Todos os anos, geralmente numa noite de fevereiro, uma mão cheia de professores de Harvard é convidada para apresentar aos membros da universidade “grandes ideias” com potencial para mudar a História. Este ano, com a temperatura lá fora a chegar aos 12 graus negativos, a audiência aplaudiu calorosamente as apresentações sobre novas tendências na área da robótica (robôs de papel e a preços de loja chinesa) e da bioengenharia (impressoras 3D de tecidos orgânicos). Mas a melhor palestra foi a do canadiano David Charbonneau, professor catedrático no departamento de Astronomia, localizado a uns 15 minutos a pé do icónico Teatro Sanders, local do evento. Com apenas 40 anos, Charbonneau é um dos mais consagrados astrofísicos da atualidade. Foi ele quem primeiro descobriu um planeta fora do sistema solar (“exoplaneta”) através do método da velocidade radial (1999), foi o primeiro a detetar um exoplaneta com atmosfera (em 2001) e liderou a equipa que captou, pela primeira vez, a luz de dois planetas que giram ao redor de uma estrela que não o Sol (em 2005).
Até meados da década de 1990, a descoberta de exoplanetas era uma fabulação apenas teorizada por filósofos clássicos gregos ou astrónomos excêntricos. Mas até agora já foram descobertos perto de mil planetas. Charbonneau está direta ou indiretamente envolvido com a maioria destas descobertas recentes.
Naquela noite no campus de Harvard, a palestra de Charbonneau teve como título A Última Geração de Terráqueos Solitários. Lendo de forma teatralizada a sua apresentação, ele anunciou que canalizará todos os seus esforços científicos para responder “à questão primordial de toda a história da ciência: haverá vida em outros planetas?” Depois de afirmar que o campo da astrofísica cavalga a um ritmo inesperado de novos anúncios e descobertas constantes, rematou que em cinco anos deveremos poder confirmar que existe vida biológica extraterrestre. Nesse período serão lançados três novos telescópios: TESSE, em 2017, James Webb, em 2018 e o Telescópio Gigante Magalhães (em construção no Chile), a inaugurar em 2020. Charbonneau referiu-se a vida biológica irracional, mas em algumas entrevistas não descartou a possibilidade de existir vida racional extraterrestre.
A imprensa de Boston tem indicado que a grande descoberta da humanidade poderá ser feita em breve nesta região. Se a procura por vida extraterrestre era ridicularizada até há pouco tempo pela comunidade científica, o trabalho inovador de uma nova geração de professores de Harvard (como Avi Loeb, Dimitar D. Sasselov, Mercedes López-Morales, além de Charbonneau) e do MIT (com destaque para Sara Seager e Kerri L. Cahoy) deram a esta disciplina um novo alcance e reconhecimento.
Mas se esse dia chegar, qual será a reação da Humanidade? Sara Seager que perdeu o pai e o marido para o cancro diz que a sua busca por vida extraterrestre é uma forma de burlar a finitude. Avi Loeb, um israelita com cicatrizes da guerra, deu recentemente uma entrevista como diretor do departamento de Astronomia de Harvard onde afirma que a descoberta de outras civilizações poderá forçar a população na Terra a superar as diferenças e o medo, tomando consciência do seu destino comum. No final da sua apresentação, Charbonneau brincou ao dizer que começou a sua carreira como astrónomo e certamente irá terminá-la como biólogo.
A plateia ficou dividida entre otimistas e incrédulos.