Guantánamo
A base naval que os EUA ocupam no Sudeste da ilha de Cuba desde 1903, contra a vontade das autoridades de Havana, converteu-se numa prisão de alta segurança no início deste século, no âmbito da guerra ao terrorismo declarada pela Administração de George W. Bush. Barack Obama e Joe Biden prometeram encerrar o complexo, onde permanecem uns 25 suspeitos de envolvimento nos atentados de 11 de setembro, mas Trump diz que estas instalações podem servir para colocar “30 mil criminosos”.  

Alcatraz
No início de maio, Trump ordenou a reabertura e a ampliação da ilha-prisão que funcionou entre 1865 e 1963. A fortaleza da baía de São Francisco, tida como inexpugnável e também conhecida como “Rochedo”, acolheu prisioneiros ilustres, como Al Capone, e desde o seu encerramento que funciona como uma atração turística. Desconhecem-se ainda quais os planos da Casa Branca, mas nas últimas semanas as visitas ao complexo dispararam. 

El Salvador
Inaugurada há dois anos, tem capacidade para 40 mil reclusos e é uma das maiores prisões do mundo. Conhecida pelas suas siglas (CECOT), o Centro de Confinamento do Terrorismo já recebeu mais de 300 migrantes (maioritariamente venezuelanos) expulsos dos EUA. Especula-se que o complexo pode vir a ser rebatizado para CECOT-Trump e o regime do Presidente Bukele já se disponibilizou para acolher “criminosos” de qualquer outro país.

Guiana francesa
O governo de Emmanuel Macron quer abrir até 2028 uma megaprisão no cenário amazónico descrito por Henri Charrière, no livro Papillon, depois adaptado ao cinema no filme com o mesmo nome protagonizado por Dustin Hoffman e Steve McQueen. A penitenciária será erguida em Saint-Laurent-du-Maroni, antiga cidade-prisão de onde partiam os detidos para a Ilha do Diabo, colónia penal que funcionou entre 1852 e 1954 e onde o tempo médio de vida dos prisioneiros rondava os cinco anos.

Albânia
Em fevereiro de 2024, os governos de Tirana e de Roma celebraram um acordo para a Albânia acolher dois centros de “processamento” e “acolhimento” de requerentes de asilo, em Shëngjin e Gjadër. As duas infraestruturas custaram quase 70 milhões de euros e, segundo as partes, iriam dinamizar as economias locais. Em outubro, chegaram os primeiros 16 migrantes – maioritariamente do Egito e do Bangladesh –, mas só permaneceram ali seis dias, pois a justiça transalpina ordenou que regressassem ao território continental de Itália por lhes terem sido negados direitos básicos. O imbróglio está para durar e a solução pode depender do Tribunal de Justiça da União Europeia.

Ruanda
O país africano liderado por Paul Kagame tornou-se um íman para países interessados em resolver problemas migratórios de forma expedita. Em 2019, o Reino Unido, então liderado por Boris Johnson, assinou uma parceria com o governo de Kigali e, desde então, sucederam-se os casos similares (Holanda, Bélgica, Dinamarca…), sempre sem efeitos práticos por oposição da justiça. No entanto, as negociações prosseguem. Os EUA já enviaram alguns migrantes do Médio Oriente para território ruandês, mas Kagame exige mais de 100 mil dólares para acolher cada um.

Santa Helena
É um pequeno arquipélago perdido no Atlântico Sul, ao largo de Angola e da Namíbia, cuja soberania depende do Reino Unido e ficou na História como o local onde se exilou e morreu Napoleão (em 1821). Keir Starmer, após ser eleito primeiro-ministro britânico, no verão do ano passado, afirmou que as deportações de migrantes para o Ruanda eram “imorais”. No entanto, em outubro, recorreu a um esquema semelhante para deportar os estrangeiros indocumentados que se encontravam nas ilhas Chagos, outro território ultramarino controlado por Londres, no Índico, que motivou um longo contencioso jurídico com as Maurícias. Resultado: cerca de três mil cidadãos do Sri Lanka, de etnia tamil, foram enviados para Timor-Leste, Roménia, Brasil e, claro, Santa Helena.

Porque é que desafia a ideia corrente de que a geografia determina o destino?

A sugestão de que as nações são prisioneiras da sua geografia física é uma extensão do determinismo ambiental, segundo o qual fatores como as características da paisagem e o clima são entendidos como tendo um papel decisivo na formação das características humanas. Estas ideias são atraentes porque oferecem uma representação aparentemente óbvia e inteligível de um mundo complexo. No entanto, é também uma forma de compreender o mundo que coloca inevitavelmente um grupo ou nação acima de outro.

Embora os rios, os solos férteis, os recursos, a pluviosidade e as linhas costeiras tenham desempenhado papéis fundamentais na localização das povoações e das atividades humanas, afirmar que tudo decorre da geografia física é negar e desprezar o papel dos próprios seres humanos. A partir de ideias e inovações, os seres humanos estão constantemente a mudar a sua relação com o mundo. Sem nós, não haveria continentes, nem nações, nem economias. Em vez de ficarmos presos a uma visão míope do planeta que não consegue ver para lá dos horizontes da geografia física, o desafio dos nossos tempos é captar as ideias, as ligações e os encontros que sempre definiram a nossa relação com a Terra e uns com os outros.

Um dos mitos centrais que aborda é o de que a Europa é o centro do mundo. Porquê? Quais são as consequências da perspetiva eurocêntrica?

A ideia de que a Europa é o centro do mundo é uma questão de perspetiva. Em termos geográficos, a Europa não é um continente, mas uma mera península da Ásia. Situa-se no extremo ocidental de uma placa tectónica euro-asiática, enquanto no seu extremo sul, o Mediterrâneo tem servido durante milénios como uma rede de ligação.  Só em comparação com os outros continentes é que um Eu europeu – geralmente representado como comedido, racional e progressista – se pode definir como o oposto binário dos Outros. Na Ásia, a riqueza e a diversidade de uma paisagem e de povos que se estendem da Turquia ao Japão foram reduzidas a um composto cultural grosseiro de ser “oriental”. A invenção de cada continente exigiu que estes fossem preenchidos com o que uma imaginada cultura “europeia”, “asiática” ou “africana” deveria ser, mas onde essa cultura singular não existia.

Como é que o mito do expansionismo russo molda a geopolítica contemporânea?

