Nas duas últimas semanas, o preço dos combustíveis foi subindo até atingir valores recorde. O barril de Brent, que serve de referência para a Europa, chegou a atingir os 140 dólares por barril, ultrapassando o até então valor mais elevado de 132 dólares por barril, registado em 2008. A tendência parecia ser a de uma subida contínua, mas depois do pico de 8 março, os preços começaram a sofrer uma descida. Nesta quarta-feira, os registos de preço estavam abaixo do marco dos 100 dólares. Vamos sentir a descida nas bombas? É provável que sim.
A guerra na Ucrânia e as consequentes sanções dirigidas à Rússia impactaram significativamente o mercado do petróleo e foram a causa principal das subidas recorde nos preços de combustível em 2022. Isto porque a Rússia não só é um grande produtor de petróleo como o segundo maior exportador do mundo.
A União Europeia (UE), por exemplo, paga diariamente cerca de 260 milhões de euros em importações de petróleo russo, segundo um relatório publicado pela organização Transport & Environment (T&E). Portugal, por sua vez, tem a Rússia como uma das mais antigas fornecedoras de petróleo. No entanto, em 2020, e de acordo com os dados da Direcção Geral de Energia e Geologia (DGEG), a Rússia acabou por ser substituída pelo Brasil e Angola, passando a fornecer apenas gás natural a Portugal (ainda não foram divulgados dados relativos a 2021).
“O gasóleo é muito procurado para a geração de aquecimento em alternativa ao gás e, portanto, tem uma procura no inverno que é muito superior e que justifica em parte esta subida simultânea e um pico adicional de procura até tendo em conta a quebra de fornecimento de petróleo que vinha da russa”, explicou em resposta à Rádio Renascença João Duque, professor catedrático no Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa.
Portugal não deixou, por isso, de sofrer com o aumento do preço dos combustíveis que parece estar agora num caminho descendente. Existe, inclusive, algum otimismo em relação às negociações entre a Ucrânia e a Rússia e a possibilidade de serem a origem de um aligeirar dos preços. A subida de cerca de 30 cêntimos no gasóleo e 20 cêntimos na gasolina podem mesmo vir a ser revertidos até porque “se há ajuste na subida, deve haver ajuste na descida”, explica.
Ainda assim, e mesmo sem a componente das negociações, a descida dos preços que tem vindo a ser registada pode já ser suficiente para se fazer sentir, a partir de segunda-feira, nas bombas de gasolina. Em alguns países a variação de preços até pode já ter-se refletido nas bombas esta semana, mas Portugal tem a prática de reajustar preços à segunda-feira.
Os condutores podem, posto isto, esperar boas notícias para a semana, não esquecendo, no entanto, que existem outras variáveis que podem ser decisivas na redução, ou não, dos preços, nomeadamente o facto de as próprias gasolineiras terem liberdade na sua fixação.
Os EUA e o Canadá suspenderam as importações de petróleo da Rússia, aumentando, com isso, a procura por petróleo de outros produtores, o que levou, por sua vez, a um consequente aumento de preços. O receio de que a UE seguisse os passos dos países norte-americanos era um outro fator que contribuía para esse aumento. Uma descida nos preços seguida de um corte no petróleo vindo da Rússia resultaria num grande prejuízo, de modo que os preços mantinham-se elevados. Contudo, esse receio tem vindo a reduzir, o que também impacta a descida de preços.