Uma sondagem da Intercampus, para o Jornal da Madeira, nesta última semana de campanha, colocava o PSD de Miguel Albuquerque no limiar da maioria absoluta, para as eleições regionais antecipadas que se realizam este domingo, 23, na Região Autónoma. Os rostos que se apresentam à frente dos principais partidos são os mesmos de há dez meses, as propostas políticas em nada variam e o principal irritante da campanha continua a ser o mesmo: o envolvimento do líder do PSD Regional e presidente do Governo, e de vários elementos da sua equipa, como arguidos, em investigações judiciais por suspeitas que vão do abuso de poder e prevaricação à corrupção passiva. Num limbo judicial há mais de um ano, a elite do PSD madeirense, no poder há quase 50 anos, revelou, em todo este transe, uma notória falta de capacidade de renovação do pessoal político, não obstante os esforços do adversário interno de Albuquerque, Manuel António Correia, o que faz da figura que sucedeu no poder a Alberto João Jardim o senhor quase incontestado dos “laranjinhas” para mais um ato eleitoral. Paradoxalmente, porém, ele é também o principal obstáculo ao regresso da estabilidade perdida, visto que o seu nome é rejeitado, por (quase) toda a oposição, como interlocutor válido para futuros entendimentos. Esta circunstância parece ter levado a política madeirense a um beco sem saída, o que, aparentemente, só é possível evitar mediante a remoção de Albuquerque da liderança social-democrata ou, lá está, através do regresso à maioria absoluta que, durante 40 anos, presidiu aos destinos do arquipélago.
A falta de renovação de que parece sofrer o PSD, afeta, também, os partidos que se apresentam a disputar-lhe o poder. É difícil perceber o que é que mudou para que o líder do PS, Paulo Cafofo, pretenda reverter o resultado medíocre obtido há apenas dez meses, em maio de 2024; ou como é que em apenas 10 meses acha que conseguiu convencer o eleitorado a mudar o sentido de voto – sendo que nada de significativo se alterou no panorama político da Madeira. O 3.º partido, o regionalista JPP (Juntos Pelo Povo), de Élvio Sousa – uma dissidência do PS… –, que apresenta as mesmas caras das duas eleições anteriores, parece ter, também, atingido o seu limite de crescimento. A citada sondagem da Intercampus, aliás, apresenta uma previsão de descida destes dois partidos, os únicos que, numa eventual “geringonça”, teriam possibilidades da “varrer Albuquerque da Quinta Vigia”, como proclamou, esta semana, Élvio Sousa. Ora, estas são as terceiras eleições em apenas um ano e meio e os observadores locais não vislumbram como, em tão pouco tempo, o eleitorado tenha mudado assim tanto de opinião, de forma a dar, agora, um mandato sólido a qualquer um dos chalengers. Pode acrescentar-se que isso também é válido para Miguel Albuquerque: porque lhe daria agora o eleitorado, depois de dez meses de ainda mais desgaste, uma maioria inequívoca? Ainda assim, como se diria no futebol (e esta sondagem confirma…), o PSD Madeira está mais perto de “marcar o segundo golo do que de sofrer o empate”… O próprio Chega, que apostou muito nas eleições anteriores, parece algo desmotivado – e nesta única sondagem conhecida também não arranca. O líder local, Miguel Castro, foi o principal responsável pela queda do Governo (tendo o PS, de forma polémica, ido a reboque, “demitindo-se”, assim, do seu papel de liderança da oposição…) e arrisca-se a sofrer uma punição eleitoral por isso. Senão através da transferência de votos para outros partidos, ao menos, na não obtenção de novos eleitores. É curioso que André Ventura, que praticamente não saiu da Madeira, nas duas campanhas anteriores, tenha tido, desta vez, uma atuação discreta, demasiado ocupado com coisas “mais importantes”, como as entrevistas diárias a todos os canais nacionais de televisão.