Não fosse a maioria destes acrónimos ser sinónimo de sofrimento para muito boa gente e a descoberta dos seus diferentes significados seria caso para rir. E são muitas as novas palavras formadas com as letras iniciais de frases que começam por “fear of” (em inglês “medo de”). Palavras essas que corresponderão a outros tantos síndromes.
Já se conhece há muito a “velhinha” FOMO, acrónimo de Fear Of Missing Out, que podemos traduzir por “medo de ficar de fora” de tudo o que possa estar a acontecer de interessante no mundo ou, pelo menos, no nosso mundo.
Foi Patrick McGinnis, o mesmo americano que no início desta década cunhou FOMO, quem inventou igualmente a palavra FOBO, de Fear Of Better Options, para descrever a ansiedade de se poder estar a perder oportunidades melhores. FOBO pode também ser o acrónimo de Fear Of Being Offline (medo de estar desligado) ou de Fear Of Being Ordinary (medo de ser comum/vulgar, afinal mais uma pessoas igual a tantas outras no meio da multidão).
Entretanto, as restrições por causa da pandemia de Covid-19 deram origem aos termos FONO, de Fear Of Being Normal (medo de regressar à normalidade), FOGO, de Fear Of Going Out (medo de sair de casa, no geral, com direito a páginas de memes), e FODA, de Fear Of Dating Again (medo de voltar a ter encontros). Mas este acrónimo, provavelmente o mais suscetível de causar umas boas gargalhadas, já andava por aí muito antes da pandemia. E sem ter nada que ver com encontros amorosos. Em 2004, Patrick McGinnis, outra vez ele, receava que alguns dos seus colegas em Harvard sofressem de Fear Of Doing Anything (medo de fazer… seja o que for).
Tudo isto veio a propósito de um estudo agora publicado, na revista Telematics and Informatics Reports, que analisou o acrónimo JOMO, de Joy Of Missing Out.
Traduzível por “prazer de ficar de fora”, este termo tornou-se conhecido em oposição direta a FOMO. Não é um síndrome, mas antes um estilo de vida alternativo, visto com mais saudável.
Uma equipa liderada por Chris Barry, professor de Psicologia da Universidade do Estado de Washington (WSU), nos Estados Unidos, analisou a associação do JOMO ao uso das redes sociais, e ainda à auto-perceção e à saúde mental. E concluiu que esse prazer de não estar sempre “ligado” pode ser, afinal, sobretudo ansiedade social disfarçada.
Ao analisarem dois grupos de adultos, entre os 18 anos e os 59, os investigadores chegaram a resultados mistos, sendo que, em bastantes casos de pessoas que assumiam JOMO como estilo de vida, encontraram provas de que existe alguma ansiedade social por detrás desse prazer de “ficar de fora”.
“No geral, muitas pessoas gostam de estar ‘ligadas’”, lembrou Chris Barry, citado num comunicado da WSU. “Ao tentarmos avaliar o JOMO, descobrimos que algumas pessoas estavam a gostar de ‘ficar de fora’ mais para evitar a interação social do que pela solidão ou por uma experiência calma, do estilo Zen.”
Isto também pode explicar a relação encontrada entre JOMO e a utilização das redes sociais, um resultado que surpreendeu os investigadores.
Ao contrário do que Barry e os seus colegas estavam à espera, as pessoas que diziam ter prazer em “ficar de fora” dos eventos sociais usaram recorrentemente o Facebook, o Whatsapp e o Instagram para verificar aquilo que os amigos e a família andavam a fazer. Uma explicação possível, dizem os investigadores, é estas pessoas terem ansiedade social e sentirem que as redes são uma maneira menos intensa de se relacionarem com os outros.
Embora estudos anteriores tenham ligado o FOMO à baixa auto-estima e à solidão, estas novas descobertas indicam que a experiência do prazer de “ficar de fora” não é tão clara. Para Barry, o JOMO pode não ser um estado constante ou ligado a traços de personalidade, mas ser apenas uma fase temporária de necessidade de “desligar”.
“Há muitas perguntas sem resposta, como ‘O que é uma boa dose de interação social versus desinteresse?’ Penso que a resposta é diferente para cada pessoa”, fez notar o mesmo psicólogo.
Segundo outras investigações que estudaram pessoas com ansiedade social, a exposição a eventos que habitualmente as tornam ansiosas pode ajudar a diminuir esse stresse. Ou seja, mais interação, ao vivo e a cores, é melhor.
“Os motivos por que as pessoas escolhem o JOMO são importantes”, sublinhou Barry. “Por que razão elas decidem ‘ficar de fora’? Se é porque precisam de recarregar [energias], talvez seja uma coisa boa. Se estão a tentar evitar alguma coisa, provavelmente não é saudável a longo prazo.”