A Polícia Judiciária (PJ) estará a investigar “eventuais discrepâncias entre o auto de notícia elaborado pela Polícia de Segurança Pública (PSP) e os depoimentos dos agentes envolvidos” na morte de Odair Moniz, avança, esta quinta-feira, o Correio da Manhã. Em causa, estão suspeitas de “falsificação de provas”.
O jornal refere que o auto de notícia (expediente) apenas foi preenchido, e assinado pelos dois agentes da PSP, “algumas horas após o incidente”, e terá servido de base para as declarações públicas feitas pela direção nacional da PSP sobre o caso.
Recorde-se que o primeiro comunicado da PSP referia que Odair Moniz, 43 anos, tinha tentado agredir os dois agentes da PSP “com recurso a arma branca”, versão que seria negada, pelos polícias envolvidos, no primeiro interrogatório, no âmbito da investigação. O relatório da PSP também garantia que a vítima tinha sido “prontamente assistida no local”, mas um vídeo, divulgado pela VISÃO, mostra que, após os disparos, e durante vários minutos, nenhum dos polícias se aproximou do corpo de Odair Moniz para qualquer manobra de salvamento. Apenas, após alguma insistência dos homens que estão a filmar a cena do alto de um prédio, os agentes verificam o pulso da vítima.
O Correio da Manhã indica que a PJ levanta dúvidas “quanto à autenticidade do auto de notícia, com base em diferenças entre as declarações dos dois polícias à Judiciária e o que está registado no documento oficial”. As divergências terão levado os investigadores “a questionar a fiabilidade das informações e a investigar se o documento poderá ter sido alterado ou complementado posteriormente”. O jornal terá ainda questionado a PSP “se foram realmente os dois agentes a elaborá-lo ou se, pelo contrário, outro elemento da força policial teria redigido o documento, com os agentes limitando-se a assiná-lo”.
A PSP já terá confirmado que o auto de notícia foi “elaborado pelos polícias intervenientes na ocorrência”. Contudo, a entidade admitiu que “como acontece habitualmente, especialmente em situações de maior complexidade, a realização do expediente é acompanhada pela hierarquia”.
Odair Moniz morreu na madrugada do dia 21 de outubro, na sequência de uma intervenção da PSP, no bairro da Cova da Moura, na Amadora. A polícia explicou que a vítima tornou-se “suspeito” quando circulava na Avenida da República, na Amadora, não terá respeitado uma ordem de paragem dos agentes da PSP, e “encetou fuga”. No interior da Cova da Moura, Odair “entrou em despiste, abalroando viaturas estacionadas, tendo o veículo em fuga ficado imobilizado”, lê-se na nota do Comando Distrital da PSP de Lisboa.
O relato acrescenta que, “pelas 05h43”, os agentes da PSP procederam “à interceção” deste homem, que terá resistido à detenção. “Na Rua Principal do referido bairro, quando os polícias procediam à abordagem do suspeito, o mesmo terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca, tendo um dos polícias, esgotados outros meios e esforços, recorrido à arma de fogo e atingido o suspeito”. Odair Moniz ainda foi assistido no local e transportado para o Hospital São Francisco Xavier, mas acabaria por falecer “pelas 06h20”, de acordo com o comunicado da PSP.