Pedro Nuno Santos esperou até à última, para reagir aos resultados eleitorais, destas legislativas antecipadas. Porém, numa invulgar curta declaração inicial, veio recusar alimentar esperanças socialistas de que o partido possa vir a ser Governo.
Prometeu liderar uma oposição à AD, ao mesmo tempo que pretende levar a cabo uma reforma dentro do PS, que traga novos dirigentes e permita voltar a “merecer a confiança” do País. Isto é, apesar de derrotado, o secretário-geral passou uma mensagem: se estava (e chegou a mostrá-lo timidamente) desconfortável com a herança de António Costa, durante a campanha, é agora a altura de se livrar dela. Tanto que, nas últimas palavras, no Hotel Altis, nenhuma foi para o anterior líder e ainda primeiro-ministro.
“Seremos oposição, renovaremos o partido e procuraremos recuperar os portugueses descontentes com o PS”, apontou Pedro Nuno, que não teve sequer na primeira fila Costa – que chegara ao quartel-general uma hora e meia antes.
Além disso, recusou apontar baterias ao Chega, tendo em conta a votação expressiva que este partido da extrema-direita obteve: “Não há 18,1% de portugueses racistas e xenófobos em Portugal. Mas há muitos portugueses descontentes. Queremos recuperar a confiança destes portugueses; mostrar-lhes que as respostas para os seus problemas não passam nem pelo Chega, nem pela AD”. “Trabalharemos no futuro para conseguir, e voltar a ter, connosco os descontentes com a política e os descontentes com o PS”, disse, frisando que “o PS nunca deixará a liderança da oposição para o Chega e para André Ventura”.

No fundo – mesmo não o tendo dito diretamente -, nem a alegada estratégia de Costa, aplicada em janeiro de 2022 contra Rui Rio, de esvaziar o peso político PSD à conta da visibilidade do Chega, é sequer para manter: “O tempo da tática na política acabou. Comigo não há tática”.
A essa hora, quando falou, o PS estava residualmente à frente da AD no número de votos (cerca de mais dois mil), mas com menos deputados (76 contra 79). Em comparação com janeiro de 2022, os socialistas tiveram menos 480 mil votos. Ainda faltam contar os votos das comunidades portuguesas no estrangeiro, que conseguem eleger quatro deputados, nos círculos da Europa e de Fora da Europa.
Pedro Nuno não quer (mesmo e nem por sombras) governar
Todavia, Pedro Nuno Santos defendeu que não valerá a pena aos socialistas fazerem contas para conseguirem formar uma maioria à esquerda, tendo em conta que uma eventual moção de rejeição apresentada pela direita seria o cenário mais provável com ele próprio iria ver-se confrontado. E também não se mostrou interessado em liderar um Executivo, mesmo que lhe seja pedido.
“Não podemos estar a manter o País em suspenso mais 15 dias, quando é quase impossível, ou improvável, que o resultado no ciclo das comunidades mude as coisas. Não vale a pena estarmos aqui a fazer de conta. Não há possibilidade de o PS apresentar uma alternativa (à AD)”, explicou.

Pedro Nuno não o disse, mas a sua intervenção foi de quem já prevê novas eleições, mas aí já com um PS formatado à sua maneira. “Vamos agora falar com os portugueses, vamos ouvir e perceber as suas razões [para terem votado como votaram]”, assumiu. Depois despediu-se de todos no Hotel Altis, de uma ponta à outra e até de dois socialistas que cochichavam no fundo da sala – um deles com a mão sobre a boca: Pedro Costa, filho de António Costa, e Frederico Francisco, secretário de Estado das Infraestruturas, que está sob a alçada do primeiro-ministro.