O ano que agora termina foi muito pouco profícuo na tecnologia direcionada ao consumidor final. Foi um ano de confirmações. Assistimos à massificação dos drones e confirmou-se o potencial da impressão 3D quando colocada nas mãos do mais comum dos utilizadores. A Realidade Virtual foi adiada para 2016 e os carros elétricos entraram, timidamente, no nosso quotidiano. Aliás, os automóveis “verdes” continuam a fazer a sua travessia do deserto e a lutar contra o Golias dos combustíveis fósseis. A Tesla lidera o pelotão (em termos de inovação) com veículos potentes que precisam de 30 minutos de carregamento (numa tecnologia que usa sistemas de carregamentos ultrarrápidos) para providenciar 200 quilómetros de autonomia. Ainda não é o ideal, mas para lá se caminha. No mundo, quem vendeu mais elétricos foi a Nissan. Estamos ainda longe da massificação e tecnologias como o hidrogénio espreitam a sua oportunidade numa área que ainda está a sofrer várias convulsões tecnológicas… tão comuns aos momentos iniciais de uma transformação industrial que pode ajudar a mudar o planeta. Em Portugal, os poucos elétricos que circulam ainda não pagam a eletricidade que consumem. Sim, a rede Mobi.e continua gratuita. É só carregar o carro e ir embora. Quem paga? O Estado. Nós, portanto. Nos automóveis, o ano termina com uma notícia que vem dos EUA onde foram aprovados os primeiros testes a um carro voador. O TF-X vai começar a voar em 2016 em circuito fechado.
SMARTPHONES
Este foi o ano em que o mercado dos smartphones desacelerou, mas continuou a crescer. Há, agora em Portugal, mais de cinco milhões de dispositivos deste tipo. Ou seja, metade da população portuguesa tem um telefone inteligente no bolso. Todos os estudos indicam que este é o momento em que se atinge o tipping point e que, a partir daqui, o crescimento, a existir, é muito mais lento. No mundo, a China, Índia e Brasil… são os mercados onde este tipo de terminal está a crescer a dois dígitos. São eles os motores que continuam a alimentar fabricantes como a Apple, a Samsung ou a Huawei que concretizam, ali, os maiores volumes de vendas. Aliás, os fabricantes da eletrónica de consumo encontraram outro campo de batalha: os Wearables.
Smartwatches, pulseiras, balanças, sensores para colocar nos ténis, nas portas… estamos a ficar cercados de dispositivos comunicantes e essa revolução teve o tiro de partida este ano.
Sim, em 2015 a Apple e a Samsung alimentaram a sua rivalidade. Mas enquanto a empresa norte-americana continua a crescer em valor e a diversificar a sua atividade (os rumores sobre a entrada no segmento dos automóveis elétricos foram constantes) com uma bem-sucedida estreia no mercado do streaming de música; a sul-coreana sofre com a redução de margens no segmento dos smartphones e tablets e com a concorrência chinesa. É verdade que a Samsung também está a mudar. E a ver mais à frente. Está a marcar terreno em áreas com grande potencial de crescimento como a Internet das Coisas e a Realidade Virtual. Investimentos que vão compensar a curto espaço de tempo.
Aliás, chavões como: Internet das Coisas, Big Data, Cloud Computing, Deep Learning… continuaram a fazer as parangonas das empresas que estão a usar estas tecnologias para fazer negócio. Mas foi bom ver que estão, realmente, a ser implementadas. Há cidades em Portugal (Oeiras, por exemplo) onde as rotas da recolha de lixo já são otimizadas devido à colocação de sensores dentro dos caixotes. Lá fora, e dentro do conceito de Deep Learning, um robô aprendeu sozinho (repito, sozinho) a jogar xadrez em 72 horas e fá-lo ao nível de Mestre Internacional. A Inteligência Artificial evoluiu a um ritmo que alguns consideram assustador. Aliás, alguns empresários da Tecnologia levam essa ameaça tão a sério que criaram um fundo de mil milhões de dólares para que a evolução da Inteligência Artificial seja acompanhada de perto e todos os desenvolvimentos se tornem disponíveis ao maior número de empresas possível.
Na Saúde, os cientistas usaram a biotecnologia para editar células vidas de ADN e, assim, alterar o desenho de alguns seres. Foi assim que criaram mosquitos que não têm a capacidade de espalhar a malária ou cães com músculos mais fortes. E é assim, também, que vamos, todos, começar a comer alimentos geneticamente alterados em poucos anos.
ESPAÇO
Mas foi lá fora, no Espaço, que assistimos aos momentos mais marcantes. Foi apaixonante acompanhar o “regresso à vida” da sonda Philae (no final de 2014) e ver toda a informação que a o pequeno robô conseguiu recolher de um meteorito em movimento antes de se calar para sempre – a Agência Espacial Europeia tentou, sem sucesso, uma última comunicação com o dispositivo no passado dia de Natal.
A descoberta de água em Marte fez as parangonas e deixou-nos a sonhar com explorações espaciais mais fáceis onde colónias e espalhadas por planetas serviriam como “postos de abastecimento” para as missões exploratórias. Ficou agora a saber-se que terá sido dióxido de carbono congelado a criar as ravinas e os leitos marcianos. E não água.
O ano acaba com uma boa notícia: a SpaceX conseguiu recuperar um foguetão que tinha enviado em missão. Ou seja, uma empresa privada aeroespacial consegue, finalmente, otimizar a sua operação reutilizando parte da aeronave. O que dá à SpaceX, de Elon Musk, a possibilidade de começar a operar, realmente, em 2016.
É importante referir Elon Musk porque ele é o grande visionário do ano que agora está a terminar. Aliás, também o foi em 2014 e, provavelmente, vai manter esse título até 2020. O patrão da Tesla e da SpaceX está apostado em mudar o mundo. Seja no Espaço, seja aqui em baixo, na Terra. Mesmo tendo em conta que a Information Technology and Innovation Foundation (ITIF) acaba de o considerar como “inimigo da tecnologia”. Isto porque Musk é um dos principais ativistas no controlo do desenvolvimento da Inteligência Artificial que ele considera como uma das principais ameaças à humanidade. E tem razão. À medida que digitalizamos tudo o que nos rodeia, vamos precisar de computadores que consigam analisar em tempo real grandes quantidades de informação. Aliás, as máquinas vão ter de intuir cenários e agir preventivamente em algumas ocasiões.
Este é o caminho que começámos a percorrer de forma mais clara em 2015 e que não mais vamos parar de desbravar. A Inteligência Artificial, com todos os perigos inerentes (quem não gosta de um bom enredo de Ficção Científica?), faz parte do nosso futuro. Aliás, a nossa evolução e sobrevivência como espécie depende de máquinas mais inteligentes. E isso nunca se tornou tão claro como no decorrer deste ano.