As questões de atualidade dominaram parte da entrevista de Marcelo Rebelo de Sousa à SIC, a primeira após a declaração de que será recandidato à Presidência da República. Sobre a TAP, defende a manutenção da companhia aérea, sobretudo, devido à importância que tem para as comunidades portuguesas. Mas afirmou que não recebeu o plano de reestruturação e que soube dos seus termos “pela comunicação social”.
Numa entrevista com vários recados, o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos (que declarou há vários meses que não apoiaria a recandidatura de Marcelo) não foi o único com a ficar com as orelhas a arder: Marcelo lembrou que a ministra da Saúde, Marta Temido, disse, à sua frente, que a vacina da gripe “iria ser em quantidade suficiente para todos os que a desejassem tomar” e que, depois, “houve problemas”. À pergunta de um dos entrevistadores (a conversa foi conduzida por Ricardo Costa e Bernardo Ferrão) sobre se, perante isso, podíamos confiar no plano de vacinação contra a Covid-19, deixou escapar: “Percebo a dúvida…”
Apelou, ainda,para que não se diga às pessoas que serão vacinadas em duas semanas. E revelou que quase todos os dias conversa com António Costa sobre a necessidade de baixar as expectativas, relativamente ao processo de vacinação que será… “loooongo”.
“Provavelmente o controlo das fronteiras deve ser entregue a outras forças policiais”
Deixou, ainda, a sugestão para que, em próximas reuniões com os epidemiologistas, todos os candidatos presidenciais estejam presentes.
Quero um novo SEF
Em resposta à pergunta sobre se queria um novo SEF ou um novo ministro [da Administração Interna], declarou peretoriamente: “Quero um novo SEF”. Já relativamente a Eduardo Cabrita, preferiu remeter para a declaração de confiança de António Costa. Mas revelou que falou inúmeras vezes com o primeiro-ministro sobre o caso do cidadão ucraniano alegadamente assassinado numa sala daquele serviço de fronteiras, no aeroporto de Lisboa, em março. E foi muito claro: “Provavelmente, o controlo das fronteiras deve ser entregue a outras forças policiais.”
Perguntado sobre se haverá algum prazo definido para que termine o estado de emergência, Marcelo estabeleceu as suas condições: “Quando o número de casos permitir concluir que o SNS não corre o risco de entrar em rutura.”
“Governo com apoio do Chega? Não vejo razões constitucionais para recusar. Há coisas que o Presidente tem de fazer, goste ou não”
A nova configuração da direita, com a emergência do Chega, foi outro capítulo da entrevista. Para começar, recusou tecer comentários sobre André Ventura, líder daquele partido e seu adversário nas presidenciais de 24 de janeiro, justificando que, embora candidato, não pode esquecer-se de que continua a ser Pesidente da República. E que, se for reeleito, vai ter de continuar a falar com todos os líderes e dirigentes partidários, Mas Marcelo já não fugiu à questão sobre a eventualidade de uma alternativa de Governo à direita, com o apoio do Chega: “Se amanhã chegar uma proposta em que é garantida uma maioria de Governo, com o apoio parlamentar desse partido, não vejo razões constitucionais para não a aceitar.” Mesmo sem acordo escrito, em coerência com a atitude anunciada para o caso da geringonça à esquerda. Mas concluiu: “Há coisas que têm de se fazer, goste-se mais ou goste-se menos.”
E, confrontado com o facto de talvez ter desiludido o eleitorado de direita que votou nele, contribuindo, com isso, para a afirmação do Chega, deixou bem claro: “Não sou um Presidente de fação.” Mesmo assim, dividiu responsabilidades com os partidos, que tendem a colocar o Chega no centro da discussão.
Uma abada de Mário Soares
Marcelo recusou a ideia de que alguma vez tenha pretendido bater a votação de mais de 70% de Mário Soares, conseguida na sua reeleição, em 1991: “Mário Soares, pelo seu passado durante a ditadura, na revolução e no pós-revolução é único. Além disso, não havia uma pandemia e ele tinha o apoio do PSD que, na altura, valia 50 por cento…” Uma forma de dizer que, apesar do que se diz, na realidade, o PS não o apoia…
Interrogado sobre a morosidade do Processo Marquês, confessou a sua perplexidade: “Esta demora é difícil de explicar.”
Finalmente, sobre a auditoria do Tribunal de Contas (TC) ao Novo Banco, advertiu que aquela instituição tem os seus limites para uma empreitada destas, insinuando que tal missão não é propriamente a vocação do TC. “Mas sobre isso, não me pediram opinião”, rematou.