Nascido em Alvalade, durante a infância Campo de Ourique soava-lhe a uma localização distante, “uma cidade ao lado do meu mundo”, explica o artista plástico lisboeta João Louro, 52 anos (representante de Portugal na Bienal de Veneza do ano passado). Foi por causa de uma história de amor que se mudou para Campo de Ourique, onde cresceu uma nova paixão: o próprio bairro. A proximidade entre a sua casa e o atelier permitem-lhe uma vida de bairro ativa. “Conheço muito bem a zona, já que sempre tive cães, palmilho-a há muito tempo”, conta, antes de deixar um alerta: “Atenção aos donos de cães! Há sacos de plástico para apanhar os dejetos em dispensadores fornecidos pela junta de freguesia, ser civilizado é melhor do que o contrário”.
Nunca se furta aos cumprimentos bairristas, por isso, é popular por aquelas bandas. “As pessoas são amistosas, sabem como gosto do café, que não como batata e prefiro sempre peixe. Este género de coisas fazem com que a vida seja mais confortável”, explica.
João Louro ajuda a desvendar o “mistério” da atração pelo bairro: “escala humana”. Campo de Ourique, diz, “parece uma vila, tem todos os serviços, é plano… E muito acolhedor”.
Pesadelo automóvel
A obra de João Louro revela a paixão do artista por automóveis, especialmente clássicos, esclarece “mas não há nada como andar a pé”, afirma. E, quanto ao que poderia ser melhorado em Campo de Ourique… “O estacionamento é considerado infernal, há poucas alternativas”, lamenta. Mas também é preciso ter atenção ao património do bairro: “Ninguém em seu pleno juízo quer restaurantes de fast-food a substituírem as pastelarias de referência do bairro”, alerta. Curiosamente, João Louro constata que, apesar de viverem muitos artistas no bairro, há falta de arte pública em Campo de Ourique.
A satisfação que a vida de bairro lhe traz está longe de qualquer ideia de inspiração: “Eu trabalho com ideias e referências da minha vida, não sou artista de inspiração, isso soa muito a séc. XIX”. No entanto, mesmo ao estilo de um conto romântico do séc. XIX, João Louro confessa que o seu jardim é um dos locais onde adora estar. Sem arriscar inspirações bucólicas.
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