A invasão da Ucrânia por Putin não é um resultado inevitável da sua posição geográfica, ou simplesmente o último avanço de uma potência insaciável que se apodera de terras. Tem mais a ver com um sistema político que bloqueia a oposição independente, um governo que não tolera críticas e uma oligarquia cleptocrática que existe para se enriquecer. Um tal sistema de poder sem controlo deixa o país à mercê dos caprichos desses déspotas e, por detrás de todas as mentiras e fanfarronices, está uma guerra sem fim para manter Putin e as suas elites no poder.

O perigo de nos centrarmos apenas em mitos expansionistas para explicar as ações da Rússia é que isso oculta uma ameaça muito real – a ativação do ódio etnonacionalista e uma reivindicação territorial de partes da Ucrânia que se destina a mostrar ao mundo que a Rússia continua a ser uma grande potência e que deve ser respeitada. É uma reivindicação apelativa para alguns, mas o problema para Putin é que a Rússia não só cortou os seus laços com a Ucrânia – o seu outrora aliado mais próximo –, mas também com a maioria das economias avançadas do mundo. Com poucos amigos e poucas alternativas, a Rússia viu-se obrigada a assumir o incómodo papel de parceiro júnior da China. Em vez de a Rússia voltar a ser uma grande potência, Putin pode estar a assistir ao pôr do sol sobre a longa sombra do Império Russo.

Os Mitos da Geografia

Um livro que apresenta oito maneiras de entender o mundo de forma errada, por Paul Richardson (ed. Casa das Letras)

“Estou velho!/Dói-me o joelho/Dói-me parte do antebraço/Dói-me a parte interna/De uma perna/E parte amiga/Da barriga/Que fadiga/O que é que eu faço?” Assim canta Sérgio Godinho em O Elixir da Eterna Juventude. E para não se acabar, como na canção, num “mea culpa, mea culpa”, ouçamos o que podemos fazer para retardar o mais possível as terríveis e dolorosas doenças dos ossos. “Diríamos até que, se o idoso pudesse e o jovem soubesse, se esbateria a diferença de idades!”, comenta o médico António Vilar.

Quais são as doenças reumáticas que mais afetam os idosos?

A mais prevalente é, sem dúvida, a osteoartrose (ou artrose), que tem origem na cartilagem articular e afeta particularmente as articulações de carga, a coluna e as mãos. Os fatores de risco já conhecidos incluem a idade, excesso de peso, género, alterações estruturais, traumatismos ou microtraumatismos repetidos com stresse articular. A artrose das mãos com deformação óssea dos dedos dói, pelo menos na fase inicial, podendo persistir com o movimento e após imobilização prolongada. Na coluna, pode afetar drasticamente a mobilidade, com rigidez e anquilose, e é a principal causa de lombalgia crónica no idoso. Outras duas localizações que podem afetar drasticamente a marcha são a artrose dos joelhos e a das ancas, podendo terminar com uma prótese total.

A osteoporose é inevitável?

Pode dizer-se que, se vivermos o suficiente, todos teremos osteoporose. A sua principal consequência são as fraturas. Em Portugal, registam-se mais de 12 mil fraturas/ano. Embora afete o homem dez anos mais tarde do que a mulher, aos 70 anos a osteoporose é um problema de saúde pública (e de sobrevivência), pois as fraturas da anca matam 25% dos doentes (mais do que o cancro da mama e do ovário juntos!) no primeiro ano após a fratura, e apenas 15% recuperam a capacidade funcional prévia. Os restantes ficam dependentes da ajuda de terceiros. O maior erro clínico é atribuir à osteoporose a causa das dores ósseas que ocorrem nos idosos, já que se trata de uma ameaça silenciosa e só quando ocorrem fraturas é que provoca dor.

Quais são os principais fatores de risco?

O género, a etnia, o índice de massa corporal, a idade, a existência de fratura prévia por fragilidade ou de pais que tenham tido fratura da anca. Também o tabagismo, o consumo de álcool e a toma de corticoides por mais de três meses. Doenças como a artrite reumatoide, o hipertiroidismo, a diabetes e o hipogonadismo são também fatores de risco. A prevenção faz-se com intervenções medicamentosas e não medicamentosas. Destas últimas, lembro a importância do exercício. Mesmo sem ir ao ginásio ou correr, ande – caminhar entre 30 e 45 minutos estimula a atividade do osso, contraria a perda muscular e melhora a coordenação motora. Mas procure não caminhar em pisos escorregadios.

Quais os cuidados que devemos ter em casa?

Retirar os tapetes, tenha muito cuidado com os animais domésticos, use iluminação adequada, coloque corrimãos nos corredores e nas escadas, evite camas altas, não tenha fios elétricos espalhados, use bases para duche e tenha suportes e apoios, não use chinelos, apoie-se numa bengala ou canadiana se tiver desequilíbrio na marcha. Algumas intervenções possíveis para evitar quedas são: não receitar sedativos, evitar polimedicação, avaliar a visão periodicamente, evitar o álcool, ter cuidado com alguns remédios para a hipertensão, acender a luz ao levantar-se de noite, nunca subir a bancos ou cadeiras e eventualmente usar protetores da anca.

Caminhar entre 30 e 45 minutos estimula a atividade do osso, contraria a perda muscular e melhora a coordenação motora

António Vilar, Presidente da Sociedade Portuguesa de Reumatologia

A alimentação é importante?

A alimentação rica em cálcio ou suplementos até 1 000 mg/dia (quadro) e a suplementação de vitamina D, pelos benefícios que acrescenta (além da absorção do cálcio, diminui o risco de quedas nos idosos ao melhorar a resposta propriocetiva neuromuscular), são muito importantes. Todos os tratamentos da osteoporose implicam ingestão ou suplementação de cálcio e vitamina D.

Que outras doenças merecem destaque?

Há outras menos frequentes, como a polimialgia reumática, que se manifesta com dor e limitação nas cinturas pélvica e escapular, afetando seriamente a autonomia dos doentes. Os sintomas são febre habitualmente baixa, perda de peso e do apetite, acompanhados de alteração do humor e depressão. O envolvimento da coluna cervical acompanha muitas vezes o quadro inicial. Vinte por cento destes doentes podem ter associado um quadro de arterite temporal com dor, tumefação e edema da artéria temporal superficial e/ou claudicação da fala, por arterite de células gigantes. Esta apresentação pode acompanhar-se de neurite isquémica ótica com evolução rápida para cegueira irreversível.

