No dia 16 de julho, o S&P 500 atingiu um máximo anual de 5.667,20 pontos para um ganho de 18,8% este ano. Mas, como todos sabemos, este desempenho pode ser atribuído em grande parte às Sete Magníficas / ao tema ligado à Inteligência Artificial (IA). No final de junho, por exemplo, só a Nvidia era responsável por mais de um terço da valorização do S&P 500 em 2024. Para as outras 493 ações deste índice, quer o crescimento dos resultados, quer os retornos para os acionistas foram mais contidos. Na verdade, os restantes títulos do S&P 500 têm estado a braços com uma recessão nos resultados desde o início do ano passado.
Tal está bem demonstrado por uma análise do Bank of America, que revela que os resultados do S&P 493 não registam um crescimento anual desde o quarto trimestre de 2022. Ainda de acordo com a mesma análise, após uma queda anual de 2% no primeiro trimestre de 2023 e uma queda anual de 7% no segundo trimestre do ano passado, o crescimento dos resultados destes 493 títulos manteve-se estável em cada um dos últimos três trimestres.
O atual período de divulgação de resultados, referentes ao segundo trimestre, deverá marcar o fim do que tem sido uma recessão de resultados para a grande maioria das empresas do S&P 500. Para estas 493 ações, os analistas preveem um crescimento dos resultados que poderá atingir 6%, 7% e 13% anualmente durante o segundo, terceiro e quarto trimestres de 2024.
No entanto, estes crescimentos ainda ficariam aquém do crescimento de resultados do índice como um todo, uma vez que a maior parte deste crescimento deverá continuar a ser gerado pelos setores de tecnologia e de comunicações, que englobam os beneficiários da IA como a Nvidia, Microsoft, Meta e Alphabet. É certo que o setor da saúde também deverá alcançar um aumento de resultados de dois dígitos em cada um dos próximos três trimestres, mas este desempenho ficará a dever-se, essencialmente, a alguns medicamentos-estrela da Pfizer e da Merck.
Esta bifurcação no desempenho entre as ações ligadas à IA e as restantes ações do S&P 500 constituiu uma surpresa para a generalidade dos investidores. Mas os seguintes números podem ajudar-nos a compreender como chegámos aqui. No início de 2024, uma das opiniões consensuais entre os investidores era que a recuperação do mercado se iria alargar após um ano de 2023 marcado por uma valorização que dependeu, quase em exclusivo, do tema da IA. Tal não se verificou até agora e o crescimento dos resultados explica porquê. Nos últimos dois trimestres, o setor de tecnologia registou um crescimento dos resultados de 25% e 27%, respetivamente. Para o setor de comunicações, este crescimento foi ainda mais evidente, com 53% e 43% durante estes períodos. Não é de admirar, portanto, que estes sectores — e as componentes mais influentes dentro dos mesmos — tenham estado no centro, tanto das atenções dos investidores, como da maior parte do desempenho do mercado (ou do índice S&P 500).
E é neste ponto que alguns estrategas de mercado se começaram a questionar sobre a utilidade e, até, a sensatez de, a manter-se esta bifurcação de desempenho, continuar a utilizar-se o tradicional índice de referência S&P 500 como uma referência útil para a maioria dos investidores? De facto, numa altura em que a correlação entre o índice S&P 500 e os seus constituintes se aproxima do mínimo dos últimos 25 anos, o que significa que a maioria destas 500 ações não está a ser negociada em linha com o S&P 500, será que ainda faz sentido pensar neste índice como o substituto do mercado? Ou será que, atualmente, faz mais sentido olhar para o S&P 500 “apenas” como o índice representativo mais detido pela maioria dos investidores passivos em ações dos EUA? Em jeito de resposta, aqui fica a reflexão de que estes momentos em que se atingem os extremos atuais costumam ser pontos de inflexão no comportamento dos investidores e, em consequência disso, do próprio mercado acionista.