O sindicato dos atores norte-americanos anunciou esta quinta-feira que a sua greve oficial começa às 00:00 de sexta-feira (07:00 de sexta-feira em Lisboa).
“O conselho nacional do SAG-AFTRA votou unanimemente por uma ordem de greve contra estúdios e emissoras”, anunciou Duncan Crabtree-Ireland, diretor executivo nacional deste sindicato que representa 160.000 atores e outros profissionais da pequeno e grande ecrã.
Esta deverá ser a maior paralisação da indústria dos últimos 60 anos, com os atores a juntarem-se aos argumentistas que estão em greve desde o início de maio.
Os dois setores da cultura reivindicam o aumento dos salários, numa altura em que vivem na era do ‘streaming’.
Também pretendem obter garantias quanto ao uso de inteligência artificial (IA), para evitar que esta gere argumentos ou clone a voz e imagem dos atores.
Desde maio que as únicas produções em filmagens estão a trabalhar com base em argumentos já concluídos na primavera, sem poder modificá-los.
Mas, sem atores, a filmagem simplesmente não será possível, sendo que apenas alguns ‘talk shows’ e ‘reality shows’ podem continuar ‘a rodar’.
Os atores também têm o poder de dificultar seriamente a promoção dos sucessos de bilheteira deste verão, como o aguardado “Oppenheimer”, de Christopher Nolan.
Na estreia do filme em Londres, esta quinta-feira, a atriz Emily Blunt destacou aos jornalistas que o elenco deixaria o tapete vermelho junto, em sinal de união, caso a greve avançasse.
Até a cerimónia dos Emmy Awards, o equivalente aos Óscares da televisão, marcada para 18 de setembro, está ameaçada.
A produção já pondera adiar o evento para novembro, ou mesmo para 2024, segundo a imprensa norte-americana.
Isto porque ninguém sabe quanto tempo o movimento pode durar. Os atores não fazem greve desde 1980, sendo que a última greve dos argumentistas, que data de 2007-2008, durou 100 dias e custou ao setor dois mil milhões de dólares.
Um duplo golpe confirmaria a crise existencial que afeta Hollywood. No final de junho, centenas de atores famosos, incluindo Meryl Streep, Jennifer Lawrence e Ben Stiller, assinaram uma carta a alertar que a sua indústria estava num “ponto de inflexão sem precedentes”.
O crescimento do ‘streaming’ tem perturbado a remuneração ‘residual’ de atores e argumentistas, decorrente de cada repetição de um filme ou série.
Os valores pagos pelas plataformas de ‘streaming’ são bem menores, pois não comunicam os números de audiência e pagam uma taxa fixa, independentemente do sucesso.
Sem este rendimento essencial para absorver os períodos de inatividade entre duas produções, os muitos trabalhadores que não têm o estatuto de ator principal denunciam uma precariedade na sua profissão.
DMC // RBF