Já as artrites microcristalinas por deposição de cristais de pirofosfato de cálcio, também designadas por condrocalcinose, podem comportar-se, no idoso, como uma inflamação aguda com quadros de monoartrite mais frequente nos joelhos, mas também nos punhos, ombros, tornozelos e cotovelos, raramente envolvendo mais do que uma articulação na mesma crise.

Uma referência breve para a gota aguda do idoso, que é mais frequente naqueles com ácido úrico elevado de longa duração, que fazem diuréticos (particularmente tiazidas) ou com insuficiência renal.

Gostaria de lembrar também alguns dos reumatismos justa-articulares como a bursite do joelho, as tendinites do ombro e a trocanterite da anca, que ocorrem neste grupo etário por sobrecarga, desalinhamento ou hiperesforço. Podem ser muito incapacitantes, e o aconselhamento e tratamento depende muito da etiologia. No caso da tendinite do ombro, que designo muitas vezes por “tendinite do avô”, ocorre e é despertada pelo transporte ao colo do neto que, até completar 1 ano de vida, pode chegar aos 12 quilos! A trocanterite e a bursite do joelho surgem muitas vezes após caminhadas, subir e descer escadas repetidamente ou começar o ginásio sem conta, peso e medida…

Finalmente, dores ósseas podem ocorrer no idoso na sequência de síndromes paraneoplásicas ou de metástases ósseas de cancro da próstata, tiroide, mama ou rim.

Artigo publicado na VISÃO Saúde nº 33

Palavras-chave:

O 47º Presidente dos Estados Unidos da América prometeu a maior deportação da história. Os 13,4 milhões de migrantes indocumentados no seu país são o alvo principal. Donald Trump quer expulsar, dê por onde der, hispânicos, africanos, árabes e “os piores criminosos do mundo”. O processo já está em curso e centenas de venezuelanos, afegãos, egípcios ou birmaneses foram sumariamente detidos e enviados para sítios como El Salvador, Honduras, Cuba (Guantánamo) ou Jibuti (neste último caso, com o propósito de seguirem depois para o Sudão do Sul). No entanto, como o autor da Arte da Negociação é também um artista da mistificação, já concedeu asilo político a meia centena de agricultores brancos sul-africanos, por estarem a ser alvo de um (falso) “genocídio”, e prepara-se para distribuir os primeiros “cartões dourados”, em que consta a sua própria imagem, a qualquer estrangeiro que aceite pagar cinco milhões de dólares para fixar residência nos EUA. Será que, além de todos os outros males que lhe são atribuídos, o inquilino da Casa Branca também padece de aporofobia, o conceito cunhado por Adela Cortina, filósofa espanhola, para designar a repulsa pelos mais pobres?

De Donald Trump pode esperar-se quase tudo. Por isso mesmo se pode considerar como verosímil a notícia dada pelo Wall Street Journal e pelo Daily Mail de que o Departamento de Segurança Nacional (Ministério da Administração Interna e conhecido pelo acrónimo DHS) estaria a promover um programa de TV intitulado The American que, na prática, funcionaria como um reality show estilo “Jogos da Fome para Imigrantes”, em que diversos concorrentes, ao longo de vários episódios, lutariam pela sua permanência em solo norte-americano. O assunto deu polémica em barda e chegou ao Congresso. Interpelada diretamente pela oposição democrata, a titular do DHS, Kristi Noem, viu-se obrigada a desmentir o que o seu gabinete dissera antes aos jornais. Esse programa não será feito, a Netflix não o irá produzir e Sofia Vergara ou Mila Kunis, atrizes naturalizadas, não o iriam apresentar.

REIS DO ASILO

Não se julgue que este tipo de situações absurdas são monopólio da Administração Trump e só ocorrem do outro lado do Atlântico. Pergunta retórica e aparentemente descabida num texto sobre migrações: quem é Graham King, um dos homens mais ricos do Reino Unido, cuja fortuna aumentou 35% no último ano e, de acordo com o Sunday Times, já atinge 1015 milhões de libras (cerca de 1200 milhões de euros), suplantando até o pecúlio de Carlos III? A resposta está, grosso modo, na alcunha deste empresário de 58 anos, natural de Essex: o Rei do Asilo.

No final do século passado, Graham e o irmão, Jeff, geriam um negócio familiar que passava pela gestão de dois parques de campismo e de autocaravanas e de uma pequena frota de táxis. Em 1999, após um investimento malsucedido numa discoteca, os King criaram a Clearsprings Ready Homes e conseguiram um contrato especial com o então governo trabalhista liderado por Tony Blair. Objetivo: alojar imigrantes. A concessão correu-lhes às mil maravilhas e, em poucos anos, a empresa passou a ganhar praticamente todos os contratos com o Estado, no Sul de Inglaterra e Gales. Em 2020, Harry quis gerir o negócio sozinho e adquiriu a quota de Jeff por 70 milhões de libras. Desde então, os seus lucros decuplicaram devido ao contínuo aumento dos fluxos migratórios, sobretudo das pessoas que atravessam o canal da Mancha em lanchas pneumáticas. O número de pedidos de asilo passou de 47 mil, em dezembro de 2019, para 110 mil no mesmo mês do ano passado. Pormenor adicional. De acordo com o National Audit Office (equivalente ao nosso Tribunal de Contas), a Clearsprings e duas outras empresas similares (Serco e Mears) monopolizam por completo este tipo de contratos (tiveram lucros de quase 400 milhões de libras nos últimos seis anos) e essa situação vai prolongar-se até 2029, com um custo de 15 300 milhões de libras para os cofres públicos. Este triunvirato privado controla 395 hotéis onde ficam alojados os migrantes e ainda recebe fundos adicionais pelo fornecimento de outros bens, com alguma imprensa a denunciar que Graham King recebe, dos contribuintes, 117 libras diárias por cada estrangeiro a quem dá comida e guarida.

Atropelos No início de abril, perto de 800 mil afegãos começaram a ser deportados do Paquistão para o seu país de origem. Às Caraíbas e à América Central estão a chegar milhares de migrantes que viviam nos EUA

Um esquema que o último Executivo conservador, de Rishi Sunak, tentou minimizar, ao alugar uma gigantesca barcaça, que ficou ancorada em Portland, e, sobretudo, celebrar acordos com países em diferentes pontos do globo que aceitassem receber os candidatos ao asilo que entraram clandestinamente nas ilhas britânicas até que estes vissem a respetiva situação regularizada. Para este processo de “externalização”, a cargo da então secretária (ministra) da Administração Interna, Priti Patel (de ascendência ugandesa-indiana), o governo de Londres elaborou uma longa lista de destinos: Santa Helena (arquipélago no Atlântico Sul onde se exilou e faleceu Napoleão), Ascensão (ilha a meio caminho entre Angola e o Brasil), Papua-Nova Guiné (na Oceânia), Moldova, Marrocos… A escolha acabou por recair no Ruanda. Só que o Supremo Tribunal britânico, em novembro de 2023, considerou que o entendimento com Kigali era ilegal, por violar a legislação nacional e o direito internacional humanitário.

