Preocupou-se nos primeiros dias depois do aviso geral de epidemia que pudesse não haver comida nos supermercados, mas depois descobriu como trabalhar com as apps em chinês para encomendar o jantar – e sossegou. Bruno Martins, 38 anos, foi lá para fora ganhar a vida logo depois da intervenção da troika em Portugal, em 2012, e desde 2018 que vive na China. Geografo de formação, acabou por especializar-se em eletrónica do consumo – e o seu trabalho foi tão reconhecido em Espanha que acabou por ser contratado pela empresa mãe na China.
Antes de toda esta confusão, estava a contar os dias para voltar a Espanha e participar no World Mobile Congress, um dos maiores fóruns internacionais de eletrónica de consumo, que decorre de 24 a 27 de fevereiro em Barcelona. Mas eis que, com a quarentena decretada pelas autoridades, dificilmente alguém conseguirá sair do país a tempo de estar naquela cidade espanhola antes do fim do mês. “Agora, até os jornais espanhóis estão a dizer que, se calhar, o próprio fórum será adiado”.
É a mais recente reviravolta nos seus planos. Bruno tinha vindo passar o Natal com a família a Portugal – o primeiro de muitos, desde que está fora do país – e quando regressou à China já ia munido de máscaras. “Lembro-me do que foi o H1N1 e sei que não se pode arriscar”, assegurando, ainda assim, que não tem medo: toma todas as precauções devidas e só sai à rua de máscara, capuz e luvas.
Só não faz previsões sobre a data em que a vida deverá regressar à normalidade. Vai seguindo as informações oficiais, divulgadas pelo governo chinês através do WeChat (a plataforma de conversação mais usada na China, que bloqueou o Whatsapp) e notou já que a curva do contágio tem vindo a abrandar. Resta-lhe esperar pelo dia em que comece a descer. “Regresso à normalidade? Isso é do campo da futurologia”.