Wolfgang Schäuble ganhou mais um argumento de peso para atacar a política monetária do Banco Central Europeu (BCE). E pressionar não só o fim do programa de compra de ativos, lançado por Mario Draghi (conhecido por Quantitative Easing, QE), mas também a subida das taxas de juro na zona euro.
A inflação da euro-área subiu sete décimas num mês, para 1,8% em janeiro, segundo a estimativa rápida do Eurostat, divulgada esta terça-feira. É o nível mais alto desde fevereiro de 2013 e aproxima-se a passos rápidos dos 2%, o valor de referência em que o BCE costuma mudar o curso da política monetária. E é nesse cenário que o ministro das Finanças alemão aposta.
A Alemanha está a aquecer mais que as restantes 18 economias do euro. Em janeiro, de acordo com dados oficiais da Destatis, a inflação alemã bateu nos 1,9% em janeiro, o valor mais elevado desde julho de 2013. Em termos de comparação, Portugal fechou o ano com uma inflação de 0,9% e França de 0,8%, ambos abaixo da média da zona euro, 1,1%.
A manutenção da política monetária, segundo Schäuble, pode causar problemas políticos a Berlim. As poupanças dos alemães continuam a ter uma remuneração próxima de zero – baseada na taxa diretora de BCE –, numa perda de poder de compra que pode causar danos em ano de eleições. “A política monetária não pode prestar atenção a um só país, mas a toda a economia da zona euro”, comentou o governador do banco central da Áustria, Ewald Nowotny. Em Frankfurt, sede do BCE, também se inclinam para esta versão. Draghi parece ter vencido a batalha contra a deflação, mas ainda é cedo para anunciar o fim do programa de estímulos QE e muito menos para dar luz verde a uma subida dos juros, como fez a Reserva Federal norte-americana (Fed) do outro lado do Atlântico.
Também Klaas Knot, governador do banco central da Holanda, disse que como risco de deflação deixou de existir, já não faz sentido o QE, mas “isso não quer dizer que acabe imediatamente”. No final de 2016, Draghi abrandou o ritmo de compra de ativos de 80 para 60 mil milhões de euros até dezembro e impos novos critérios para a compra de obrigações de um Estado – uma decisão que está a empurrar os juros da dívida portuguesa a dez anos para lá dos 4%. O presidente do BCE pediu, na última reunião, “paciência” ao alemães, uma vez que os “riscos globais continuam” e a subida dos preços é “pouco convincente”. Uma mensagem que deve repetir na reunião desta quinta-feira.
Os analistas, ouvidos pela Reuters, desvalorizam o recente aumento generalizado dos preços. A inflação core – que exclui os preços mais voláteis da energia – continua em 1,1%, mais uma décima em termos homólogos (face a janeiro de 2016). “Com a inflação core ainda fraca, é improvável que o BCE mude de caminho”, comenta Bert Colijn, economista do ING Bank à Reuters.
Os sinais de recuperação da zona euro, no entanto, começam a ser mais sólidos. Também esta terça-feira, o Eurostat anunciou que a zona euro cresceu 1,8% em 2016, mais que os EUA (1,6%). E a taxa de desemprego desceu para 9,6%, a mais baixa desde maio de 2009.