Em julho de 2024, o social-democrata Keir Starmer, ao tomar posse como primeiro-ministro, afirmou com veemência que deportar pessoas para o Ruanda era uma “opção imoral” e que ficava descartada. Só que a realpolitik fez mudar a opinião do antigo procurador do reino de Carlos III. A 12 de maio, na sua residência oficial em Downing Street, durante um discurso sobre a sua política migratória, Starmer tentou sensibilizar a opinião pública para a necessidade de controlar as travessias clandestinas no canal da Mancha para que o país não se tornasse uma “ilha de estrangeiros”. Tal expressão mereceu um coro de reparos por ter antecedentes graves: na primavera de 1968, um dos mais polémicos e xenófobos dirigentes do Partido Conservador, Enoch Powell, usou exatamente as mesmas palavras e foi logo acusado de racismo por se opor à entrada de cidadãos nascidos nas antigas colónias do império. Moral da história: o atual Executivo de Londres adotou uma postura similar ao de Sunak e, em vez do Ruanda, encontra-se a negociar com nove outros países para aí instalar “plataformas de retorno” para imigrantes. A imprensa londrina garante que os principais candidatos são Estados balcânicos: Montenegro, Sérvia, Bósnia e Herzegovina e Macedónia do Norte. De fora fica excluído um outro país da região, visitado por Starmer há apenas duas semanas, a Albânia. O homem que manda no governo de Tirana há mais de uma década, Edi Rama, explicou o motivo: “Temos sido sondados nesse sentido por muitos países, mas temos sempre dito não; somos leais ao nosso casamento com a Itália.” Tradução: o governo de Rama celebrou, no final do ano passado, um acordo com a Itália que prevê a transferência anual de 36 mil migrantes indocumentados para dois “centros de processamento” em território albanês (ver caixa), até ao final da presente década. Essa iniciativa iria custar aos cofres transalpinos a quantia de, pelo menos, mil milhões de euros e mereceu pronta condenação da Cruz Vermelha Internacional e das principais organizações de defesa de direitos humanos que a classificaram como “dispendiosa, cruel e contraproducente”. A realidade demonstrou que não estavam enganados. Desde a sua entrada formal em funcionamento, há oito meses, os dois complexos, em Shëngjin e Gjadër, limitaram-se a receber algumas dezenas de migrantes, porque a justiça italiana continua a pôr em causa os métodos da primeira-ministra Giorgia Meloni, acusando-a de ignorar a legislação.

CINISMO ILIMITADO

A governante que militou no movimento pós-fascista italiano tem sabido seduzir os seus pares em toda a Europa. E, tal como Keir Starmer, que visitou e elogiou Meloni em Roma, no último outono, já poucos chefes de Estado e de Governo se preocupam com os excessos migratórios da mulher que reduziu para metade as chegadas irregulares a Lampedusa e à península transalpina ‒ em rigor, à custa de permitir todo o tipo de atropelos a regras básicas, como dar carta branca para que a guarda costeira da Líbia e da Tunísia deixem os migrantes à sua sorte no Mediterrâneo ou financiar infraestruturas de policiamento nestes dois países do Norte de África para manterem inexpugnável a fortaleza Europa.

Na passada semana, após reunir-se com a sua homóloga da Dinamarca, a social-democrata Mette Frederiksen, Meloni deu a cara pela revisão da Convenção Europeia dos Direitos Humanos e das Liberdades Fundamentais, documento que entrou em vigor em 1953 e interdita, por exemplo, a discriminação, a tortura, o trabalho forçado ou a escravatura. Numa carta aberta, subscrita por nove países (Itália, Dinamarca, Polónia, Áustria, Bélgica, Chéquia, Estónia, Letónia e Lituânia), propõem-se o início de um “debate para repensar a forma como está a ser interpretada” a Convenção pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (TEDH). Entendamo-nos: endurecer as políticas migratórias da UE, restringir cada vez mais a entrada irregular de cidadãos oriundos de outros continentes e facilitar as regras de repatriamento ou deportação para países terceiros ditos seguros (ver entrevista com António Vitorino). Sugestões que a Comissão Europeia e uma parte significativa dos eurodeputados parecem estar dispostos a acolher, mas que o secretário-geral do Conselho da Europa (organização formada no pós-guerra, anterior à antiga CEE e que conta com 46 países do Velho Continente), o suíço Alain Berset, repudia por constituir uma “politização” do TEDH: “Numa sociedade em que vigora o Estado de direito, a justiça não deve ser alvo de pressões políticas. As instituições que protegem direitos fundamentais não podem estar dependentes de ciclos políticos.” Com as diferenças ideológicas a esbaterem-se entre populistas, conservadores e sociais-democratas em toda a Europa, não é de estranhar que, um destes dias, em Bruxelas, Viena, Haia ou Londres, alguém se lembre de emular o programa Regresso a Casa, de que tanto se orgulham Kristi Noem e Donald Trump. Qualquer imigrante que aceite abandonar voluntariamente os EUA tem viagem de regresso garantida ao seu país de origem e ainda recebe um lanche e mil dólares de prémio. Como diria Oscar Wilde, “um cínico é alguém que conhece o preço de tudo e não dá valor a nada”.

Palavras-chave:

Podes colocar os frutos secos na marmita?” Devagar, mas com certeza no movimento, um robô de formato humanoide, desenvolvido pela empresa Apptronik, pega numa pequena caixa e coloca-a dentro de uma lancheira. “Podes colocar também a laranja?”. De um pequeno prato com diferentes peças de fruta, o robô volta a pegar de forma lenta, mas novamente com certeza, numa laranja, colocando-a na lancheira. Não seria bom ter um robô lá por casa que lhe preparasse a marmita todos os dias? E o ajudasse noutras tarefas rotineiras, como estender a roupa, preparar as refeições ou simplesmente manter a casa arrumada? E se além da ajuda em casa, também se estendesse ao trabalho?

