No primeiro debate que travou com António Costa, Passos Coelho disse que o programa do PS não era muito diferente do de José Sócrates e acrescentou que esse programa tinha conduzido o País “ao desastre”. No discurso que fez na semana passada, Cavaco Silva lamentou que PSD e PS não se tivessem entendido, uma vez que tinham tanto em comum. Esta semana, Marco António Costa admitiu que era possível retomar o diálogo com o PS, porque o programa dos socialistas tinha “muitos pontos de contacto” com o da PàF. Destas premissas decorre que:
1. Sócrates é mortal.
2. Contrariamente ao que se pensava, a acusação de ter pontos de contacto com o governo de Sócrates não é mortal.
3. O programa da PàF tem muitos pontos de contacto com o de Sócrates e, por isso, ambos conduzem o País ao desastre.
4. Embora tenham disfarçado bem durante anos, tanto Cavaco como Marco António Costa são dois admiradores da governação de José Sócrates.
5. Jerónimo de Sousa tinha razão quando disse que PSD e PS eram “farinha do mesmo saco”.
Tendo em conta o pensamento do próprio Presidente da República, o observador político mais perspicaz é o secretário-geral do PCP. Não se compreende, por isso, que Cavaco queira impedir o acesso ao poder a um político tão arguto. A única explicação para o comportamento do Presidente é esta: Cavaco entende que as funções do Presidente da República são idênticas às de um porteiro de discoteca. Cavaco deseja ser o porteiro da Assembleia da República: se não gosta de determinada pessoa, reserva-se o direito de não a deixar entrar. Se o deputado se apresenta mal vestido, não entra. Os deputados do Bloco, que envergavam camisetas com os rostos dos presos políticos angolanos, estavam claramente mal vestidos. Além disso, há a questão do consumo obrigatório: segundo Cavaco, só tem direito a entrar no Parlamento quem estiver disposto a pagar os custos de uma moeda única demasiado forte para a nossa economia e de tratados que nem a Alemanha cumpre. O ideal era que houvesse uma assembleiazinha mais pequena, nas traseiras da verdadeira, para onde os deputados cujas ideias Cavaco não aprecia fossem brincar aos parlamentos. Uma espécie de piscina dos pequeninos da democracia, talvez numa sala insonorizada, na qual quem tem opiniões diferentes das do Presidente pudesse fazer barulho à vontade. Se o nosso regime é semipresidencialista, faz sentido que haja um semiparlamento.