Penso que nunca vou me esquecer de um dia perguntar a um jovem liberal qual era a sua maior preocupação e ele responder, “sinto que este é um país que te corta as asas”. E penso mesmo que isto é uma preocupação generalizada, mesmo que não racionalizada da mesma forma que este jovem.
Desde o viés paternalista da constituição às escolas e faculdades, há sempre a tentativa de conduzir o jovem a um pensamento do que deve ser e lutar. Quando se dá o palco ao jovem ou é para repetir o que o status quo quer que ele diga ou se é para uma conversa franca, nunca existem os holofotes. Parece que o futuro deste país não tem direito a dizer o que quer para si. E o pior é as gerações mais velhas ainda reclamarem da fraca participação da juventude na vida pública deste país. Se não nos dão atenção naquilo que consideramos importante, fazendo uma infantilização constante dos jovens, como querem que nos preocupemos? Como querem que tenhamos esperança de continuar neste país e não almejar a emigração como via de concretizar os nossos sonhos pessoais e profissionais?
Ainda é mais difícil quando vemos tantos empecilhos criados pelo sistema para novos atores poderem entrar. Desde a criação de novas forças políticas, o sistema de distritos eleitorais que não refletem regiões, os grandes partidos que têm compadrio e nepotismo (como é possível termos irmãs gémeas, casais e filhos na Assembleia da República e no Governo?). Vários fenómenos reformistas internacionais que vemos como exemplo, nunca ocorreriam em Portugal porque o sistema está feito para perpetuar as mesmas pessoas de sempre. Infelizmente é isto ser jovem em Portugal: sentir que não te ouvem e que nada irá mudar.
Mas é possível mudar. Podemos sim fazer a diferença. Não podemos desistir do nosso país e da nossa Europa. Não podemos acreditar que as nossas opiniões não têm valor. Que as nossas preocupações não são importantes ou relevantes. Não nos podemos render perante as dificuldades que os mesmos de sempre criaram. Que impedem reformas que permitirão melhores condições para gerações vindouras e que nos ajudarão a combater o inverno demográfico e as alterações climáticas. Não temos que pedir desculpas por opiniões fortes e diferentes, por termos um ímpeto de mudar, por ambicionarmos uma sociedade melhor, de combater quem apenas quer se perpetuar no seu lugar e não fazem nada para melhorar este país. Não podemos perpetuar este paternalismo de estado vigente, esta infantilização da juventude, a incapacidade de se ouvir vozes diferentes, porque nós somos o futuro e podemos mudá-lo. Porque a inovação e a mudança começaram sempre pela juventude. Por isso, peço mesmo às gerações mais próximas a mim, a todos os zoomers e millennials, que não tenham medo de voar, que não tenham medo de mudar, que não tenham medo de criticar, que não tenham medo das vossas opiniões e de serem o que são. Não temos que repetir cassetes ou aceitar as coisas porque sempre foram assim. O futuro nos pertence, e está na hora de em Portugal os jovens reclamarem o seu futuro.
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