dívida líquida do grupo subiu de 1,21 mil milhões de euros no final de setembro para 1,4 mil milhões de euros no final de dezembro.

VQ (MC) // EJ

Palavras-chave:

A PSP deteve 430 pessoas no continente e nas ilhas da Madeira e Açores, das quais mais de uma centena por crimes rodoviários, durante a operação Carnaval em Segurança 2024, que termina na terça-feira, anunciou a corporação.

Em comunicado, a PSP explica que das 104 detenções por crimes rodoviários entre os dias 05 e 11 de fevereiro, 56 foram por condução sob efeito do álcool e 48 por falta habilitação legal para conduzir.

Foram ainda detidos 45 pessoas por suspeita de tráfico de droga e apreendidas mais de 15.000 doses individuais.

A PSP deteve ainda 35 pessoas por crimes contra a propriedade e cumpriu 155 mandados de detenção judiciais.

No mesmo período, foram apreendidas 39 armas de fogo e 22 armas brancas, quer como medida cautelar, quer no seguimento das 13 detenções efetuadas por posse de armas proibidas.

Desde o início da operação, a PSP fiscalizou, em todo o território nacional e na sua área de intervenção, 9.225 condutores e controlou por radar 43.639 viaturas.

No total foram registadas 2.203 contraordenações, das quais 402 por excesso de velocidade, 76 por condução sob efeito do álcool, 208 por falta de inspeção periódica obrigatória, 74 por falta de seguro e 41 por uso do telemóvel durante a condução.

Foram registados 1.038 acidentes, dos quais resultaram duas vítimas mortais, cinco feridos graves e 326 ligeiros.

Na nota hoje divulgada, a PSP apela a todos os condutores que adaptem a sua condução às condições climatéricas e ao estado do piso, sublinhando a importância de reduzir a velocidade e não ingerir bebidas alcoólicas, evitando assim duas das principais causas da sinistralidade rodoviária.

A propósito das festividades carnavalescas, e relativamente à aquisição/uso de artigos de pirotecnia, a PSP relembra que, para garantir a segurança de todos, qualquer utilização destes artigos terá de cumprir sempre os requisitos legais.

Recorda que a venda de artigos de pirotecnia só é permitida em estabelecimentos devidamente licenciados pela PSP, não sendo permitida a venda ‘online’ destes artigos.

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Um navio foi hoje atacado “por dois mísseis” ao largo das costas meridionais do Iémen, disseram duas agências de segurança marítima britânicas.

“A tripulação está livre de perigo e o navio dirige-se para o próximo porto de escala”, indicou a agência de operações comerciais marítimas do Reino Unido (UKTMO, na sigla em inglês), sem avançar pormenores.

O incidente registou-se antes das 04:00 (01:00 em Lisboa), numa zona onde os rebeldes Huthis do Iémen têm atacado, em diferentes ocasiões e ao longo dos últimos meses, navios que se encontram no mar Vermelho.

Uma outra agência de segurança, Ambrey, indicou que o navio graneleiro, com pavilhão das Ilhas Marshall, “visado por mísseis em dois incidentes separados”, foi atingido, tendo sofrido danos.

Desde novembro que os rebeldes Huthis dizem desencadear estas ações, no mar Vermelho e no golfo de Aden, contra navios que consideram ligados a Israel para apoiar os palestinianos na Faixa de Gaza, enclave cercado e bombardeado pelas forças israelitas em guerra contra o movimento islamita palestiniano Hamas.

Estes ataques obrigam numerosos armadores a suspender a passagem por esta zona, por onde transita 12% do comércio mundial.

Primeiro aliado de Israel, Washington voltou a designar os Huthis como “entidade terrorista” e lançou, em dezembro, uma coligação multinacional “de proteção” do tráfego marítimo.

Sem conseguir travar os ataques dos Huthis, as forças norte-americanas e britânicas desencadearam vários ataques no Iémen desde meados de janeiro.

Apoiados pelo Irão, os rebeldes Huthis controlam grande parte do Iémen, depois de quase uma década de guerra contra o Governo iemenita neste país pobre da península arábica, também ele confrontado com uma grave crise humanitária.

EJ // VQ

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“As vastas reservas de gás do país poderão fazer de Moçambique um dos dez maiores produtores mundiais, responsável por 20% da produção de África até 2040”, refere o relatório de 2024 da consultora internacional sobre as perspetivas energéticas de África, dedicado a Moçambique, a que a Lusa teve hoje acesso.

