Esta história (triste) é uma viagem a 1936, três anos antes de começar a Segunda Guerra Mundial. O protagonista foi identificado como August Landmesser e ficou conhecido depois de, nesse ano, ter recusado fazer a saudação nazi num encontro do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores da Alemanha, mais conhecido por Partido Nazi. Uma fotografia da época captou o momento em que Landmesser permaneceu com os dois braços para baixo, enquanto os colegas erguiam o braço direito, num gesto que representa lealdade e culto a Adolf Hitler.
De acordo com vários registos escritos, o homem ingressou no partido em 1931, com o objetivo de conseguir sobreviver a um período muito mau a nível económico. Três anos depois, Landmesser apaixonou-se por Irma Eckler, uma judia. Em 1935, os dois ficaram noivos, mas as Leis de Nuremberga, um conjunto de leis antissemitas criadas pela Alemanha nazi promulgadas precisamente nesse ano, em setembro, impediram-nos de casar, mas não de terem filhos: nesse mesmo ano, nasceu Ingrid, a primeira bebé do casal.
Landmesser e Eckler tentaram fugir da Alemanha com a filha, dois anos depois. O objetivo era refugiarem-se na Dinamarca, mas não conseguiram escapar, tendo sido detidos pelas autoridades. Landmesser foi acusado de desonra à raça e, mais tarde, absolvido por falta de provas, argumentando que nenhum dos dois sabia que Eckler era ou não totalmente judia. Foi ainda obrigado a terminar o relacionamento com a companheira, com a ameaça de que ficaria sujeito a uma pena de vários anos de prisão.
O alemão escolheu ficar ao lado da mulher e da filha e foi, por isso, novamente detido em 1938. Foi a última vez que viu Eckler e a filha de ambos. Landmesser foi condenado a trabalhos forçados no campo de concentração de Börgermoor, na Alemanha, durante cerca três anos, e em 1941, em plena Segunda Guerra Mundial, foi dispensado das suas funções e chamado para combater contra os Aliados. Devido ao seu passado considerado “criminoso”, o alemão foi enviado para as missões mais perigosas, tendo sido morto em serviço, na Croácia, em outubro de 1944, aos 34 anos, apesar de o seu corpo nunca ter sido recuperado.
Já Eckler, foi detida pela Gestapo e foi na prisão de Fuhlsbüttel que nasceu a segunda filha do casal, Irene. Enviada depois para diferentes campos de concentração, em fevereiro de 1942, foi levada para um centro de eutanásia na cidade de Bernburg, onde foram assassinadas 14 mil pessoas. Documentação encontrada após o fim da guerra revelou que Eckler foi declarada morta oficialmente a 28 de abril de 1942. Algumas cartas de que escreveu foram recebidas até janeiro desse ano.
As duas filhas de Landmesser e Eckler foram duas das sobreviventes da guerra, tendo sido adotadas. O casamento de August Landmesser e Irma Eckler foi reconhecido em 1951 pelo Senado de Hamburgo e, nesse mesmo ano, Ingrid, a filha mais velha, assumiu o apelido Landmesser. Irene escolheu continuar a utilizar o apelido Eckler.