Posições que foram trocadas entre a dirigente do Bloco de Esquerda e o secretário-geral do PS num frente-a-frente na TVI24, que começou com um breve consenso sobre a solução para os refugiados, mas que depois, ao longo de 50 minutos, caraterizou-se sempre por uma aberta divergência em torno de temas como as pensões, a reestruturação da dívida (e alinhamento na União Europeia), nacionalizações e lei laboral.
A porta-voz do Bloco de Esquerda foi a primeira a lançar o ataque, dizendo que os socialistas, se forem Governo, preparam-se para “retirar” ou mesmo “cortar” nos próximos quatro anos cerca de 1660 milhões de euros aos reformados, já que pretendem congelar as pensões. O líder socialista assumiu o congelamento da maioria das pensões (exceção feita às mínimas) enquanto a inflação for muito baixa, mas recusou com veemência a expressão “corte”, protestando que Catarina Martins o tentara metê-lo “no mesmo saco da direita”.
Catarina Martins pegou num estudo socialista sobre o impacto financeiro das principais propostas programáticas do PS para sustentar a ideia que este partido pretende fazer a consolidação orçamental, de novo, com base em poupanças no sistema de pensões, congelando-as na próxima legislatura – um tema que, de resto, não largaria até ao final do debate.
O secretário-geral do PS contrapôs que um Governo socialista reporá os cortes feitos nas pensões e nos salários ao longo dos últimos quatro anos, assim como os valores das prestações sociais e das taxas moderadoras aplicados antes desta legislatura.
“Mas não vamos assumir compromissos que vão além daquilo que responsavelmente podemos gastar. Manteremos o congelamento das pensões (excepção feita às mínimas), porque temos de assegurar a estabilidade do sistema”, justificou, ressalvando, a seguir, que esse congelamento poderá ser levantado se houver entretanto subida da inflação nos próximos anos, evitando-se assim um cenário de “depauperação” do poder de compra.
Costa argumentou ainda que as medidas sobre política de rendimento propostas pelo PS têm de ser analisada em termos de conjunto, mas a porta-voz do Bloco de Esquerda reagiu: “Quando olhamos para a política do PS percebemos que os pensionistas continuam a ser uma espécie de porquinho mealheiro dos saldos orçamentais”.
Depois de uma longa troca de argumentos, Catarina Martins, com um sorriso, rematou que Costa não devia “ficar chateado por trazer os seus números para o debate, porque até é um elogio”, com o líder socialista a ripostar: “O que fico chateado, desculpará, é que isole os números, não é só com a terminologia, porque uma coisa é não subir e outra é descer”.
No segundo ponto quente do debate, o da reestruturação da dívida, a porta-voz do Bloco de Esquerda lamentou o alinhamento dos socialistas europeus perante o Governo grego e admitiu a necessidade de Portugal ter de romper a prazo com a União Económica e Monetária.
O secretário-geral contrapôs que esse cenário provocaria “uma desvalorização devastadora”, acusou o Bloco de Esquerda de não ter aprendido com o que se passou na Grécia e concluiu que esta força política apresenta-se às eleições a “esconder o seu verdadeiro programa”.
“Felizmente vai ser poupada ao confronto com a realidade, mas não podemos estar na política só para produzir retórica. Nos esquerdistas sempre me afligiu como se auto-satisfazem a vida toda a produzir discursos e a serem incapazes de resolver um problema concreto a uma pessoa”, declarou, admitindo, depois, ter “alguma irritação com o Bloco” – uma irritação que referiu ser proporcional “à enorme esperança” com que viu o nascimento desta força política. “Não aprendem, é frustrante”, acrescentou, com a porta-voz do Bloco a apontar que esse ‘não aprendem’ de António Costa “pode significar muitas coisas”, designadamente “as vezes em que o PS prometeu ser alternativa à direita”.
Outro momento de confronto aconteceu já na parte final do debate, após a porta-voz do Bloco de Esquerda ter assumido a defesa das nacionalizações da EDP, REN e Galp, tendo o Estado como meios para concretizar as operações os próprios dividendos gerados por essas empresas – posição que levou o líder socialista a questionar quanto custaria isso ao país. “O problema da retórica é esse”, advogou.