Os olhos do mundo podem estar plantados na relva de 12 estádios brasileiros, mas será numa outra planta verde que poderá residir o futuro. Daqui a poucas semanas, a empresa brasileira GranBio será a primeira em todo o planeta a produzir, em larga escala, etanol de segunda geração, também chamado celulósico, a partir da biomassa da cana-de-açúcar. Será provavelmente o combustível mais verde e mais barato existente na atualidade.
Há várias décadas que a Europa, a América Latina e os Estados Unidos consomem etanol de primeira geração, obtido a partir da fermentação de açúcares. No Brasil – o maior produtor e consumidor mundial de etanol de cana-de-açúcar – todos os postos de abastecimento vendem etanol e a frota de carros com tecnologia “flex”, cujo motor pode receber gasolina ou etanol, é de quase 70 por cento. Porém, há mais de dez anos que a comunidade científica também tenta produzir combustível, de forma comercialmente viável, a partir da biomassa, composta pelos resíduos das colheitas e do processamento de vegetais que não podem ser usados para alimentação humana ou animal (lenha, resíduos florestais e agrícolas, entre outras matérias orgânicas). No Brasil, a biomassa usada para o etanol celulósico é a palha e o bagaço da cana-de-açúcar (resíduos desaproveitados na produção de etanol de 1.ª geração). A produção de combustível a partir da biomassa, considerado o Santo Graal da energia, foi sempre economicamente inviável dada a sua cara e complexa tecnologia biológica e química. Até agora.
Além da GranBio, fábricas da Raízen, Abengoa Bioenergy, DuPont, POET-DSM e Quad County Corn Processors, iniciarão a produção em massa de etanol celulósico, nos EUA e no Brasil, nos próximos meses. Largas dezenas de outras unidades fabris seguirão o mesmo caminho nos próximos anos. A Colômbia, por exemplo, um dos maiores produtores de banana do mundo, pretende aproveitar os troncos da bananeira, um resíduo agrícola gerado em abundância, para a produção de etanol.
Estes avanços poderão fomentar mudanças na geopolítica mundial. Segundo vários think-tanks na área de energia, a independência energética dos países que produzirão biocombustíveis de 2.ª geração – Europa, América do Norte e América Latina – levarão ao enfraquecimento do Médio Oriente. Além disso, como a palha e o bagaço da cana-de-açúcar são a biomassa mais eficiente e limpa, os cultivadores da planta, localizados sobretudo na América Latina e Ásia, ganharão ainda mais apoios no “purgatório” da economia mundial. O Brasil é o monarca deste grupo, como maior produtor mundial de cana. Profeticamente, representantes do Zayed Future Energy Award, o maior prémio da atualidade em energias sustentáveis, decidiram visitar o país a semana passada farejando por possíveis candidatos ao galardão.
Quem também visitou São Paulo a semana passada foi o Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, para participar no jogo de abertura do Campeonato do Mundo. Em 2007, na mesma cidade, ele declarou que o Brasil é um “gigante verde em hibernação”. Nas próximas semanas, enquanto o mundo anda distraído com a bola, o gigante poderá ter acordado. Pelo menos no campo energético.