O exemplo aqui descrito faz parte de um dos mais recentes vídeos de demonstração do Gemini Robotics, um modelo de Inteligência Artificial (IA) desenvolvido pela Google especificamente para robôs. Nos últimos anos, os assistentes digitais evoluíram de forma significativa graças aos desenvolvimentos dos chamados grandes modelos de linguagem (LLM), que fazem com que ferramentas como o ChatGPT, o Gemini ou o Claude percebam e escrevam texto com uma qualidade muito próxima da de um humano. Mas o que começou por ser uma interação baseada apenas em texto rapidamente evoluiu para os chamados modelos multimodais – sistemas que percebem texto, imagens, sons, vídeos,  programação ou até mesmo diferentes idiomas… Estão, de certa forma, a ficar com uma inteligência mais abrangente, mais generalista.

Pelo que o salto para a robótica parecia quase inevitável – o que aconteceria se estes novos modelos de IA, com todas as suas potencialidades, fossem aplicados aos robôs? A resposta começa a ser dada e tem aparecido sob a forma de inúmeras demonstrações, de empresas diferentes – Figure, Tesla, Google e Meta – que mostram robôs a moverem-se de maneira mais natural, a realizarem tarefas mais complexas e a mostrarem um nível de mobilidade ou destreza mais aproximado do humano. Estas tecnológicas, bem como outras empresas e centros de investigação, estão a desenvolver os chamados modelos de visão-linguagem-ação (VLA na sigla em inglês), o equivalente do GPT da OpenAI, mas para robôs. E se à primeira vista pode não parecer uma transformação significativa, é uma etapa essencial no caminho para a democratização da robótica.

“Antes era difícil passar a informação para o robô, era preciso programá-lo especificamente para uma tarefa”, explica Eduardo Mendes, diretor executivo (CEO) da Connect Robotics, uma startup de drones autónomos que fazem entregas em curtas distâncias. Com os novos modelos de IA, os robôs já conseguem fazer algumas generalizações, o que significa que não é preciso instruir a máquina especificamente no manuseamento de objetos. “Os modelos de visão computacional associam o texto às imagens. Conseguem criar esta noção de que uma banana é mais provável estar na cozinha do que na casa de banho. Estes dados acabam por permitir aos robôs decifrarem coisas sobre as quais não tinham tanta certeza. Há uns anos era difícil dizermos ‘pega no copo e põe na máquina’. Máquina, mas qual a máquina? Agora percebem que é provável que seja a máquina da loiça. Com os novos modelos, conseguem perceber isso, mesmo sem ser explícito”, explica por seu lado Iolanda Leite, professora associada na divisão de robótica, perceção e aprendizagem no Instituto Real de Tecnologia KTH, na Suécia.

Eduardo Mendes. diretor executivo da Connect Robotics

Se ver um robô a pegar numa banana e a colocá-la no frigorífico (e não num micro-ondas, por exemplo), parece uma demonstração de raciocínio, o CEO da Connect Robotics lembra o que está na base destes sistemas de Inteligência Artificial avançados. “Agora podemos juntar muitos e muitos dados de câmaras e fazer a análise destes dados. Assim, estatisticamente podemos comparar os dados recolhidos. É esse o diferencial. Os LLM são dados estatísticos, o ChatGPT e Gemini em vez de processarem vídeo ou áudio, estão a encontrar a correlação estatística entre as palavras”, explica.

Ou seja, aquilo que o robô faz não é mais do que encontrar uma relação estatística entre a banana, enquanto fruta, e o local mais provável da mesma numa casa. É esta combinação estatística que faz, na demonstração da Google, que o robô da Apptronik perceba o que é uma lancheira quando o utilizador lhe pede isso especificamente. Na prática, a evolução do software e da Inteligência Artificial Generativa está a resolver aqueles que eram, na visão de Eduardo Mendes, três grandes obstáculos na robótica. “O primeiro era a perceção, depois o raciocínio e por fim a atuação. Para nós [humanos] é tudo muito óbvio.

Um robô tem uma câmara que está a visualizar muitos píxeis. O problema da perceção é como transformo esse monte de píxeis em informação real para perceber o ambiente. Como sei onde começa e termina um objeto, que objeto é, a que distância está, onde termina a mesa, onde começa a banana… Já no raciocínio, qual é a ordenação da banana? O que tenho de fazer com a banana? Há muitos problemas que são de software”, detalha o brasileiro de 41 anos, natural de São Paulo, mas a viver em Vila Nova de Gaia.

Neste contexto, o executivo lembra que existe outra área em grande desenvolvimento e que está a potenciar tanto o desenvolvimento de sistemas de IA, como de robótica – os simuladores digitais. “Permitem estatisticamente executar mil milhões de vezes cada junta de cada motor, em software, para dizer que se quero chegar ao ponto X, tenho que mexer este e aquele motor. Antes tudo era feito de forma muito definida, agora com o avanço das placas gráficas e da IA posso treinar estatisticamente de forma muito rápida o que preciso de fazer”, explica. Por exemplo, a Meta criou 20 simuladores digitais nos quais tem treinado o seu modelo de IA para robótica, que depois é aplicado em robôs em contexto real.

Já para Iolanda Leite, algumas das demonstrações de robótica que têm sido feitas pelas grandes tecnológicas acabam por não ser tão surpreendentes, pois em ambiente académico ou de laboratório a realização de tarefas complexas por parte dos robôs já é uma realidade há algum tempo. “O software está mais capaz, está tudo um nível acima. Dá a sensação de que estão a evoluir muito rápido. Mas nós só vemos os melhores momentos e as edições cortadas do que está a acontecer, [as empresas] não são muito transparentes sobre, por exemplo, tudo o que não correu bem”, alerta.

O caminho das pedras da robótica

Por que razão a robótica é vista com tanto fascínio? Porque promete ser uma ajuda importante na resolução de alguns problemas inevitáveis – como a diminuição da força de trabalho e o envelhecimento da população –, ao mesmo tempo que promete trazer vantagens em termos de qualidade de vida – permitir às empresas fazer mais com menos recursos ou às pessoas libertarem-se de tarefas aborrecidas, dando-lhes mais tempo pessoal.

Mas não pense que estes avanços em IA e robótica recentes significam que vai ter um robô-assistente pessoal no curto prazo a cirandar pela casa. A área da robótica ainda tem muitos desafios por resolver. Mesmo que a questão do software (vamos imaginá-lo como o cérebro do robô) seja totalmente resolvida, o que distingue a robótica de um assistente digital no nosso computador é justamente a necessidade de existir e interagir no mundo físico. Aliás, a robótica é vista como uma materialização da IA no mundo físico.

