Fatalmente, no início de cada ano, várias publicações antecipam as tecnologias que irão dominar os nossos hábitos de consumo. Em 2014, teremos Smart TVs, impressoras 3D e Google Glass à mão de semear. Os últimos 50 anos foram mais inovadores do que os últimos 500 e a cada ano que passa estamos mais próximos da “singularidade tecnológica”, quando a humanidade atingirá um patamar de colossal avanço no campo digital em um curto espaço de tempo.
Mas o que eu realmente gostaria de ver nas capas das revistas é a emergência da política digital e o sepultamento da política analógica. Administração pública de mãos dadas com a tecnologia ou a população de mãos dadas com quem a governa. Se havia ainda alguma dúvida, 2013 escancarou a ideia de que existe um fosso medieval entre a população e a classe política que a representa. Foi assim em Portugal, mas também no Brasil, na Turquia, na França, no Chile e em dezenas de outros países. O espírito coletivo que garantia legitimidade e respeito perante as classes políticas perdeu-se. Uma sondagem recente feita pelo jornal britânico The Guardian constatou que apenas 2% dos eleitores sentem-se inspirados por quem os governa. Para quem está fora de Portugal há 13 anos e acompanha a imprensa de forma esbaforida sempre que visita o país, entende porque este fenómeno também nos é familiar. A classe política portuguesa tornou-se museológica. Embranquecem-se ainda mais os cabelos de quem é manchete, mas as manchetes não mudam de cor. E esta fossilização contrasta com o aumento das expectativas da população que cada vez é mais informada, participativa e exigente. É como o jogo da corda com cada um puxando para o seu lado. E alguém vai ter que ceder.
Se ganhar a vontade da população de ter mais e melhor participação no espaço político, o passo natural talvez seja a política digital ou e-democracia. Com avanços tecnológicos, torna-se menos complexo garantir mais participação e representatividade. Cidadãos podem ser consultados com mais frequência e imediatismo. Universidades americanas como Harvard ou MIT já estão a trabalhar em plataformas de Democracia Direta Eletrónica (EDD na sigla em inglês) e alguns partidos políticos no Reino Unido, Austrália ou Suécia começam a se adaptar à possibilidade de dirigentes partidários serem selecionados diretamente pela população e não por comissões políticas internas. Como cidadão, eu gostaria de poder acompanhar estatisticamente qual a real contribuição dos deputados que representam o meu distrito no Parlamento e de fazer diretamente algumas sugestões. E não apenas por um email institucional ou pelo Fale Connosco. Gostaria que a opinião de milhões de portugueses fosse frequentemente auscultada por aplicativos no telemóvel – mesmo que em caráter não vinculativo – e ficaria satisfeito se tivesse acesso a mecanismos alternativos de escolha de líderes políticos e partidários. Gostaria também que a tecnologia me ajudasse a acompanhar a performance dos líderes que me representam, beneficiando quem é competente e penalizando quem é dormente. Ingenuidade, podem pensar alguns. Mas cientistas políticos e engenheiros de sistemas já se preparam para este cenário.
Estes são os meus votos para 2014. E para os anos seguintes.