A chegada do verão traz consigo várias novidades aos palcos . Sob a forma de textos originais ou reinterpretações de narrativas clássicas, as peças em estreia nos próximos 15 dias abordam temas contemporâneos, da relação entre amor, solidão e tédio a questões relacionadas com as alterações climáticas e a incerteza no futuro, mas são também celebração da poesia, da palavra e da fragilidade da natureza humana.
Zénite
Enquanto Lisboa conta os meses para voltar a ver as portas do Teatro Nacional D. Maria II abertas de par em par, estreia-se, a 27 de junho, Zénite, no espaço do Teatro Zénite, obra cenográfica concebida por Sílvio Vieira e pelo cenógrafo Rafael dos Santos, construída ao ar livre no vale do rio Trancão, em Loures, precisamente com entulho das obras de requalificação deste Teatro Nacional.
Com a co-criação e interpretação de Catarina Rabaça, Gaya de Medeiros, Márcia Cardoso, Miguel Galamba, Rita Cabaço e Tadeu Faustino, a peça acompanha a vida de uma comunidade de seis pessoas que, depois de terem sido surpreendidas pelo desaparecimento misterioso do telhado da sua casa, descobrem-no, no mesmo dia, enterrado no pântano junto ao rio.
As personagens decidem então começar a habitar duas metades da mesma casa: uma sem chão, outra sem teto. A premissa é tão desconcertante, e instiga reflexões, quanto o próprio modelo do espetáculo, que começa antes do pôr do sol, com o público a observar os atores a partir de um miradouro, e termina de noite, após esse mesmo público ter descido até ao vale para junto dos atores.
A Natureza, humana e da paisagem, é dramatizada num jogo de fragmentação entre o dia e a noite, a distância e a proximidade, a casa abrigo e a casa barreira entre o Céu e a Terra.
Heisenberg — O princípio da incerteza
É também de fragmentação, distância e proximidade que se fala em Heisenberg — O princípio da incerteza, de Simon Stephens, peça com a qual Ana Guiomar e Virgílio Castelo sobem, a partir de 28 de junho, ao palco do Teatro Aberto.
Encenada por João Lourenço, a obra parte da Teoria da Incerteza, do físico alemão Werner Heisenberg [segundo a qual não se consegue determinar ao mesmo tempo a posição e o movimento de uma partícula com total precisão] para falar do encontro afetivo entre duas pessoas muito diferentes.
Quando as personagens de Guiomar e Castelo se encontram, aparentemente por acaso, numa estação de comboios de Londres, a primeira aborda o segundo, mas desculpa-se imediatamente de seguida, afirmando tê-lo confundido com outra pessoa.
A “incerteza” quanto à veracidade da justificação paira no ar, porém é algo que pouco importa. Envoltas na solidão e no tédio, as personagens alimentam a esperança de que o encontro fortuito seja a oportunidade de construirem uma nova vida.
Todas as Tuas Lágrimas Não Serão Suficientes
Uma nova vida será talvez o que também procuram, ainda que de forma diferente, os protagonistas de Todas as Tuas Lágrimas Não Serão Suficientes, em cena no Teatro dos Aloés, de 28 de junho a 2 de julho.
A obra, escrita e encenada por Petronille de Saint-Rapt, conta a história de uma família que embarca numa viagem até “ao dia em que o coração da água parou de bater”, refletindo sobre a exploração excessiva dos recursos naturais, as alterações climáticas e o facto de nos estarmos a tornar numa espécie ameaçada por si mesma.
O Beijo do Poeta
Mas se somos capazes de nos pôr em perigo, somo igualmente possuidores de uma sede de vida, celebrada por muitos poetas em versos e canções. Natália Correia e Ary dos Santos são apenas dois dos nomes que excederam em tais áreas.
E, segundo Adriana Queiroz, partilhavam três características – exagero, vertigem e abismo – que a inspiraram a criar O Beijo do Poeta, um projeto que é simultaneamente um livro, um álbum e um espetáculo, com estreia marcada para 2 de julho, no Teatro da Trindade.
Após recolher poemas de Natália Correia, Adriana Queiroz enviou-os a compositores, rodeou-se de músicos e cantou-os ao som de melodias para violoncelo, clarinete, acordeão, contra-baixo, guitarra, percussão e saxofone.
O espetáculo, cuja encenação e dramaturgia divide com Tiago Torres da Silva, resulta da união entre este universo musical com os mundo da dança e do teatro, tão familiares à artista.
Orfeu e Eurídice
A norte, a interseção entre diversas artes faz-se através de um regresso aos clássicos. De 27 de junho a 7 de julho, no Teatro de Belmonte, as Marionetas do Porto apresentam Orfeu e Eurídice, resultado de uma proposta de Roberto Merino, encenador chileno a viver em Portugal há quase 50 cinquenta anos, que une o teatro de marionetas à poesia e à música.
Através de marionetas com cabeças, mãos e pés impressos em 3D, o espetáculo conta a história do amor ardente entre a ninfa Eurídice e Orfeu, filho de Apolo e virtuoso da lira, que após a morte da amada procura resgatá-la da tutela de Hades, deus do submundo e do reino dos mortos.
Elemento central na versão das Marionetas do Porto é a música, original, com autoria de João Lóio, sendo o poema cantado, a espaços, pelos intérpretes em cena.
Finalistas das escolas artísticas do Porto
Ainda no Porto, o projeto Escolas Artísticas no Teatro Nacional S. João (TNSJ) dá palco aos finalistas das escolas artísticas da cidade. De 5 a 26 de julho, decorrem, no Teatro Rivoli e no Teatro Carlos Alberto, as apresentações públicas dos projetos finais dos alunos da Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo (ESMAE), da Academia Contemporânea do Espetáculo (ACE), da Universidade Lusófona do Porto, da Escola Superior Artística do Porto e do Balleteatro.