Marc Veyrat, chefe francês que perdeu recentemente uma das estrelas Michelin, escreveu uma carta aos editores do icónico livro vermelho, exigindo ser retirado do Guia. Na missiva, o chefe insurge-se contra a sua despromoção, em janeiro, manifestando as suas dúvidas de que os inspetores tivessem realmente visitado o seu restaurante, La Maison des Bois, em Haute Savoie.
O chefe diz ainda que, desde que perdeu a estrela, entrou numa depressão e a sua mulher teve mesmo de “esconder a medicação e as caçadeiras”.
Segundo o mesmo, os inspetores do guia foram de “uma profunda incompetência” e fizeram uma avaliação errada. “Eles ousaram dizer que utilizámos cheddar no nosso suflê de reblochon, de beaufort e tomme! Insultaram a nossa região; os meus empregados ficaram furiosos”, afirmou em declarações ao Le Monde.
Numa entrevista ao Lyon Capitale, Veyrat afirma que a perda da sua terceira estrela foi “uma vingança do novo diretor [do Guia Michelin]”, devido aos rumores de que era amigo do seu antecessor. Além disso, afirmou também, em tom provocatório, que os críticos “não sabem nada sobre cozinha!”: “Deixem-nos vestir um avental e ir para a cozinha! Estamos à espera deles. Mostrem o que conseguem fazer”.
Gwendal Poullennec, diretor internacional do guia, disse que o restaurante foi visitado “várias vezes por ano desde que reabriu”, e recusou retirar o restaurante do guia gastronómico. “As estrelas são atribuídas anualmente pela Michelin e não são propriedade dos chefes. São para os leitores e gastrónomos para lhes dar a oportunidade de descobrir uma experiência”, explica.
O chefe despromovido não gostou que o seu pedido tivesse sido recusado e garante que vai começar a pedir aos clientes que “deixem a sua identificação” de modo a não receber mais críticos. “Não quero ver mais nenhum inspetor Michelin em minha casa!”
No guia Michelin lê-se que o restaurante de Veyrat tem uma “cozinha excecional”, cujo melhor exemplo é a “balada” nos bosques “onde os sabores rebentam, escapam, entre notas herbáceas, seiva de abeto e cogumelos”. Os críticos consideram que é um local pelo qual “vale a pena o desvio”, tendo apenas uma única desvantagem, o preço. O menu “festa estrelada”, por exemplo, custa €395 e oferece pratos que incluem ovos de truta e “camarões-reis cozidos na casca de abeto”. O restaurante tem os seus próprios jardins botânicos, hortas, pomares, cria as suas próprias vacas, galinhas e peixes de água doce, faz o seu próprio pão e a sua própria cidra.
Esta não é a primeira vez que um chefe pede para ser retirado do livro vermelho. Em 2018, o francês Sebastien Bras pediu que o seu restaurante Le Suquet fosse retirado, porque não queria cozinhar sob a “enorme pressão” de uma possível inspeção. O seu pedido foi inicialmente atendido – mas em janeiro deste ano, o Le Suquet foi novamente incluído, desta vez com duas estrelas em vez de três.