Foi uma junção entre uma arruada e um desfile, mas ao jeito do PCP; o que significa que dificilmente se poderia esperar algum incidente ou provocações alheias de transeuntes à caravana que apostou, este sábado à tarde, na Cova da Piedade, Almada (distrito de Setúbal) . Ainda por cima numa terra que já foi vermelha – e agora é rosa.
Mesmo sendo o Alentejo o bastião comunista, o resultado eleitoral na região sadina pode ser um bom estetoscópio para se saber em que estado está o pulso da coligação de comunistas e verdes. Um único senão, em dia de mostrar forças neste distrito, a cabeça de lista pelo círculo, a deputada Paula Santos, foi a mais recente baixa: está em isolamento profilático, porque o filho acusou positivo à Covid-19.
A toque de uma gaita de foles e de um bombo, ao som da carvalhesa, umas quantas centenas desceram a rua inclinada que permitiu dar dimensão à moldura humana, encabeçada pelos dirigentes dos Verdes, José Luís Ferreira e Dulce Arrojado, e alguns históricos comunistas, como Armindo Miranda.
Mais uma vez, enquanto João Ferreira está igualmente doente e faltam quatro dias para o regresso de Jerónimo de Sousa à caravana, coube a João Oliveira ser o rosto principal da CDU, tendo apenas entrado a meio do desfile, para ali acenar que está a ter um retorno, de Norte a Sul do País, de que a coligação esta a ganhar força.
Oliveira denuncia estratégia do medo e põe BE no cesto do PS e PSD
Já no Jardim da Cova da Piedade, num comício que não deu tempo para respirar do desfile e em que João Oliveira foi chamado de João Ferreira pelo mandatário concelhio da CDU, o líder parlamentar alertou que, mesmo se sabendo que “esta seria uma batalha eleitoral complexa”, em que “deveriam surgir os habituais expedientes da bipolarização” entre PS e PSD, é notório que há uma tentativa “de amedrontar as pessoas a votar” numa daquelas duas forças – a que chamou de “o bloco central dos negócios”.
Segundo o comunista, “o voto da CDU, além de contar para as soluções, é também o melhor seguro contra a direita“. “Foi a CDU que fechou a porta à direita, em 2015, quando alguns já a tinham escancarado”, apontou, referindo-se à assunção da derrota de António Costa na noite eleitoral de 4 de outubro de 2015.
E ainda fez questão de colocar o BE no mesmo pacote de socialistas e socias-democratas, ao lembrar que foram os três “que viabilizaram com o orçamento suplementar de 2020” as respostas insuficientes de combate à crise social e económica resultantes da pandemia. Aliás, os cerca de 25 minutos de intervenção culminaram num alerta cujo tom já tinha sido repetido por outras palavras: “Que dia 30 ninguém se deixe levar ao engano, porque o voto da CDU é o mais decisivo para derrotar a direita”.
Refira-se que, pelo menos uma vez, foi João Oliveira que acabou desafiado a gritar palavras de ordem e não o contrário. “Ainda bem que são vocês que aqui puxam por mim”, ironizou, arrancando valentes gargalhadas. “Este rapaz é muito engraçado”, atirou um idoso, que se manteve de pé atrás da VISÃO, apesar de haver lugares sentados e distanciados pata todos.
Verdes: Marcelo deu azo a plano de Costa
Antes, já José Luís Ferreira, dos Verdes, tivera mais acutilância que Oliveira, chamando os nomes às coisas. Acusou Costa de ter querido sempre estas eleições, com o apoio de Marcelo Rebelo de Sousa; e que um exemplo disso mesmo foi quando o Governo chutou para canto as propostas do PEV na fase da negociação do Orçamento do Estado para 2022. “Das 15 propostas que os Verdes fizeram ao PS apenas houve disponibilidade para uma delas”, referiu, acrescentando que “face àquilo que se passou, não é preciso ir muito longe para se perceber que a estratégia do PS foi sempre fazer eleições, com a cumplicidade do Presidente da República, diga-se de passagem”.
O deputado do PEV lamentou ainda que só agora Costa venha mostrar-se “preocupado com os professores que andam com as casas às costas”. “A única vez que vimos António Costa a falar preocupado com a questão dos professores foi para ameaçar em demitir-se pela recuperação dos anos de carreira congelada dos professores”, apontou.