A pandemia virou o mundo de pernas para o ar e o emprego foi uma das áreas em que as transformações foram mais rápidas. Apesar dos desafios que essas alterações trouxeram a líderes e trabalhadores, que tiveram de reinventar e adaptar processos e a forma de trabalhar, estas mudanças podem também trazer novas oportunidades. Mas isso exige um grande esforço de requalificação e o desenvolvimento de novas competências, de acordo com os especialistas que participaram no webinar “In & Out: Como vai mudar o emprego?”, organizado pela VISÃO em parceria com a Multipessoal.
As transformações que o mundo do trabalho já estava a enfrentar antes da pandemia foram aceleradas. E há estudos a referir que são cada vez mais as pessoas que terão de encontrar uma nova profissão. “Para quem está à procura de emprego ou de um novo desafio esta talvez seja uma das melhores oportunidades para fazer essa mudança”, considerou André Ribeiro Pires. O chief operating officer da Multipessoal explicou que estamos numa nova fase em que muitas das profissões do futuro ainda não estão definidas e exemplificou com o exemplo da sua empresa, em que é comum receberem pedidos para novos postos de trabalho em que as tarefas ainda não estão muito bem definidas.
É comum recebermos pedidos para novos postos de trabalho em que as tarefas ainda não estão muito bem definidas
andré ribeiro pires, MULTipessoal
A adaptação a estas mudanças pode ser difícil e exigir um grande esforço de requalificação ou de desenvolvimento de novas competências. Mas traz também novas formas de encarar os problemas e obriga a correr mais riscos na hora de se encontrarem soluções. “As oportunidades e possibilidade são inúmeras e não as estamos a ver todas”, disse Maria de Fátima Carioca. A dean da AESE considerou que as mudanças dos últimos meses fizeram “cair uma certa barreira de tentarmos encontrar novas soluções”.
Teletrabalho, novas competências e automação
Uma das alterações mais visíveis trazidas pela pandemia foi a adoção do teletrabalho. Provou-se que, para muitas profissões, o local de trabalho não tem necessariamente de ser o escritório. A tendência estará para ficar? Maria de Fátima Carioca disse que “trabalhar onde for pode ser uma das grandes vantagens do desconfinamento”. A dean da AESE antevê maior flexibilidade, o que poderá permitir trabalhar-se a partir de países diferentes o que poderá ter um impacto semelhante ao que o programa Erasmus teve no ensino.
Mas, para isso, têm de ser aprofundadas novas maneiras de fazer e alterar também os processos. E André Ribeiro Pires realçou que é necessário “trabalhar as lideranças para se conseguir trabalhar neste modelo mais híbrido” e salientou a importância de se conseguir individualizar os colaboradores para se perceberem as dificuldades e ansiedades de cada um.
Trabalhar onde for pode ser uma das grandes vantagens do desconfinamento
Maria de fátima carioca, AESE
As mudanças na economia, nas empresas e no trabalho aparentam suceder-se a um ritmo cada vez mais rápido. E isso obriga a que se façam esforços para acompanhar estas alterações e se trabalhe no desenvolvimento de novas competências como a literacia digital, a análise de dados e outras mais sociais, sublinhou Maria de Fátima Carioca. “As competências de gestão não são só para líderes”, referiu a dean da AESE. Explicou que a “gestão de si mesmo” é essencial: “Para muitas pessoas essa é a única via para a sobrevivência: ser proativo, procurar onde há cursos e enveredar pelo caminho de se ganhar competências para melhorar a empregabilidade”.
E, a julgar por um estudo coordenado por João Duarte, professor na Nova SBE, antevê-se uma grande necessidade de adaptação a mudanças como a crescente automação do trabalho. Nesse estudo, feito ainda antes da pandemia ter alterado a forma como trabalhamos, chegou-se à conclusão de que metade das tarefas laborais realizadas em Portugal tinham probabilidade de serem automatizadas até 2030. João Duarte referiu que com a pandemia, essa tendência acelerou. E recomendou que se agarre a oportunidade dos fundos europeus para a requalificação profissional, com a correspondente avaliação do impacto desses programas.
Os conselhos para a empregabilidade
Com o mundo a alterar-se de forma rápida, será necessária proatividade para se conseguir ter sucesso no mercado de trabalho. Catarina Horta defendeu que “o mais importante é mantermo-nos empregáveis”. A diretora de recursos humanos do Novo Banco explicou que isso passa por perceber se se continua a ter as características e competências que são importantes para o mercado.
Procuramos pessoas proativas, que apresentem soluções caso seja preciso mudar o gasóleo com o avião a voar
Catarina Horta, NOVO BANCO
O conselho de Catarina Horta é “nunca dar nada como garantido” e evitar ficar-se preso em competências e qualidades obsoletas. Exemplificou que no banco, além da vertente técnica, “a componente comportamental e humana são muito importantes”. Revelou que o perfil pretendido é o de pessoas que “apresentem soluções caso seja preciso mudar o gasóleo com o avião a voar”. Além disso, Catarina Horta, realçou a importância de se “estar sempre preparado para insucesso e a aceitar o não”. O que se deve fazer, defendeu, é refletir o que se pode aprender com esse não.
Já Ana Sousa sugeriu que se esteja “alinhado com os valores da própria empresa”. Sem deixar de considerar a importância da vertente financeira, a responsável de RH da Farfetch disse, no entanto, que não deve ser apenas essa componente a fazer parte da reflexão sobre os desafios profissionais que se ambicionam assumir. E recomendou que nunca se desista.
A curiosidade é um fator importante. As pessoas devem procurar manter-se sempre atualizadas
Ana Sousa, Farfetch
Ana Sousa partilhou também como funciona o processo de seleção na empresa. As contratações têm de seguir três critérios: têm de ser boas para a empresa, boas para o crescimento e potencial de desenvolvimento e boas para as funções que se vão desempenhar. Ana Sousa explicou que nesta “área de nicho é necessário que as pessoas tenham essa especialização e competências técnicas”. Além disso, realçou que como a empresa tem tido um crescimento rápido e que na empresa “é importante que as pessoas estejam atualizadas”.
A saúde, a transição climática e a transição digital são boas apostas
João Duarte, NOVA BSE
Para aumentar as probabilidades de sucesso no mercado de trabalho, o conselho de João Duarte foi o de se “aprender a aprender”. O professor na Nova SBE considerou que “não se deve ter medo de arriscar e da mudança” e recomendou a que se olhe para as prioridades do Plano de Recuperação e Resiliência para perceber quais são as grandes áreas que serão privilegiadas pelos fundos europeus. “A saúde, a transição climática e a transição digital são boas apostas”, concluiu João Duarte.
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