Iolanda Leite, professora associada no instituto real de tecnologia KTH

O que significa que o ‘cérebro’ do robô até pode ser muito inteligente, mas para executar ações precisa de hardware como atuadores e controladores, precisa de câmaras para analisar uma área e objetos em tempo real, precisa de baterias para conseguir operar longe de uma tomada. “Os problemas da robótica sempre foram dois. A capacidade de inteligência e a capacidade de energia. As baterias, a forma como existem agora, duram muito pouco. E se o robô estiver ligado à tomada, não vai longe. Ou se vai carregar cargas pesadas, isso requer muita energia. Precisamos de ter novas formas de energia de forma mais condensada”, considera Eduardo Mendes sobre o problema da autonomia energética. A questão do próprio preço do hardware é, para Iolanda Leite, natural de Chaves e atualmente a viver em Estocolmo, uma área que também precisa de ser melhorada. No centro de investigação do qual faz parte, existem mais de duas dezenas de robôs diferentes, de simples braços robóticos a máquinas de formato humanoide.

Sim, os robôs estão a ficar mais acessíveis, mas ainda não ao ponto de estarem acessíveis como outros equipamentos de eletrónica. E ainda antes de os robôs entrarem em nossa casa, há outros desafios por resolver. “Em casa há aspetos de privacidade, por exemplo. Estamos mais longe [de ter um robô] do que pode parecer dado este grande entusiasmo. Todas as outras máquinas que temos em casa não são tão proativas. Controlamos onde estão, o que estão a fazer, o que estão a ouvir. Um robô que precise de ter câmaras, há outros aspetos que tornam mais difícil toda essa integração”, lembra a investigadora de 40 anos. A simples ideia de ter um robô com dezenas de quilos a mover-se de um lado para o outro, podendo cair sobre uma criança ou um animal, é algo que precisará de novas abordagens nos próximos anos. Mas também aqui estão a ser dados passos importantes. O Figure 02, por exemplo, já ‘só’ pesa cerca de 70 quilogramas. O Optimus, da Tesla, pesa cerca de 63 quilogramas.

Há um outro grande desafio ao qual os robôs terão de saber adaptar-se – a própria estrutura do mundo. Não é à toa que muitos robôs têm um formato humanoide, sobretudo os modelos mais recentes usados pelas grandes tecnológicas. O motivo é simples – o mundo em que vivemos foi criado para humanos. E um robô para ser útil tem de conseguir adaptar-se a esse ambiente. “Se queremos um robô que ajude na cozinha, e a cozinha foi desenhada para nós, tem de conseguir abrir gavetas, pegar num talher, fechar as gavetas. (…) O problema é que tudo já está feito para os humanos operarem, é preciso adaptar o robô para isso. É uma fase de transição”, justifica Eduardo Mendes. Também Iolanda Leite considera que o fator humano acaba por trazer um elemento de complexidade ao desenvolvimento dos robôs. “Não há conjuntos de dados que simulem as pessoas ou a física dos objetos, por isso [o desenvolvimento] é capaz de estagnar um bocadinho. (…) Não temos boas simulações para o comportamento humano”, exemplifica. Pegar numa banana é uma ação, descascar a banana é outra e colocar a banana no frigorífico com pessoas na cozinha é outra completamente diferente.

Robôs em todo o lado

Quando pensamos num futuro com robôs, é fácil cair num cenário de ficção científica como o do filme Eu, Robô, no qual já existe um humanoide assistente na casa de muitas pessoas. Mas o futuro – a curto prazo, pelo menos – da ascensão das máquinas será um pouco diferente. Sim, haverá cada vez mais robôs em utilização, mas não obrigatoriamente com o formato humanoide. Um carro autónomo é, em boa verdade, um robô. Um drone de entregas também. Um quadrúpede que faz vistorias autónomas a edifícios também. Um autómato de transporte num armazém, igualmente. Ou seja, aos poucos vão começar a surgir muitas tipologias de robôs – equipamentos autónomos que executam tarefas específicas – que deverão libertar os humanos de tarefas mais rotineiras e repetitivas.

A Connect Robotics já está a operar entregas autónomas de drones todos os dias, na Fundação Champalimaud, em Lisboa, de material de farmácia para tratamento de pacientes. Ao todo, já foram feitas mais de 5000 entregas, segundo Eduardo Mendes. “Estamos a expandir, temos outros clientes já em contrato para fazer entregas, principalmente na área da saúde, mas também para distribuir peças de carro para as oficinas de mecânica. E estamos a iniciar agora uma nova área, chamada de olhos no céu [eye in the sky no original em inglês], que é inspeção de longa distância feita com drones”.

Este é apenas um exemplo de como a automação vai começar a ser aproveitada por diferentes áreas de negócio, neste caso a logística. “A robótica vem mudar tudo em áreas que são perigosas, repetitivas e em muitas coisas que podem ser e devem ser automatizadas. Por exemplo, nós não fomos feitos para conduzir. Muita gente morre todos os dias porque não somos feitos para conduzir. Daqui a 500 anos as pessoas nem vão acreditar que fazíamos uma caixa de ferro com motor de explosão”, comenta o CEO da Connect Robotics.

É justamente na inevitabilidade de uma vida com mais robôs que Iolanda Leite tem desenvolvido a sua investigação. Formada no Instituto Superior Técnico, a professora e investigadora tem trabalhado no conceito de tornar os robôs mais sociais. “Sociais não no sentido de serem os nossos melhores amigos. Mas uma vez que vão partilhar o espaço connosco, precisam de ser sociais, para não serem indelicados ou chatos. O meu aspirador robô, se eu estiver na sala, quero que ele vá aos quartos antes de vir fazer barulho para onde estou. Esta consciência social é muito importante para que depois consigam fazer aquilo para o qual estão programados”. Isto porque ao perceberem o contexto social no qual se inserem, permitirá “melhorar o serviço prestado às pessoas”. Mas a investigadora não tem dúvidas: nesta fase, “menos humanos é melhor para os robôs”, pois as pessoas trazem “mais caos” ao ambiente no qual o robô opera.

Com todos os desenvolvimentos recentes, a Inteligência Artificial começa a ganhar corpo e a ocupar um espaço que era dos humano. A ascensão das máquinas pode ser lenta, pelos motivos já apontados, mas é inevitável.

