Em 2015, uma em cada quatro vítimas de violência doméstica foi um homem. São dados oficiais, atualizados pela secretaria-geral do Ministério da Administração Interna para a VISÃO. Em três anos, só na Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, o número de queixas masculinas aumentou 15 por cento.
Em agosto, a APAV lançou a primeira campanha dirigida a homens maltratados para ajudar a “quebrar o ciclo da vergonha”. Seguiu-se a abertura da primeira casa-abrigo para homens, no Algarve, em outubro, um protocolo entre a Fundação António Silva Leal e a Secretaria de Estado para a Cidadania e a Igualdade. Outras iniciativas vão surgir, destinadas a responder a um fenómeno que continua secundarizado, em parte pelo facto de continuarem a ser as mulheres as principais vítimas.
Foram quase dois meses de entrevistas, reportagem e leituras de diversos estudos, nacionais e internacionais. Semanas a tentar convencer vítimas masculinas a contar as suas experiências na primeira pessoa e a cruzar as estatísticas oficiais, um labirinto kafkiano onde as próprias instituições do Estado se perdem e onde faltam respostas, como comprovou a experiência da VISÃO nos contactos para chegar a números fiáveis. Neste trabalho, governantes, profissionais de saúde, técnicos, investigadores, advogados, magistrados, associações e polícias quebram o tabu. Revelamos os mais recentes estudos sobre o tema em território nacional e damos voz às vítimas masculinas.