Esta pode ser uma boa explicação para todos os comentários e publicações que surgiram nas redes sociais depois de José Milhazes, comentador habitual da SIC, ter dito um palavrão em direto sem dar tempo para o “piiii”, como notou Clara de Sousa, que conduzia o noticiário: ter sido honesto e autêntico. Pelo menos, foi o que concluiu um estudo de 2016, publicado no Journal of Social Psychological and Personality Science, que revelou que os participantes que utilizavam uma linguagem mais grosseira e diziam mais palavões eram considerados mais sinceros do que aqueles que não tinham esse tipo de discurso.
Esta situação, que aconteceu na última terça-feira enquanto Milhazes comentava um protesto antiguerra durante um concerto em São Petersburgo, na Rússia, tornou-se um dos tópicos mais comentados e partilhados nas redes sociais, com piadas para todos os gostos. No vídeo amador desse concerto, ouvia-se o público a gritar algumas palavras em russo. “Sabes o que é que estão a dizer? A guerra que vá para o c***“, referiu o comentador, que pediu desculpas logo a seguir por ter utilizado um palavrão.
No geral, este percalço em direto não foi visto de forma negativa pelo público, pelo contrário. Várias pessoas elogiaram o comportamento do comentador, talvez porque tenham mesmo associado o seu comentário a uma atitude honesta e genuína. David Stillwell, investigador da Universidade de Cambridge e um dos autores da investigação de 2016, disse, em 2017, ao Daily Mail que existem duas formas de olhar para a mesma situação. Por um lado, há quem pense que dizer palavrões é sinal de um comportamento social negativo – desconsiderando, portanto, quem fala desta forma.
No entanto, existe uma outra perspetiva que é apoiada pelo estudo. Segundo este lado da moeda, quem fala desta forma não está a utilizar filtros nenhuns às suas emoções. As palavras escolhidas refletem, portanto, de uma forma mais verdadeira, as emoções, o que torna o discurso mais genuíno.
Esta investigação, que resultou na publicação intitulada “Frankly, I don’t give a damn: the relationship between profanity and honesty”, teve três fases de experiências. Na primeira, os autores do estudo questionaram 276 pessoas sobre o porquê de falarem utilizando o calão. A maioria delas respondeu que a sua intenção se prendia com a tentativa de serem o mais honestos possível, retrando-se a si próprios mais fielmente.
Na segunda fase de experiências, as conclusões a que chegaram foram muito semelhantes. Desta vez, foram analisadas cerca de 74 mil pessoas na rede social Facebook. Os investigadores compararam a frequência de frases que continham palavrões e frases com histórias que, subentendia-se, eram verdade. Curiosamente, perceberam que as pessoas que tinham um discurso mais limpo, queriam ter uma imagem também mais limpa nas redes sociais, mesmo que, para isso, fosse necessário forjar a realidade.
Como verificaram, nas duas experiências anteriores, que o uso de palavrões estava associado, de forma positiva, à honestidade, os investigadores tentaram, numa terceira e última experiência, perceber se isto também se verificaria a nível da sociedade. Isto é, se sociedades com altas taxas de uso de palavrões podem ser caracterizadas por terem um maior apreço pela honestidade. A experiência veio a verificar que esta hipótese estava, efetivamente, certa.