Atualmente frequenta o doutoramento na Jacobs School of Music, da Universidade do Indiana (EUA) e acaba de publicar o seu primeiro CD, Beethoven – Lopes-Graça, o qual reúne duas sonatas que traçam novos caminhos (a mítica Opus 111 e a nº 3 do compositor tomarense – da qual a pianista terá feito, em 2013, a estreia em Inglaterra) e inclui outras duas peças de Beethoven, as menos ouvidas Polonaise em Dó maior e Bagatela em Dó menor.
Depois do recital dedicado ao compositor alemão nos últimos Dias da Música, Marta Menezes regressa a Portugal nos próximos meses para a realização de masterclasses e de concertos, entre os quais o de apresentação do CD, a 18 de julho, no Museu da Música Portuguesa, em Cascais.
JL – Porquê juntar estes dois compositores? São ambos referências para si?
Sim. Beethoven há mais tempo, esteve sempre presente no meu percurso e no meu repertório, pois toco sempre uma sonata sua – e a primeira obra que toquei com orquestra foi o seu Concerto nº 5. Lopes-Graça foi uma descoberta mais recente, embora já o conhecesse, e esta sonata foi a sua primeira obra grande que trabalhei. Queria tocar uma peça portuguesa ‘substancial’ e quando ouvi esta Sonata nº 3 percebi que era o que desejava. Ouve-se tudo de um trago. Mesmo nas partes lentas é muito intensa, além de ser uma obra com um tipo de estrutura e de organização que remete um pouco para a música de Beethoven. Parece que tudo encaixa e faz sentido.
Embora esta sonata de Lopes-Graça seja associada a influências de Bartok, parece de facto haver nela algo de beethoveniano… Sim, acaba por se ter a sensação de que não se pode tocar mais nada, depois da Opus 111, tal o seu peso e a sua energia. E tem-se uma sensação parecida quando acaba a sonata do Graça: embora a música seja diferente, acho que a monumentalidade é comum a ambas.
JL- Como surgiu a ideia de gravar este CD?
Foi-me sugerido, mesmo em masterclasses, que gravasse um CD e a ideia começou a tomar forma. Depois, a Direcção Geral das Artes abriu concurso para a edição fonográfica de intérprete, o meu projeto foi contemplado e isso acelerou o processo.
Não é muito exigente tocar estas duas obras no mesmo recital?
É, porque quando se chega ao fim da 111 sobrevém um grande cansaço, sobretudo do ponto de vista emocional; e a sonata do Graça tem também muita intensidade.
JL- Porquê a escolha da Polonaise e da Bagatela?
Queria incluir mais peças do Beethoven, até para o CD ter um formato de recital, com um programa que não fosse só uma soma de obras de que gostasse, antes tivesse uma lógica de funcionamento e relação entre elas. Escolhi Polonaise porque é pouco conhecida (associa-se a forma a Chopin) e ficava bem a abrir, de forma alegre e festiva. Já Bagatela, uma peça independente, não pertencente a nenhum opus, faz uma ponte para a Opus 111, por ser em Dó menor e mais escura, agitada, misteriosa.
JL- A 111 é uma tentação para todos os pianistas, apesar de um certo conceito que a define apenas ao alcance dos artistas mais maduros. Como vê essa ideia?
Achei-a tão interessante e quis tanto tocá-la que não vi motivo para não o fazer. Uma interpretação mais madura será sempre diferente da dos 27 anos que tenho. Imagino-me a tocá-la ao longo da vida e quando aos 70 a tocar a interpretação será decerto totalmente diferente da de agora.
JL- Um dos seus propósitos parece ser divulgar música portuguesa. Existe um repertório apelativo para um pianista?
Sim, claro. Já tinha tocado obras de compositores portugueses, algumas em estreia; e tenho, com a Inês Andrade, o Duo Pianíssimo, de música portuguesa para dois pianos e quatro mãos. Tenciono continuar, procurar e eventualmente descobrir peças esquecidas.
JL- E pretende tocar mais peças de Lopes-Graça?
Talvez, não pensei nisso porque ainda estou a conhecer a sua obra. Com o tempo, tenho vindo a apreciá-la melhor, sobretudo depois de tocar esta Sonata e também, com a Inês, a peça para quatro mãos Paris 1937.