“Os cerca de vinte anos que levo como voluntária, desde 1983, coincidem basicamente com o vigésimo aniversário da criação da cidadania europeia pela União Europeia, razão para a designação de 2013 como Ano Europeu da Cidadania. Esta coincidência permite-me ligar a minha experiência pessoal de vivência do voluntariado à afirmação de cidadania.
Na verdade, o voluntariado é uma forma de exercício efectivo – e afectivo – de intervenção na sociedade, numa das suas variantes mais dignas, já que é feita desinteressadamente e com sentido de partilha e solidariedade. Partilha concreta de experiências e competências; de solidariedade, em acções concretas e reais, em compromisso com causas para melhoria da sociedade.
Não é uma, mais uma, declaração abstracta sobre um conceito distante, a que normalmente se reduz a referência ao tema. Com o voluntariado, encontramos uma das dimensões mais nobres de contribuição, individual ou colectiva, para o bem estar da comunidade. Que essa participação se faça a nível cívico, político ou social, em todos eles há a mesma vontade de fazer parte, de construir uma sociedade melhor.
O trabalho voluntário, ou outra forma concreta, efectiva e empenhada, de intervenção nas actividades da civitas, concedem a quem o pratica uma maior legitimidade para fazer ouvir a sua voz na defesa dos direitos fundamentais e no cumprimento das obrigações de interesse público, num exercício positivo de cidadania.
Um desses direitos, consagrado na Declaração universal dos direitos do Homem é o direito de todos poderem ter acesso a uma alimentação digna.O direito à alimentação é não apenas um direito fundamental, mas um direito básico, sem a realização do qual dificilmente se podem exercer quaisquer outros. Os Bancos Alimentares, a que estou ligada, prestam ajuda alimentar a quem mais precisa, através da distribuição dos alimentos que recolhe gratuitamente na sua luta contra o desperdício alimentar.
Ser voluntária, como muitos milhares de portugueses, de uma iniciativa com estes fins é a meu ver uma forma de afirmar orgulhosamente a minha, a nossa cidadania em Portugal.”