Envie-nos as fotos e/ou testemunhos da semana de 25 de Abril a 1 de Maio de 74 para o mail visaocidadao@visao.pt
Testemunho de João Salgueiro
Após cumprir o serviço militar, 4 anos (1966/1970) dos quais dois anos em Angola, retomei o emprego e tornei-me ativista sindical. Não era fácil: a grande maioria das direções sindicais eram afectas ao Regime, o que acontecia com o meu sindicato. No entanto, apesar das dificuldades, conseguimos muitas vitórias para os trabalhadores, sobretudo ao nível da contratação coletiva.
A determinada altura começámos a perceber que algo se estava a passar, que algo poderia estar para acontecer, principalmente após o levantamento do 16 de Março de 1974 nas Caldas da Rainha. Ativistas sindicais e outros preparavam ativamente um 1º. de Maio de luta.
Houve prisões, por parte da PIDE, de alguns dos mais destacados ativistas.
Na manhã do dia 25 de Abril, cerca das 7h00, sou acordado em minha casa por um colega de trabalho dizendo que havia uma revolução em Lisboa. Fui imediatamente para Lisboa e dirigi-me para a zona do Terreiro do Paço onde assisti a toda aquela movimentação das tropas já sobejamente conhecida de todos.
Quando a coluna do Capitão Salgueiro Maia se dirigiu para o Largo do Carmo acompanhámos o movimento pela Rua do Carmo, Calçada do Sacramento até ao Quartel da GNR. Permaneci nesta zona até ao final do dia.
Jamais se varrerão da minha memória a alegria e a satisfação que senti naquele dia. Tinha valido a pena. O sistema que nos oprimia estava a chegar ao fim.
Quanto à foto em que apareço, publicada no Diário de Notícias de dia 26, ela representa o culminar da explosão de alegria e felicidade que a todos invadiu naquele dia memorável – apareceu alguém com uma bandeira nacional que sugere se faça uma manifestação junto à sede da PIDE/DGS e lá fomos.
Quando chegámos, a PIDE lança-nos um cão enorme, os manifestantes enfrentam-no com paus de obras que estavam no chão e pedras da calçada. Neste momento das janelas laterais do 1º. andar abrem fogo de metralhadora sobre os manifestantes ferindo alguns. Foi a debandada geral. Quando chego ao cimo da Rua António Maria Cardoso, debaixo de fogo, eu e outro manifestante (inconscientemente) voltámos e fomos buscar um jovem que estava ferido e entregámo-lo às tropas que estavam no Largo Rafael Bordalo Pinheiro que, presumo, o terão levado para o Hospital de S. José.
Por ali permaneci acompanhando de perto todo o evoluir da situação incluindo a rendição do Marcelo Caetano.