Comparado ao norte-americano Donald Trump, candidato à presidência dos EUA pelo Partido Republicano, Rodrigo Duterte captou a atenção pela sua veia de justiceiro. Quando foi acusado de criar esquadrões da morte em Davao e de mandar executar 700 alegados criminosos, sem direito a julgamento, a sua reação foi corrigir o número para 1700. “As funerárias vão ficar repletas. Eu levo os cadáveres”, anunciou na campanha presidencial, sobre a política bélica que agora pretende estender a todo o país para combater o crime.
Mas, além da faceta de Dirty Harry, a personagem interpretada no cinema por Clint Eastwood, há outras ações e traços de personalidade que o empurraram para a fama nos jornais internacionais.
1 – “Era gay, mas reformei-me”
Rodrigo Duterte é assumidamente contra a discriminação sexual e em Davao instituiu uma lei nesse sentido. O novo presidente das Filipinas (toma posse a 30 de Junho) admite colocar o casamento entre pessoas do mesmo sexo na agenda política e garante que se tivesse um filho homossexual o trataria da mesma forma. “Eu era gay, mas reformei-me”, brincou numa entrevista televisiva, para acentuar a sua tolerância perante as escolhas sexuais de cada um. Mas a declaração tinha um lado verdadeiro. Duterte contou que, quando era mais novo, fazia-se passar por gay como estratégia para atrair mulheres. A vida pessoal não é tabu para ele.
2 – Enfrentar a China de jet-ski
As Filipinas mantêm uma disputa territorial com a China sobre as ilhas Spratley. O Presidente cessante, Benigno Aquino, tem recusado a via do diálogo, depois de os chineses terem ocupado, em 2012, o atol de Scarborough. Mas Rodrigo Duterte parece disposto a estabelecer pontes com o maior parceiro comercial do país para encontrar uma solução do agrado de ambas as partes, nem que seja dividir a exploração dos recursos naturais da zona com o vizinho do norte. Pequim também espera uma pacificação das relações, mas terá de ceder de alguma forma. Caso contrário, Duterte já ameaçou “ir à China de jet-ski” para hastear a bandeira nacional. “Chego lá e digo: ‘Isto é nosso, façam o que quiserem comigo’.”
3 – Monogamia? Não, obrigado
Aos 71 anos, o justiceiro das Filipinas não tem vergonha em dizer que é “viciado em Viagra”. Não acredita no amor para a vida e talvez por isso não tenha sido fiel à sua ex-mulher. Na televisão, contou que teve “três namoradas” em simultâneo durante o casamento e que, provavelmente, todas sabiam umas das outras, embora nunca o tivessem confrontado: “Penso que reagiram com frieza à situação”.
Num país maioritariamente católico e conservador, estas declarações de Duterte poderiam jogar contra ele, mas não terão feito mossa nas intenções de voto. Mais arriscada ainda foi a “piada” que tentou fazer ao comentar a violação de uma missionária australiana em Davao, em 1989, quando já era presidente da câmara. “Fiquei furioso com a violação, mas ela era tão bonita que pensei que o presidente da câmara devia ter sido o primeiro”. Recusou pedir desculpa “porque é assim que os homens falam”.
4 – Comida contra subornos
Nos tempos de senhor todo-poderoso de Davao, conta-se que Duterte não dava tréguas aos carteiristas que rondavam o edifício da câmara e que ele próprio os punia fisicamente. Nem os policias lhe escapavam, se incorressem em comportamentos ilícitos. Em Davao, é proibido fumar nos espaços públicos – mesmo ao ar livre – e as bebidas alcoólicas só podem ser consumidas até à uma da manhã. O novo Presidente das Filipinas não tolera que os policias dêem maus exemplos. E, para os afastar da corrupção, segundo a revista Time, oferece-lhes cestos de alimentos. Um mimo.
5 – Abusado em Criança
Criado numa família de boas posses, Duterte foi educado em colégios católicos e diz-se devoto. Mas, durante uma troca de palavras mais acesa com representantes da Igreja Católica, em Dezembro passado, acabou por denunciar um trauma da adolescência. “Fui abusado por um de vocês quando era mais jovem. Eu e outros colegas meus menores fomos todos abusados sexualmente por esse padre. Foi assim que perdemos a inocência”, disparou, também como forma de reforçar a tese de que “os padres também são corruptos”.