“Os vinte anos da criação da cidadania da União Europeia celebram-se em 2013, que por isso foi designado como Ano Europeu dos Cidadãos. A título pessoal este ano também é especial: foi precisamente há duas décadas atrás que comecei a intervir publicamente em prol do ambiente – na altura contra a construção da incineradora de lixo da Lipor. Foi uma luta perdida, como muitos saberão, mas a vontade de contribuir para a sustentabilidade planetária manteve-se, atravessou várias causas e associações e foca-se atualmente na irracionalidade das plantas e alimentos geneticamente modificados.
Neste percurso encontrei ambientalistas muito dedicados, para quem o conceito de lazer e tempo para a família não ocorria sequer, e eu própria senti na pele a dificuldade de equilibrar emprego e voluntariado. Será que a saúde global só se atinge à custa da saúde individual? A resposta só pode ser um sonoro Não, até porque os sacrifícios das últimas décadas não nos aproximaram do objetivo: seria enfadonho enumerar aqui os indicadores, mas a verdade é que as tendências apontam para um planeta cada vez mais doente.
À falta de panaceia gostava de partilhar a minha reflexão na busca de um caminho holístico para a cura, tanto nossa como do nosso futuro. A observação inicial é de que as soluções existem. Sabemos como resolver a fome, as alterações climáticas ou a guerra. A questão é querer. Claro, individualmente todos queremos, mas a tendência é apontar o dedo ao poder instalado (seja ele governamental, empresarial ou internacional) e adormecer na mui prática posição de vítimas pequeninas e impotentes perante Golias desmesurados.A vivência da cidadania implica-nos pois a cada um sem exceção, como mini-Davids que somos, pois é dos números que surge a força e na passividade que crescem as injustiças. O envolvimento de todos na vida pública reforça o impacto e evita o esgotamento dos poucos ambientalistas e demais lutadores de causas nobres.
E se mesmo assim a mudança social e ecológica não chegar no tempo certo? A última fronteira somos nós próprios ou, como frisou Mahatma Gandhi, teremos de ser a mudança que queremos ver no mundo. Na verdade, o único âmbito onde nos é possível exercer total controlo é o da nossa consciência e raciocínio. Faz sentido que, na busca da transformação, a nossa forma de estar espelhe esse mesmo crescimento – até às últimas consequências. Acredito que nessa coerência reside a inspiração que mobiliza sociedades inteiras.”