Esta é a data limite dada pela China para que países se candidatem a fundadores do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB na sigla em inglês), o novo banco de desenvolvimento proposto por Pequim para financiar a carente infraestrutura asiática.
Desde a sua génese, na década de 40, que este tipo de bancos que financiam, a taxas de juro inferiores às do mercado, projetos que promovam o desenvolvimento económico e social são usados para medalhar o poder. O Banco Mundial (BM) é liderado pelos EUA. O Banco Asiático de Desenvolvimento é comandado pelo Japão. O Banco Europeu de Investimento pela Alemanha.
A China não é exceção. Há mais de duas décadas que o país usa os seus bancos como instrumentos de política externa. Ministros das Finanças africanos conhecem bem o China Development Bank ou o Export-Import Bank of China. O ano passado, estes bancos também emprestaram mais recursos à América Latina do que o BM e o Banco Interamericano de Desenvolvimento juntos. Em 2014, a China decidiu anunciar outro banco de desenvolvimento, a ser criado com o Brasil, África do Sul, Rússia e Índia o Banco dos BRICS.
Apesar de estender os tentáculos financeiros por países em desenvolvimento, a China sabe que o mais difícil ainda não foi atingido: a ratificação da sua capacidade financeira por países ocidentais. Geralmente, europeus e americanos não perdem uma oportunidade para criticar a estratégia expansionista chinesa e censurar a falta de maturidade governativa e de transparência na gestão desses bancos.
As regras do jogo mudaram.
Ao lançar o novo AIIB, a China arriscou e abriu portas: todos foram convidados para entrar com capital ou expertise. No início, todos resistiram. Agora, Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Suíça, Luxemburgo, entre outros, aceitaram ser membros-fundadores. Os EUA criticaram as adesões, tendo até censurado publicamente o Reino Unido. Até 31 de março, outros poderão associar-se, coroando de sucesso o alpinismo chinês pela liderança global.
A China tem tentado criar uma ordem institucional global paralela. Muitas das organizações que regulam a comunidade global da ONU ao FMI estão fossilizadas.
Em contrapartida, Pequim tem criado órgãos como a Conferência sobre Interação e Medidas de Construção de Confiança na Ásia (CICA na sigla em inglês) ou a Organização para Cooperação de Xangai (SCO) para consolidar o seu poder na Ásia. Parece-me prematuro e reducionista acreditar numa dicotomia global de poderes, mas ninguém nega os esforços chineses para criar instituições e regras que lhe sejam favoráveis.
E Portugal? Ainda que o nosso país tenha uma ligação histórica com a China (desde 1513) e pudesse entrar no grupo de intermediários diplomáticos entre a Europa e o país asiático, dando uma contribuição discreta mas eficiente, a nossa política externa continua a ser guiada por vaidades individuais. Ao contrário da generalidade dos seus colegas europeus, a competência de uma parte expressiva dos nossos diplomatas não vai além do salão de chá. A bebida até serviu de ponto de ligação entre os nossos países no século XVI, mas hoje Portugal precisa de ter mais criatividade para capitalizar, para benefício próprio, a emergência da China.