Moçambique poderá “contribuir significativamente para as necessidades energéticas mundiais, tanto durante o período de transição energética como estabelecendo capacidades fortes em toda a cadeia de valor das energias renováveis. A transição para as energias renováveis apresenta uma oportunidade para responder às necessidades energéticas do país, ao mesmo tempo que ultrapassa a adoção de tecnologia e desenvolve cadeias de valor locais e as novas competências para satisfazer estas necessidades da indústria”, lê-se.

O relatório aponta que se espera que o gás natural “traga cerca de 100 mil milhões de dólares de receitas para Moçambique ao longo do seu ciclo de vida” e que o país tem ainda “uma vantagem competitiva significativa em energias renováveis com ativos hidroelétricos, como a barragem de Cahora Bassa (2.000 MW) e o “potencial futuro” da barragem de Mphanda Nkuwa (1.500 MW), “permitindo a descarbonização da indústria regional”.

“O país também tem um elevado potencial solar”, destaca o relatório, referindo-se às centrais (80 MW) que já foram instaladas em Mocuba e Metoro.

“Espera-se que a procura de eletricidade pelas famílias aumente com o ambicioso programa de eletrificação do Governo”, denominado “Energia para Todos”, bem como pelo “aumento do uso obrigatório de biocombustíveis” decidido pelo executivo, acrescenta a Deloitte.

“Com medidas eficazes, Moçambique poderá tornar-se um centro energético na África austral”, aponta o relatório.

Medidas, acrescenta a consultora, como a definição “de um plano estratégico para cada fonte de energia”, o desenvolvimento das “cadeias de valor e indústrias locais ligadas às energias renováveis e produtos associados”, a atração do setor privado, a promoção da liberalização económica e modificações ao quadro jurídico.

“Moçambique precisa de definir uma estratégia para navegar na descarbonização dos mercados globais e da sua própria economia. Especificamente, como se posicionar nas diversas cadeias de valor, vendendo energia e outros produtos e serviços de valor acrescentado, em vez de vender apenas os produtos associados, como o gás, o carvão e os minerais raros”, defende o relatório da Deloitte.

Moçambique tem três projetos de desenvolvimento aprovados para exploração das reservas de gás natural da bacia do Rovuma, classificadas entre as maiores do mundo, ao largo da costa de Cabo Delgado.

Dois desses projetos têm maior dimensão e preveem canalizar o gás do fundo do mar para terra, arrefecendo-o numa fábrica para o exportar por via marítima em estado líquido.

Um é liderado pela TotalEnergies (consórcio da Área 1) e as obras avançaram até à suspensão por tempo indeterminado, após um ataque armado a Palma, em março de 2021, altura em que a energética francesa declarou que só retomaria os trabalhos quando a zona fosse segura.

O outro é o investimento, ainda sem anúncio à vista, liderado pela ExxonMobil e Eni (consórcio da Área 4).

Um terceiro projeto concluído e de menor dimensão pertence também ao consórcio da Área 4 e consiste numa plataforma flutuante de captação e processamento de gás para exportação, diretamente no mar, que arrancou em novembro de 2022.

A plataforma flutuante deverá produzir 3,4 milhões de toneladas por ano (mtpa) de gás natural liquefeito, a Área 1 aponta para 13,12 mtpa e o plano em terra da Área 4 prevê 15 mtpa.

PVJ // VQ

Vários ataques aéreos israelitas causaram hoje “cerca de 100 mortos” em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, disse hoje o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo grupo islamita palestiniano Hamas.

Num novo balanço, o Ministério elevou de 52 para “cerca de 100 mortos” a estimativa dos ataques contra a cidade situada no extremo sul de Gaza, junto à fronteira com o Egito.

O Ministério tinha indicado que os ataques atingiram 14 casas e três mesquitas em diferentes áreas de Rafah.

As Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) afirmaram terem realizado “uma série de ataques contra alvos terroristas na área de Shabura”, uma zona de Rafah, de acordo com um comunicado.

O exército israelita acrescentou que os ataques no sul da Faixa de Gaza já terminaram, sem adiantar quaisquer informações sobre alvos ou possíveis danos e vítimas.

Também hoje, as IDF anunciaram o resgate em Rafah de dois israelitas feitos reféns durante o ataque do Hamas em solo israelita em outubro.

O exército israelita acrescentou que “três terroristas foram mortos no edifício”, indicou num relatório preliminar.

De acordo com autoridades palestinianas, a operação de libertação dos reféns causou a morte de pelo menos sete pessoas.

No domingo, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, ordenou ao exército que preparasse uma ofensiva contra Rafah, onde chegaram, nas últimas semanas, mais de 1,3 milhões de palestinianos em fuga da guerra.

VQ // EJ

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