A investigação em oncologia — e, em particular, aquela que se foca na análise de amostras humanas, como tecidos tumorais ou outros tipos de amostras — depende de várias estruturas de apoio absolutamente essenciais para que possa avançar. Refiro-me a estruturas hospitalares, como a cirurgia, a imagiologia e a anatomia patológica, mas também aos biobancos. Mas afinal, o que são biobancos? Identificados como uma das “ideias de futuro” pela prestigiada revista Time há quase 20 anos, existem em ambientes académicos e hospitalares — de forma mais ou menos formal — há já muito tempo. Os biobancos são estruturas de apoio que visam facilitar a realização de projetos de investigação, permitindo o acesso a amostras biológicas e à respetiva informação clínica associada. Como me refiro, neste contexto, à investigação em oncobiologia, falo concretamente de biobancos que recolhem, processam e disponibilizam amostras humanas, embora existam também biobancos dedicados ao armazenamento de amostras de outras fontes, como animais (incluindo insetos) ou plantas (incluindo sementes). Pensemos numa ideia científica e clinicamente relevante: procurar um biomarcador de resposta terapêutica em amostras de sangue de doentes com cancro da mama. Em que consiste esse projeto e de que forma pode o biobanco contribuir? Ao organizar a recolha de amostras de sangue antes, durante e após o tratamento, e ao processar essas amostras separando soro, plasma e componentes celulares (como células imunes ou circulantes), o biobanco assegura uma uniformização que facilita a análise laboratorial posterior.

Ao organizar a recolha de amostras de sangue antes, durante e após o tratamento, e ao processar essas amostras separando soro, plasma e componentes celulares (como células imunes ou circulantes), o biobanco assegura uma uniformização que facilita a análise laboratorial posterior

No laboratório, será então possível investigar a presença e a relevância do tal biomarcador — por exemplo, uma hormona ou outro fator quantificável no sangue — e perceber o seu eventual papel na melhor ou pior resposta das pacientes à terapêutica. Além disso, o biobanco permite o acesso a um número elevado de amostras, algo essencial para que as conclusões obtidas tenham validade estatística e significado clínico. Um aspeto fundamental da atividade dos biobancos é, para além da recolha e processamento de amostras biológicas como sangue ou tecido tumoral, o acesso e a recolha de informação clínica detalhada dos dadores de forma anonimizada. Este processo envolve a aprovação por uma comissão de ética, a obtenção de consentimento informado por parte dos pacientes e a recolha de dados pessoais e clínicos. A informação é então codificada, com acesso restrito à chave de identificação, garantindo assim a proteção dos dados. Esta informação pode ser usada em estudos integrativos sobre desfechos clínicos, risco genético ou caracterização de variantes genéticas que reflitam a diversidade populacional e a resposta a fármacos, entre muitos outros exemplos possíveis. Todo o processo está sujeito a autorizações e auditorias técnicas, de forma a assegurar que os direitos dos dadores estão protegidos. Afinal, o objetivo é facilitar a investigação científica sem comprometer os direitos e a privacidade dos cidadãos que generosamente contribuem com as suas amostras.

No caso concreto do biobanco de que faço parte enquanto membro da equipa, houve recentemente uma mudança importante que importa comunicar aos dadores. O GIMM (Gulbenkian Institute for Molecular Medicine) nasceu da fusão de dois institutos de investigação de referência: o Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (iMM) e o Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC). Como parte desta fusão, o Biobanco-iMM — um dos mais antigos do País, com 11 anos de atividade — passou a designar-se Biobanco-GIMM. Esta mudança de nome e imagem não altera, contudo, a nossa missão. A atividade e o empenho do Biobanco mantêm-se, e o GIMM assume o compromisso de lhes dar continuidade, garantindo que os direitos dos dadores sobre os dados e amostras biológicas continuam salvaguardados. O trabalho “nos bastidores” de estruturas como os biobancos é fundamental para assegurar boas práticas na investigação científica, especialmente na área da oncologia. É através deste tipo de suporte que se criam as condições para descobertas inovadoras e clinicamente relevantes, capazes de melhorar a resposta clínica e, consequentemente, a qualidade de vida dos doentes.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Uma coisa é garantida: difícil mesmo é escolher o que fazer. Mas isso depende dos teus gostos e do sítio onde vives. E até podes só querer ir passear com a tua família ou tomar um belo banho de mar. Se não é o caso, e estás com vontade de fazer um programa especial, aqui ficam algumas ideias.

Espaço aqui vamos nós

Paulo Nespoli (na foto) e Reinhold Ewald, da Association of Space Explorers, visitam o Pavilhão para uma conversa repleta de curiosidades

No Pavilhão do Conhecimento, a festa é toda tua. Tua e da tua família! Durante o dia, vão realizar-se muitas atividades e todas gratuitas.

O dia começa no espaço exterior com o lançamento de pequenos foguetões e para que consigam voar, vais ter de contar com os teus conhecimentos de física e química? Arriscas? Se gostas de jogos em equipa, podes também participar numa das três sessões de laser tag.

Ainda durante a manhã, o Auditório recebe dois astronautas da Association of Space Explorers que vão responder às tuas dúvidas e curiosidades sobre as viagens ao Espaço. A sessão será traduzida para Português.

Também és convidados a participar em experiências químicas, e o chef Pedro Viana faz-te um convite: “Vai um geladinho (químico)?”. Com sorte até vais saborear um cometa.
Pavilhão do Conhecimento, Lisboa. A entrada é livre para visitamtes até aos 17 anos. Podes consultar o programa completo aqui.

Bloco a bloco…

Se ainda não visitaste a Brickopolis Lourinhã, a maior exposição permanente de construções em LEGO® do mundo, este é o dia ideal.

Além de poderes apreciar as fantásticas construções que reproduzem monumentos icónicos do mundo, cenários épicos de sagas como Star Wars e Harry Potter e cidades inteiras feitas à escala de minifiguras, haverá atividades ao longo do dia, como o workshop de Fotografia, onde aprenderás dicas e truques para registar os melhores momentos em família.

Para dares asas à tua criatividade, a Playzone está ao teu dispor. Nesta área, serão lançados desafios e poderás brincar com blocos e construir livremente e explorar ideias com o apoio de monitores.

Ah, e ainda podes contar com uma corrida de carros de Lego® no Grande Prémio de Brickopolis, onde se pode construir e competir com carros personalizados.
Brickopolis Lourinhã, junto ao Dinoparque. Recomenda-se a reserva antecipada aqui.

Uma ida ao teu teatro

Se queres fugir ao calor, o Teatro LU.Ca é uma excelente escolha para começares o dia. É ali que está em cena o espetáculo Em Suspenso, que mistura marionetas e circo, e os protagonistas são uma trapezista e um balão.

Um balão-marioneta muito especial que ganha vida, cresce ao ritmo das quedas e de novos equilíbrios, numa viagem acrobática num ambiente musical mágico que nos é trazido pela companhia Théâtre L’Articule (Suíça), integrado na programação do FIMFA Lx25, o Festival Internacional de Marionetas.
Teatro Lu.Ca, Lisboa. Às 11h30 e 16h30. Maiores de 4 anos

O palco pode ser na rua

Espetáculo UAU!

O Dia da Criança é também o último dia do Festival Sementes, o festival de teatro para miúdos da tua idade, organizado pelo Teatro Extremo que põe Almada (mas não só) em festa.

E olha que apesar de este ser o último fim de semana, ainda há muitos espetáculos para ver. E alguns são na rua, de entrada livre. No domingo, por exemplo, às 11 da manhã, o Parque Mário Bento, no Poceirão (Palmela) vai ser invadido por um casal de palhaços a bordo do seu bizarro veículo de cobre e metal, com rodas, motor e sistema de som. O seu veículo é a sua casa e o parque o local perfeito para fazer uma pausa nesta longa viagem. É o espetáculo UAU!

À 5 da tarde, no Largo Gabriel Pedro, em Almada, podes assistir a Birakolore, um espetáculo de marionetas com duas personagens muito curiosas: um casal de velhotes. Ambos os espetáculos são de entrada livre.
No fim de semana, porém, há muitos outros espetáculos para ver. A não perder!
Festival Sementes. Vários locais. Consulta o programa completo aqui.

Filmes e mais filmes

Se vives na zona do Porto e gostas de cinema, podes dar um salto ao Shopping Cidade do Porto, onde vão decorrer sessões de cinema imersivo, ou seja, são filmes que usam uma tecnologia que te faz sentir que estás mesmo dentro do filme, pois o ecrã tem 360 graus.

Há sessões educativas e interativas sobre temas como proteção dos oceanos e viagens ao Espaço, com uma duração entre 30 e 40 minutos. Podes consultar títulos dos filmes e horários das sessões aqui.
Shopping Cidade do Porto. Dos 3 aos 14 anos. A participação é gratuita, mas as sessões estão sujeitas a inscrição prévia no local

Mais de 250 oficiais de justiça estão a ser notificados pela Direção-Geral de Administração da Justiça (DGAJ) para devolverem remunerações que receberam a mais devido a um erro da tutela, segundo um despacho datado de quinta-feira a que a agência Lusa teve acesso.

Em causa está a aplicação errada de uma decisão de 2023 do Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa que obrigou a DGAJ a contabilizar o “período probatório” dos oficiais de justiça para efeitos de progressão na carreira.

No despacho de 29 de maio, a diretora-geral da Administração da Justiça em regime de substituição, Filipa Lemos Caldas, determina a notificação de 264 oficiais de justiça para que reponham os “montantes indevidamente pagos, em virtude da errada reconstituição da sua situação remuneratória”.

Em comunicado, o Sindicato dos Funcionários Judiciais (SFJ) disse estar “a estudar a melhor forma de reação” ao despacho.

O utilizador de contas Google Workspace no iOS e no Android vão poder começar a ver resumos gerados por Inteligência Artificial das mensagens de correio eletrónico que estejam nas suas caixas de entrada. A Google já tinha uma funcionalidade semelhante para Docs, Sheets, Slides, Drive e Gmail, mas o utilizador tinha de manualmente selecionar a opção de gerar o resumo. Agora, o sumário é apresentado no topo do email, assim que se abre a mensagem.

Segundo o Engadget, o sistema vai ser capaz de apresentar os pontos-chave da mensagem ou do conjunto de mensagens e o resumo é gerado novamente sempre uqe chegam mais respostas, mantendo-se assim sempre atualizado. Nesta fase, a funcionalidade só vai estar disponível para mensagens escritas em Inglês e os utilizadores têm de ter as funcionalidades inteligentes ativadas no Gmail, Chat, Meet e Workspace.

Para já, não há referência da Google sobre se a novidade vai chegar a contas fora do Workspace e ao Gmail no computador, fora da app móvel. A opção de “Resumir este email” já está disponível a um conjunto mais alargado de utilizadores.

Recorde-se que esta é apenas uma das muitas novidades relacionadas com Inteligência Artificial no Gmail: o Gemini já consegue ajudar a escrever novas mensagens, encontrar informação relevante na caixa de entrada e há a opção de Respostas Inteligentes Personalizadas, onde o utilizador pode consultar uma proposta escrita automaticamente e que considera os emails passados e o tom de resposta.

Uma equipa de astrónomos executou mais de duas mil simulações com a ferramenta Horizons System da NASA e alerta que a passagem de uma estrela ou conjunto de estrelas rebeldes pode desequilibrar a forma como o Sistema Solar está estabelecido atualmente. Apesar de a maior parte das passagens não trazer grandes consequências, teme-se que alguma destas ocorrências possa causar o caos e acabar por ‘empurrar’ a Terra para longe do Sol e para o espaço profundo.

A análise publicada no Icarus sugere que as consequências desastrosas podem dever-se principalmente a um planeta, Mercúrio, que é o mais próximo do Sol e mais vulnerável a instabilidade, uma vez que a sua órbita pode tornar-se mais elíptica. Os astrónomos acreditam que aumentar a excentricidade pode desestabilizar a órbita de Mercúrio, levando-o a colidir com Vénus ou mesmo com o Sol, situação que só será agravada pela passagem de uma estrela nas proximidades, noticia o Gizmodo.

O estudo teve em consideração os dados do Solar System Dynamics Group que monitoriza com precisão a posição de objetos no Sistema Solar. A equipa esboçou vários cenários envolvendo a passagem de estrelas e conclui que as ‘razias estelares’ nos próximos cinco mil milhões de anos aumentam a instabilidade do Sistema em 50 por cento. Por planetas, Mercúrio e Marte são os mais prováveis de serem perdidos após uma passagem e, embora na Terra a taxa de instabilidade seja baixa, há uma probabilidade maior de vir a sair de órbita devido a uma colisão com outro planeta.

“A natureza das instabilidades geradas por estrelas é mais violenta do que as instabilidades geradas internamente. A perda de múltiplos planetas em instabilidades geradas por estrelas é comum e acontece cerca de 50% das vezes [nas simulações], ao passo que parece ser bastante rara para instabilidades geradas internamente”, conta a equipa no estudo.